Durante décadas cientistas acreditavam que algumas espécies, principalmente de aves, eram limitadas pelos rios na Amazônia. Pesquisadores brasileiros descobriram que provavelmente essa relação é muito mais complexa do que se imaginava até então. A hipótese feita pelo cientista Alfred Russel Wallace, em 1852, era de que os rios da Amazônia funcionavam como barreiras para espécies amazônicas, o que foi chamado posteriormente de áreas de endemismo.
Na prática, segundo a hipótese das áreas de endemismo, a distribuição de espécies de pássaros é confinada pelos rios. Alfred Russel Wallace foi um dos primeiros cientistas a identificar uma relação entre espécies de macacos na região e quatro “distritos geográficos” delimitados pelo rio.
Segundo a pesquisa, na época de Russel Wallace a quantidade de dados era relativamente limitada em relação ao banco de dados de espécies disponibilizadas hoje. Com a quantidade de dados hoje disponíveis, os três pesquisadores que assinaram o artigo, puderam verificar se a hipótese das áreas de endemismo pode ser provado através dos dados coletados por pesquisadores de passáros.
O resultado é que os dados que mostravam a localização de milhares de exemplares de espécies de pássaros na Amazônia não apresentavam o padrão das áreas de endemismo. “Nossas análises mostraram pouca sustentação para o interfluve AoEs. No entanto, nossos resultados apoiam o papel de alguns rios amazônicos importantes como quebras na composição das espécies”, afirma o artigo.
A pesquisa mostrou que diferente do que os pesquisadores tinham desenhado, a forma como as espécies de aves se relacionam com os rios é bem mais complexa. Segundo a análise dos dados, as espécies de pássaros respondem diferentemente de cada rio. Algumas espécies não atravessam alguns rios, enquanto outras fazem isso normalmente e se misturam naturalmente a outras espécies.
Os rios Solimões e o Madeira, por exemplo, demonstram ser barreiras biogeográficas potencialmente importantes. Entretanto outros rios, como os Tapajós e Xingu, não parecem representar barreiras ao longo de todo o seu comprimento, segundo o resultado da pesquisa. “Os resultados deste estudo sugerem que outros fatores físicos, como variação na estrutura da vegetação e altitude, podem ser mais importantes do que a hidrografia na regionalização da biota amazônica”, finaliza o artigo.