Os casos da doença foram identificados durante uma pesquisa desenvolvida no programa de doutorado da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) com a Universidade do Estado do Amazonas (UEA). O autor do trabalho, o doutorando Marcel Gonçalves, diz que ainda não há registro de fasciolose em outras localidades do Estado, além de Canutama.
Conforme o estudante há necessidade da realização de pesquisas em outros lugares para investigar sobre a doença em humanos no Amazonas. “A ausência de registro não significa que a fasciolose não esteja circulando em outros municípios”,diz. Outro fator a ser observado é a falta de cuidados com a água e com o abate de animais. Em países da América do Sul, como Bolívia e Peru, a incidência de fasciolose em seres humanos é muito maior.
Marcel diz que, a doença é transmitida para humanos através do consumo de água e alimentos contaminados com o parasito. “O animal infectado libera nas fezes os ovos do parasita que, ao entrar em contato com a água, vão eclodir e se transformar em larva, infectando algumas espécies de caramujos que vivem em áreas alagadas. Dessa forma, o caramujo transmite para as hortaliças e água a doença que vai afetar o ser humano”, explica.
Durante a pesquisa, 434 pacientes passaram por exames de sorologia (sangue) e parasitologia (fezes). Desse total, oito receberam diagnóstico positivo para a doença. A fasciolose é transmitida por um parasita que se instala nas vias biliares e fígado. Os sintomas podem ser facilmente confundidos com outra doença, pois causam dor abdominal, febre e mal estar.
Canutama já registrou outros casos da doença
Segundo a orientadora do trabalho, a bióloga da FMT-HVD Graça Barbosa, o estudo se concentrou na região de Canutama devido ao fato de que em 2005 outra pesquisa já havia identificado casos da doença no município. Graça ressalta que o diferencial deste trabalho é que, além de exame parasitológico e sorológico, realizado nas pessoas, fez-se a busca pelos caramujos.
Os dados sobre os caramujos estão em análise para identificação dos hospedeiros intermediários, bem como investigação da infecção em bovinos. “As chances de se encontrar a doença em humanos apenas realizando o exame de fezes é muito baixa. Por isso é importante buscar dados que complementem as informações sobre o ciclo do parasito na região” frisou.
Para a orientadora, o número de casos identificados é alto, considerando que Canutama tem cerca de 13 mil habitantes. “Se considerarmos que essa é uma doença presente principalmente em animais, esse índice representa um alerta e exige atenção das autoridades de saúde, sobre a necessidade de orientação à população e assim evitar novos casos”, alertou.
Graça Barbosa diz que, as pesquisas devem continuar, pois é preciso saber por que a doença se concentra em Canutama e como chegou até o município. Além disso, é preciso identificar e combater os hospedeiros intermediários (caramujos), porque sem eles não há transmissão. É importante também reforçar os cuidados com a higiene dos alimentos e água que são consumidos.