A descoberta de que há uma grande quantidade de polinizadores da castanheira e que todos são abelhas nativas da Amazônia oferece grande vantagem a essa árvore. “Em uma situação de falta de uma das espécies de abelha, existirão outras que podem assumir o papel de polinizador, mantendo a formação de frutos, sementes e a perpetuação da castanheira”, destaca a pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental (PA), Márcia Maués, que também é coordenadora da rede de pesquisa sobre polinização da castanheira-do-brasil, que vem desvendando esse e outros mitos sobre a polinização dessa árvore tão importante para a Amazônia.
A pesquisadora da Embrapa Rondônia, Lúcia Wadt, explica que essa dedução bem popular de que as abelhas não tem acesso às copas de castanheiras isoladas no pasto vem do fato de diversos estudos relatarem que uma castanheira isolada não pode dar frutos porque existe algum mecanismo em que a fertilização só ocorre quando a flor recebe pólen de outra árvore geneticamente diferente. Para receber esse pólen, a castanheira isolada dependeria que as abelhas polinizadoras percorressem longas distâncias de espaço vazio na pastagem.
Para desmistificar isso, foi feito um estudo de fluxo gênico em castanheiras isoladas na pastagem, em que foi possível estimar a distância entre o pai (doador de pólen) e a mãe (produtora de sementes) de uma plantinha obtida pela germinação das sementes de uma castanheira isolada no pasto. Para fazer essa estimativa de fluxo de pólen, foram coletados frutos de oito castanheiras distribuídas em uma pastagem no município de Senador Guiomard, no Acre, e obtidas as sementes para produção de mudas.
Os resultados mostraram que houve troca de pólen entre castanheiras que estavam a distâncias variando de 104 metros a 911 metros, sendo a média 442 metros. Foram identificados pais que estavam tanto na floresta vizinha como na pastagem, e que mesmo árvores distantes sem nenhuma vegetação entre elas foram visitadas pelas abelhas, pois houve troca de pólen. “Descobrimos que a incapacidade de as abelhas voarem até a copa das castanheiras isoladas em pastagens é um mito”, revela Lúcia Wadt. Essa informação pode ter impacto no interesse das pessoas em plantar a castanheira em áreas abertas como é o caso de pastagens.
A descoberta desvenda apenas uma das hipóteses da baixa produção de frutos em castanheiras isoladas em pastagens. A pesquisadora afirma que ainda não se sabe quais fatores limitam a produção das castanheiras isoladas, mas, com certeza, o microclima e condições de stress fisiológico em que essas árvores se encontram tem algum efeito. “O que não podemos mais sair dizendo por aí é que a castanheira isolada no pasto não produz frutos porque as abelhas não conseguem chegar até sua copa”, conclui.