Os indígenas do povo Puyanawa, no Acre, estão arrecadando dinheiro para comprar 11 mil hectares de terra sagrada para a etnia, mas que estão fora da área demarcada que ocupam. Para tanto, eles vendem CDs com músicas tradicionais e um documentário, que fizeram em parceria com uma organização internacional. A Fundação Nacional do Índio (Funai) diz que acompanha o processo para ajudar os indígenas com os trâmites necessários para a possível futura anexação.
A terra sagrada para os Puyanawa fica na cabeceira de afluentes do baixo rio Moa. O lugar era ocupado pela etnia antes do contato com os não-indígenas. Segundo dados do Instituto Nacional da Colonização e Reforma Agrária (Incra), a área fica dentro do seringal Laje, com cerca de 11 mil hectares, localizado entre os municípios de Rodrigues Alves e Mâncio Lima.
A Funai confirmou ao Portal Amazônia que o local sagrado está fora área da Terra Indígena Puyanawa, demarcada no ano de 2000. O território tem 27 mil hectares e abriga cerca de 700 indígenas. O pedido de revisão da terra foi realizado há três anos, segundo o coordenador da Funai na região, Luiz Souza. Mas até o momento, órgão não analisou a solicitação de revisão.
O presidente da Associação Puyanawa, José Luís Puyanawa, conta que o dono da terra pediu R$450 por cada hectare. Toda a terra pretendida vai custar cerca de R$4,95 milhões de reais. “Para nós o que estamos fazendo não é comprar o terra, mas reconquistá-la. Nossos antepassados moravam nesse lugar, e fomos expulsos pelos brancos. É nossa obrigação reconquistar esse espaço sagrado”, afirmou o presidente.
Para coordenador da Funai, o povo Puyanawa está pleiteando uma causa justa. “Aquela região é parte do mundo, da história do povo Puyanawa. Tudo isso tem um valor imensurável para eles. Os indígenas estão esperando análise da Funai. Enquanto isso não ocorre, eles resolveram comprar por conta própria o território e no futuro pedir uma anexação à terra indígena”, afirma Luiz. O órgão também media o diálogo entre as partes interessadas, o que possibilitou um acordo sobre o preço da terra segundo o valor de mercado. Maloca típica dos indígenas Puyanawa. Foto: Reprodução/Instituto Socioambiental
A revisão e anexação do território também enfrenta obstáculos. Segundo coordenador Luiz, o território indígena Puyanawa, tem sofrido pressões no entorno. “Alguns municípios não seguiram totalmente as regras para a criação de empreendimentos próximos as terras indígenas, a grande maioria deles é de assentamentos da reforma agrária. Além disso uma concessão de captação de petróleo muito próximo ao território está embargado pelo Ministério Público Federal, mas não se sabe até quando essa situação vai se manter e quais problemas esse tipo de projeto pode gerar”, afirma o coordenador.DoaçõesSegundo Luís Puyanawa, um documentário está sendo produzido em parceria com uma organização não-governamental da Espanha. Assim que a produção estiver pronta, os Puyanawa pretendem realizar amostras em várias partes do mundo oferecendo produtos e serviços em troca de valores que possam ajudar a comprar a terra sagrada. “Se um brasileiro quiser, por exemplo, doar R$10 mil para o nosso projeto, nós vamos dar permissão para que ele participe de todas as nossas festas anuais. Se ele quiser ajudar com R$ 50, enviamos um CD com nossas músicas”, diz o presidente da associação.
Até o momento, os Puyanawa ainda não têm uma conta bancária para arrecadar doações por via eletrônica. O presidente espera que em breve tanto o documentário como a conta conjunta da associação Puyanawa estejam prontos. “Tudo estará provavelmente pronto em março de 2017. Nós vamos mostrar a nossa luta para todo o mundo e buscar ajuda das pessoas que acreditam na importância da defesa da floresta”, finaliza Luís Puyanawa.