Walace SO*
Queridas e queridos das beiras e beiradas dos nossos rios, do açaí com mandi, do dominó de fim de tarde e do tacacá ao anoitecer. O primeiro turno das eleições terminou, infelizmente o que ele nos mostra é que nossa região é uma das mais contaminadas com o vírus da indiferença com o meio-ambiente. Gaia a Mãe Terra grita e pede socorro com a violência que sofre pela mão do bicho homem. Não adiantam a seca, as queimadas ou todo sofrimento que nossa região sofre com a selvageria climática. Parece que o povo da nossa terra está contaminado e caiu na loucura ao invés de reagir e defender a natureza.
Todos os sete estados da Amazônia Legal, assim como no resto do Brasil esqueceram de refletir e debater sobre a pauta climática e do meio ambiente. Do resto do Brasil já era de se esperar, contudo é alarmante que todos os partidos políticos de centro, direita e esquerda da nossa região não tenham se preocupado com essa pauta. Assim, vemos nossos rios e florestas agonizado as mãos do garimpo ilegal, da grilagem e do avanço o boi e da soja.
O mapa que se desenha é triste, não pela ignorância da polarização política, que fica evidente com a “porteira aberta e a boiada” invadindo nossa terra com o falso discurso de progresso, apoiado em uma guinada quase que total ao extremismo de direita e fundamentalismo religioso/negacionista. Mas da indiferença total e negação da realidade que vivemos a cada dia, anos após ano.
Elegemos defensores da exploração da derrubada floresta, do mercúrio que sangra nossos rios, mata nossos peixes, adoece comunidades ribeirinhas e dos povos originários. Aliás, o que vimos é uma leva de religiosos, policiais, militares e outras figuras que não têm ligação ou vontade de debater e propor políticas de proteção ao nosso maior tesouro, a Amazônia, sua cultura e seu povo.
Não tivemos a preocupação dos partidos e dos candidatos em apresentar propostas sobre o tema, o que vimos foram priorizar pautas de costumes, moral e ideologias que não representam a realidade de nossa terra ou que realmente poderão propor o progresso sustentável que ela precisa. Vimos o desejo de impor suas vontades como pautas prioritárias ao invés do debate e mostrarem que realmente importa.
Assim deixo aqui um poema do nosso poeta maior Thiago de Mello, que está em um texto antológico que expressa toda importância de nossa terra e seu significado no livro Amazônia, pátria das águas para que possamos refletir.
Pois então vamos remando
na água negra transparente.
Vem comigo descobrir
as fontes verdes da vida.
Mas contigo travo amor,
para com dor aprender
Vem ver comigo o rio e suas leis.
Vem aprender a ciência dos rebojos,
vem escutar o canto dos banzeiros,
o mágico silêncio do igapó
coberto por estrelas de esmeralda.
Mar Dulce, o rio de Orellana,
Marañon. O Guieni dos índios aruaques.
Parauaçu dos tupis.
O Grande rio das Amazonas.
Eu venho desse reino generoso,
onde os homens que nascem dos seus verdes,
continuam profundamente irmãos
das coisas poderosas, permanentes,
como as águas, os ventos e a esperança.
São trezentos e cinquenta milhões de hectares,
são setenta bilhões de metros cúbicos de madeira em pé.
Um terço da reserva mundial de florestas.
Malagueta, murupi,
camapu, cajuarana,
todo o segredo da selva
no travo de um cumarim.
Munguba, morototó, louro itaúba,
Açacu, acariquara, mogno,
cedro, quaruba, pau mam, faveira,
sucupira, angelim, pau de andiroba.
Para aqueles que vivem nossa cultura e compreendem nossas águas e importância fica o link com o texto integral do Instituto Moreira Salles:
Um dia seremos gigantes de verdade, e esse dia chegará quando assumirmos a importância das águas, do ribeirinho, dos Povos Originários, dos Quilombolas e da Floresta que chamamos de Amazônia.
Bora refletir e resistir.
Sobre o autor
Walace Soares de Oliveira é cientista social pela UEL/PR, mestre em educação pela UEL/PR e doutor em ciência da informação pela USP/SP, professor de sociologia do Instituto Federal de Rondônia (IFRO).
*O conteúdo é de responsabilidade do colunista