Uma viagem com a ideia de chegar a um destino. Um local para conhecer o que parecia ser o principal atrativo turístico de uma região, mas que mostrou a realidade de um povo. Confira a última parte da jornada à Salto Angel, na Venezuela.
Foram dez dias de viagem, de carro, de avião, de van, de carrinho de golf, de canoa, de barco e a pé, passamos por camas e redes das mais simples às mais luxuosas, foram mais de 15 comunidades que passamos, muitos atrativos turísticos, mas nenhum deles me fez ficar mais encantado do que a alegria daquele povo, seu sorriso, sua recepção calorosa, tudo que vivemos vai deixar saudades, mas com toda certeza, os kamarakotos deixarão mais!
Sétimo dia
Acordamos por volta das 5h30 na comunidade indígena Saraurai’pa, arrumamos nossos equipamentos e fomos convidados para tomar um delicioso e reforçado café da manhã.
Conhecemos a igreja e a escola da comunidade e nos despedimos deles, seguindo para nosso próximo roteiro e um dos últimos da viagem, Salto Angel ou Körepakupayvena (Pemon Kamarakoto).
Passamos por algumas corredeiras no Rio Karak, e paramos para almoçar por volta das 12h, saímos às 14h e seguimos até chegar ao Rio Churun, um rio bastante caudaloso, cheios de corredeiras e de pedras gigantes.
Paramos algumas vezes pelo caminho para descer do barco, ele atravessava com o barqueiro pela partes caudalosas e íamos a pé até encontrar o barco de novo.
E, após seguir por esse rio, começamos a enxergar ele, imponente diante de tudo ao seu redor, o Körepakupayvena, conhecido como Salto Angel, “descoberto” por Jimmy Angel na década de 30.
Paramos no Cânion do Diabo (dizem que ali habitam alguns espíritos) para fazer algumas fotos e admirar a paisagem.
Chegamos ao acampamento que fica de frente ao Salto, e lá estava ele, todo coberto, e aos poucos, meio que timidamente começou a se mostrar para nossa equipe, gigante, lindo e perfeito. Suas lendas realmente fazem jus à tudo o que representa, e diante de toda essa beleza me sinto minúsculo e privilegiado por estar ali, contemplando aquele criação da natureza.
Tivemos uma breve reunião do que estaria previsto acontecer no próximo dia, iniciando às 2h da manhã, então, sem demora já corri para jantar e descansar.
Oitavo dia
E, no oitavo dia, eu acordei cedo, ansioso em vê-lo, doido para relembrar todos os vídeos, filmes e sonhos que tive sobre você, pode até parecer estranho, falar assim de um lugar, mas não tem como não falar assim de você, Körepakupayvena, portador de várias lendas e histórias, chamei assim, pois é o seu nome real, nome de batismo, nome de nascimento, embora outros te conheçam como Salto Angel.
Levantamos, aproveitamos para as últimas fotos do amanhecer, tomar aquele café muito gostoso preparado pela equipe de apoio à expedição, organizamos nossas coisas para seguir entre canoa e a pé, seja entre água, areia, mata e até pedras, tudo para chegar até o Körepakupayvena. Seguimos caminhando até chegar ao mirante Laime.
Mirante Laime
E, após algum tempo de caminhada, fomos atravessando mata a dentro, passando por igarapés (riachinhos), por uma floresta alta e até vimos uma pequena cobra pelo caminho, que correu ao nos ver, não trazendo dano algum a ninguém da equipe. Ah, vale ressaltar que todo a nossa viagem contamos com guias altamente capazes em nos conduzir e, que salvo engano, cada um falava no mínimo 4 idiomas, e entre eles estavam a língua materna, o francês, o inglês e o espanhol, tinham outros que falavam até alemão.
E caminhamos até chegar aí, em nosso primeiro mirante, conhecido como mirante Laime, onde paramos, e literalmente ficamos sem fôlego diante de toda aquela perfeição da natureza, 979m de queda d´água, bom pessoal, apresento a vocês o SALTO ANGEL!
Mirante Wairarimö dapon – Mirante dos Japoneses
Após nossa primeira vista, continuamos subindo até chegar no Mirante Wairarimö dapon, conhecido como Mirante dos Japoneses, paramos ali para almoçar, fazer algumas fotos e depois seguir, só alguns, outros preferiram permanecer ali.
Ah, desde que saímos de Boa Vista/RR, o Beto, dono da Clube Native e um dos responsáveis pela FamTrip, queria fazer um pedido de casamento à sua amada Amada Nayra, e combinou comigo para eu levar o papel do pedido, imagina aí a responsabilidade, pois ele iria pedir ela em casamento em frente ao Salto Angel.
Parede do Salto Angel
Após participar fotografando o pedido de casamento do Beto para a Nayra, seguimos até chegar debaixo do Salto Angel, mas antes tocamos em sua parede, parece até algo comum para alguns, mas para mim foi algo muito especial, pois pude sentir aquele lugar e toda sua energia.
Seguimos caminhando até chegar ali, bem perto, ao ponto de sentir sua água nos molhando, quando estava quase debaixo, preferi ficar um pouco antes da queda d´água, e meditar um pouco, agradecendo por tudo que estava vivendo. Outros seguiram e tomaram banho debaixo dela, mas acabei todo molhado com a água que vinha em formato de chuva.
Korepa Kupay – Poço do Salto Angel
Após todas estas emoções que vivemos neste dia, aproveitamos para nos banhar no Korepa Kupay, traduzido como Poço do Salto Angel, curtir com toda a turma da expedição, e com certeza agradecer a Deus por toda aquela maravilha que Ele criou.
Acampamento Kaikarwa
Voltamos para o acampamento Kaikarwa, onde começamos a arrumar nossas coisas, pois aquela seria a última noite naquele lugar, não tivemos a sorte de pegar um arco-íris como o da foto abaixo, mas o nosso amigo Antonio Hitcher, que é um dos grande nomes da região e que fotografa muito ali, foi abençoado com esta imagem. Vale lembrar que organizou juntamente com o Capitão Gral, que é a autoridade legitima setorial do povo Pemon Kamarakoto.
Nono dia
Rios Churun e Karak
Após acordar, tomar aquele delicioso café e ser abençoado com a imagem do Salto Angel, nos despedimos dele e seguimos viagem de barco pelos rios Churun e Karak, dois rios caudalosos, e que por algumas vezes tivemos que descer do barco, continuar um trecho a pé até chegar numa outra parte mais calmo.
Laguna de Canaima
E, depois de algumas horas de barco, chegamos até o Parque Canaima, e que lugar lindo aquele hein? Pudemos avistar a tão conhecida Laguna de Canaima, alguns amigos meus já haviam estado ali, e eu sempre ficava admirando suas fotos, agora era minha vez de poder curtir aquele momento.
Waka wena – Hacha
Sarimpa wena – Salto Sapo
Acampamento Ucaima
Após conhecer um pouco do parque Canaima, seguimos até o Acampamento Ucaima, onde nos hospedamos. Logo na chegada pelo rio Carrao, fomos recepcionados pela proprietária do local, que nos recebeu com grande sorriso, nos apresentou todo o Acampamento, e nos levou até nossos quartos, e só posso dizer, eram muuuito confortáveis, tinha até água quente.
Wakü Lodge
Após deixarmos nossas coisas em nossos quartos, seguimos de barco até o Wakü Lodge, um super hotel que tem na região, onde fomos muito bem recepcionados, logo na chegada de barco colocaram em nós colares, entramos em alguns carros adaptados e seguimos até o hotel, puro luxo, desde a recepção, com bebidas, araras e tucanos voando livremente para todo lado, quartos sensacionais e o almoço estava divino.
Voltando para o Acampamento Ucaima
Após conhecermos o Wakü Lodge, voltamos para nosso acampamento Ucaima, onde já havia uma deliciosa janta nos esperando. Comemos e tivemos uma reunião com os grandes organizadores desta FamTrip, Capitão Gral, que é a autoridade legitima setorial do povo Pemon Kamarakoto, que nos falou sobre toda a região, suas lendas, história e principalmente sobre o seu povo e sobre o turismo na região.
Décimo dia
Acordamos cedo para ver este fantástico nascer do sol sobre o rio Carrao e ao fundo, Los Testigos, aquelas serras por trás de onde o sol esta saindo. Toda esta beleza vista no mirante do Acampamento Ucaiama. Depois seguimos para um delicioso café da manhã, arrumamos nossas e, prontos para conhecer um pouco mais do Parque Canaima.
Nos despedimos do Acampamento Ucaima e seguimos pelo Parque Canaima até visitarmos dois hotéis de luxo da região, com direito a hidromassagem, academia, restaurante de luxo e até discoteca. O primeiro que visitamos foi o Ara Merú Lodge e logo o Acampamento Canaima, neste segundo a visita foi um pouco rápida, por que a comunidade local estava nos aguardando para se despedirem de nossa equipe.
Estavam presentes em nossa despedida, além de toda comunidade e empresários locais, as maiores autoridades da região, o Cacique de Kanaimö señor Roberto Simon, o Cacique de Kamarata señor Enrique Carballo e o Cacique General sector II Kamarata-Kanaimö señor Domingo Castro. Também estavam todos os membros da expedição que nos deram suporte e nossos guias.
Depois destes momentos emocionantes e de celebração, junto a todos que fizeram possível nossa viagem, fomos convidados a degustar de sua comida. Nos despedimos de todos com aquele aperto no coração e com a certeza de que algum dia estaria ali de novo, revendo a todos!
E chegou a hora de ir pra casa, naquele mesmo avião, o que usamos para chegar na região de Kamarata, para 14 pessoas, mas que tem um piloto muito experiente, que mesmo com muita chuva nos levou seguros até o aeroporto de Santa Elena de Uairén. De lá fomos de carro 4×4 até a fronteira com o Brasil e na van da equipe da Clube Native até Boa Vista.
Foram 10 dias de viagem, mais de 700km de barco, quase de 4h de avião (entre ida e vinda), fora os quilômetros de carro e a pé, mais de 15 comunidades indígenas nos receberam, cada uma com o seu melhor, não apenas o físico, mas também o emocional, o espiritual. Vivi uma experiência única por cada lugar que passava, e me emocionava e agradecia sempre ao mesmo tempo por poder estar ali.
“PODEMOS IR AGORA?”
Gildo Júnior.
Sobre o autor
Gildo Júnior é fotógrafo, videomaker, aventureiro, colunista, articulista e colecionador de roteiros. Para o servidor público federal, o mundo é imenso, repleto de lugares para conhecer, de coisas para fazer, de culturas para admirar, comidas para provar e pessoas para conhecer, por isso afirma que “por mais que o mundo gire, a única coisa que não posso fazer é ficar parado”.
*O conteúdo é de responsabilidade do colunista