Curso na floresta exercita criatividade de alunos no fazer e divulgar pesquisas sobre insetos

Foto: Divulgação/Inpa

Sair do ambiente de sala de aula para uma imersão de cinco dias em plena floresta, na Reserva Florestal Adolpho Ducke, para despertar a curiosidade científica e a capacidade individual de fazer pesquisas. Esta é a proposta da disciplina prática Entomologia Geral do curso de mestrado e doutorado em Entomologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC).

A disciplina é ministrada desde 1988 com o objetivo de ensinar os diferentes métodos de coletas, identificar e conservar insetos. Este ano, 15 alunos dessa matéria foram ao campo desprovidos de tecnologias e equipamentos modernos (internet, celular, TV). Eles precisaram se valer de uma única “arma” – a criatividade.

Durante a disciplina, os alunos escolhem um projeto que queriam desenvolver, denominado “projeto de um dia”, no qual elaboram um artigo científico e um texto de divulgação científica, que possui uma linguagem mais simples e acessível à população.

A mestranda Ana Flavia, que veio de Imperatriz (Maranhão), conta sua experiência durante a aula prática. “Saímos da sala de aula e fomos para o campo aprender os métodos de coletas e conhecer os vários tipos de inseto. Foi bem intenso, mas muito gratificante. Foi ‘top’!”.

Para o professor da turma, o pesquisador José Albertino Rafael, a disciplina é levada para o campo para que seja, essencialmente, prática e fuja do dia a dia do laboratório. A parte prática aconteceu de 3 a 8 de maio, prosseguindo com a parte laboratorial até esta sexta-feira (19).

“No campo, incentivamos para que o aluno interaja com o ambiente, sentindo todas as possibilidades que existem para que ele desenvolva sua pesquisa e tenha uma percepção do que é fazer pesquisa”, diz o entomólogo ao acrescentar que uma das coisas que mais gosta da disciplina é incentivar o aluno a desenvolver o “Projeto de um dia”.

José Albertino explica que nesta atividade, cada aluno cria algo inédito para si, porque é forçado a trabalhar com um assunto diferente de sua experiência prévia. O aluno tem que utilizar de sua capacidade de observação pessoal, sem estar orientado ou dito por um pesquisador “faça isso, faça aquilo”.

“Os professores e monitores não podem dizer aos alunos o que fazer. É o aluno que tem que sair de lá orgulhoso, dizendo: eu fiz isso, eu criei e eu obtive os resultados”, destaca Albertino. “É uma prática simples, mas que mexe com a cabeça do aluno para sempre”, revela.

Para o pesquisador, isso demonstra para uns a capacidade de se inserir como um pesquisador, já para outros, mostra que não terão essa mesma capacidade, mas que poderão ser bons técnicos ou excelentes professores.

Segundo o pesquisador, ao longo do tempo o curso vem evoluindo, por conta de críticas e sugestões dos alunos. “Alguns falavam que o curso é muito puxado, então, aumentamos um dia. Se o curso ia até tarde da noite, agora não passa da meia-noite, em sala de aula; mas, na observação noturna, em campo, os alunos vão até as duas da manhã, observando e coletando a fauna”, conta.

Diferencial

A maioria dos participantes da disciplina Entomologia Geral é proveniente de Manaus e dos estados da região Norte. O pesquisador José Albertino vê isso como um ponto positivo. “Sou da época em que a maioria que entrava no curso de pós-graduação do Inpa era de alunos do sul e sudeste. E ao longo do tempo isso vem mudando, e é um reflexo da qualidade dos alunos que estão se formando em Manaus e outros estados do norte”, explica o pesquisador.

Para José Albertino, as turmas de pós-graduação do curso de Entomologia Geral saem com uma base muito boa na prática de reconhecimento dos diversos grupos de insetos, o que não é oferecida em outros cursos no Brasil ou no mundo. Segundo ele, aqui, no Inpa, se tem a possibilidade de se fazer o reconhecimento dos habitats e dos ambientes onde podem ser coletadas todas as ordens de insetos neotropicais.

“Por exemplo, uma ordem que se pensava que era extremamente rara, Zoraptera (parentes próximas dos cupins e das baratas), os alunos aqui do Inpa sabem onde coletar. Não é porque a espécie é rara, é porque não se tinha conhecimento de onde eles viviam”, destaca.

Premiação
A mestranda Alana Lopes, oriunda da universidade Federal do Amazonas (Ufam), foi a vencedora do prêmio “Colêmbolo de Ouro” (em referência a um grupo de insetos muito carismático) no “projeto de um dia”. Ela trabalhou com o comportamento defensivo das formigas Camponotus, e intitulou seu texto de divulgação científica para a mídia “Alerta vermelho: ameaça à vista! Um exército de formigas como você nunca viu”.
O 2º lugar foi para a mestranda Larissa Queiroz com o artigo “A incrível teia Hulk da Amazônia”, que trata da resistência da teia de uma espécie de aranha, enquanto o 3º lugar ficou com o mestrando Matheus Mauri Frascareli Bento com o artigo “Tamanho não é documento para as formigas”.   
Após aprenderem técnicas de Comunicação Científica, na disciplina anterior, os alunos põem em prática o conhecimento adquirido e transformam os resultados das atividades na Reserva Florestal Adolpho Ducke em produtos elaborados com uma linguagem simples e de fácil entendimento para todos.   
“Para todo mundo, é um crescimento profissional muito grande. Mas o que me surpreendeu ao longo dessa semana foi o crescimento pessoal da equipe, no sentido de que todos se ajudaram”, destaca Alana Lopes. “Outra coisa importante foi a aprendizagem da observação e começar a partir do zero para tentar entender o processo de pesquisa”, complementa. 

Com informações do Inpa.

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Pesquisadora descobre novo papel do peixe-boi: o de “jardineiro da Amazônia”

Atualmente, o peixe-boi é classificado como espécie vulnerável pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). O maior risco para sua extinção vem da caça ilegal.

Leia também

Publicidade