Pesquisa registra comportamento inédito de sapos na Amazônia

Durante uma atividade de monitoramento de onças-pintadas, pesquisadores do Instituto Mamirauá se surpreenderam com pequenos sapos da espécie Ameerega hahneli. Sobre um resto de carcaça abandonada de um bicho-preguiça por uma onça, mais de 15 indivíduos estavam agrupados, sem apresentarem comportamento combativo.  Muito territorialistas, os sapos desta espécie são agressivos quando outros sapos tentam ocupar o seu espaço.

A equipe de pesquisa especula que essa possa ser uma adaptação da espécie para a sobrevivência durante o período da cheia. “Isso vai ao contrário de tudo que se soube até hoje sobre estes bichos. Levanta uma nova percepção sobre o comportamento da espécie, totalmente fora do esperado. Aparentemente, a várzea tem essa característica: os bichos têm que ter uma estratégia para se adaptar a essa dinâmica da água”, comentou a pesquisadora do Instituto Mamirauá, Anelise Montanarin. O registro em fotografia rendeu a publicação de uma nota na revista científica internacional Salamandra.

A cena inusitada

Foto: Divulgação/Instituto Mamirauá

O grupo de sapos foi visto sobre a carcaça de um bicho preguiça, encontrada em uma árvore caída na floresta inundada da Reserva Mamirauá. No ambiente de várzea Amazônica, as áreas podem ter até dez metros de alagação e permanecerem assim por cerca de cinco meses. Os pesquisadores do Instituto Mamirauá já identificaram, anteriormente, comportamentos adaptados de animais como a onça e o jabuti, que, diferente do comportamento dessas espécies em outras regiões, precisam se adaptar para habitar áreas que permanecem alagadas por tanto tempo ao longo do ano.

No texto da publicação, os autores relatam que esta é a primeira vez que um grupo desta espécie de sapo é registrado no pico da temporada de inundação em uma região de várzea, bem distante da terra firme. “É uma espécie que tem bastante estudo relacionado à taxonomia, comportamento e genética. Só que muitas dessas informações estão restritas à ocorrência em terra firme. Para várzea, não se tem muita informação”, explicou Anelise.

De acordo com a pesquisadora, junto com a carcaça haviam muitas formigas, animais que fazem parte da dieta da espécie. “A gente suspeita que, na época da cheia, eles possam ter este comportamento de territorialidade suspenso, para otimizar espaço, já que a disponibilidade de recurso alimentar acaba sendo maior. As formigas vão se agrupar em um espaço menor e eles devem aproveitar isso”, comentou. No ano seguinte, também no período da cheia, os pesquisadores avistaram novamente um grupo de animais com o mesmo comportamento de agrupamento, sem sinais de agressividade entre os indivíduos. A pesquisadora destaca que este registro aponta a necessidade do desenvolvimento de mais estudos sobre a espécie, visando caracterizar possíveis diferenças no comportamento dos animais na seca e na cheia. 

Sobre a espécie

“Os sapos da família Dendrobatidae são conhecidos por apresentarem coloração chamativa, um indicativo de toxicidade. Os sapos Ameerega hahneli, no entanto, oferecem pouco risco de envenenamento. “Dizemos que têm uma toxicidade baixa. Mas, pode ocorrer que se um predador de pequeno porte for ingerir, possa ser letal”, disse Anelise.

Foto:Divulgação/Instituto Mamirauá

Uma característica clássica desses animais é a territorialidade. São animais diurnos com territórios bem demarcados e se alimentam principalmente de formigas e ácaros. “Eles defendem esse território, cantam como sinal de advertência para outros machos que possam estar por perto, para defender recursos tais como abrigo e alimento e como parte do cortejo, uma estratégia para atrair as fêmeas para o acasalamento. Eles vocalizam muito se tem outro macho próximo e se esse macho invadir o território eles chegam a lutar”, explicou Anelise.*Deixe o Portal Amazônia com a sua cara. Clique aqui e participe.

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