Venezuelano faz horta em prédio abandonado há 10 anos em Roraima

O venezuelano William Ribeiro Zapata, de 43 anos, deu início ao cultivo de uma horta no terreno do Teatro Carlos Gomes, no Centro de Boa Vista. O prédio, que estava abandonado há uma década pelo governo de Roraima, também tem servido de moradia a duas famílias de imigrantes sem-teto.

Há três semanas, Zapata limpou e transformou completamente o terreno. Onde antes se acumulavam lixo, entulho e mato nos arredores do prédio do teatro agora há uma plantação de milho, melancia, macaxeira (aipim) e até um espantalho de papelão.

“Não tenho a intenção de vender. Meu plano principal é dividir a produção com quem tem fome, e também alimentar minha família. Vai ser só para comermos e ajudarmos outros que precisam”, disse ele, enquanto cuidava dos pés milhos, que devem dar as primeiras espigas em dois meses.

Foto: Reprodução/Rede Amazônica

O venezuelano conta que saiu de Maturín, capital de Monagas, e se mudou para Roraima há dois anos. Sem ter para onde ir, morou de favor em uma casa, mas o espaço era pequeno e assim ele, a esposa e as duas filhas, de 15 e 4 anos, tiveram de se abrigar no prédio há quatro meses. Além deles, uma outra família também vive no local.

Ele disse que pretende plantar outras hortaliças nas próximas semanas, mas que isso depende do período da lua cheia – uma superstição que carrega desde a época em que cultivava 56 hectares de frutas, verduras e legumes na Venezuela.

“Trabalho com base nas fases da lua e na atual fase, é só para preparar o terreno. Eu falo com a lua e com Deus antes de plantar. Se a lua está grande, cheia, o fruto também será grande”, disse, confiante de que irá colher bons frutos.

Em seu país de origem, Zapata começou a trabalhar com agricultura em 2008. Na época, seu objetivo era largar o vício em bebidas alcoólicas e assim começou a plantar e doar alimentos a pessoas necessitadas.

“Eu não sabia plantar, fui aprendendo na prática e falando com Deus. Prometi que daria sempre os primeiros frutos de cada colheita para a população mais necessitada. Assim, dava produtos para os hospitais, para quem não tinha o que comer. Mas o governo apertou muito e eu já não tinha como continuar”, lamentou.

Quase uma década depois, o pequeno espaço se transformou em 56 hectares, o equivalente a 78 campos de futebol. Para cuidar de uma área tão grande, ele precisava de produtos químicos e o governo venezuelano expropriou o local em que comprava os inseticidas. Com isso, a produção foi afetada até chegar ao ponto de precisar mudar de país para recomeçar a vida.

Em Boa Vista, o agricultor sobrevive fazendo bicos de limpeza de terrenos, pintura de prédios e outros plantios. Com o trabalho, ele tem conseguido ganhar entre R$ 400 e R$ 500 por mês. Ele divide o dinheiro entre as necessidades básicas da família e para enviar remédios a sua mãe que está na Venezuela e sofre com osteoporose e úlcera.

“Eu estou à procura de algo fixo para trabalhar, mas não aparece. Há várias pessoas que já são clientes porque gostam do meu trabalho, mas nem todos os dias consigo serviços. Normalmente me chamam com espaço de tempo, às vezes meses”, explicou.

Acerca da ocupação do prédio, o governo do estado informou que há um laudo do Corpo de de Bombeiros que recomenda o não uso do prédio principalmente como moradia, por apresentar risco. No entanto, segundo o governo, compete à operação Acolhida, missão humanitária que cuida do fluxo migratório, realizar a retirada voluntária de imigrantes que ocupam prédios públicos desativados.

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