“Esses projetos, após três anos, estão sendo avaliados e estamos compartilhando os resultados com a comunidade amazônica, numa tentativa de reestruturar e atualizar a agenda científica do Programa LBA para 2017-2021”. A declaração é do gerente científico do Programa de Grande Escala Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) do Instituo Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC), o pesquisador Niro Higuchi, durante a abertura do encontro científico que acontece no Auditório da Ciência do Instituto.
O Simpósio do Programa LBA/Inpa: Projetos do edital CNPq e do GOAmazon prossegue até a manhã desta quarta-feira (30), e reúne cerca de 150 pessoas, entre cientistas, técnicos e especialistas envolvidos nos 20 projetos.
Higuchi explica que os projetos apresentados no simpósio fazem parte da agenda de pesquisa do LBA. São 14 projetos aprovados pelo Conselho nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e mais seis projetos, provenientes de uma cooperação internacional, denominada Green Ocean Amazonas (GOAmazon), financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
“O LBA é um dos programas que deram certo no Brasil e é extremamente importante para a ciência na Amazônia”, disse o diretor do Inpa, Luiz Renato de França, na abertura do simpósio, que também contou com a presença do presidente do Comitê Científico do LBA e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Artaxo; e da gerente operacional do LBA e pesquisadora do Inpa Hilândia Brandão.
Segundo Artaxo, observa-se no simpósio que a pesquisa em ciência na Amazônia está sendo “extremamente dinâmica”, produzindo resultados que são estratégicos e essenciais para o estabelecimento de políticas públicas para a preservação do bioma amazônico. “Um conjunto de universidades e institutos de pesquisas estão apresentando resultados neste encontro e temos certeza de que isso é um avanço significativo na ciência para a região amazônica”, disse.
Durante o simpósio, o pesquisador do Inpa, Bruce Forsberg, coordenador do projeto apoiado pelo Edital CNPq/LBA, falou sobre “A influência de potenciais mudanças climáticas e no uso da terra sobre a biogeoquímica do carbono e nutrientes nos rios e várzea da Amazônia Central”. A ideia central do projeto é investigar as emissões e dinâmica de CO2 (gás carbônico) e metano dentro das áreas alagáveis amazônicas e como a mudança climática e as futuras mudanças no usos da terra podem influenciar essas emissões de gases.
Segundo o pesquisador, as áreas alagáveis da Amazônia são grandes fontes de gases de efeito estufa, especialmente de gás carbônico e metano. “Fizemos muitas medidas e dimensões das dinâmicas de gases, dentro do Lago de Janauacá (a 110 quilômetros da capital, Manaus). E estamos, hoje, modelando esses dados, tentando associar aos cenários de mudança climática e mudança no uso da terra”, disse o pesquisador. “Já modelamos a influência da mudança climática sobre a vazão dos rios na Amazônia e nas áreas alagáveis”, completou.
Para o pesquisador, de modo geral, as previsões são de que a vazão do rio, no período seco, em quase toda a bacia amazônica, ficará mais baixa, já as enchentes serão mais fortes, na parte oeste da bacia, começando por Manaus, com exceção daqueles rios que vêm do sul (Purus e Juruá), que ficarão mais secos na cheia. “Por outro lado, na parte leste da Amazônia, onde há planos de construírem hidrelétricas, a vazão será menor, tanto na cheia quanto na seca, no futuro, inviabilizando essas obras em termos econômicos”, ressaltou Forsberg.
Distúrbios hidrológicos
O pesquisador do Inpa, Jochen Schongart, também foi um dos palestrantes do dia. A palestra “Distúrbios hidrológicos sobre a vegetação de florestas alagáveis por rios de água preta (igapó) na Amazônia Central: diferenciando anomalias climáticas de impactos antropogênicos”, focou nos distúrbios que são causados por eventos climáticos, como cheias extremas e secas severas.
O pesquisador também mostrou os distúrbios causados pela implementação da Usina Hidrelétrica de Balbina em cima de florestas de águas pretas (igapós), mostrando que esses impactos causam mudanças na estrutura e na composição florísticas dessas florestas alagáveis.
“Elas causam mortalidade em grande escala, principalmente, nas baixas topografias, que são sujeitas ao maior tempo de alagamento em comparações com condições normais. Vamos indicar o que se pode esperar no futuro com essa tendência de aumento de cheias e de secas”, disse Schongart.