Dados recentes revelam o aumento significativo das queimadas na Amazônia em 2024, com um impacto maior em Florestas Públicas Não Destinadas (FPNDs), terras sob domínio público que não pertencem a nenhuma categoria de posse especificada por lei. De janeiro a agosto, o fogo consumiu 849.521 hectares dessas áreas, um aumento de 175% em relação ao ano anterior.
A crise climática agrava o problema, criando condições ideais para a propagação do fogo. Especialistas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) apontam quatros grandes frentes de atuação visando mitigar os efeitos das queimadas e proteger a floresta:
1 – Prevenção
A primeira frente é a prevenção às queimadas. Isto envolve desenvolver e expandir programas de educação e conscientização para proprietários rurais e comunidades locais sobre os riscos do uso do fogo, apresentando alternativas sustentáveis. O engajamento destas comunidades é essencial para diminuir a área queimada dentro dos imóveis rurais, que representam uma parcela significativa das áreas afetadas.
Além disso, dados científicos qualificados sobre a situação das queimadas em anos anteriores possibilitam prever as áreas com maior risco de fogo. Esta previsão estaria atrelada ao MIF (manejo integrado do fogo). “No caso da Amazônia, que é o segundo bioma que mais queima no Brasil, o MIF é fundamental, pois trabalha na perspectiva da prevenção, ajudando a indicar quando, onde fazer os aceiros, reforçar brigadas nos locais com maior risco”, explica Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM.
Recentemente, o Brasil aprovou a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo (Lei 14.944/24). A nova norma estabelece diretrizes para o uso do fogo em áreas rurais, com foco na sustentabilidade e na proteção da biodiversidade.
2 – Fiscalização
A segunda frente é o combate ao crime, que inclui a intensificação da fiscalização e a aplicação de penalidades rigorosas para o uso ilegal do fogo, especialmente em áreas florestais. Este passo é fundamental para desestimular o uso do fogo na limpeza e renovação de pastagens. O objetivo é reduzir as fontes de ignição, especialmente em áreas próximas às florestas, que estão cada vez mais vulneráveis devido à seca e à maior inflamabilidade.
3 – Combate
Reforçar as operações de combate ao uso ilegal do fogo, especialmente em áreas florestais. A ampla divulgação das punições aplicadas pode ajudar a desestimular práticas ilegais que resultam em incêndios florestais, protegendo assim territórios indígenas e unidades de conservação.
Ainda, melhorar a coordenação entre as diversas agências e esferas de governo que atuam no combate ao fogo. Com a redução do uso do fogo, seja ele controlado ou criminoso, as necessidades de intervenção direta para combater incêndios diminuirão, permitindo uma alocação mais eficaz e eficiente dos recursos disponíveis.
4 – Destinação
Por fim, a destinação das FPNDs a povos indígenas e comunidades tradicionais. Dados da rede MapBiomas, da qual o IPAM faz parte, indicam que nas terras indígenas, menos de 1% da vegetação nativa foi perdida de 1985 a 2023. Esses territórios, que ocupam 13% do país, protegem 112 milhões de hectares de floresta. “É urgente que as terras sejam entregues nas mãos de povos e comunidades tradicionais, pois eles mantêm a floresta em pé”, reforçou Paulo Moutinho, pesquisador sênior do IPAM.
Na Amazônia em quase seis meses, a segunda fase da Operação ‘Catrimani’, das Forças Armadas, já imprimiu um prejuízo de R$ 214 milhões ao garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, com apreensões, multas e inutilização de pistas de pouso e equipamentos.
Para o sucesso da missão, o trabalho de aviadores tem sido imprescindível, já que em algumas áreas o acesso só é possível com o emprego de aeronaves, entre as quais os helicópteros da Marinha do Brasil (MB). O apoio no combate ao crime organizado é apenas uma das muitas atribuições da aviação naval na Amazônia Legal.
“Nós costumamos operar bastante com o pessoal do [Programa] Calha Norte, por exemplo, em projetos de desenvolvimento social em cidades de difícil acesso, com obras de infraestrutura portuária, construção de pontes, escolas, postos de saúde. Também somos bastante empregados em combate a incêndios aqui na Região Amazônica”, explica o Chefe do Departamento de Operações do 1º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral do Norte (EsqdHU-41), o Capitão de Corveta Fuzileiro Naval-Aviador (FN-AV) Anderson de Oliveira Bragagnolo.
Os militares do EsqdHU-41 são convocados, ainda, em busca e salvamento. “É um serviço contínuo, 12 meses por ano, 7 dias por semana, 24 horas por dia, na área do Comando do 4° Distrito Naval [Amapá, Maranhão, Pará e Piauí], em que nós podemos ser utilizados especialmente no mar territorial, a fim de ajudar, por exemplo, uma embarcação que tenha ficado sem propulsão, tenha sofrido algum tipo de avaria, que esteja indo a pique [afundando]. E, nesse momento, a aeronave pode ser acionada a fim de prestar socorro”, conta o Oficial.
Riscos da profissão
Seja qual for o tipo de operação, os aviadores do Esquadrão estão preparados para situações extremas, como no caso das queimadas, em que a visibilidade é prejudicada pelo excesso de fumaça.
“No ano passado, nós fomos empregados tanto na reserva de Tapajós-Arapiuns, que fica próximo de Santarém, no Pará, quanto no combate aos incêndios que estavam ocorrendo na reserva do lago Piratuba, ali no estado de Amapá”, lembra o Capitão de Corveta (FN-AV) Bragagnolo, que acaba de retornar da missão em Roraima, onde reforçou o contingente da Marinha.
Arriscadas também são as operações como a ‘Catrimani’, que dependem muito dos meios aéreos para o transporte e a segurança de agentes governamentais.
“Tem sido realmente um desafio, devido ao esforço necessário para poder cumprir os objetivos naquela área, pelo tamanho e extensão, pela dificuldade de acesso. Sobrevoamos muito tempo sobre a floresta, em locais onde não há um ponto de pouso alternativo e dedicando a vida a cumprir as missões que recebemos, fazendo o nosso melhor pelo País”, conclui o Chefe do Departamento de Operações do EsqdHU-41.
Sobre o Esquadrão
Também conhecido como Esquadrão ‘Hipogrifo’, o EsqdHU-41 conta com três helicópteros UH-15 ‘Super Cougar’ capazes de transportar até 3 toneladas de carga interna e até 3,8 toneladas de carga externa. Eles contribuem, ainda, para ampliar a mobilidade e a eficiência de tropas de Fuzileiros Navais, permitindo o desembarque e o recolhimento rápido dos militares nas áreas de operações, por meio de técnicas de rappel, fast rope, penca e lançamento de paraquedistas. Em casos de evacuação aeromédica, pode levar até oito macas.
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A rainha da Dinamarca, Mary Elizabeth Donaldson, visitou o Centro de Bionegócios da Amazônia (CBA), em Manaus (AM), como parte de uma programação oficial no Brasil, com compromissos voltados para a biodiversidade, um dos pilares da Nova Política Industrial brasileira.
A rainha da Dinamarca foi recepcionada pelos gestores do CBA, que apresentaram o modelo de atuação focado no fortalecimento da bioeconomia amazônica. O CBA tem buscado promover conexões entre investidores, empresas do Polo Industrial de Manaus e atores do ecossistema de inovação, visando fomentar negócios que gerem emprego e renda, ao mesmo tempo que agregam valor às comunidades tradicionais e povos originários, protegendo e conservando a biodiversidade da região.
A visita foi conduzida pelo diretor-geral do CBA, Márcio de Miranda Santos, pela diretora de Bionegócios, Andrea Lanza, e pelo diretor de Operações, Caio Perecin. Marina Lima, secretária executiva adjunta do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), também esteve presente.
Durante a visita, a rainha conheceu os laboratórios e as principais pesquisas desenvolvidas pelos Núcleos de Bioinsumos, Tecnologia Vegetal, Materiais e Energia, Produtos Naturais, além da Central Analítica. Ela se mostrou interessada pela fibra de Curauá e pela celulose bacteriana, extraída da Kombucha.
Foto: Robervaldo Rocha/CBA
A Dinamarca é um dos países que contribuem para o Fundo Amazônia, o que reforça o compromisso do país com a conservação ambiental. “Muito obrigada por me informar sobre o que está acontecendo e como podemos colaborar. Foi muito inspirador e fascinante”, declarou.
Para o diretor-geral do CBA, Márcio de Miranda Santos, a visita de Mary Elizabeth foi especialmente oportuna, permitindo que a monarca conhecesse os desafios enfrentados pelas comunidades locais devido à redução dos níveis dos rios, causada pela estiagem.
“A Dinamarca entende claramente que o desmatamento e as mudanças climáticas são questões globais, e todos os países têm algo a contribuir, seja por meio de investimentos em empresas ou no desenvolvimento de energias renováveis. A conservação da biodiversidade e o uso sustentável dos recursos naturais são preocupações particularmente importantes para os países escandinavos, como a Dinamarca”, afirmou Santos.
Além da visita ao CBA, a rainha esteve no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), onde conheceu projetos de preservação, e no Biatuwi, o primeiro restaurante indígena do Brasil, localizado no centro de Manaus.
A 18ª edição da Primavera dos Museus, que ocorreu nos dias 26 e 27 de setembro, em Macapá (AP), foi marcada pela exposição ‘Mestres do Saber: os carpinteiros navais de Elesbão’, promovida pelo projeto de extensão ‘Educação Patrimonial: História e Memória das Comunidades Ribeirinhas de Santana-AP’, vinculado ao Programa de Formação, Capacitação, Aperfeiçoamento e Idiomas (Profid), da Universidade Federal do Amapá (Unifap). O evento teve como objetivo celebrar a tradição e a cultura da carpintaria naval.
O encontro, realizado no Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas e Patrimoniais do Amapá (Cepap), localizado na Unifap, reuniu fotos, vídeos, pinturas e objetos que retratam a tradição e a cultura da carpintaria naval do bairro de Elesbão, em Santana, município distante 17 quilômetros da capital amapaense. A exposição esteve alinhada ao tema central da Primavera dos Museus deste ano: ‘Museus, Acessibilidade e Inclusão’.
Através dessa exposição, o público presente teve a oportunidade de conhecer de perto a arte dos mestres carpinteiros navais, que mantêm viva a história da construção de embarcações no Amapá. A vice-coordenadora do projeto de extensão Educação Patrimonial, Elke Rocha, destacou o objetivo do projeto, em sendo a valorização da memória e da identidade, vinculadas a esta atividade.
“Os barcos têm características regionais, seus modos de produção e as letras são muito próprias. Precisamos entender que isso tudo é uma ciência e uma parte importante da nossa história. Nossa equipe buscou mapear e entender a produção artesanal de barcos na comunidade ribeirinha. Durante um ano, a equipe visitou a comunidade a cada 15 dias, a fim de compreender a forma como os carpinteiros se organizam e realizam o trabalho”, explicou Elke Rocha.
O evento contou com a presença dos próprios carpinteiros e se tornou um espaço de diálogo e reconhecimento do papel fundamental que eles desempenham na história e na cultura da região.
Fotos: Cíntia Leão/Comunicação Profid
“A gente está mostrando o que sabemos fazer. O trabalho da carpintaria, o trabalho naval, é tipo artesanato cheio de etapas; é como uma faculdade em que você vai aprender do básico até virar profissional. Eu comecei a trabalhar com 23 anos e virei profissional mesmo com uns 35 anos “, destacou o carpinteiro Raimundo Coelho.
Apesar de serem essenciais para a dinâmica econômica da região, os carpinteiros navais, responsáveis por construir e reparar as embarcações que cruzam os rios, ainda veem seu ofício com pouco reconhecimento. Assim como relata o carpinteiro Mezaique Sacramento, que está na profissão há mais de 15 anos.
“A gente que trabalha com isso não tem muito destaque, investimento. A nossa profissão é pouco vista; dão pouca importância. E ver esse projeto é muito legal; eles estão mostrando um pouco do nosso trabalho, para mostrar para as outras pessoas que não conhecem. É uma profissão que eu aprendi com meu pai e que vou passar para os meus filhos”, contou Sacramento.
A exposição ‘Mestres do Saber’ mostrou o trabalho dos carpinteiros navais como um patrimônio cultural vivo e rico, uma fonte de incontáveis saberes e técnicas. A mostra também revelou o importante papel social da carpintaria naval, que vai além da construção de embarcações e incide sobre a vida das comunidades ribeirinhas e a identidade do estado.
A arte de construir barcos não se limita à técnica, ela é uma linguagem que expressa a cultura, a história e a tradição do povo do Amapá.
Casa aparece em meio a área de vegetação destruída pelo fogo em Mâncio Lima. Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre
Após fechar o mês de setembro com aumento de 25% em relação ao mesmo período no ano passado, as queimadas no Acre começaram o mês de outubro com mais focos que em seis meses de 2024.
De acordo com o monitoramento via satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), nos primeiros três dias do mês o estado já teve 451 focos registrados, mais do que todo o primeiro semestre, que fechou com 137 focos de acordo com o mesmo monitoramento.
O número é maior que o total dos meses de janeiro (8), fevereiro e março (ambos com 7), abril (3), maio (11), e junho (101). Com os dados do início de outubro, o Acre já ultrapassa a marca de 7 mil focos em 2024.
Ainda de acordo com os dados do Inpe, todos os 451 focos de outubro foram registrados no dia 2. Um desses casos foi de um incêndio em uma área de mata na BR-364, pouco depois da Vila Custódio Freire, que começou na tarde de terça-feira (1°).
De acordo com o Corpo de Bombeiros, a corporação foi acionada quando o incêndio já ocorria há mais de 12 horas. Ao todo, foram necessárias 20 horas para o controle das chamas. Os bombeiros não informaram o total da área que foi atingida pelo fogo.
O Acre fechou o mês de setembro com mais de 3,8 mil focos de queimada conforme o monitoramento via satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e superou em 25% o mesmo período no ano passado, que encerrou com 3.075 focos.
Com isso, o mês com mais queimadas em 2024 levou o estado a superar, em nove meses, todo o ano de 2023. Neste ano, já são 6.592 focos registrados pelo Inpe, enquanto o ano passado fechou em 6.562 focos.
Até o fechamento de setembro, a maioria dos meses de 2024 teve mais queimadas que os mesmos meses em 2023, à exceção de janeiro, que teve 8 focos registrados pelo Inpe em ambos os anos.
Mais de 40 presos por crimes ambientais
Em meio a queimadas que já destruíram mais de 100 mil hectares de vegetação, pelo menos 46 pessoas foram presas por crimes ambientais no Acre em 2024, até o dia 20 de setembro.
Os números constam em um relatório operacional divulgado pelo Batalhão de Policiamento Ambiental (BPA) da Polícia Militar do Acre (PM-AC) nessa sexta-feira (29).
Maurício Terena, coordenador jurídico da Apib, defendeu que a diversidade étnica do Brasil esteja presente na gestão pública. Foto: Lohana Chaves/Funai
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) apresentou no dia 1° de outubro como a perspectiva indígena pode e deve influenciar políticas públicas em diferentes áreas de atuação, durante o seminário ‘Transversalidade da Perspectiva dos Povos Indígenas – Agenda Povos Indígenas’. O evento ocorreu em Brasília e foi promovido pelo Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO) em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Além de representantes do MPO, BID e Funai, o seminário também contou com a participação de dirigentes do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), do Ministério da Saúde, do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), da Casa Civil da Presidência da República e da Advocacia-Geral da União (AGU).
Atuação interministerial
Como exemplo de transversalidade, a Casa Civil mencionou o esforço conjunto do Governo Federal que vem sendo feito desde 2023, envolvendo cerca de 30 órgãos, para o enfrentamento da crise humanitária na Terra Indígena Yanomami (TIY). E apresentou de que maneira estas instituições trabalham integradas e consultando as lideranças indígenas para promover os direitos individuais e coletivos dos povos Yanomami e Ye’kwana que vivem no território.
A explanação foi feita pela secretária adjunta da Secretaria Especial de Articulação e Monitoramento da Casa Civil, Débora Beserra, na mesa que discutiu o tema “Da construção do problema público à definição da ação pública”. Dessa mesa também participaram a diretora de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável, Lucia Alberta, representando a Funai, e representantes do Ipea, do Ministério da Saúde, do MDS e o coordenador-geral de Direitos Sociais Indígenas do MPI, Cris Tupan, como moderador.
“Fica o nosso desafio para as próximas leis orçamentárias de conseguir trazer, a partir desses exemplos concretos, como podemos definir as nossas rubricas [dotação orçamentária] para os povos indígenas. E quando formos elaborar a política pública, que a gente mire também nos instrumentos de implementação”, sugeriu Débora Beserra.
Participação indígena
Lucia Alberta falou dos desafios enfrentados pelos povos indígenas e apresentou propostas para superá-los. Entre os desafios mencionados está a falta de reconhecimento dos direitos individuais e coletivos que protegem sua cultura, as terras tradicionalmente ocupadas, seus modos de vida e sua autodeterminação.
“Muitos desses direitos não são totalmente respeitados ou implementados, o que torna a inclusão da perspectiva indígena nas políticas públicas ainda mais urgente. Precisamos garantir que esses cidadãos tenham condições reais para o exercício de sua cidadania plena, respeitando sua diversidade cultural, social e política”, defendeu Lucia Alberta.
Foto: Lohana Chaves/Funai
Considerando que a transversalidade significa integrar uma perspectiva em diversas áreas e políticas, de maneira a promover uma abordagem holística e inclusiva, a diretora da DPDS afirmou que, no caso dos povos indígenas, trata-se de integrar seus conhecimentos, cosmovisões e necessidades em políticas públicas em áreas como saúde, educação, meio ambiente e direitos humanos.
Sobre a definição de problema público como algo que afeta a sociedade e requer soluções políticas, Lucia Alberta destacou que os problemas enfrentados pelos povos indígenas — como a falta de demarcação de terras e o acesso à educação intercultural — foram invisibilizados ou minimizados ao longo dos séculos. Para que esses desafios ganhassem a devida notoriedade, o movimento indígena tem tido papel central, segundo avaliou a representante da Funai.
Ela citou como exemplo desse engajamento para incidir sobre a gestão pública a Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI), a qual foi construída com a participação dos povos indígenas, resultando em ações mais eficazes e sensíveis às suas realidades.
“Para que as ações públicas sejam eficazes e justas, os povos indígenas devem ser parte ativa no processo de definição das políticas. Sem sua voz, as ações podem ser ineficazes ou descontextualizadas”, pontuou Lucia Alberta, mencionando outros exemplos da participação indígena que resultaram em ações adequadas às suas necessidades. Foi o caso da participação na construção do Plano Nacional de Saúde Indígena, na Comissão Nacional de Educação Escolar Indígena (CNEEI), no Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI) e no Comitê Gestor da PNGATI.
Retomada da transversalidade
O coordenador jurídico da Apib, Maurício Terena, considerou que as políticas de transversalidade não podem ser pensadas de maneira hegemônica ou universal. Para ele, a diversidade étnica do Brasil precisa estar presente no dia a dia da gestão pública.
“Historicamente, talvez nunca os povos indígenas tenham tido a oportunidade de expressar suas perspectivas e realidades de políticas públicas como agora. Sempre houve um intento de suprimir o modo de vida dos povos indígenas, mas hoje, com mais espaço, eles podem participar ativamente desses debates”, avaliou Terena durante a mesa “Retomando o debate sobre transversalidade”. Dessa discussão também participaram Pedro Marín e Ellen Accioli, do BID, e a coordenadora de Estudos e Temas Transversais do MPO, Clarice Marinho, como moderadora.
Ainda segundo Maurício Terena, os povos indígenas trazem uma contribuição significativa para o debate público brasileiro. “A existência de um Ministério dos Povos Indígenas reforça a necessidade de reestruturar nossa ideia de justiça social, ressaltando que as políticas para os povos indígenas devem ser vistas como políticas para todos, promovendo uma transformação profunda e abrangente”, destacou.
Agendas Transversais do PPA
O seminário ‘Transversalidade da Perspectiva dos Povos Indígenas – Agenda Povos Indígenas’ faz parte de uma série iniciada em dezembro de 2023 com uma sequência de diálogos abordando as cinco Agendas Transversais e Multissetoriais do Plano Plurianual (PPA) 2024-2027: mulheres, crianças e adolescentes, povos indígenas, igualdade racial e meio ambiente.
As discussões realizadas nos seminários também são oportunidades de capacitação dos servidores públicos federais sobre a transversalidade no PPA e na Lei Orçamentária Anual (LOA), de cada uma das agendas. E servirão de subsídio para que o MPO e o BID elaborem guias metodológicos sobre os temas.
Esses guias apoiarão servidores na implementação da transversalidade de cada tema nas políticas públicas em seus órgãos. Os organizadores do evento disponibilizaram um link para quem tiver interesse em contribuir para a construção do guia relacionado à Agenda Povos Indígenas. Clique aqui.
Em paralelo, o MPO tem publicado relatórios de cada uma das cinco agendas transversais em que apresenta os programas, objetivos específicos, entregas e metas para o avanço das respectivas políticas públicas no PPA 2024-2027.
Com Rio Negro medindo 12,69 metros, Manaus tem a pior seca da história pelo segundo ano consecutivo. Foto: Matheus Castro/g1 Amazonas
O Rio Negro alcançou 12,68 metros às 18h desta quinta-feira (3), marcando a pior seca da história de Manaus (AM) pelo segundo ano consecutivo, segundo o Serviço Geológico do Brasil (SGB). O Porto da capital, responsável pelo monitoramento das águas desde 1902, registrou a mínima das últimas 24 horas na manhã desta sexta-feira (4): 12,66.
Este ano, o recorde foi atingido 23 dias antes de 2023, quando o rio havia registrado 12,70 metros em 26 de outubro. Em comparação, no dia 3 de outubro de 2023, o Rio Negro mediu 15,14 metros, o que representa uma diferença de 2,46 metros a mais do que o nível registrado neste ano, conforme dados do Porto de Manaus.
As águas devem continuar secando e podem ficar abaixo dos 12 metros, segundo as previsões do SGB. O tempo seco e a falta de chuvas regulares ajudam a piorar a situação.
Conhecido por suas águas escuras e com quase 1,7 mil quilômetros de extensão, o Rio Negro é um dos principais afluentes do Rio Amazonas e banha a capital do estado. No final de outubro do ano passado, o rio voltou a encher, mantendo um crescimento lento e constante. No dia 17 de junho deste ano, as águas pararam de subir e começou o período de vazante.
A rápida e antecipada queda no nível das águas gerou preocupação entre as autoridades, que já estão adotando medidas preventivas. Devido à estiagem, a Prefeitura de Manaus declarou situação de emergência por 180 dias e interditou a Praia da Ponta Negra, após o rio ultrapassar a cota mínima de segurança de 16 metros.
Além da capital, os 61 municípios do Amazonas também enfrentam uma situação de emergência devido à seca. Segundo a Defesa Civil, todas as calhas de rios do estado estão em estado crítico de vazante. Quase 750 mil dos mais de 4 milhões de habitantes do Amazonas estão sendo afetados, o que corresponde a mais de 186 mil famílias.
O fenômeno tem isolado comunidades e prejudicado a navegação, além de impactar o escoamento da produção das empresas do Polo Industrial. Navios cargueiros já não atracam mais na cidade; em vez disso, transferem as cargas para balsas com calado menor, que são embarcações menos profundas, para seguir até Manaus e atender à indústria.
A seca levou 29 escolas da zona rural, localizadas ao longo do Rio Negro, a encerrar as aulas no fim de setembro. Outras 16 unidades educacionais no Rio Amazonas continuam com o calendário escolar, sendo oito com aulas totalmente presenciais e oito em formato híbrido. As atividades serão encerradas no dia 18 de outubro, conforme informado pela secretaria de educação municipal.
Segundo a Prefeitura de Manaus, o calendário anual das escolas ribeirinhas inicia antes da zona urbana, devido à cheia e vazante dos rios, além das especificidades climáticas da região amazônica.
Em toda orla da capital, o cenário repete o que os manauaras viveram em 2023: o rio “sumiu” e a terra está em arrasada. Afluentes e lagos que cortam a capital amazonense também secaram. O cenário é devastador e impacta o ecossistema e a vida de quem depende do rio para sobreviver.
Na Colônia Antônio Aleixo, lago secou totalmente. Foto: Matheus Castro/g1 Amazonas
A Praia da Ponta Negra foi fechada para banho. Uma cerca foi instalada no local para impedir banhistas de se aproximarem da água, uma vez que há risco de afogamento por conta dos buracos com a vazante do rio. Na Marina do Davi, ponto de partida de pequenas embarcações para as comunidades que ficam no entorno da capital, a situação é difícil. Moradores contaram ao g1 que um trajeto de barco que durava, em média, 10 minutos, está levando mais de duas horas para ser concluído. O preço das passagens também aumentou.
No local, a prefeitura uma ponta de 80 metros de extensão “para promover a acessibilidade segura de passageiros e minimizar os transtornos à população ao novo ponto de ancoragem dos barcos e lanchas”. Na Praia Dourada, onde existem diversos flutuantes de recreio, o rio deu lugar a um mar de lama e o cenário é de abandono. Banhistas e donos de barcos e flutuantes deixaram o local.
No Lago do Puraquequara, a equipe do g1 adentrou cerca de 2 km no que antes era um braço do Rio Negro. A situação é a mesma na vizinha Colônia Antônia Aleixo, onde o Lago do Aleixo secou e se transformou em um filete de água.
No Porto da Capital, bancos de areia surgiram no meio do rio, forçando as embarcações a se afastarem e ficando cada vez mais longe do local onde costumavam atracar, próximo à pista.
Situação semelhante na Orla do Educandos. No entanto, por lá, o rio deu lugar a um mar de lixo que, comumente, é despejado nas águas e que ficou no local por conta da vazante.
A seca também afetou o famoso Encontro das Águas. Com a vazante, o fenômeno ficou difícil de ser visto. A mistura da água escura do Rio Negro, com a água barrenta do Rio Solimões, é um dos patrimônios do estado e atrai turistas de todos os lugares do Brasil e do mundo.
Seca impacta vida de quem mora às margens do Rio Negro e seus afluentes
O carpinteiro Getúlio de Castro, de 57 anos, mora na Marina Rio Belo, às margens do Rio Tarumã-Açu, na zona ribeirinha da capital amazonense. Segundo ele, para sair de lá, é preciso enfrentar um trajeto de duas horas até a Marina do Davi.
“É uma situação drástica e eu até evito de sair de casa porque pra eu poder sair eu tenho que pagar R$ 20 de gasolina pra ir e R$ 20 pra voltar porque não tem onde guardar a canoa. Eu guardava minha canoa aqui na Marina do Davi, mas onde que eu vou guardar agora? Não tem como”, explicou o carpinteiro, que mora há 24 anos no local.
“Um trajeto que eu levava dez minutos pra fazer estamos fazendo duas horas. E em uma parte a gente ainda precisa descer do barco para empurrar, porque não tem como passar porque o riu sumiu”, continuou.
Quem também é afetado pelo problema é o estaleiro Felipe Lopes, de 54 anos. Ele tem um flutuante na Marina do Davi desde 1994, no qual faz barcos e reparos em pequenas embarcações. Com a seca, o empresário precisou dispensar os funcionários e viu os clientes irem embora.
“É um cenário muito triste. Estou aqui há muito tempo e nunca tinha visto o que aconteceu aqui ano passado e agora. E este ano parece que vai ser ainda pior. A gente sabe que ninguém tem culpa, mas é complicado, porque tem muita gente que vive aqui e ganha seu pão aqui também”.
No Puraquequara, na Zona Leste de Manaus, o empresário Erick Santos, de 29 anos, dono de um restaurante que serve peixes e outras comidas regionais, também viu os clientes irem embora.
“O nosso faturamento caiu em 50%. As pessoas vinham para cá porque além do peixe que a gente servia tinha o rio e no fim de semana era comum as pessoas pularem na água. Agora tudo é terra. Também tem muita coisa que está em falta. Banana, cheiro verde, coisa que a gente precisa na cozinha, não tem. A agricultura familiar está prejudicada. Fora o valor do peixe. Antes a gente comprava um tambaqui por R$ 14, hoje estamos comprando por R$ 19 e o preço, infelizmente, tem que aumentar”, explicou.
Seca severa é fruto da combinação de diversos fatores, alerta especialista
Segundo Renato Senna, pesquisador e coordenador de hidrologia do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o Amazonas ainda está enfrentando os efeitos da seca do ano passado, como a falta de precipitação.
“A própria seca de 2023, devido principalmente ao El Niño e também ao aquecimento do Atlântico Tropical Norte, alterando a circulação atmosférica sobre nossa região; dificultaram a formação e o desenvolvimento das nuvens reduzindo o volume de precipitação durante a nossa estação chuvosa; que normalmente ocorre entre dezembro de um ano e abril ou maio do ano seguinte”, disse.
De acordo com o especialista, após a seca do ano passado, os rios não receberam um volume de chuvas suficiente.
“Os rios não receberam o volume de chuvas necessário à elevação das cotas aos seu níveis normais no primeiro semestre de deste ano. Durante esta nova estação seca de junho a setembro de 2024, temos outra seca severa em nossa região”.
O fenômeno deve perdurar até o fim de outubro, quando o tempo no Amazonas deve ser influenciado por outro evento climático: o La Ninã. Com isso, os rios devem voltar aos padrões normais de monitoramento.
“A expectativa atual é de que no final do último trimestre deste ano possa ocorrer no Oceano Pacífico um evento de águas superficiais mais frias, La Niña, o que poderá favorecer um período chuvoso ligeiramente mais intenso sobre a Amazônia no primeiro semestre de 2025, com perspectiva de recuperação das bacias hidrográficas que formam os rios Negro, Solimões, Madeira e por consequência o Rio Amazonas, voltando a normalidade”, finalizou.
Rio pode ficar abaixo dos 12 metros, aponta SGB
Um boletim divulgado pelo Serviço Geológico do Brasil no fim da semana passada, aponta que o Rio Negro pode ficar abaixo dos 12 metros na vazante histórica deste ano.
“As descidas estão muito acentuadas em Manaus e, se continuar com essa média de descida de 19 cm por dia, em uma semana poderemos ultrapassar a marca histórica – que é de 12,7 m registrada em 2013 – e, nas próximas semanas, o Rio Negro pode ficar abaixo dos 12 m”, alertou o pesquisador em geociências Artur Matos, coordenador nacional dos Sistemas de Alerta Hidrológico do SGB.
Seca na Marina do Davi, em Manaus. Foto: Matheus Castro/g1 Amazonas
Ainda segundo Matos, o Rio Negro pode ficar abaixo da cota de 16 metros em Manaus por mais dois meses, com base nas observações do ano passado, que se assemelham ao cenário atual.
Conforme o SGB, na maior parte da Bacia do Amazonas, os rios estão abaixo da normalidade para a época, e em algumas áreas, as cotas já atingiram os níveis mais baixos da história.
Ajuda humanitária
No fim de setembro, a prefeitura da capital informou que concluiu a primeira fase da Operação Estiagem 2024, com a entrega de mantimentos para 55 comunidades ribeirinhas afetadas pela seca do rio Negro. A ação alcançou mais de três mil famílias que vivem desde o Rio Apuaú até o Rio Tarumã-Mirim, afluentes do rio Negro.
Nessa primeira etapa, a operação entregou cestas básicas, que somam 6.190 itens, mais de 61,9 mil litros de água potável e 6.190 kits de higiene. Algumas comunidades também receberam kits de água, com bombas, mangueiras de 100 metros, para auxiliar os produtores rurais com irrigação, e ainda, filtros de água com capacidade de garantir a produção de água potável, uma ação inédita da prefeitura realizada nesta operação.
As últimas comunidades atendidas na semana passada foram do rio Tarumã-Mirim, com 1.750 famílias recebendo os kits de ajuda humanitária. Somente nesta localidade foram entregues 3,5 mil cestas básicas, 2,1 mil kits higiênicos, além de 9,6 mil unidades de água potável de dois litros e mais 984 com 20 litros. As comunidades atendidas foram N. Sr.ª de Fátima, Abelha, N. Sr.ª do Livramento, Ebenezer, Julião, Agrovila, Novo Paraíso/Vai quem Quer, São Sebastião, União da Vitória, Três Galhos e Deus Proverá.
A prefeitura também disse que já se organiza para a segunda e, possivelmente, terceira ase da operação, que vai atender áreas urbanas e comunidades do Rio Amazonas.
*Por Matheus Castro, da Rede Amazônica AM, com informações atualizadas do Porto de Manausem 04/10/2024
A área queimada no Brasil entre janeiro e agosto de 2024 foi 116% maior do que a registrada em 2023, atingindo 11 milhões de hectares. A maior área queimada foi registrada em imóveis rurais de grande porte, que respondem por 2,8 milhões de hectares queimados no período analisado, 163% a mais do que o registrado no ano passado. O maior aumento, no entanto, ocorreu nas Florestas Públicas Não Destinadas: uma alta de 176% na área afetada pelo fogo, ou cerca de 870 mil hectares queimados apenas em 2024.
A área queimada em terras indígenas, por sua vez, também passou por um aumento significativo, chegando a 3 milhões de hectares queimados, um aumento de 80% em relação ao ano passado. Unidades de Conservação, por sua vez, registraram um aumento de 116%, ultrapassando o 1,1 milhão de hectares queimados.
O avanço generalizado do fogo em imóveis rurais também pode ser observado em áreas de diferentes tamanhos. As grandes propriedades concentram a maior parte do fogo em relação às demais áreas privadas, com a área queimada passando de 1 milhão de hectares em 2023 para 2,8 milhões de hectares em 2024. Em propriedades pequenas, o aumento foi de 99% no período analisado, enquanto as médias registraram uma área queimada 107% maior. Os assentamentos rurais também tiveram um crescimento expressivo, superando 800 mil hectares de área queimada em 2024, um aumento de 132% em relação ao ano anterior.
Os dados foram divulgados no dia 26 de setembro na Nota Técnica “Fogo no Brasil em 2024: o retrato fundiário da área queimada nos biomas”, produzida por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e de outras organizações que compõem a Rede MapBiomas. O documento mostra as principais categorias fundiárias afetadas pelo fogo em cada bioma, oferecendo informações estratégicas que possam apoiar a tomada de decisão em relação à gestão ambiental e territorial.
“Tais dados demonstram a crescente pressão sobre terras públicas e reforçam a necessidade urgente de políticas eficazes de gestão e proteção desses territórios, fundamentais para a conservação ambiental, para o respeito aos modos de vida dos povos indígenas, povos e comunidades tradicionais e ao seu direito ancestral à terra, e para a manutenção dos serviços ecossistêmicos essenciais a todas as formas de vida no planeta”, escrevem os pesquisadores na nota.
Diferentes perfis de fogo
A frequência, intensidade e impacto do fogo varia conforme cada bioma e categorias fundiárias em que ocorre, trazendo à tona diferentes dinâmicas socioeconômicas e territoriais, como o avanço da fronteira agrícola, a regularização fundiária e a gestão inadequada de áreas protegidas e terras indígenas. Por esse motivo, a pesquisa busca mapear as principais categorias afetadas em cada bioma, disponibilizando informações que possam apoiar a tomada de decisão em relação à gestão ambiental e territorial.
“Essa diversidade de situações requer uma análise detalhada e regionalizada para que possamos entender os padrões de fogo e implementar ações específicas de controle. Isso é essencial para o desenvolvimento de políticas eficazes”, aponta Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM e uma das autoras do estudo.
A origem do fogo também varia de acordo com o bioma queimado, assim como o tipo de área mais atingida. Segundo Ane Alencar, Amazônia e Cerrado (que concentram a maior parte da área queimada do Brasil) sofrem principalmente com o manejo de pastagens e abertura de novas áreas de produção, que muitas vezes ocupam áreas de vegetação nativa.
“Na Amazônia, o desmatamento e a expansão agropecuária impulsionam um ciclo de queimadas. No Cerrado e Pantanal, o uso do fogo está muitas vezes ligado ao manejo de pastagens, inclusive as naturais, enquanto a Caatinga e a Mata Atlântica sofrem com incêndios de origem acidental ou decorrentes de práticas agropecuárias de pequena escala”, completa Ane.
Foto: Joedson Alves/Agência Brasil
Amazônia
Na Amazônia, bioma que mais queimou nos primeiros 8 meses de 2024, foi registrado um total de 5 milhões de hectares queimados, 87% a mais do que no ano passado. No bioma, destaca-se a grande proporção de queimadas em territórios indígenas e florestas públicas não destinadas, que corresponderam a 24% e 16% de tudo que queimou.
Segundo os pesquisadores envolvidos no projeto, a distribuição do fogo na Amazônia indica uma “uma forte pressão sobre áreas públicas protegidas formalmente, bem como sobre aquelas ainda em processo de destinação e áreas sem informação cadastral”.
Assim como no panorama geral do Brasil, Florestas Públicas Não Destinadas tiveram o maior aumento registrado na Amazônia (175%), chegando a 834 mil hectares queimados. Nas unidades de conservação do bioma, que cobrem uma área de 102 milhões de hectares de vegetação nativa, o aumento foi de 113%, atingindo cerca de 603 mil hectares.
Dentre os imóveis rurais da Amazônia, o cenário se inverte em relação ao observado no restante do País: o maior aumento foi registrado em propriedades pequenas (99%), seguido por médias (85%) e grandes (68%). Assentamento rurais federais e estaduais, por sua vez, responderam por 749 mil hectares queimados nos primeiros oito meses de 2024, número 144% maior em relação ao mesmo período no ano passado.
Recomendações
Foto: Joedson Alves/Agência Brasil
O ano de 2024 tem sido marcado por uma intensificação dos incêndios florestais nos biomas brasileiros, com especial destaque para a Amazônia, Cerrado e Pantanal. O uso do fogo, seja de forma acidental ou intencional, continua sendo um dos principais fatores de degradação ambiental, contribuindo para a perda de biodiversidade, emissão de gases de efeito estufa e transformação da paisagem natural.
Como propostas para o controle dos incêndios em todos o biomas, os pesquisadores sugerem a implementação de medidas mais rigorosas para coibir o uso do fogo nas propriedades rurais, com o reforço de operações de combate ao uso ilegal do fogo e divulgação das punições aplicadas. Além disso, devem ser ampliados os programas de conscientização de proprietários rurais e comunidades rurais a respeito dos riscos das queimadas, assim como a promoção de soluções mais seguras e sustentáveis.
Como medidas específicas para a Amazônia, o estudo destaca a vulnerabilidade crítica das florestas públicas não destinadas que, além do fogo, concentram grande parte da área desmatada da Amazônia. A destinação apropriada dessas áreas, através da criação de parques, terras indígenas e outros tipos de áreas protegidas é, portanto, essencial para a proteção desses territórios contra a grilagem e as invasões e para a consolidação de mecanismos legais e do uso sustentável.
*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Ipam, escrito por Lucas Guaraldo
Por Julio Sampaio de Andrade – juliosampaio@consultoriaresultado.com.br
Vivemos momentos de escalada de violência. Há um risco imensurável no Oriente Médio, de consequências imprevisíveis. Já não vivemos a paz armada, mas a guerra armada por alta tecnologia nuclear, restando apenas que os tais botões sejam apertados. Isto poderá acontecer num ataque de fúria de um dos lados, e a irracionalidade ocorreria como uma faísca de fogo que destrói uma floresta milenar em poucos minutos. Neste caso, perderíamos muito mais do que florestas e, talvez, não houvesse alguém para contar a história.
Mas a violência não se limita aí. Na série ‘Os Outros’, em exibição na Globoplay, tudo começa com a briga de dois garotos em um jogo de futebol em um condomínio de classe média no Rio. O conflito se estende à família, aos vizinhos e ganha proporções de tragédia, numa veloz escalada que prende a audiência. É tudo ficção, mas o pior, é que é verossímil.
Indo para o aeroporto de Vila Velha para Vitoria, há um acidente na Terceira Ponte, que repercute por quilômetros. Estou mais de uma hora adiantado do meu horário de embarque. A princípio, mantenho-me calmo. Tenho muito tempo. Mas o trânsito não está devagar, está praticamente parado. Muito raramente avançamos. Começo a me impacientar. Os minutos vão se aproximando e começa a haver risco de eu perder o voo, o que não pode acontecer. É uma reunião importante. Há ainda uma conexão e não há muitos voos para o meu destino.
Em mais de uma vez, uma fila de motoristas “espertos” fura a fila do carro que está imediatamente na minha frente. Por pretensa gentileza, por lentidão ou simplesmente por desatenção, ele permite que “tomadores” se deem bem, atrasando a mim e a todos que estavam atrás.
Sou tomado por um sentimento ruim (raiva, irritação?), não sei se maior pelos que furavam a fila ou por quem cedia passivamente ao abuso. Esbravejo para mim mesmo, com o vidro fechado. Quem reage é minha mulher, zangada, pedindo calma. Respondo no mesmo tom, tentando me justificar. Pronto. A violência escalou. Um silêncio, após isso, amortizou os ânimos. Cheguei a tempo no aeroporto, nos despedimos em paz, mas o clima já não era o mesmo.
De positivo, o episódio me traz o tema do artigo da semana. É possível deter a nossa escalada de violência? Se sim, como fazer isto? E, como escalar a paz, a ponto de transformar o mundo perto e o mundo longe?
A ira está para o ódio assim como o prazer está para a felicidade. Raiva e prazer são emoções de curto prazo, momentâneas. Ódio e Felicidade possuem um caráter duradouro, que ultrapassam a emoção do momento. O ódio e a ira são emoções negativas. A felicidade é positiva, mas o prazer nem sempre. Ele é negativo quando desconsidera as consequências ou quando, como no vício, perdemos o domínio sobre ele.
No vicio ou na ira, podemos perder o controle e somos capazes de atos dos quais seríamos incapazes em nosso estado normal. Quem se manifesta é o nosso lado sombra. É preciso impedir que eles se instalem, pois a partir daí, estamos sujeitos a emoções com grande poder de destruição. Além disso, assim como a felicidade, a ira e o vício têm um forte poder de propagação.
O que é capaz de neutralizar a ira e o vício é a consciência. No Método MCI de Felicidade é apresentado O Exercício da Segunda Pessoa, momento em que observamos a nós mesmos a uma certa distância, o que nos permite enxergar melhor os fatos.
Temos uma natureza boa, mas possuímos dentro de nós, forças contrárias. Se estivermos em estado de consciência, poderemos escolher que lado queremos fortalecer. Às vezes o silêncio, o respirar fundo e um outro olhar poderão evitar que pequenos aborrecimentos se transformem em uma verdadeira guerra, seja em casa, com os vizinhos ou em algo capaz de destruir o mundo.
E você? Tem conseguido evitar escaladas de violência?
Sobre o autor
Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.