Manaus sofre por falta de espaços públicos’, afirma Vanderlan Santos

MANAUS – A preocupação com o esporte e o lazer é antiga em Manaus. Não começou com os manauenses, mas com os ingleses que vieram para a capital amazonense em fins do século 19, quando começava o boom do comércio da borracha. É o que conta o professor doutor Vanderlan Santos Mota, fisioterapeuta e cursando arquitetura e urbanismo. Vanderlan tem três livros publicados: ‘Espaços públicos de lazer em Manaus, o papel das políticas públicas’, de 2008; ‘Lazer e recreação, aspectos pedagógicos e técnicos’, de 2009; ‘Lazer, habilidades históricas e educacionais’, de 2014; e ‘Educação física escolar e materiais alternativos da floresta amazônica’, ainda sendo rodado, por isso é autoridade para falar sobre o assunto.

“Desde os primeiros anos em Manaus, os ingleses implantaram aqui os esportes e o lazer que praticavam em seu país. Trouxeram o remo, cuja hegemonia depois perdemos para Belém (por isso tem o Clube do Remo na capital paraense) e nas competições sempre ficávamos para trás na disputa com eles; o ciclismo, praticado no velódromo que ficava na Cachoeirinha, na esquina das atuais avenida Silves e rua Santa Izabel. No velódromo ainda tinha disputa com motos e até luta de boxe; e o futebol, jogado na praça da Saudade, quando o local ainda era apenas um vasto terreno”, contou.
Parques são locais cada vez mais procurados pela população para relaxar. Foto: Walter Mendes/JC
De acordo com Vanderlan, tornou-se hábito da população nos finais de semana ir ver as competições de remo, que aconteciam pela manhã, saindo do roadway e passando por sob as pontes da Sete de Setembro. Às 14h, iam para o velódromo e às 16h, seguiam para o Parque Amazonense onde, inicialmente funcionou uma hípica e depois campo de futebol. Também implantada pelos ingleses havia uma competição de natação. “Em minhas pesquisas descobri que os ingleses jogavam bola de dia no local onde surgiria a praça da Saudade, e só à noite os negros moradores da Praça 14 podiam ocupar o espaço, mas a bola era pelos ingleses”.
Também foi iniciativa dos ingleses a urbanização de vários terrenos transformando-os em praças. Para eles, elas representavam um centro de convivência da comunidade. “Eles deixaram mais de 20 praças numa área que ia do centro, até a Cachoeirinha, passando pelo Boulevard e Praça 14. A praça Chile era uma praça ampla, mas veja o que restou dela, sem falar das que foram dizimadas; onde hoje está o hospital e a Vila Militar, seria a maior delas. No final da ponte de ferro (Benjamin Constant) havia outra. E mais outra onde é a TV Lar Ypiranga. A da Praça 14 também restou pouco. Lembra do elefante branco que construíram na praça da Saudade, e foi demolido há alguns anos? E aquele outro elefante branco construído na Bola da Suframa, permanentemente vazio?”, lamentou.
Praças são opções para lazer do manauara. Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia
“O mais triste é ver o poder público destruindo as praças e ninguém reclama. Hoje a praça tradicional com árvores, bancos e área para você passear foi substituída pela praça de alimentação onde as pessoas vão para ficar sentadas e comendo. Por isso o número de obesos só aumenta”, reclamou o professor.
“Estudos mostram que as zonas Norte e Leste de Manaus, as mais habitadas da cidade, são as que menos possuem áreas para esporte e lazer. Agora virou moda construir essas academias ao ar livre, mas elas são feitas em lugares onde não há necessidade, como a que existe no Parque dos Bilhares. Enquanto isso, os bairros que mais precisam, ficam alijados do processo, depois, essas academias não vão ter um educador que ensine a prática correta dos exercícios, quem vai fazer a manutenção desses equipamentos e porque colocam em lugares que fecham, como o Parque dos Bilhares?”, disse Vanderlan.
Pra finalizar, Vanderlan reclama pelo fato de Manaus estar em meio à floresta e não ter um parque. “Mindú, Bilhares e Lagoa do Japiim não podem ser chamados de parques. A Reserva Florestal Adolpho Ducke, tem horário para fechar, o campus da Ufam é federal e jamais poderá ser transformado num parque público. Só resta o Tarumã, ainda com bastante espaço para um parque. Aí as pessoas praticam o esporte e o lazer como podem, como os exercícios e as danças, que agora estão por diversos espaços, inclusive alguns em meio à fumaça dos carros ou nada apropriados para tal, ou seja, as pessoas querem e precisam esportes e ter lazer, mas as autoridades não dão muita atenção a isso. Quem sabe se os ingleses voltassem”, concluiu.
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