Índios, proprietários de terra e moradores de Viana vivem sob tensão após confronto

Foto: Reprodução/CBN

Índios Gamela estão reunidos em dois acampamentos sendo assistidos por organizações de direitos humanos depois do confronto que deixou três indígenas gravemente feridos no último domingo (30). Confronto com homens armados aconteceu no povoado de Bahias, no município de Viana, no Maranhão.

Uma equipe da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos esteve no acampamento para ouvir as reivindicações dos indígenas, onde a maior delas é a posse da terra, como explica Oscar Gamela, uma das lideranças: “A gente espera que o governo tome providência quanto nosso território. A gente sabe que é muito demorado, mas a gente está dependendo dele para não acontecer o pior”.

Em Viana, de um lado estão os indígenas que acreditam ser os legítimos donos da terra e do outro, além dos grandes posseiros, estão os médios e pequenos agricultores que tiram da terra o seu sustento. A ausência do diálogo e a mão do poder público faz com que ambos protagonizem episódios de violência.

Núbia, que estava em casa sozinha quando a propriedade onde ela é empregada foi invadida pelos indígenas, conta que viveu momentos de pânico. “Eu não entendi o que estava acontecendo no momento. Quando eu olhei uma arma me apavorei e corri em direção da rua. Só que eu não sabia que já estava tudo cercado por eles. Todos armados, muita arma”, relatou.

Professor e proprietário da chácara, Eugênio resume o sentimento dos moradores: “Insegurança. Muita insegurança, porque fica todo mundo sobressaltado de qualquer momento entrarem nas propriedades e se apossarem igual já fizeram com algumas”.

Para a comissão de Direitos Humanos da OAB-MA, a insegurança é consequência da ausência do poderpúblico. “Essa indefinição por conta da falta de atuação do governo federal através da Funai agrava a situação, porque gera insegurança jurídica para todos os lados. Nesse aspecto, proprietários privados ficam em uma situação de indefinição assim como o povo indígena Gamela”.

Povo Gamela

As referências do povo indígena Gamela em Viana remontam ao século 18 e suas terras, fruto de uma doação no período imperial, foram sistematicamente sendo ocupadas por fazendeiros, o que levou a população indígena a perder sua identidade ao longo dos anos e serem dados como extintos na década de 1950. Apenas recentemente se reorganizaram e já somam perto de 1,2 mil.

Organizações de direitos humanos e representantes dos governos estadual e federal estão na região para prestar assistência e buscar soluções para o conflito, que é causado principalmente pela demora na demarcação das terras indígenas.

O representante da Funai, Bruno Lima, reuniu-se com os indígenas para falar sobre a situação, mas não comentou o processo de identificação e demarcação que está parado desde 2015. “Existe uma série de demandas por demarcação de terras indígenas e a questão Gamela está entre essas demandas. É justamente isso que passaremos para a sede para ver como pode ser encaminhado o mais breve possível”, disse.

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