A decisão é assinada pelo juiz da Vara Única de Colniza, Ricardo Frazon Menegucci, e foi publicada na quarta-feira (17). O magistrado deu um prazo de 10 dias para os réus apresentarem suas respectivas defesas à Justiça. A reportagem do G1 Mato Grosso não localizou a defesa dos acusados.
Tornaram-se réus no processo o empresário do ramo madeireiro Valdelir João de Souza, de 41 anos, apontado como mandante do crime, o ex-sargento da Polícia Militar de Rondônia, Moisés Ferreira de Souza, Ronaldo Dalmoneck, Pedro Ramos Nogueira e Paulo Neves Nogueira – sendo esses dois últimos tio e sobrinho.
Ao receber a denúncia, o magistrado ainda decretou as prisões preventivas do empresário e do ex-sargento da PM, que estão foragidos. Pedro Ramos e Paulo Neves estão presos preventivamente. Já Ronaldo Dalmoneck, que também está com a prisão preventiva decretada desde um pedido feito pela Polícia Civil, ainda não foi encontrado.
De acordo com o juiz, a prisão dos réus se faz necessária para preservar a instrução processual e a ordem pública, diante da possibilidade de intimidação das vítimas, conforme indícios que constam no inquérito produzido pela Polícia Civil sobre o crime, como a tortura praticada contra as vítimas, que seriam uma “mensagem bem clara para quem contrariasse os desígnios do grupo”.
“Se em tese ceifaram nove vidas para supostamente garantir a exploração de uma atividade econômica, é possível concluir que também o fariam com vistas a sair incólumes da presente instrução processual”, afirmou o magistrado.
Depoimentos
Segundo consta na denúncia feita pelo MP, os depoimentos de cinco testemunhas apontam que o empresário Valdelir, em conjunto com os demais réus, “praticava violência contra as pessoas que estavam na região a fim de garantir a exploração de uma atividade econômica”.
Uma das testemunhas afirmou ter presenciado os assassinatos, identificando os membros do grupo e afirmando que o empresário tem interesse na desocupação da gleba “para extrair madeiras e posteriormente ficar com a terra e vendê-la”. Já um outro morador da região relatou à polícia que um dos empregados de Valdelir já o teria alertado, com antecedência, sobre a chacina.
‘Requintes de crueldade’
Na denúncia, o MP afirma que os acusados integram um grupo de extermínio denominado “os encapuzados”, conhecidos na região como matadores de aluguel, sendo contratados para ameaçar e executar pessoas.
Consta na denúncia que, no dia da chacina, Pedro, Paulo, Ronaldo e Moisés, a mando de Valdelir, teriam seguido até a Linha 15 – onde ocorreu a chacina – e, com o uso de de armas de fogo e arma branca, executaram Francisco Chaves da Silva, 56, Edson Alves Antunes, 32, Izaul Brito dos Santos, 50, Aldo Aparecido Carlini, 50, Sebastião Ferreira de Souza, 57, Fábio Rodrigues dos Santos, 37, Samuel Antonio da Cunha, 23, Ezequias Santos de Oliveira, 26, e Valmir Rangel do Nascimento, de 55 anos.
De acordo com o MP, a crueldade empregada pelos assassinos pode ser constatada na forma como cada vítima foi encontrada. Enquanto Francisco e Edson foram mortos a tiros, a vítima Valmir tinha vários cortes causados por golpes de arma branca e foi encontrado degolado e com as mãos amarradas para trás. Os três estavam no lado direito da Linha 15.
Cerca de 6 km à frente, segundo o MP, foi deixado um “verdadeiro rastro de morte”. O corpo de Izaul, também degolado e com as mãos amarradas para trás, foi encontrado ao lado da casa dele. Já Aldo foi morto baleado e Ezequias, com golpes de faca no pescoço. Os dois estavam no km 2 da Linha 15.
O corpo de Sebastião, que foi assassinado a golpes de facão, foi encontrado dentro de casa. Já Fábio e Samuel foram localizados nas proximidades de um córrego e apresentavam ferimentos provocados por arma de fogo.