Cheia do rio Negro ficará entre as seis maiores dos últimos anos, diz CPRM

Foto: Portal Amazônia/Clarissa Barcelar

A cheia do rio Negro em 2017 ficará entre as seis maiores nos últimos 10 anos. O anúncio foi feito na manhã desta sexta-feira (31) pela Companhia de Pesquisa em Recursos Minerais (CPRM). De acordo com a previsão, a enchente em Manaus este ano deverá registrar a média de 29,60 metros.

A previsão máxima é de 29,95 m, o que tornaria a enchente deste ano em Manaus a segunda maior da história, desde o início do monitoramento no Porto da capital, em 1902. A maior registrada foi em 2012, quando atingiu quando o nível do Rio Negro em Manaus chegou a 29,97m.

De acordo com o superintendente na CPRM, Marco Antonio Oliveira, a previsão máxima de 2012 era de 30,02 metros e a cheia se aproximou deste valor, no entanto, é necessário acompanhar o ritmo da enchente, que pode variar. “Se vai atingir a cheia de 2012, existe uma incerteza. Mas o que queremos indicar neste primeiro alerta é que é uma cheia grande, o que consideramos quando o rio ultrapassa os 29 metros, e por tanto, deve atingir toda a população de Manaus e também do interior. Uma vez que quem controla o Rio Negro é o Rio Solimões, então se o Negro está refletindo uma cheia grande ela também deve acontecer em toda a calha do Solimões, de Tabatinga até o baixo Solimões”, explicou.

Este primeiro alerta é dado com uma antecedência de 75 dias. “Vamos melhorando a previsão na medida que chegamos perto do fenômeno da cheia, que acontece em julho”, completou Oliveira. O segundo está previsto para ser divulgado em  30 de abril e o terceiro apenas dia 2 de julho. “Se a cheia for grande como está sendo previsto, em abril as pessoas já estão sofrendo com o processo da cheia. Portanto esse alerta eu acho que é o mais importante”, finalizou.

Segundo a engenheira ambiental da CPRM Luna Gripp, quando a cheia em Manaus chega a 28,50 m já gera impacto na população ribeirinha. A expectativa prevista é que este nível seja atingido uma vez a cada sete anos, de acordo com analises dos monitoramentos desde 1902 no Porto da cidade. A previsão para cota acima dos 29 metros era de uma a cada oito anos. “Mas se pegar toda a serie histórica, observamos que há uma mudança significativa nesse padrão nos últimos anos. Ainda não temos um consenso das causas”, informou.

Fenômenos climáticos

Presente na reunião de divulgação do alerta, o meteorologista do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), Ricardo Dallarosa, informou que o fenômeno climático La Ninã (produz aumento de chuvas na região) deixa de atuar na Amazônia. “A La Ninã está indo embora e existe uma expectativa de instalação de um El Niño para daqui talvez três meses. Temos um efeito residual do La Niña e que esse ano esteve bastante ativo principalmente na Amazônia colombiana, peruana. Por conta disso, os rios já começaram o ano com um nível já relativamente elevado, como no caso do Juruá. A expectativa é nesses próximos três meses se tenha a condição de permanência dessa situação”, informou.

A previsão, desta forma, é que as chuvas se mantenham. “Pelo fato de que estamos na estação chuvosa isso é mais preocupante. Estamos chegando na transição, mas até lá ainda teremos chuvas abundantes sobre as bacias dos rios e preocupação com relação as populações ribeirinhas”, destacou. “A contribuição das chuvas vai ser bastante significativa nesse período”, disse.

Segundo Dallarosa, os dados são baseados em dois modelos de previsão: ECMWF, que indica chuvas acima do esperado no proximo trimestre no noroeste da América do Sul; e CFSv2, que também mostra que o noroeste da região terá chuvas acima do esperado. “É com esse quadro que temos a possibilidade de fazer uma avaliação com relação a chuva. Abril ainda será bastante chuvoso, maio começa a transição  e então junho inicia a seca para nós. Esperamos que não chova tanto na Amazônia brasileira, mas sobre as bacias dos rios que tem nascente fora”, concluiu.

Atuação da Defesa Civil

O secretário da Defesa Civil do Amazonas, coronel Fernando Pires Jr, declarou que o trabalho do órgão teve início já no fim de 2016 com relação à cheia. “Começamos fazendo o levantamento, de acordo com os diagnósticos que recebemos do CPRM, Sipam. Tudo está ocorrendo conforme as previsões. A primeira calha observada foi a do Juruá, onde temos quatro municípios em situação de emergência e mais dois em situação de alerta. A primeira assistência das Defesas civis do Estado e dos municípios já atuam para fazer o socorro a mais 5,9 mil famílias”, explanou.

Em situação de emergência estão Guajará, Ipixuna, Eirunepé e Itamarati, com 5.970 famílias atingidas. Todos na calha do Juruá. Em alerta estão: Juruá, Carauari, Envira, Tabatinga, Benjamim Constant, São Paulo de Olivença, Amaturá, Santo Antônio do Içá, Tonantins e Atalaia do Norte, nas calhas do Juruá e Solimões.

Já em atenção, no Baixo Amazonas, estão: Parintins, Barreirinha, São Sebastião do Uatumã, Nhamundá, Urucará, Boa Vista do Ramos e Maués. Em situação de emergência com deslizamentos de terra está Manacapuru, no Baixo Solimões, com 41 famílias afetadas. “Hoje Parintins está muito próximo da cota de transbordamento, no entanto a Defesa Civil já está preparando a comunidade. A única calha que ainda não deu muita preocupação é a do Madeira, que está dentro da normalidade apesar de estar no processo de enchente”, destacou Pires Jr.

Também com vistorias desde meados de janeiro, a Defesa Civil de Manaus tem atuado nas áreas de risco com levantamentos para as ações de precaução e resolução. “Uma vez concluído o levantamento e o monitoramento, vamos iniciar a construção das passarelas, em seguida o cadastramento dessas famílias nesses locais onde a situação é crítica para, inclusive, fornecer ajuda humanitária e moradia temporária. Depois a desinfestação, desinfecção desses locais que são tomados pela água e como a nossa cheia permanece por, em média, 45 dias, esses ambientes precisam ser tratados”, explicou o gerente de resposta ao desastre, Ariomar Nobre. O atendimento da Defesa Civil de Manaus é feito por meio do número 199, 24hs por dia. 

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