Produção no Polo Industrial de Manaus
De acordo com a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), o país tem uma frota de 70 milhões de bicicletas, produz anualmente 2,5 milhões de unidades e é o 4º maior produtor do mundo. Em agosto de 2019, já produziu pouco mais de 116 mil unidades, e no acumulado dos oito meses deste ano, foram 592.844 unidades contra 496.859 do mesmo período de 2018, uma alta de 19,3%.
Segundo Cyro Gazola, vice-presidente do Segmento de Bicicletas da Abraciclo, o aumento se deve a políticas de mobilidade urbana e esporte, além do preço. “Para atender a esse consumidor, as fabricantes nacionais oferecem modelos com maior valor agregado a preços mais acessíveis”, ressalta.
Uma das fábricas do setor de suas rodas que produz no Polo industrial de Manaus (PIM) é Oggi Bikes, empresa brasileira criada a cinco anos, tem cerca de 150 colaboradores, e se destaca no mercado nacional de bicicletas, com tecnologia europeia, alta durabilidade, baixa manutenção e preço competitivo.
“Hoje podemos dizer que internalizamos nossas referências e criamos um DNA brasileiro, que vem de um mix de inspirações, de criatividade e de muita pesquisa em todo o mercado mundial, mas principalmente do italiano. Os detalhes visuais, os shapes diferentes usados nos quadros e em alguns componentes, toda essa preocupação com cada pedacinho das bicicletas são valores que serviram como referência e inspiração desde o primeiro protótipo que desenvolvemos”, disse Luiz Carlos Bringel, engenheiro responsável pelo desenvolvimento Oggi, ressaltando que os quadros possuem garantia vitalícia para o primeiro dono.
Além da Oggi, também estão instaladas em Manaus, a Sense Bike, a Houston e a Caloi, maior fabricante de bicicletas do país.
Benefícios
O hábito em andar de bicicleta, segundo o profissional de Educação Física Maurício Batista, é uma grande aliado da saúde.
“A bicicleta é uma importante alternativa para que as pessoas pratiquem uma atividade física no dia a dia, que pode ser no deslocamento para o trabalho e nos afazeres rotineiros”, disse.
Ainda segundo Maurício, ao andar de bicicleta, as pessoas se tornam mais ativas e melhoram o seu condicionamento físico.
“Andar de bicicleta deixa as pessoas mais ativas, pois, além de ajudar na redução da gordura do corpo, fortalece e define pernas, glúteos, abdômen, há também melhora no condicionamento físico”, conta o profissional, ressaltando que outros benefícios estão associados, como a diminuição de doenças cardiovasculares, riscos de obesidade e melhoras nos quadros de diabetes e pressão alta.
Qualidade de vida
Navratinova Cardonha tem 38 anos, é cabeleireira, barbeira, e também cicloativista. Escolheu a bicicleta, há cinco anos, como seu principal meio de transporte.
“A princípio era lazer e esporte. Depois que vi a oportunidade de usá-la como transporte, não parei mais. Comecei indo para um curso no Centro da cidade de Manaus, depois passei a ir para cinema, teatro, shows, dar aula, ensaio de bateria, supermercado e trabalho. Hoje costumo dizer que sou uma entusiasta da bicicleta, e tento promover seu uso como modo de transporte em todo lugar que vou ou estou”, afirmou.
Uma das ações desenvolvidas pela cicloativista é o empréstimo de bicicletas, de forma gratuita. Navra, como e chamada, também dá a oportunidade para as pessoas terem um melhor contato com o universo das bikes.
“Sim, eu promovo e quem precisa da bicicleta para passear, usar como transporte ou até vivenciar a cidade de uma outra forma, vem até o meu salão, onde fica estacionada a bicicleta, responde um pequeno questionário, assina um termo de responsabilidade, faço o empréstimo e a pessoa pode ficar com a bicicleta por uma semana”, ressalta.
Ciclovias e Ciclofaixas
A Lei nº 13.724, de 4 de outubro de 2018, institui o Programa Bicicleta Brasil (PBB) para incentivar o uso da bicicleta visando a melhoria das condições de mobilidade urbana. Segundo a lei, o programa deverá ser implantado em todas as cidades com mais de vinte mil habitantes.
Entre as diretrizes da lei, está a criação de uma cultura favorável aos deslocamentos cicloviários; redução de índices de emissão de poluentes; melhoria na qualidade de vida nos centros urbanos e condições de saúde; desenvolvimento de ações voltadas para melhoria do sistema de mobilidade cicloviário e outros.
Sobre os objetivos, a lei visa contribuir com políticas de construção de ciclofaixas e sistemas cicloviários urbanos, instalação de bicicletários públicos, integração do modal bicicleta com os de transporte público coletivo, campanhas de conscientização de benefícios da bicicleta, além de educação no trânsito.
As capitais dos estados da Amazônia ficam na retaguarda dos investimentos em políticas públicas para os ciclistas. Rio Branco, no Acre, é a 6ª cidade com maior quilometragem de malha cicloviária do Brasil, seguida de Belém, que está em 10º lugar, Palmas em 16º e Cuiabá em 19º lugar. Já Boa Vista, Manaus, Porto Velho, São Luís e Macapá ficam nas últimas posições, com menores malhas cicloviárias, segundo dados divulgados pelas prefeituras.
Em Manaus, são cerca de 38 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas, dividindo entre avenidas como a senador Álvaro Maia e Natan Xavier, além de parques e praças, como o Parque Porte dos Bilhares, Passeio do Mindu, Complexo Turístico Ponta Negra e Parque Campo Dourados.
Segundo o coordenador do grupo Pedala Manaus, um movimento coletivo que acredita no poder de transformação da bicicleta como modal de transporte, esporte e lazer, Paulo Aguiar, o número de ciclistas na capital amazonense é de 4% da população, conforme dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ainda em 2012. E o número de grupos de pedais ativos variam entre 30 e 40, que praticam a pedalada por esporte, retração ou trilha.
“Quando a gente olha para Manaus, nas zonas Norte e Leste, teremos os maiores números de usuários da bicicleta como meio de transporte. Manaus tem a menor malha cicloviária per capita do Brasil, e isso é muito ruim, pois temos um trânsito muito hostil, perigoso, vias rápidas e sem fiscalização, isso não atrai o ciclista para as ruas, só afasta”, ressalta Paulo.
Pensando nas condições que Manaus oferece aos ciclistas, Paulo ressalta que faltam muitos investimentos para melhorar a realidade.
“Hoje o ciclista não pedala mais, ou as pessoas não usam a bicicletas por um motivo: elas tem medo de morrer atropeladas. Isso afasta o novo e o usual das ruas, o que falta é ciclovias, ciclofaixas e ciclorotas adequadas, funcionais e seguras, além de campanhas de sensibilização que mostrem a bicicleta como meio de transporte que faz parte da solução de problemas nos congestionamentos da cidade”, pontua Paulo.
Legislação
Há, no Código de Trânsito Brasileiro (Lei nº 9.503 de 23 de Setembro de 1997), orientações aos ciclistas quanto uso da bicicleta em rodovias, vias urbanas, rurais e obrigações quanto à segurança dos ciclistas e sinalização das bicicletas, estabelecidos pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran).
O industriário e cicloativista Admilson Silva de Souza, de 37 anos, mostra os itens básicos de segurança, para quem quer se aventurar pelas ruas das cidades. Confira no vídeo:
A Abraciclo também publicou um Guia de Segurança para o Ciclista, que pode ser baixado clicando aqui.
Bicicletas como principais veículos em cidades Amazônicas
Feijó e Tarauacá, no Acre, dividem a fama de municípios com maior número de bicicletas proporcionalmente ao número de habitantes, este último tem pelo menos 73% das viagens realizadas na cidade são em cima de bicicleta. A pesquisa foi feita pelo biólogo e cicloativista Valden Rocha, que escreveu um dos capítulos do livro “Brasil que pedala: a cultura da bicicleta nas pequenas cidades” relatando os dados.
A cidade de Taruacá tem uma população estimada em 42 mil pessoas, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e uma frota motorizada de 4.624 veículos em 2018. Segundo a prefeitura do município são, pelo menos, 32 mil bicicletas em circulação pelas ruas da cidade, e isso se deve principalmente à cidade ser plana.
Outro município da Amazônia que se destaca pelo uso de bicicletas é Afuá (que fica a 2254 quilômetros de Belém), no Pará. Uma cidade construída sobre a várzea, onde na época de cheia do rio, as águas invadem o solo. As ruas são pontes, chamadas de palafitas.
Com pouco mais de 39 mil habitantes, a pequena e conhecida “cidade do pedal” e “Veneza Marajoara” tem na bike seu principal meio de deslocamento. Por cima das ruas estreitas de palafitas é possível encontrar a ‘bicilância’ (um quadriciclo adaptado para uma ambulância), o ‘bicitáxi’ (serviço de táxi por bicicleta), e a ronda policial também é feita através das bicicletas.
Oportunidade de Negócios
As bicicletas também estão gerando renda. Em Manaus, um empreendimento chamado Amazon Bikentregas tem ganhado as ruas, de forma sustentável, e como alternativa para o sustento de vários colaboradores, como conta Raimundo Neto Santos, criador da iniciativa.
“Temos na Amazon Bikentregas vários parceiros que apoiam o modal de bicicletas, e nos utilizam como ‘bike boys’. As pessoas escolhem nossos serviços, que são mais baratos, rápidos, práticos e entregamos. Mesmo com as dificuldades, que tem na cidade como a falta de ciclovias, nós seguimos fazendo nosso trabalho, gerando emprego e renda”, conta Neto.
A escolha por bicicletas, além do baixo custo, é o incentivo saudável de ter no veículo qualidade de vida, saúde e o compromisso com meio ambiente.
“É meu meio de sobrevivência. E eu uso bicicleta pra tudo, é o melhor para se locomover, seja para o shopping, uma loja, um supermercado. Ela tá presente comigo 24 horas, no trabalho, na igreja, no cinema e ainda viajo em cima dela. Já fui em Autazes, Careiro Castanho, Itacoatiara, Presidente Figueiredo e outros municípios do Amazonas, eu praticamente moro em cima dela”, conta o empreendedor.
Grupos de Pedais
Além do Pedala Manaus e Bike Anjo, que ensina a andar de bicicleta quem ainda da não sabe, existe a Seven Bikers, um outro grupo de ciclistas que está em quase todo o mundo, e através do projeto “Pedal Sem Bike”, incentivam e apoiam quem tem interesse em usar a bicicleta.
“Começamos o grupo com três pessoas que tinham bicicleta, e a minha ideia inicial era que a gente emprestasse as bikes pra quem não tem, porque eu conhecia pessoas que queriam pedalar mas não tinham bicicletas, e aí nasce o projeto “Pedal Sem Bike”, onde damos oportunidade para pessoas pedalarem. Nós alugamos bicicleta para as pessoas, e isso sai do bolso de alguns voluntários, além do meu”, conta Flávia Redman, de 33 anos, líder do projeto em Manaus.
Se você é da Amazônia e tem uma história que envolva a bicicleta, nos conta, enviando um e-mail para: jornalismo@portalamazonia.com.