Morte de macaco por febre amarela em Belém preocupa autoridades em saúde


Mobilização ocorre no entorno do Parque do Utinga, onde um macaco morreu vítima da doença. Objetivo é reforçar alerta e convocar população a se vacinar. Foto: Cláudio Santos/Agência Pará

A morte de um macaco por febre amarela mobiliza as autoridades em saúde de Belém (PA) desde o último sábado (25). Mais de 120 agentes de combate a endemias estão envolvidos em operação especial, com vacinação e visitas a três mil casas no entorno da área do Parque Ambiental do Utinga, nos bairros do Curió-Utinga e Águas Lindas. O objetivo é reforçar o alerta à população para os cuidados contra o mosquito Aedes aegypti e convocar 12 mil moradores do entorno da área verde a se vacinarem contra a febre amarela.

A ação, que deve durar uma semana, é uma resposta rápida e de protocolo-padrão da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) frente ao risco levantado após ser registrada, na última quarta-feira (22), a morte de um macaco do gênero Saimiri (mico-de-cheiro). O animal foi encontrado debilitado dentro da área do parque ambiental, após exame sorológico – o que é rotina para esses tipos de casos -, se constatou na quinta-feira (23) que o macaco morreu vítima do vírus da febre amarela. Em ambiente silvestre, como as matas do Utinga, a febre amarela é transmitida através de picadas dos mosquitos do gênero Haemagogus.

Macaco do gênero Saimiri, semelhante ao que morreu em Belém. Foto: Val Campos/ICMBio

“Seguimos o que prevê o protocolo de saúde para esses tipos de ocorrências, que é fazer um bloqueio vacinal da população que está no raio de até um quilômetro na área de entorno do registro do caso da febre amarela silvestre”, esclareceu pela manhã Bernardo Cardoso, diretor do Departamento de Controle de Endemias da Sespa.

Desde quinta-feira a área do parque e também a vizinhança dos bairros do Curió-Utinga e Águas Lindas vêm sendo borrifadas com veneno contra mosquitos. A ação de contenção e monitoramento, que inclui ainda apoio de homens do Centro Nacional de Primatas do Instituto Evandro Chagas (IEC), também montou armadilhas em copas de árvores do Parque do Utinga para que mosquitos sejam colhidos. Exames são feitos com os insetos capturados para se constatar se há mosquitos contaminados com o vírus da febre amarela silvestre, de que gêneros eles são e em que números estão distribuídos.

Parque fechado

Enquanto isso, o Parque do Utinga seguirá também fechado ao público por uma semana, até que se tenha um panorama maior da situação e as ocorrências estejam sobre controle. O acesso de pesquisadores, porém, segue mantido, conforme o procedimento padrão, através de pedidos realizados junto ao Batalhão de Polícia Ambiental da PM.


Os agentes também estão colhendo larvas de mosquito para exames e identificação. Foto: Cláudio Santos/Agência Pará

Nas visitas a serem feitas até a próxima quarta-feira (1º) no entorno do Parque do Utinga. Agentes da Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma) estão entrando de casa em casa para ver as condições de quintais e instalações internas das residências – tudo para combater focos de larvas do Aedes aegypti e também orientar a população sobre como se prevenir (do descarte de utensílios e vasilhames que acumulem água dentro e fora de casa à defumação e uso de mosquiteiros e telas).

Os agentes também estão colhendo larvas de mosquito para exames e identificação. Uma base da Sespa estará montada no Batalhão de Polícia Ambiental do Utinga para dar apoio à ação. Enquanto isso, os dois postos de saúde dos bairros do Curió-Utinga e Águas Lindas também estão de prontidão reforçada até a Quarta-Feira de Cinzas para efetivar vacinação maciça contra a febre amarela junto à população dos bairros. O mesmo ocorrerá em todos os postos de saúde de Belém, com doses da vacina também sendo oferecidas, conforme já é de praxe.

Alerta contra o Aedes

A ação realizada hoje de manhã no entorno do Parque do Utinga também foi reproduzida em Rurópolis, onde recentemente um caso de febre amarela foi confirmado, além de se ter o registro de dois macacos mortos com sorologia confirmada para a doença, na zona rural do município paraense. Por causa dessas ocorrências, um plano de contingência foi mobilizado na última quarta-feira (22) pela Diretoria de Vigilância em Saúde da Sespa, em parceria com o Instituto Evandro Chagas, para reforçar o combate e o controle da doença.


O Parque do Utinga seguirá fechado ao público por uma semana, até que se tenha um panorama maior da situação e as ocorrências estejam sobre controle. Foto: Cláudio Santos/Agência Pará

O Pará não tinha registros de febre amarela desde 2015. Nenhum caso da doença foi registrado em 2016 – e, na última década, apenas oito casos foram registrados em todo o Estado. Em 2017, mesmo com o plano de combate anunciado pela Sespa, nenhum outro caso suspeito e nenhuma morte foram registrados até agora – embora vários casos de febre amarela urbana estejam sendo registrados em Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo.

Em 2015, foram 80.230 os paraenses vacinados contra a febre amarela. Em 2016, outros 71.195 foram imunizados contra a doença em todo o Pará.

“Obviamente essa ocorrência no Parque do Utinga significa uma situação de risco e a Sespa agiu rapidamente para atuar no controle do mosquito e na imunização das pessoas, mas é preciso lembrar também que os surtos de febre amarela se repetem todos os anos no Brasil. Vivemos numa das duas regiões endêmicas da doença no mundo, a Bacia Amazônica, ao lado do Congo”, esclareceu Bernardo Cardoso.

O diretor de Endemias da Sespa lembrou ainda que a principal preocupação do bloqueio vacinal realizado no entorno da área do Parque do Utinga se dá justamente pelo perigo da circulação do vírus da febre amarela entre populações diferentes de mosquitos, levando a doença se multiplicar nas áreas urbanas.

A lógica é simples: enquanto nas matas o vírus da febre amarela silvestre infecta os mosquitos dos gêneros Sabethes e principalmente Haemagogus, caso um humano morador dessas áreas próximas às florestas seja picado e infectado com o vírus, a doença pode ser transmitida a outras pessoas de áreas urbanas. Isso porque nessas áreas há grande concentração do mosquito Aedes aegypti -, que além da dengue, do zika vírus e da febre chikungunya, também pode ser transmissor da febre amarela urbana, se o inseto picar uma pessoa doente e, também infectado deste modo, a partir daí picar outra pessoa.

Vacinação

Fora isso, um terceiro mosquito, que também já foi encontrado nas redondezas do Utinga, também ajuda a disseminar a febre amarela nas cidades. “O Aedes albopictus tem como característica o trânsito tanto em áreas de mata como em áreas urbanas, e também pode ser vetor do vírus da febre amarela”, ressalta o diretor de Endemias da Sespa.

“Não há motivo para grandes preocupações. Nesse momento, todos os procedimentos-padrão estão sendo tomados pela Sespa e pela Sesma e a maior precaução é a população se vacinar”, reiterou o médico veterinário da Sesma Roberto Messias.


Agentes estão entrando de casa em casa para ver as condições de quintais e instalações internas das residências. Foto: Cláudio Santos/Agência Pará

No próprio batalhão de Polícia Ambiental, todo o efetivo de 170 homens que atuam em Belém e também majoritariamente no monitoramento do Parque do Utinga já estará vacinado até o início da semana, garantiu o comandante, tenente coronel da PM Mauro Barbas.

“Felizmente, para essa situação de risco, temos um grande trunfo que é a vacina, o que ainda não temos para a prevenção da dengue, por exemplo. A vacina contra a febre amarela é extremamente eficaz e segura, com imunização completa em dez dias e válida por até dez anos”, reforçou, por sua vez, o diretor do Departamento de Endemias da Sespa.

As doses oferecidas podem ser procuradas por toda a população, sem distinção de idades – com exceção de menores de seis meses, alérgicos a ovos, gestantes e pessoas em situação de baixa imunidade ocasionada por tratamentos, para os quais a vacina não é indicada.

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