Os estudantes atendidos pelo Projeto Mundiar na aldeia Akrãtikatêjê, em Bom Jesus de Tocantins, município do sudeste paraense, encerraram nesta quinta-feira (23) as aulas de boas práticas voltadas ao manejo da castanha do Pará. A ação está inserida no Projeto Florestabilidade, que tem como objetivo promover entre os estudantes o aprendizado da disciplina Estudos Amazônicos.
Na aldeia Akrãtikatêjê, do povo Gavião da Montanha, 22 indígenas voltaram para a sala de aula no segundo semestre do ano passado – seis para concluir o ensino fundamental e 22 para o ensino médio, por meio do ‘Mundiar’, uma metodologia implantada em 2014 pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc), em parceria com a Fundação Roberto Marinho, destinada a corrigir a distorção escolar idade/ano e reduzir repetência e evasão de alunos da rede pública de ensino.
Eliz Sampaio, professora da turma de ensino fundamental, e Loid Souza, responsável pela turma de ensino médio, disseram que a temática Florestabilidade foi abordada dentro do projeto com todos os 22 alunos, devido à importância da preservação da história do povo Akrãnikatejê, que está ligada à coleta da castanha do Pará. “A prática do manejo e a influência do fruto na vida deste povo, e sua importância econômica, social e ambiental, foram trabalhadas com o propósito de despertar nas futuras gerações de indígenas a vocação para carreiras florestais”, destacou Eliz Sampaio.
Diversidade
O Projeto Florestabilidade apresenta conteúdos e metodologia que valorizam o saber tradicional, as técnicas e a diversidade de perfis profissionais presentes no manejo florestal. Segundo a professora Eliz Sampaio, o projeto também fomenta uma rede colaborativa entre profissionais, aspirantes à profissão e o mercado de produtos florestais, “para divulgar oportunidades de formação e trabalho, e compartilhar boas práticas, inclusive com a formação de cooperativas, que está entre as 30 profissões que podem ser desenvolvidas pelos povos da floresta”, destacou.
O projeto foi desenvolvido em duas etapas na aldeia. Na primeira foi utilizada a metodologia telessala, com a valorização de diferentes saberes e estímulo ao conflito produtivo e ao diálogo que transforma o ensino em aprendizado. “Em seguida, houve a parte de boas práticas, com a separação e higienização dos frutos, que foram descascados e embalados. Todo o processo foi anotado pelos estudantes”, informou Eliz Sampaio.
Língua mãe
Alunos Akrãtikatêjê e professores não indígenas estão tendo aulas da língua indígena Jé, do tronco Timbira, com Kátia Tonkiré, única cacique Gavião no Brasil. “O ‘Mundiar’ chegou como uma grande esperança para o meu povo concluir o ensino médio. Muitos dos estudantes estavam parados há dois anos. Estou também ensinando a eles a língua do nosso povo, pois o meu grande objetivo é que, após a conclusão do ensino médio, todos os 18 alunos entrem para a universidade e possam utilizar todo o conhecimento obtido nas universidades em prol do nosso povo, aqui dentro da nossa aldeia. Por isso, estou também colaborando com a formação deles, no aprendizado da nossa língua mãe”, disse Kátia Tonkiré.
A aldeia Akrãtikatêjê está formando mais uma turma de estudantes do Mundiar. Sete novos indígenas já procuraram a cacique para solicitar a matrícula.