O coração que arde em defesa da Amazônia!

Retorno a este nosso espaço de contato com os leitores, após o nascimento do meu filho, o que me exigiu atenção e dedicação total aos seus cuidados nestes primeiros dias de vida.

Mas este é um texto que eu não gostaria de estar escrevendo. Talvez porque o escreva com tristeza, talvez porque ele seja menos acadêmico, científico, informativo do que eu gostaria. É quase um desabafo pelo que vemos acontecer em nossa região. Lembro que quando começamos a escrever no “Ingrediente: Amazônia”, uma das nossas maiores motivações era abordar a infinitude da riqueza natural que a floresta, seus rios e campos, seu povo e seus costumes nos garantem em termos de sustento, conhecimento, cultura e sobretudo vida.

Afinal falar da Amazônia como um símbolo daquilo que é a base de qualquer preparação ou prato, não é reduzi-la. Muito ao contrário, trata-se de entendê-la em toda sua magnitude. Como parte intrínseca daquilo que somos e fazemos. Não é possível escapar disso.

Assim, nosso coração arde. E enquanto isso a floresta em chamas se vê em luta para garantir sua própria sobrevivência –  e que ironia! – também daqueles que promovem esta sandice contra ela. Temos infinitos pontos de vista para analisar o que hoje acontece na Amazônia, mas, sendo este espaço reservado para falarmos de cultura e hábitos alimentares, cozinha e Gastronomia, pensemos por um instante: quantos ingredientes, que (quem sabe?) nem cheguemos a conhecer já foram consumidos pelas queimadas? 

Quanto de aromas, sabores, texturas e cores já não viraram pós, sem que ao menos pudéssemos ter a chance de experimentar? Parece reducionista pensar desta forma. Mas não é! Somos o maior banco de biodiversidade do planeta. 

Ainda hoje, espécimes animais, variedades de vegetais, classes inteiras de insetos, dentre outros bens naturais são descobertos na Amazônia. Descobertos, porque sim, não os conhecemos. Existe um patrimônio oculto, que nossa sabedoria, nossa tecnologia, nosso dinheiro ainda não alcançou, mas que o uso maléficos destes elementos listados há pouco também não nos permite utilizar. E o pior de tudo, quando morrem recursos naturais, morrem também conhecimentos, culturas, práticas ancestrais, valores que são imensuráveis, justamente porque não tem preço de mercado. 

Insistimos na ideia de que a Amazônia é o pulmão do mundo. Mas ela não é só isso. Ela é o colo que acolhe seus filhos, o seio que alimenta sua gente, o coração que pulsa, mantendo vivo este planeta. Caso seja aceitável fazermos este exercício mental, perguntemo-nos: o que seria de nós sem nossa floresta? Onde teremos chegado como Humanidade a ponto de permitir que este absurdo aconteça? 

Hoje, 05 de setembro, é o dia da Amazônia. Que seja o dia de início de nossa tomada de consciência e mobilização cidadã em defesa da floresta. A Amazônia é o nosso maior ingrediente, nosso maior patrimônio.

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