A imagem de uma Floresta Amazônica virgem e intocada começa a ser desmistificada pelas novas descobertas científicas. Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) mostram a relação entre as antigas ocupações indígenas na Amazônia, encontradas por arqueólogos, e a presença de plantas domesticadas da floresta.
O estudo contou com a participação de um grupo internacional e interdisciplinar de 152 cientistas, incluindo 53 brasileiros, dentre eles 31 colaboradores do Inpa e do Laboratório de Arqueologia do Instituto Mamirauá. A pesquisa cruzou dados dos inventários da Rede de Diversidade das Árvores da Amazônia (ATDN) e o mapa da localização de mais de três mil sítios arqueológicos espalhados por toda a bacia amazônica.
A autora principal Carolina Levis, doutoranda pelo Inpa, afirma que o trabalho é parte de um esforço de dezenas de anos de pesquisas na região. “O que fizemos foi cruzar os dados botânicos de parcelas de inventários florestais com dados arqueológicos”, diz Levis. “Por alto, são pelo menos 80 anos de pesquisas com centenas de pessoas trabalhando para conseguir coletar essas informações. Foi a primeira vez na escala da Amazônia que juntamos esses dados”, acrescenta.
Na prática os pesquisadores procuraram padrões na flora que cerca os sítios arqueológicos em comparação a áreas não-habitadas da Amazônia. Os cientistas descobriram que espécies como cacau, castanha-do-Brasil, açaí, bacaba, patauá, mapati, seringueira e pupunha eram até cinco vezes mais presentes nos sítios arqueológicos que em áreas não-habitadas. A pesquisa conclui que a flora amazônica foi modificada ao longo do tempo pelo processo de domesticação de espécies realizadas pelos povos pré-colombianos.
A pesquisadora afirma que uma das implicações do trabalho é que essas regiões que estão sendo destruídas são também os reservatórios de plantas úteis para os seres humanos e lamenta não existir nenhum um tipo de política para conservação dessas áreas.