Uma viagem com a ideia de chegar a um destino. Um local para conhecer o que parecia ser o principal atrativo turístico de uma região, mas que mostrou a realidade de um povo. Confira a segunda parte, de três, da jornada à Salto Angel, na Venezuela.
E, seguimos viagem por nossa história, hoje indo de visita a comunidades indígenas, cachoeiras, comidas diferentes e até um avião, para ser mais exato, um DC3 bimotor que na década de 50 caiu ali por falhas nos motores e hoje faz parte da paisagem. Além de músicas, histórias e danças cantadas e contadas à beira de fogueiras e com um céu limpo e estrelado. Hoje seguimos nossa viagem e te convido a viver essa experiência conosco!
Terceiro dia
Acordei por volta das 5h da manhã para aproveitar e fazer alguns vídeos. Voltei ao quarto para arrumar a mochila pois deveríamos deixar na área de recepção às 6:30. Fiz alongamentos e me dirigi até a área do barracão para tomar aquele café delicioso onde tivemos panqueca, queijo, presunto e perico (ovos mexidos, tomate, cebola e pimenta de cheiro), além do suco de graviola que está bom demais.
Seguimos até Kamarata onde conhecemos a comunidade, a escola, o posto de saúde, como vivem as pessoas daquela região e depois nos levaram para o casarão, onde nos presentearam com danças e comidas típicas da região. Foi uma imersão em seu mundo é uma experiência única e fantástica que pude viver naquela comunidade.
Comidas servidas
Katá – sopa espessa feita com farinha de mandioca, pimenta e cupins.
Mamicho – folhas de mandioca moídas feito tipo sopa.
Tumá de peixe aymara – parecido com nossa damorida.
Casabe – tipo de beiju.
Tumá de carne – tipo damorida feita com carne e com a folha de mandioca.
Avak – Coquinho da palma.
Moriche kuay – buriti.
Maradao – goiaba.
As danças foram baile Tukuy e canções em Pemon, hinos etnográfico e hinos à Gran Sabana. Após as apresentações nos serviram um delicioso almoço, feito com todo carinho pela comunidade.
Seguindo para a comunidade Awaraparu
Ao chegar à Comunidade Awaraparu, fomos recepcionados pela comunidade com danças e canções que nos aproximou ainda mais de sua vivência. Após, nos apresentaram uma mesa farta com diversos pratos típicos para que pudéssemos experimentar, e pense numa delicia.
Após a apresentação fomos a um igarapé (riacho) aqui próximo, com uma água gostosa, que além de limpar o corpo, revigorou a alma. Nesse tempo à comunidade estava preparando uma deliciosa janta para os membros da expedição.
Foi feita uma reunião com a equipe para falar sobre os preparativos do quarto dia. Mais um dia repleto de emoções, lembrando que saímos de Kavak de carro, de lá fomos até Kamarata e ao final do dia chegamos em Awaraparu.
Quarto dia
Acordamos por volta das 6h da manhã e já os membros da comunidade Awara’paru já estavam preparando um delicioso café da manhã para nós. Saímos por volta das 7h40 para conhecer uma linda e gigante Cachoeira Kamadak.
Andamos por volta de 3h, atravessando dois rios e uma corredeira até chegar a Kamadak, chegando no local, fiquei boquiaberto ao ver o tamanho daquela cachoeira e o volume de água que despejava. Passamos umas duas horas aproveitando o local, tanto para banhos quanto para fazer aquelas fotos!
Ao término do passeio, a equipe de apoio já havia preparado um almoço de trilha para a equipe logo após a corredeira.
Almoçamos e voltamos para a comunidade Awara’paru, para tomar aquele banho e esperar pela janta. Após o jantar, os membros da comunidade prepararam uma surpresa para nossa equipe de expedição, onde foram dançar para nós ao redor de uma fogueira, dizendo que assim como nos receberam com alegria, estavam se despedindo de uma forma alegre por termos passado esse tempo com eles.
Canções cantadas
Tuküy (uma canção dos espíritos chamados Imawari)
Kuikuytüriau (canção que fala de um menino que enquanto sua mãe trabalhava começou a chorar e sua mãe concentrada em seus afazeres deu a ele duas ramas de mandioca para que brincasse enquanto ela plantava mandioca, enquanto ele balançava as mãos cresceram asas e ele saiu voando e hoje ele roda a selva olhando tudo para informar ao Xamã o que ocorre).
Meruchi (canção que fala de uma pomba que vive na orla do rio)
Weikoko Piroroi (essa canção se trata de que o Pemon está cantando e enquanto canta descreve que ele e Weikoko (Imawari) se olham, mas como ele está pintado não pode lhe fazer dano. Weikoko (Imawari dama) é um espírito que quando a pessoa não está pintada, ela da uma bebida para o espírito da pessoa, e essa pessoa fica doente tendo febre, vômitos, e se sente mal no fundo da alma, melancólico, em seu corpo físico, até que morre.
É um Deus/Espírito que vive nas serras/tüpü, que tem o poder/capacidade de fazer o mal.
Após as apresentações, aproveitei para fazer algumas fotos de estrelas e agradecer, ao ver um céu tão limpo onde até a via láctea estava bem visível.
Nosso quarto dia foi cheio de surpresas boas, no início um pouco cansativa pela caminha, mas ao ver aquela Cachoeira, vimos que todo esforço valeu a pena. E ainda terminar o dia, recebendo danças e canções em gratidão por compartilhar com eles, não teve preço!
Quinto dia
E no quinto dia, desmontamos as redes, arrumamos a mochila e tomamos nosso café, tudo isso antes das 6h da manhã, já que nosso dia seria para passar em várias comunidades indígenas que ficam no caminho, isso tudo de barco, para se chegar até o acampamento que iríamos passar a noite. Nos despedimos de todos da comunidade Awara’paru que deixou saudades, espero voltar o mais breve para revê-los!
Comunidade Awaratöy
A primeira Comunidade indígena de Awaratöy, que visitamos após sair da comunidade Awara’paru, e como fomos muito bem recepcionados. As crianças foram nos recepcionar na beira do rio, já dando gritos de boas vindas, todos bem caracterizados. Nos levaram até a área da igreja onde toda a comunidade estava nos aguardando.
Chegando ali, se apresentaram, e depois nos apresentamos para eles, contaram suas histórias e em seguida, começaram a cantar e em parte da canção falavam o nome de um dos membros de nossa expedição, e nisso uma de suas crianças iam nos buscar para dançar ali, numa dança estilo parichara, coloquei os nomes das canções abaixo, junto com seu significado.
Canções apresentadas:
Kiari – bênção dos alimentos
Baile del aleluya – canção para agradecer aos alimentos
Aguinaldo en Pemon – agradecimento aos que chegaram
Após degustarmos de sua comida, fomos até um galpão onde se reúnem e o líder da comunidade foi nos agradecer por estarmos ali, na verdade, nós é que somos intensamente gratos por isso. Recebemos algumas lembranças de presente e seguimos viagem, de barco, até a próxima comunidade.
Indígena Kowipa
De lá seguimos de barco para a segunda comunidade no trajeto, a comunidade indígena Kowipa, que fomos muito bem recebidos também, e o capitão da comunidade sabia falar português e até tinham uma bandeira brasileira ali. Cantaram algumas canções, no abençoaram com seus alimentos e ainda fomos pintados.
Canções apresentadas:
Müpakairo – buenos dias
Apütöpöday – te quiero
Comunidade Wennetöy
Depois fomos para a terceira comunidade indígena, seguindo de barco em todo percurso até chegar em Wennetöy. E, assim como fomos recebidos nas outras comunidades, eles também estavam à beira do rio nos aguardando, falando palavras de bem-vindos e que estavam contentes em nos receber (como não se alegrar com isso?).
Caminhamos até chegar na comunidade e no meio do caminho havia um arco que eles fizeram para que passássemos por baixo escrito: SEJAM BEM VINDOS!. Que recepção hein? Caminhamos até chegar no malocão onde estavam nos aguardando, nos apresentamos, eles se apresentaram, cantaram para nós e dançaram, além de convidar alguns para dançar, e depois, nos serviram do seu melhor alimento, incluindo uma larva (eu não comi, com medo de depois passar mal).
Canções apresentadas:
Awesenpoika – canção de Llegada
Aparua – Perro de água
Comunidade San Pedro de Wuypaken
Após mais uma despedida calorosa, seguimos de barco até a quarta comunidade, San Pedro de Wuypaken, que tem o Manoel Rodriguez como capitão da comunidade. Como já de costume, fomos muito bem recebidos e aproveitamos a área da comunidade para almoçar ali.
Comunidade Kuana
De lá, fomos para a quinta comunidade indígena Kuana, e logo na entrada havia uma placa feita em madeira para nos recepcionar, além da comunidade nos receber de braços abertos e ainda nos dar frutos para nossa viagem. Se apresentaram e depois foram apresentar a comunidade, que é muito bem estruturada. Mais um local que nos deixou saudades, pela simpatia e felicidade de seu povo.
Comunidade Iwanamaru
Deixamos a comunidade de Kuana e seguimos para uma Cachoeira/corredeira chamada Kamaiwa (pato Silvestre), para ver mais uma das belezas que a região tem pra oferecer.
Seguimos por mais alguns momentos de barco até chegar na comunidade Comunidade Iwanamaru, onde iriamos passar a noite.
Sexto dia
Após uma noite confortável, mesmo em rede, acordamos na comunidade Iwanamaru, e o chefe da excursão nos falou que a comunidade estava completando 1 ano desde que foi criada, ou seja, hoje, dia 21/9/2019, e além de estarem celebrando 1 ano, estavam celebrando a sua patrona e também era a primeira vez que recebiam turistas em sua comunidade.
Almoçamos com ele e nossa equipe ainda participou de uma partida de vôlei com a comunidade, e o background da partida de vôlei eram Los Testigos (alguns Tepuys que estavam ao fundo).
Saímos de barco para dar continuidade à viagem, e após 10 minutos chegamos a um porto onde descemos e fizemos um trekking até um avião que fez um pouso forçado na década de 50, um DC3, bimotor, que teve falha em um dos motores e, desde então está ali, ainda com a carcaça bem conservada mesmo depois de tanto tempo.
Virou uma atração na região e ele está sendo observado constantemente pelos tepuys Los Testigo, que dão uma excelente fotografia do local. Amarway é o tüpü que fica em frente ao DC3, um de Los Testigos, os outros são: Wadakatüpü, Aparamantüpü, Murochipantüpü e Tukuyk Woküdentüpü.
De lá seguimos viagem de barco (curiara) até chegarmos à próxima comunidade onde passaríamos a noite. Chegamos à comunidade Saraurai’pa, por volta das 17:30, paramos para separar nossos equipamentos e tomar um banho, por volta das 21h, a comunidade se reuniu para nos brindar com um lindo momento cultural, com danças, músicas e degustação de suas iguarias.
Uma das canções que cantaram para nós foi a Parichara. E depois das apresentações, chamaram um a um da expedição para dar presentes em agradecimento pela visita à comunidade.
Após a cerimônia, fomos convidados ao jantar e também para apreciar mais de suas iguarias. Tivemos uma reunião para tratar do dia seguinte e com isso, fechamos o 6º dia. Com isso fechamos nossa postagem de hoje e na seguiremos para nosso 7º dia que será na próxima postagem, onde iremos conhecer o Salto Angel, mas posso dizer, que tudo que já vivi até o sexto dia, já valeu muito esta viagem.
Sobre o autor
Gildo Júnior é fotógrafo, videomaker, aventureiro, colunista, articulista e colecionador de roteiros. Para o servidor público federal, o mundo é imenso, repleto de lugares para conhecer, de coisas para fazer, de culturas para admirar, comidas para provar e pessoas para conhecer, por isso afirma que “por mais que o mundo gire, a única coisa que não posso fazer é ficar parado”.
*O conteúdo é de responsabilidade do colunista