As águas turvas da baía do Guajará ganharam o colorido alegre das embarcações, de centenas de fiéis que acompanham o Círio Fluvial, na manhã deste sábado (8). Bandeiras coloridas, faixas e balões ornamentavam barcos, canoas e jet skis cuidadosamente enfeitados para a procissão dedicada à Nossa Senhora de Nazaré, realizada há exatos 30 anos.
O primeiro Círio Fluvial aconteceu no dia 8 de outubro de 1986. A iniciativa, que partiu da extinta Companhia Paraense de Turismo (Paratur), se tornou tradição e hoje é uma das principais procissões oficiais da maior festa católica do norte do país. O secretário estadual de turismo, Adenauer Góes, contou que a ideia surgiu através de um sonho do então presidente da Paratur, Carlos Rocque.
“Foi uma feliz ideia do jornalista Carlos Rocque. A filha dele disse que um dia ele acordou e falou que tinha sonhado com uma procissão fluvial”, lembrou o secretário Adenauer Góes, que defende que a procissão combina com as festividades do Círio. “A santinha tem tudo haver com as águas porque ela foi encontrada as margens do igarapé, e também por ela ser a rainha da Amazônia”, reiterou.
Do primeiro círio fluvial até hoje, algumas mudanças significativas foram implantadas, como a retirada da berlinda, que foi substituída por uma cúpula de vidro, permitindo aos fiéis, uma melhor visibilidade da imagem da santa. Outra mudança veio em 1999, quando o barco que transladava a imagem passou a ser da Marinha do Brasil, que disponibiliza uma embarcação para levar a imagem nos 18 quilômetros de procissão, entre o trapiche de Icoaraci e a Escadinha do Cais do Porto, na Praça Pedro Teixeira.
O comandante da Marinha, Eduardo Leal, contou que centenas de marinheiros e fuzileiros, além de dezenas de embarcações da marinha estão envolvidas na festividade. “A Marinha se preparou muito para esse momento, na área da segurança da navegação e sucesso dessa procissão. Sinto muito orgulho e satisfação em ver a Marinha participando desse evento ativamente. Nós temos o lado pessoal, mas também o lado profissional, a relação especial com a nossa fé”, destacou o Almirante Eduardo Leal, que participa do círio pela primeira vez.
A bordo do Ganier Sampaio, a imagem peregrina seguiu colhendo homenagens durante toda a procissão que emocionou a professora Rosa Cristina Vieira, que veio de Miguel Pereira, Rio de Janeiro, para participar do Círio. “Estou achando uma festa linda. Nunca podia imaginar que uma imagem pudesse promover tamanha comoção nas pessoas daqui e na gente também que vem de fora. Estou amando tudo e pretendo participar de outras romarias”, afirmou.
O Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar, através do Grupamento Fluvial, fizeram a segurança no rio em conjunto com a Marinha. Esse ano, 390 embarcações solicitaram inspeção para participar da procissão das águas, um número bem superior aos 30 barcos que participaram da primeira edição do círio fluvial na década de 80. “Está cada vez maior e melhor”, observou Dom Alberto Taveira. “É uma alegria muito grande ver que a nossa fé se reúne, a nossa esperança se renova, justamente no Círio, debaixo da proteção de Nossa Senhora de Nazaré. Gostaria de agradecer a todos e desejar que vivamos muito bem esse círio, que para nós é o círio da misericórdia”, complementou.
O Círio fluvial terminou por volta das 11h30, quando foi iniciada a Motorromaria, terceira procissão deste sábado. No cais, a imagem de Nossa Senhora de Nazaré foi recepcionada por milhares de fiéis. Depois de receber honraria da Polícia Militar do Pará, a imagem peregrina também foi homenageada pelo Arraial do Pavulagem com o batuque que ecoa há 16 anos comemorando a fé do povo paraense. Depois, como tradicionalmente é feito, o cortejo seguiu pelas ruas, atraindo diversos brincantes como a costureira Raimunda do Vale, que seguia os passos da toada. “É o símbolo do nosso Pará. É uma linda homenagem que a gente faz para a ‘Nazinha’, nossa mãe”, afirmou a moradora do bairro do Jurunas em Belém.
O pequeno Kenzo dos Anjos, 9 anos, desfila há dois anos no arrastão. “Eu gosto muito de participar, me sinto muito feliz de fazer parte do arrastão do Círio”, garantiu Kenzo, se equilibrando em pernas de pau. Júnior Soares, organizador do arrastão, diz que o evento é sempre um desafio, com grandes emoções. “A gente está na rua fazendo cultura popular, trazendo a alegria para um monte de gente, com a emoção de homenagear Nossa Senhora. E isso só é possível por causa de todos os integrantes que fazem essa festa linda, e dos nossos parceiros como o Governo do Estado”, destacou.