Casais viajam até sete horas de barco para casamento coletivo às margens de rio no Acre

Por conta da pandemia, o número de convidados foi reduzido para evitar a contaminação pelo novo coronavírus. Os participantes também tiveram que usar máscaras

A tão esperada cerimônia de casamento para 25 casais teve o Rio Crôa como cenário e testemunha nesta quarta-feira (29) em Cruzeiro do Sul, interior do Acre. Foi às margens do manancial que os noivos disseram sim e realizaram o sonho de oficializar a união durante a 1ª edição presencial do Projeto Cidadão desde o início da pandemia.

Para chegar até o local da cerimônia, teve casal que viajou mais de sete horas de barco. De longe era possível ver a ornamentação com muitas cores, música dando boas vindas a noivas enfileiradas com buquês nas mãos, longos vestidos e até um engarrafamento de barcos ancorados às margens do Rio Crôa.

Por conta da pandemia, o número de convidados foi reduzido para evitar a contaminação pelo novo coronavírus. Os participantes também tiveram que usar máscaras.

Casais foram de barco até a cerimônia — Foto: Pedro Devani/Secom-AC

O estudante Jhonata de Lima e a dona de casa Maria Silva são moradores da Comunidade Valparaíso, no Alto Rio Juruá, e viajaram cerca de sete horas de barco para chegar até o local. Mesmo cansados, o casal disse que estava feliz em oficializar o relacionamento.

“É o momento que temos para oficializar o relacionamento e se firmar cada vez mais um com outro e seguir em frente, que é o que Deus tem para nós”, contou o noivo.

A companheira dele agradeceu o empenho e participação dos envolvidos. “Não temos condições de fazer um casamento e temos muito a agradecer”, resumiu.

O casal José Souza Evangelista e Miriam Lucena também compareceu à cerimônia e trocou alianças. “Todos os sentimentos bons e positivos misturados em um dia só. A gente agradece a Deus por ter proporcionado esse momento para a gente”, disse Evangelista.

Miriam ficou maravilhada com o cenário. “Tem sido um dia muito feliz e festivo e está todo mundo alegre aqui. Casando em um ambiente desse, na natureza bela do Crôa”, comemorou.

Casamento foi feito às margens do Rio Crôa, em Cruzeiro do Sul — Foto: Glédisson Albano/Rede Amazônica Acre

Facilidade

O casamento coletivo é um dos serviços mais aguardados do Projeto Cidadão. O evento oficializa a união de casais que já vivem juntos há algum tempo, mas não tiveram oportunidade de regularizar a situação matrimonial – seja por falta de recursos ou tempo para dar entrada na papelada.

O agricultor Charles Ferreira explicou que não tinha recursos para organizar uma cerimônia de casamento.

“É um dia importante para todos nós, que queremos oficializar o casamento e hoje, graças a Deus, pudemos realizar. Facilita muito, principalmente para nós que somos agricultores e não temos uma renda fixa.

O assistente de aluno Railan Rodrigues, de 19 anos, e a noiva, Thalia Oliveira, foram o casal mais novo a participar do evento. Os noivos aproveitaram o momento para economizar e ficaram encantados com o espaço escolhido.

“Facilita e muito porque vivemos em uma grande pandemia que o Brasil vem sofrendo com as perdas grandes, então, uma ocasião dessas é muito importante, porque nem sempre as pessoas têm condições. É uma bênção de Deus, a união, nos tornamos um só”, falou.

Projeto

Em 2021, o Projeto Cidadão completa 26 anos de atuação no Acre. O programa é desenvolvido pelo Poder Judiciário acreano atendendo pessoas em situação de vulnerabilidade, ribeirinhos, indígenas sem acesso à documentação, consultas e serviços médicos, atendimentos jurídicos, casamento coletivo e outros serviços.

A ação conta com diversos parceiros e instituições públicas que atuam com diversos serviços e atende pessoas que moram em regiões de difícil acesso ou que não têm condições financeiras com a emissão de certidão de nascimento, RG, CPF e outros documentos.

A coordenadora do projeto, desembargadora Eva Evangelista, destacou que o programa já atendeu mais de 1,5 milhão de pessoas ao longo dos 26 anos de existência. “Hoje estamos fazendo um ensaio porque, em razão da pandemia, o projeto não prosseguiu nas atividades, em 2020 foi um ano difícil para a humanidade. Estamos retornando com todas as cautelas”, pontuou.

A secretária de Estado de Assistência Social, dos Direitos Humanos e de Políticas para Mulheres (Seasdham), Ana Paula Lima, revelou que as equipes já trabalharam na comunidade e fizeram um levantamento das necessidades dos moradores. Um dos pedidos da comunidade foi o casamento coletivo.

“Nós, enquanto Estado, fizemos a articulação dos órgãos que são afins da temática e hoje estamos aqui realizando os casamentos, está sendo um dia muito feliz para nós em ver a realização dos sonhos deles”, finalizou. 

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