A chuva preta da fumaça está chegando

O “bicho homem” em sua soberba, não compreendeu que é ele que faz parte do planeta Terra, não é o contrário.

A nutricionista Dani Moreira, moradora do Rio Grande do Sul, registrou a chuva preta que ocorreu na região. Foto: Reprodução/Instagram-danimoreira.nutri

Por Walace SO*

Queridas e queridos das beiras e beiradas dos nossos rios, do açaí com mandi, do dominó de fim de tarde e do tacacá ao anoitecer. Vamos remando em nossa canoa da reflexão. Temos notícias pipocando Brasil a fora, aliás, desde o extremo sul da América Latina, o noticiário sobre as chuvas pretas estão na mídia e nas redes sociais. Afinal a fumaça das queimadas terroristas estão impactando com sua fuligem as águas que caem do céu.

Mesmo distante da Amazônia que queima, na Argentina e Uruguai, nossos hermanos também estão cobertos e sofrem pela fumaça junto conosco. O fenômeno das chuvas pretas já foi registrado naquelas bandas e sobe lentamente. Ela já chegou ao Rio Grande do Sul e a expectativa de sua chegada ao Mato Grosso e São Paulo é breve. Uma pequena frente fria serve como bloqueio atmosférico, o que impede a passagem das nuvens de chuva para essas regiões, que segundo os meteorologistas logo passará (ciência).

O Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), explica que as águas da chuva se misturam a fuligem da fumaça das queimadas e produzem esse fenômeno que é a chuva preta. Como podemos ler nas matérias do Globo e do G1 que anteciparam o fenômeno e mostram ele hoje (informação de confiança, melhor que os grupos de Whatsapp) no link abaixo:

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O “bicho homem” em sua soberba, não compreendeu que é ele que faz parte do planeta Terra, não é o contrário. Somos uma conexão divina do Grande Arquiteto do Universo, somos um grão de areia que compõe a vida, somos a folha que é parte das árvores, somo o rio que desagua no mar. O planeta não é nossa propriedade, e os Povos Originários sempre compreenderam essa ligação holística, diferente do “homem civilizado”. Para nossa reflexão ser mais enriquecida, gostaria de compartilhar com nossos leitores a música Reconvexo de Caetano Veloso:

Reconvexo – Caetano Veloso

Eu sou a chuva que lança a areia do Saara
Sobre os automóveis de Roma
Eu sou a sereia que dança, a destemida Iara
Água e folha da Amazônia

Eu sou a sombra da voz da matriarca da Roma Negra
Você não me pega, você nem chega a me ver
Meu som te cega, careta, quem é você?
Que não sentiu o suingue de Henri Salvador
Que não seguiu o Olodum balançando o Pelô
E que não riu com a risada de Andy Warhol
Que não, que não, e nem disse que não

Eu sou o preto norte-americano forte
Com um brinco de ouro na orelha
Eu sou a flor da primeira música a mais velha
Mais nova espada e seu corte

Eu sou o cheiro dos livros desesperados, sou Gitá gogoya
Seu olho me olha, mas não me pode alcançar
Não tenho escolha, careta, vou descartar
Quem não rezou a novena de Dona Canô
Quem não seguiu o mendigo Joãozinho Beija-Flor
Quem não amou a elegância sutil de Bobô
Quem não é recôncavo e nem pode ser reconvexo

Eu sou o preto norte-americano forte
Com um brinco de ouro na orelha
Eu sou a flor da primeira música a mais velha
Mais nova espada e seu corte

Eu sou o cheiro dos livros desesperados, sou Gitá gogoya
Seu olho me olha, mas não me pode alcançar
Não tenho escolha, careta, vou descartar
Quem não rezou a novena de Dona Canô
Quem não seguiu o mendigo Joãozinho Beija-Flor
Quem não amou a elegância sutil de Bobô
Quem não é recôncavo e nem pode ser reconvexo

Essa linda canção reflete tudo o que estou propondo para nossa reflexão, a valorização da nossa cultura africana, indígena e europeia, respeitando a nossa cultura e nossa ciência. A história da música pode ser lida no livro de Letra só de Caetano Veloso.

Também temos a lembrança da querida Clarissa Bacellar, da nossa equipe, sobre a música ‘Tá?’, de Mariana Aydar:

Pra bom entendedor, meia palavra bas-
Eu vou denunciar a sua ação nefas-
Você amarga o mar, desflora a flores-
Por onde você passa, o ar você empes-

Não tem medida a sua ação imediatis-
Não tem limite o seu sonho consumis-
Você deixou na mata uma ferida expos-
Você descore as cores dos corais na cos-
Você aquece a Terra e enriquece a cus-
Do roubo, do futuro e da beleza, augus-

Mas do que vale tal riqueza?
Grande bos-
Parece que de neto seu você não gos-
Você decreta a morte, a vida indevis-
Você declara guerra, paz, por mais bem quis-
Não há em toda fauna, um animal tão bes-
Mas já tem gente vendo que você não pres-

Não vou dizer seu nome porque me desgas-
Pra bom entendedor, meia palavra bas-
Não vou dizer seu nome porque me desgas-
Pra bom entendedor, meia palavra bas-
Bom entendedor, meia palavra bas-
Bom entendedor, meia palavra bas-
Pra bom entendedor, meia palavra bas-

Pra bom entendedor, meia palavra bas-

Eu vou denunciar a sua ação nefas-
Você amarga o mar, desflora a flores-
Por onde você passa, o ar você empes-

Não tem medida a sua ação imediatis-
Não tem limite o seu sonho consumis-
Você deixou na mata uma ferida expos-
Você descore as cores do coral na cos-
Você aquece a Terra e enriquece a cus-
Do roubo, do futuro e da beleza, augus-

Mas do que vale tal riqueza?
Grande bos-
Parece que de neto seu você não gos-
Você decreta a morte, a vida indevis-
Você declara guerra, paz, por mais bem quis-
Não há em toda fauna animal, um tão bes-
Mas já tem gente vendo que você não pres-

Não vou dizer seu nome porque me desgas-
Pra bom entendedor, meia palavra bas-
Não vou dizer seu nome porque me desgas-
Pra bom entendedor, meia palavra bas-
Bom entendedor, meia palavra bas-
Bom entendedor, meia palavra bas-
Pra bom entendedor, meia palavra bas… ta!

Para viver e entender, meia palavra basta!

Nós da região Norte, estamos rezando pelas chuvas, pedindo a Nanã (Orixá das chuvas), a Tupã Ru Ete (Deus das águas) e a São Pedro (Santo das chuvas) que tenham compaixão de todos que sofrem o terror criminoso das queimadas causadas pela ignorância e o ódio que vivemos hoje.

BORA REFLETIR! E AGIR!

Sobre o autor

Walace Soares de Oliveira é cientista social pela UEL/PR, mestre em educação pela UEL/PR e doutor em ciência da informação pela USP/SP, professor de sociologia do Instituto Federal de Rondônia (IFRO).

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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