Manaus recebe Simpósio Internacional de Reprodução de Peixes

Pela primeira vez na América Latina, o Opens external link in new windowSimpósio Internacional sobre Fisiologia da Reprodução de Peixes será realizado em Manaus. A 11ª edição do evento acontecerá entre os dias 03 a 08 de junho de 2018, no Hotel Tropical. A expectativa é reunir de 300 a 400 acadêmicos, especialistas e profissionais oriundos de todos os continentes.

Foto:Divulgação/Inpa

Na capital amazonense, o evento será presidido pelo diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC), doutor Luiz Renato de França, mestre e doutor em Biologia Celular pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com pós-doutorado em Fisiologia da Reprodução pela Faculdade de Medicina da Southern Illinois University, Carbondale, Illinois, EUA.

O objetivo do simpósio é estimular a discussão e o aprendizado sobre as mais recentes descobertas científicas na área de fisiologia reprodutiva em peixes, com enfoque nas novas fronteiras em diversidade reprodutiva num ambiente em mudança. “Essa diversidade reprodutiva se refere à enorme diversidade não somente de espécies endógenas de peixes da América do Sul, mas também ao fato de que peixes em geral mostram enorme e rica diversidade em estratégias reprodutivas”, explicou França.

Segundo o presidente do Simpósio, as mudanças intensas causadas cada vez mais pelo homem, por outro lado, levam ao aumento da temperatura global com consequentes mudanças no meio ambiente. Como exemplo, França cita as milhares de substâncias químicas liberadas devido às atividades do homem que afetam o desenvolvimento e a reprodução, substâncias estas conhecidas como desreguladores endócrinos.

“Também podemos citar as mudanças nos valores do pH da água, com potenciais e mesmo severas consequências na cadeia alimentar devido ao aumento de CO2, que por sua vez leva a mudanças na dieta alimentar e na microbiota que promove desafios na capacidade reprodutiva com consequente maior demanda de energia para a reprodução”, explica França.

Como exemplos de alterações no crescimento e na reprodução que afetam a aquicultura podem ser citadas a influência da temperatura na proporção de indivíduos machos e fêmeas durante a diferenciação sexual (como ocorre em tilápias cujos exemplares machos crescem mais rapidamente) e do fotoperíodo (quantidade de luz diária) que modifica a época em que os peixes atingem a puberdade e assim diminuem o ritmo de crescimento e perdem valor comercial. Este último exemplo se aplica aos salmões.

Foto:Divulgação/Inpa

Resultados

Pesquisador no campo de biologia da reprodução de vertebrados, Luiz Renato de França e outros cientistas de seu grupo desenvolvem pesquisas nesta área no Departamento de Morfologia no ICB/UFMG, onde é professor titular e pesquisador 1A do CNPq. Nas últimas duas décadas o grupo tem se dedicado mais especificamente às pesquisas com célula-tronco germinativas em vertebrados, principalmente em peixes e mamíferos. Os pesquisadores utilizam atualmente várias ferramentas, como os nanocompósitos, para a produção de animais transgênicos e o estabelecimento de biotecnologias aplicadas à aquicultura, tendo publicado recentemente relevantes artigos em conceituados periódicos na área em questão.

Como fruto dessas importantes pesquisas e em associação com o grupo do doutor Rodrigo Ribeiro Resende, no início de agosto a bioquímica e pós-doutora Fernanda Tonelli da UFMG venceu o Prêmio L’oreal Brasil 2018 Para Mulheres na Ciência, na categoria Ciências da Vida. Tonelli quer utilizar tilápias-do-Nilo geneticamente modificadas como biofábricas para a produção de substâncias como hormônio do crescimento humano. A tese de Tonelli gerou dez publicações e dez pedidos de patentes relacionadas “à elaboração de estratégias inovadoras para a modificação de células-tronco espermatogoniais e ao uso de nanomateriais para entrega de genes nesse tipo de célula”.

Segundo França, os peixes constituem o grupo mais diverso e abundante de vertebrados com quase 30 mil espécies, e habitam ambientes diversos e extremos como os ambientes abissais (região mais profunda dos oceanos onde a luz solar é incapaz de chegar) ou de elevadas altitudes e com diferentes graus de salinidade. Eles estão sujeitos a muitas mudanças, como variação de fatores e às mudanças causadas pelo homem que levam ao aumento da temperatura e mudanças na qualidade da água.

“Por isso, compreender os mecanismos fisiológicos reprodutivos é de enorme importância para o entendimento das adaptações ecológicas dos peixes, dos recursos pesqueiros, do desenvolvimento de sistemas de cultivo e produção, das aplicações biotecnológicas, do desenvolvimento de indicadores de mudanças ambientais e do desenvolvimento de modelos experimentais para aplicação biomédica”, ressaltou França, destacando que desde 2012 mais de 50% dos peixes consumidos pelo homem são produzidos em condições de cultivo.

Saiba mais

O Simpósio Internacional sobre Fisiologia Reprodutiva de Peixe contará com a participação de especialistas renomados dos Estados Unidos, Canadá, China, Suécia, de países da América Latina e do Brasil.

Com o ambiente favorável, os organizadores também esperam estabelecer futuras colaborações científicas voltadas ao desenvolvimento da piscicultura regional e mundial. “Com uma incalculável riqueza de recursos hídricos e espécies de peixes, a Amazônia possui natural vocação para os recursos pesqueiros, que já vêm sendo explorados, mas ainda de forma incipiente”, destaca França, lembrando, por exemplo, que na Nova Matriz Econômica Ambiental do Estado do Amazonas, transformada recentemente em Política de Estado do Amazonas, a aquicultura é uma das áreas prioritárias.

França, que tem participado ativamente de todos as edições do Simpósio desde 2003 no Japão (2003), com apresentação de palestras e coordenação de sessões, ressalta ainda que o número de brasileiros participantes cresceu bastante. Na última edição, em Portugal (2014), o Brasil teve a maior delegação. “Isso nos faz antever um grande sucesso na participação de brasileiros na edição de Manaus 2018”, garante.

Como nas edições passadas, a 11ª edição do ISRPF continuará a tradição de ser um simpósio compacto e sem sessões paralelas/simultâneas, permitindo que os participantes possam acompanhar as palestras plenárias e apresentações orais. O evento será realizado em inglês e não haverá tradução simultânea. Para realizar inscrição até ou submeter trabalhos, basta acessar o link.

O congresso internacional, pelo lado brasileiro, já conta por exemplo com o apoio do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/Manaus), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Nilton Lins (Manaus, AM), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Amazônia Ocidental (Embrapa/Manaus, AM), Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Universidade Estadual Paulista (Unesp/Botucatu), Universidade de São Paulo (USP) e Centro de Aquicultura da Unesp (Caunesp/Jaboticabal).

Já o Comitê Científico Internacional é formado pelos doutores Luiz Renato de França (Brasil), Rudiger W. Schulz (Holanda),  Adelino Canário (Portugal), Gustavo Somoza (Argentina), Olivier Kah (França), Wei Ge (Hong Kong), K. P. Joy (India), Peter Thomas (Estados Unidos), Vance Trudeau (Canadá), Yann Guiguen (França), Yosshitaka Nagahama (Japão), Hamid R. Habibi(Canadá) e pelas doutouras Penny Swanson (Estados Unidos), Hanna Rosenfeld (Israel) e Norberg Birgitta (Noruega). O Comitê local conta com vários pesquisadores do Inpa, como Jansen Zuanon, Cláudia de Deus, Sidneya Amadio, Efrem Ferreira, Elizabeth Gusmão e Sérgio Guimarães.*Deixe o Portal Amazônia com a sua cara. Clique aqui e participe. 

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