Amazônia nossa Mãe, nossa vida

Todas as capitais de nossa região são banhadas por rios, nossa cultura é ribeirinha, nossa riqueza vem de nossos rios e deveria vir também do desenvolvimento de uma economia sustentável com arranjos produtivos ligados a floresta em pé.

Foto: Reprodução

Por Walace SO*

Queridas e queridos das beiras e beiradas dos nossos rios, do açaí com mandi, do dominó de fim de tarde e do tacacá ao anoitecer. Estou retornando após um período de restabelecimento de saúde e reorganização pessoal. E quero iniciar esse retorno com uma trinca de colunas sobre nossa terra, aliás, corrijo, sobre as águas que banham nossa terra e sobre a floresta que é nossa grande Mãe. Essa reflexão é necessária em consideração aos impactos eu estamos sofrendo diretamente em toda nossa região dos efeitos do aquecimento global.

E somos o lugar mais privilegiado pelo Divino Grande Arquiteto do Universo e mais esquecido pelo bicho homem e sua ganância. Somos sete estados em nossa região com suas capitais toda abençoadas pelas águas doces de Anhã, de Oxum, de Nossa Senhora Imaculada Conceição ou de Nossa Senhora Aparecida, cada um com sua fé, pois a tolerância religiosa é uma demonstração de civilidade e citei representações relacionadas a água da nossa herança dos povos tradicionais, africana e europeia.

Porque o negacionismo científico que tanto nos prejudica e ao mundo todo está baseado no fundamentalismo extremista religioso, que tenta legitimar os movimentos autoritários que florescem mundo a fora, desacreditar a ciência e manter a população diante do abismo da ignorância que facilita o controle social, a intolerância social e o enriquecimento dos mercadores da fé. Que refletem diretamente em nossa região todos cada ano com mais intensidade e devemos nos ter responsabilidade e consciência do nosso papel como defensores da nossa biodiversidade, da cultura amazônida, da floresta, dos nossos rios e do nosso povo.

Todas as nossas capitais de nossa região são banhadas por rios, nossa cultura é ribeirinha, nossa riqueza vem de nossos rios e deveria vir também do desenvolvimento de uma economia sustentável com arranjos produtivos ligados a floresta em pé. Somos uma grande hidrovia, um modal hidroviário que liga principalmente nossos estados e que estão sendo afetados com as secas cada vez mais intensas. Elas isolam nossas comunidades, porque dentro dos estados de nossa região e entre eles as estradas na maioria das vezes são inviáveis pela própria geografia da região. Uma pequena lista de rios que estão ligados a nossas capitais:

• Rio Madeira, Porto Velho/RO;
• Rio Acre, Rio Branco/AC;
• Rio Branco, Boa Vista/RR;
• Rios Maguari e Guamá, Belém/PA;
• Rio Jari, Macapá/AP;
• Rio Tocantins, Palmas/TO;
• Rios Negro, Solimões e Amazonas, Manaus/AM.

A floresta em pé garante a formação e abastecimento de água para o equilíbrio climático no fenômeno conhecido como Rios Voadores, que é o processo de evapotranspiração. Para exemplificar, somos a maior baia hidrográfica do planeta, com uma floresta tropical, toda a transpiração dela produz e regula o ciclo das águas ela transpiração da floresta, do solo e dos rios devolvendo para a atmosfera a água que se torna um fluxo continuo de manutenção das águas. Sem a floresta esse processo é precarizado, se reduz a quantidade de água na atmosfera e ficamos mais suscetíveis a variações climáticas bruscas, intensas e cada vez mais duradouras afetando ao mundo inteiro e essencialmente a nossa região.

Importantes órgãos ligados ao estudo climático como WWA (Word Weathear Attribution), UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Rede Clima (Rede Brasileira de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas) e Cemadem (Centro Nacional de Monitoramento Alerta de Desastres Naturais) já alertaram e preveniram sobre a seca que acontece desde 2023 com impactos desastrosos em nossa região. Mostrando que a possibilidade de seca meteorológica aumentou em 10 vezes e a de seca agrícola aumentou 30 vezes. Registramos maiores índices de seca dos últimos 120 anos. As pesquisas mostraram que os efeitos do aquecimento das águas equatoriais do Pacífico tiveram impactos conjuntos com o aquecimento global que foi ainda maior.

Dessa forma, projetos de economia sustentável, projetos adequados de manejo e novos arranjos produtivos relacionados à realidade do século XXI, são primordiais para a manutenção e preservação do clima, da nossa cultura, da nossa paz e desenvolvimento social. Além de garantir alguns séculos a mais para sobrevivência do nosso planeta. Essa é uma realidade que precisa ser debatida, realizada por nós que vivemos aqui para assumirmos o nosso protagonismo nesse processo e controle de como ele deve ser realizado.

E não temos políticas públicas e incentivos que possam expandir e concretizar esses projetos. Infelizmente ainda vivemos um projeto exploratório e predatório em nossa região, que produz riqueza para uma pequena elite, explora e não devolve para nossa região toda a sua potencialidade. Os políticos e a chamada elite daqui não estão interessados no real desenvolvimento social, racional e sustentável, mas na sua manutenção hegemônica de poder quando não assumem seu papel para a preservação adequada de nossas maiores riquezas a floresta e nossos rios.

Essa foi a primeira reflexão na próxima coluna iremos refletir a riqueza da floresta preservada, das nossas águas e como o capital percebe essa riqueza e se interessa por ela. A responsabilidade é nossa de ter o controle desse processo e preserva nossas riquezas culturais e materiais para todos. Bora refletir meu povo.

Sobre o autor

Walace Soares de Oliveira é cientista social pela UEL/PR, mestre em educação pela UEL/PR e doutor em ciência da informação pela USP/SP, professor de sociologia do Instituto Federal de Rondônia (IFRO).

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista 

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