Tecnologia produz energia elétrica de baixo custo para comunidades ribeirinhas da Amazônia

Energia elétrica o dia inteiro para as atividades aparentemente mais cotidianas, como usar a geladeira ou assistir televisão, é uma realidade distante para muita gente na Amazônia. Longe dos centros urbanos, comunidades ribeirinhas dispõe de poucas horas diárias de eletricidade, alimentadas por geradores movidos a combustível, para dar conta de atividades essenciais. Nessas áreas, onde os sistemas convencionais de distribuição de energia não chegam, a geração de fontes alternativas e locais é uma prioridade.

O Instituto Mamirauá promoveu, junto ao Instituto de Desenvolvimento de Energias Alternativas e da Auto Sustentabilidade (IDEAAS), o “Curso de capacitação de agentes técnicos para a tecnologia Bakana Solar“, na sede do instituto e na comunidade Vista Alegre, da Reserva Amanã, no estado do Amazonas.

Montado apenas com tecnologias de baixo custo e fabricadas no Brasil, o Bakana é um kit capaz de produzir energia solar residencial e enfrentar o problema da exclusão elétrica em regiões afastadas de centros urbanos, como comunidades no Médio Solimões, Amazonas.

O curso é mais uma etapa do programa “Luz para uma vida melhor”, financiado pela Charles Mott Foundation. O projeto, cuja primeira edição aconteceu em 2011, tem como objetivo criar um “arranjo produtivo local” de energia sustentável na Amazônia, capacitando moradores de regiões com difícil acesso à energia elétrica a reproduzirem o equipamento e sua instalação como atividade remunerada na região. A coordenação local do projeto é do Instituto Mamirauá.

Foto: Bernardo Oliveira/Instituto Mamirauá

Além da capacitação, foram realizados treinamentos para os usuários e o diagnóstico do uso de energia da comunidade. Teve início também a montagem do arranjo produtivo, que vai organizar quem será responsável por cada etapa no momento da comercialização do produto.

Como funciona o sistema

O Bakana Solar é extremamente simples, composto por um painel solar, bateria, controlador de carga, lâmpadas e carregador USB. Depois de instalado, pode fornecer energia para o funcionamento da iluminação de uma casa, de uma lâmpada para espantar morcegos, para a recarga de celulares e aparelhos com entrada USB e ser adaptado para uma televisão 14 polegadas.

Nesta fase do projeto, os kits ainda estão sendo doados para os alunos, mas a ideia é que o valor do aparato vendido não supere o equivalente a poucos meses de gastos com combustíveis para geradores. “É como se o Bakana fosse o gerador, mas elas (as famílias) não precisam pagar o combustível depois, porque o combustível é o Sol.”, explica Ligia Kawata, gestora ambiental do IDEAAS. “O combustível é algo que consome muito a renda das famílias aqui”, afirma.

Kit Solar Bakana (Capacitação em Belém, Pará) | Foto: Mariana Buoro/Instituto Peabiru
Maria do Socorro, 57, vice-presidente da comunidade Santo Estevão, na Reserva Amanã, afirma que a energia solar poderia ajudar os comunitários a pouparem o dinheiro gasto com energia. “Porque hoje a gente usa o motor à gasolina e gasta muito, no preço que está. A diesel favorece um pouco, mas sempre o preço é alto (…) acho que a energia solar vai favorecer em alguns gastos que a gente faz”, disse.

“Como a ideia era capacitar agentes técnicos, trouxemos pessoas que fossem de dentro das comunidades, para dar também uma significância às unidades de conservação, que estão distantes dos centros urbanos, do acesso à energia convencional. “, conta Dávila Corrêa, coordenadora do Programa Qualidade de Vida do Instituto Mamirauá.

O IDEAAS, que trabalha com modelos de acesso à energia há mais de 20 anos, foi o responsável pela transferência da tecnologia do Bakana. O projeto “Luz para uma vida melhor” começou com a instalação de 20 kits nas Ilhas de Belém, no Pará.

Agora, nesta nova fase, o curso de capacitação recebeu representantes da Associação dos Moradores e Usuários da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá – Antonio Martins (AMURMAM), da Central das Associações dos Moradores e Usuários da Reserva Amanã (Camura), da Associação de Produtores/as Agroextrativistas da Flona de Tefé e Entorno (Apafe) e do Distrito Sanitário Especial Indígena do Médio Rio Solimões e Afluentes (Dsei/Tefé).

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