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Rio Acre sobe e fica acima de 2 metros após quatro meses na capital acreana

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Volume de chuvas influiu para aumento no nível do Rio Acre na capital. Foto: Andryo Amaral/Rede Amazônica AC

O Rio Acre subiu mais de um metro nas últimas 24 horas na capital Rio Branco e voltou a passar dos 2 metros após 122 dias, com 2,70 metros segundo a medição das 7h desta segunda-feira (14) feita pela Defesa Civil Municipal. No domingo (13), o rio estava em 1,59 metro, o que representa um crescimento de 1,11 metro nas últimas 24h.

Contribuiu para o aumento o volume de chuva registrado no período, que foi de 20,60 milímetros ainda segundo a Defesa Civil de Rio Branco. Com o índice, já foram 136 mm de chuva desde o dia 1º de outubro na capital acreana. O montante corresponde a 79,5% dos 171 mm estimados para o mês.

O coordenador ressalta, porém, que enquanto o nível apresentou crescimento na capital e outras regiões próximas, o restante do estado ainda tem pontos com redução no nível de rios e igarapés, e precisam que as chuvas se intensifiquem.

Com a medição desta segunda, o nível do Rio Acre já registra um crescimento de 1,27 metro no mês de outubro. A última vez que a medição havia ultrapassado os 2 metros foi no dia 13 de junho, quando chegou a 2,06 metros.

No período, o rio chegou a estabelecer novas marcas negativas, como a menor cota histórica, que foi de 1,23 metro, registrada no dia 21 daquele mesmo mês.

“Choveu, mas foi aqui na bacia do Rio Acre, e foi mais aqui nessa parte de baixo, aqui de Rio Branco, nessa região. Mas, a previsão é que continue tendo chuvas, mesmo em pequeno volume, mas vai influenciar na subida do nível do rio”, acrescenta Batista.

Seca histórica

Segundo a Defesa Civil Estadual, essa foi a primeira vez desde 1971, quando iniciou a medição do manancial, que as águas permanecem tanto tempo abaixo da cota de 2 metros.

Em 13 de junho, o nível do Rio Acre estava com 2,06 metros na capital. No dia seguinte, as águas baixaram para 1,99 metro. A partir de então, o nível do manancial seguiu baixando e chegou a estabilizar em algumas épocas, contudo, não voltou a ficar mais acima da cota de 2 metros.

“É o período que ele passou com o tempo maior, mais de 3 meses, abaixo da cota de 2 metros. O nível deu uma subida de sexta-feira [27], quando estava com 1,27 metro, subiu para 1,41 [no sábado,28], hoje [segunda-feira, 30] baixou para 1,38 metro. Já voltou a abaixar novamente”, explicou o coordenador da Defesa Civil Estadual, coronel Carlos Batista à época.

Ainda segundo o coordenador, a subida repentina ocorreu por conta de chuvas isoladas em algumas regiões do estado. “E a tendência é que essas chuvas isoladas, pequenos volumes, continuem ocorrendo. Então, chuvas com maior significado, em volumes maiores, as previsões mostram só para depois do dia 15 de outubro. Mas, pode ocorrer nesse intervalo chuvas significativas, mas em pequenas áreas”, diz o coronel.

No dia 21 de setembro, o Rio Acre bateu 1,23 metro na capital acreana, a menor marca registrada nos últimos 53 anos e estabeleceu a seca de 2024 como a maior da história do estado. O manancial em Rio Branco se encontra abaixo de 4 metros há mais de 4 meses.

As menores cotas já registradas são:

  • 1,30 metro – 17 de setembro de 2016
  • 1,29 metro – 11 de setembro de 2022
  • 1,27 metro – 28 de setembro de 2022
  • 1,26 metro – 29 de setembro de 2022
  • 1,25 metro – 2 de outubro de 2022
  • 1,25 metro – 20 de setembro de 2024
  • 1,23 metro – 21 de setembro de 2024

O governo do Acre decretou emergência por conta da seca em 11 de junho, com validade até 31 de dezembro deste ano. Já a capital publicou o decreto em 28 de junho, com situação reconhecida pelo governo federal quase um mês depois, em 24 de julho.

Para evitar uma crise no abastecimento da capital, o Serviço de Água e Esgoto de Rio Branco (Saerb), construiu uma barragem próxima da captação das bombas da Estação de Tratamento de Água (ETA) II.

*Por Victor Lebre, da Rede Amazônica AC

Coronel Joaquim Francelino de Araújo: Ex-Venerável Mestre da Grande Benemérita Loja Simbólica Amazonas n.º 2

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Coronel Joaquim Francelino de Araújo. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Por Abrahim Baze – literatura@amazonsat.com.br

O Coronel Joaquim Francelino de Araújo nasceu no Ceará a 12 de março de 1851, sendo seu genitor o Coronel Francisco de Araújo. Fez seus estudos primários na cidade de São Bernardo, daquele estado e os preparatórios no Seminário de Fortaleza.

Aos dezoito anos de idade partiu para o Rio de Janeiro, matriculando-se na Escola de Farmácia do Rio de Janeiro, onde diplomou-se. Após a formatura, ali permaneceu por três anos dedicando-se aos afazeres de sua profissão. Regressando ao Ceará, passou a trabalhar no comércio e em outras atividades no interior, estabelecendo-se na cidade de Camocim e em seguida para a cidade de Viçosa.

Casou com a senhora Clotilde Beviláqua, irmã dos doutores Clóvis Beviláqua e Angelino Beviláqua. Deste casamento o casal trouxe ao mundo os filhos: doutor Albérico Beviláqua de Araújo, Albucassis Beviláqua de Araújo, Maria Araújo e Elidiana de Araújo Menezes, casada com Celino Menezes.

Em 1884, transferiu-se para Manaus, aqui abriu a Farmácia Central, esquina da antiga rua do Imperador, atual Marechal de Deodoro, com Theodoreto Souto, na qual trabalhou até 1900.

O Coronel Joaquim Francelino de Araújo ingressou na politica, filiando-se no Partido Nacional, dirigido a época pelo doutor Jonathas Pedrosa, tendo sido um político combatente e de grande atividade. Deixando a farmácia, foi nomeado Depositário Público. Em 1913, exerceu o mandato de vereador em Manaus. Em 1916, retirou-se do Amazonas, indo trabalhar nos escritórios da Empresa Port of Pará.

Marcelo Barbosa Peixoto, Sereníssimo Grão-Mestre da Grande Loja do Estado do Amazonas (GLOMAM). Foto: Abrahim Baze/Acervo Pessoal

Quem quer que ainda creia nos altos desígnios do homem sobre a face da terra; quem quer que ainda não tenha todo descrito da ação civilizadora nos destinos da humanidade; quem quer ainda não se tenha tornado em absoluto indiferente ao movimento regenerador que as conquistas do espírito humano vão operando no mundo, limpando – o dos preconceitos religiosos, libertando – o dos prejuízos políticos; quem quer que ainda se sinta agitado pelos superiores ideais de direito e de justiça; quem quer que ainda tenha alma para crer, coração para sentir – não pode deixar de se descobrir reverente e atencioso numa saudação que traduza respeito e consideração, antes a personalidade simpática desse homem que é a mais completa encarnação da bondade, no que ela contém de mais suave e de mais carinhoso, de mais belo e de mais sublime, de mais meigo e de mais angélico.

Nestes tempos de intensa vida e de desamor, em que por assim dizer o homem, no conjunto de todas suas faculdades, absorvido no dia a dia pela busca da sobrevivência que o domina por inteiro, não saindo do seu egoísmo se não para se mover na direção que lhe é indicada pelos seus interesses individuais, constitui um caso raro digno de menção, encontrarmos alguém com muita resignação para sofrer e com uma grande soma de bondade para com o próximo, com alma de crente sincero pairando mais alto por cima das mazelas sociais, com uma convicção profundamente inabalável de que a principal missão no seio das sociedades, a que mais o honra e lhe dá nobreza, a que mais engrandece exalta e dignifica é a prática do bem.

Fazer o bem eis em que consiste a religião de Joaquim Francelino de Araújo. Maçom atuante e um espírita convencido que somente a caridade o aproxima de Deus. Alquebrado pelos embates da diversidade da vida do que pelo peso dos anos vividos. Ele Joaquim Francelino de Araújo vai calmo, sereno, atravessando a existência firme na sua consciência tranquila de homem probo, apoiado na firmeza de seu caráter, sem as humilhações degradantes dos subservientes e nem tão pouco as revoltas histéricas dos libertinos, mas como simples e sincero apóstolo de uma religião que prega a paz, o amor e a caridade, trazendo consigo o espírito iluminado que lhe enche a alma generosa e boa.

Por toda sua vida caminhou alheio as grandezas e as vaidades mundanas, sem vícios que lhe pudesse corromper a sua existência, sem ambições desmedidas que o torne hipócrita e cruel, tem o culto extremado da família, cujo lar tranquilo e modesto, porém, honrado e alegre considerado por ele um templo sagrado, cuja, vida como esposo e como pai nunca se desviou se quer uma linha, nem mesmo em pensamento, do rigoroso cumprimento dos seus deveres. Foi sim um exemplo de modelo e de virtudes.

Se como chefe de família a sua conduta foi exemplar, como maçom dedicado e espírita por convicção teve uma vida irrepreensível. Considerado um homem de elevada alma nobre, mas, sábia e sublime que a que presidiu a organização da maçonaria à época. Como maçom esteve intimamente convencido de que a maçonaria é a obra mais completa que o homem produziu e de que, como Instituição humana dispõem melhor do que qualquer outra de todas as instituições precisas para tornar o homem feliz, levantando-lhe o moral, refretando-lhe os instintos, desembaraçando do fanatismo religioso, tornando – o bom e justo, tolerante e sociável, sem ódios a satisfazer, sem vinganças a pôr em prática, pronto a qualquer sacrifício em proveito da liberdade e da justiça, onde quer que os tiranos tentem ofuscar o espírito humano – ou seja em nome das religiões ou da política, fundando definitivamente na face da terra o regime da paz e da fraternidade.

A maçonaria lhe consagrou o melhor de sua existência. A seu serviço constante, ininterrupto, todos os dias empregou a sua atividade de forma incansável crente e fervoroso sem desanimar, mesmo quando o peso da fadiga lhe abatesse, sem jamais desertar ou abandonar a jornada.

Por um longo período durante todas as noites trabalhou nas diversas oficinas do oriente de Manaus, dando salutar exemplo de uma dedicação sem limites, de uma correção irrepreensível, ensinando os neófitos, aconselhando os inexperientes, a todos carinhosamente envolvendo no manto augusto de sua bondade inesgotável.

Sem ser um grande orador, sem pretensões a ser dono da palavra, contudo agrada sempre ouvi-lo falar, não pelos rasgos da eloquência, pela pompa das imagens, mas pelo alto cunho de sinceridade e convicção que dá as proposições que anuncia aos conceitos que emite a apologia que faz de tudo o que diz respeito as Instituições Maçonaria. Como seguidor fidedigno do espiritismo de Alan Kardec ele falava como vidente, como iluminado e ver-se que fica em êxtase, numa visão paradisíaca, na contemplação mística de beleza celestial, de tal maneira se lhe apresentam ao espírito as sublimidades dos princípios maçônicos.

Foi um dos sustentáculos mais fortes e mais dignos da sublime instituição maçônica amazonense, que lhe deve inestimáveis serviços, embora seu nome não seja lembrado nas lojas dos dias atuais.

No dia 17 de dezembro de 1893, às sete horas no salão de honra no edifício da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente do Amazonas, com a presença do Sr. Governador do Estado Eduardo Gonçalves Ribeiro, Alberto Leal e Joaquim Francelino de Araújo presidiu a comissão encarregada de representar a Benemérita e Beneficente Loja Maçônica Esperança e Porvir, na inauguração do referido hospital.

Atual Venerável Mestre da Loja Amazonas n°2, Carlos Carvalho. Foto: Carlos Carvalho/Acervo pessoal

Ele foi um dos membros fundadores da Sociedade de Propaganda Espírita, criada em Manaus em janeiro de 1901. A Sociedade tinha por fim o estudo, a difusão do espiritismo e a prática da caridade. Neste mesmo ano ele assume a diretoria na função de tesoureiro. Em 1902, novamente aparece na diretoria como segundo vice presidente. Em 1904, foi criada a Federação Espírita Amazonense e Joaquim Francelino de Araújo novamente toma parte da diretoria na função de tesoureiro.

Foi iniciado maçonicamente no dia 24 de agosto de 1889, na Benemérita Loja Capitular Amazonas, no oriente de Manaus, nessa oficina exerceu o cargo de secretário durante cinco anos consecutivos e o de venerável mestre ao longo de doze anos seguidos e tendo prestado os mais relevantes serviços a esta oficina. A partir de 1909 e por um longo período foi o seu orador.

A referida oficina concedeu-lhe o título de Benemérito e Remido. Foi-lhe concedido o título de Benemérito e Membro Honorário da Assembleia Geral do Grande Oriente do Brasil e do Grande Capítulo dos Noachitas, Benemérito das Lojas Esperança e Porvir e Fraternidade Amazonense, filiando-se nas Lojas Conciliação Amazonense, Rio Negro, Deus Lei e Perseverança e das Lojas Aliança, no Oriente de Canutama e União Paz e Trabalho no Oriente de Parintins. Foi membro honorário do Supremo Conselho do Brasil, foi um dos fundadores da Loja Capitular Fraternidade Amazonense e um dos instaladores do Consistório.

Fonte: Boletim Maçônico. Ano n.º 3, dezembro de 1924. Pág. 3.

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista 

Presidente da ACA, Bruno Pinheiro defende conclusão das obras da BR-319

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Por Osíris M. Araújo da Silva – osirisasilva@gmail.com

O Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), por decisão do desembargador Flavio Jardim, ao considerar a BR-319 como de extrema importância para a economia local e o único acesso terrestre entre Manaus e Porto Velho, derrubou, na segunda-feira, 7, a liminar da 7ª Vara Ambiental e Agrária da Seção Judiciária do Amazonas (SJAM) promulgada pela juíza Maria Elisa Andrade, suspendendo a reconstrução e asfaltamento do trecho do Trecho do Meio, entre o km 250,7 e o km 656,4, da BR-319.

A magistrada havia decidido contra a rodovia, contra as economias do Amazonas, de Roraima, de Rondônia e a favor da ação civil pública movida pelo Observatório do Clima (OC), rede que reúne dezenas ONGs contrárias à obra, determinando a anulação da licença concedida pelo Ibama em 2022. Em síntese, uma organização estrangeira, na visão da titular da SJAM, tem mais força, é mais importante do que o conjunto de dois estados separados geograficamente da federação brasileira.

Para o presidente da Associação Comercial do Amazonas, Bruno Pinheiro, em nota assinada e publicada na página da ACA, “a recente decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região marca mudança de cenário extremamente relevante para o desenvolvimento econômico da nossa região; em particular ao setor comercial, a medida alimenta expectativas muito positivas”. Efetivamente, segundo Pinheiro, “a pavimentação da Manaus-Porto Velho representa solução para um problema histórico de infraestrutura que afeta profundamente a logística e, consequentemente, a competitividade das empresas que atuam na Zona Franca de Manaus no que diz respeito, sobretudo, a custos de transporte, facilitação do escoamento de mercadorias, o fortalecimento das operações do comércio, indústria, serviços e do agronegócio na região, além de causar desestímulo à atração de novos investimentos para o nosso estado”.

Pinheiro destaca que, “com a rodovia em melhores condições espera-se um aumento na circulação de bens, mais acesso a mercados e uma maior integração das comunidades locais, que tradicionalmente convivem e sofrem os efeitos do isolamento”. Outro fator fundamental, acentua, “diz respeito à minimização dos “efeitos das estiagens que tivemos em 2023, 2024 e a previsão de repetição desse fenômeno em 2025”. Considera ainda que “secas severas reforçam a necessidade de um modal rodoviário eficiente para o Amazonas e Roraima, uma vez que a navegação fluvial, tradicionalmente o principal meio de transporte da região, tem sido muito prejudicada em períodos de seca extrema”. A BR-319, portanto, “surge como uma alternativa fundamental para manter o fluxo de mercadorias e a mobilidade da população mesmo durante essas crises”, salienta.

O presidente da ACA defende que a continuidade das obras, sem incidentes, especialmente de natureza jurídica, reforça “a expectativa de que os estudos ambientais apresentados pelo Ibama e DNIT, reconhecidos como suficientes no contexto da decisão do TRF-1, ofereçam um respaldo sólido para que as obras prossigam conforme o planejado”. Embora a questão ambiental na região amazônica sempre desperte atenções, Bruno Pinheiro acredita que com monitoramento rigoroso e o cumprimento de medidas mitigatórias pragmáticas será possível avançar sem maiores entraves legais”. Desta forma, enfatiza, “a Associação Comercial do Amazonas (ACA) está acompanhando de perto o andamento dessas obras e continuará atuando para assegurar que o equilíbrio entre desenvolvimento e preservação ambiental seja mantido em benefício de todos”.

Do lado do DNIT, o órgão argumenta que “a BR-319 não só facilita o trânsito entre o Amazonas e Rondônia, como também conecta o estado vizinho de Roraima ao restante do Brasil. Salienta, por outro lado, que “a falta dessa ligação rodoviária impacta diretamente o escoamento de produtos e serviços da região, além de prejudicar o deslocamento de pessoas”. Considera, ainda, “que o transporte rodoviário representa uma solução viável e necessária, uma vez que o modal fluvial via Rio Madeira é limitado pela geografia e sujeito a estiagens que assolam os rios da região, e o transporte aéreo é caro e de baixa disponibilidade”.

Sobre o autor

Osíris M. Araújo da Silva é economista, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) e da Associação Comercial do Amazonas (ACA).

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

‘Descer na balsa’: entenda origem da expressão regional que ganha força após eleições no Acre

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Charge de balsa é tradição em jornais impressos do Acre. Imagem: Dim Mendes/A Gazeta do Acre

As Eleições 2024 ocorreram no dia 6 de outubro e, claro, nem todo mundo vence o pleito — faz parte do processo eleitoral democrático. Justamente por conta disto, nesta época já é de costume do acreano escutar que um candidato “desceu na balsa para Manacapuru”. Mas qual a origem deste termo?

O significado é diferente no Acre do que é para outras pessoas do Brasil, principalmente se for dito após contexto eleitoral. Isso porque essa é uma expressão usada para definir quem foi derrotado e não foi eleito ao cargo a que concorria.

Em todas as eleições, os jornais impressos do Estado faziam uma charge dos candidatos derrotados em uma balsa. Atualmente, essa versão foi atualizada para o universo digital.

‘Descer de bubuia’

O Grupo Rede Amazônica conversou com o historiador Marcos Vinicius Neves para entender a origem dessa expressão. De acordo com ele, o primeiro a usar o termo foi o jornalista Aloísio Maia, que foi quem readaptou essa metáfora, baseada em outras expressões anteriores. Neves explica que na Amazônia há uma ação chamada ‘descer de bubuia’.

“O que desce de bubuia, o rio, o bubuiar, que é uma coisa que é do arquétipo amazônico. Aquilo que desce o rio pela correnteza, é o que já está gasto, é o que está usado, é o que não presta mais. Então a pessoa joga dentro do rio e o rio se encarrega de levar, é o lixo, é o que não presta”, diz.

‘Judas malhado’

O historiador cita que a outra referência para que “descer a balsa” seja usado com frequência no Acre é a do ‘Judas malhado’ pelos seringueiros. Essa é uma tradição católica que seria uma maneira de vingança pela traição de Judas contra Jesus.

Segundo Neves, no Acre, dentro dos seringais, os seringueiros vestiam Judas como seringueiro, colocavam numa balsa e empurravam para descer o rio. Enquanto a balsa estava descendo, eles ficavam nos barrancos, jogando pedras e xingando Judas que estava descendo ‘de bubuia’.

“O que em alguma medida é isso: quem não presta, o que não presta, o destino é ser colocado para descer o rio e isso de uma certa maneira, essa figura, essa imagem do inconsciente coletivo amazônico, foi colocada também em relação aos políticos”, esclarece.

Charges que retratam os derrotados nas eleições dentro de uma balsa são comuns desde os anos 1970 no Acre. Foto: Arquivo/A Gazeta do Acre

Contexto histórico

Mais um motivo para que a balsa no Acre tenha outro significado é referenciado pelo historiador como a época das revoltas autonomistas, em Cruzeiro do Sul em 1910, e em Sena Madureira em 1912, onde o castigo para o governante autoritário, que era deposto por essas revoltas autonomistas, era ser colocado numa balsa para descer de bubuia o rio e “sofrer o castigo”.

“O castigo dele era ser expulso do Acre, embarcado numa balsa, descendo de bubuia na correnteza do rio, para demorar bastante e portanto ir pagando os pecados dele. É o castigo principal dos maus governantes derrotados”, atesta.

E foi através dessas referências que Maia, em 1970, usou pela primeira vez, Manacapuru como uma forma de citar uma “punição” aos perdedores da eleição.

“Então Luís faz essa síntese da balsa e ele bebe dessa fonte, tanto do arquétipo amazônico no descer de bubuia, significando jogar fora o lixo, aquilo que não presta, quanto também o ativismo político, tipicamente criando que no período de território federal que faz revoltas e depõe os maus governantes e os expulsam do Acre através de uma balsa, até porque não tinha outra maneira de ir embora, o Acre só chegava e só saía de barco”, comenta Neves.

O chargista Dim Mendes faz charges desde 1984. Foto: Dim Mendes/Arquivo pessoal

O historiador ainda cita que viajar em um rio num barco a vapor numa cabine de luxo, muito comum na época da Revolução Acreana, não era um castigo.

“Então o castigo era botar na balsa para descer de bubuia. O Aloísio Maia sintetiza isso tudo e eu acredito que é por conta da profundidade disso, dessa ideia, dessas imagens na sociedade acreana, que isso se cristalizou. A gente está falando dos anos 70, a balsa para a Manacapuru, portanto, já tem mais de 50 anos, então é uma coisa já bastante enraigada na cultura política do Acre”.

Neves também menciona que Aloísio Maia era um jornalista muito expressivo e tinha coluna nos jornais locais do Acre, que o ajudou a formular e disseminar a imagem do político derrotado, sendo “condenado” a pegar uma balsa para ir para Manacapuru.

*Por Hellen Monteiro, da Rede Amazônica AC

Professor indígena do Acre ensina geografia e cultura ancestral para povo Shanenawa

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Foto: Cileudo Shanenawa/Acervo pessoal

Na Amazônia, como regra, fazer educação não é algo simples. Das 616 escolas da rede estadual de ensino do Acre, mais de 200 estão localizadas em aldeias de municípios como Sena Madureira, Tarauacá, Feijó, Jordão, Santa Rosa do Purus, Marechal Thaumaturgo, Porto Walter e Assis Brasil.

Em uma dessas escolas, a Tekahayne Shanenawa, na aldeia Morada Nova, no município de Feijó, trabalha o professor Cileudo Shanenawa, que atua há 17 anos na educação e iniciou ensinando alunos do ensino fundamental, anos iniciais. Atualmente atua como coordenador administrativo.

Cileudo é um dos 548 professores indígenas da rede pública de ensino do Acre. Somente na escola em que ele trabalha são em torno de 173 alunos, desde o ensino fundamental, anos iniciais, passando pelos anos finais, até o ensino médio.

O educador conta que, na época, faltavam pessoas para preencher o cargo de professor. Por isso, acabou aceitando o convite para ministrar aulas na escola. “Fui convidado porque me dedicava aos estudos e era ativo nas reuniões e nas mais diversas atividades realizadas na nossa aldeia”, relata.

Foto: Cileudo Shanenawa/Acervo pessoal

A partir do trabalho realizado em sala de aula, resolveu concluir os estudos. Cursou o ensino médio e posteriormente a graduação em uma universidade particular, obtendo licenciatura plena em geografia.

Em sala, já chegou a ministrar aulas na língua nativa. Conta que ainda não realizou todos os seus sonhos na educação. “Ainda pretendo me especializar, quero fazer mestrado e doutorado, para ajudar na educação das pessoas e da minha aldeia”, diz.

Segundo o professor, a escola é fundamental na vida social e cultural da aldeia, porque é lá que se resguardam as tradições do Povo Shanenawa, sobretudo se se levar em consideração o fato de a aldeia estar próxima à cidade de Feijó.

O professor também ministra aulas práticas voltadas à cultura do seu povo, o que fortalece a identidade e transmite a força da sua ancestralidade.

*Com informações da Agência Acre

Porto do Itaqui, no Maranhão, recebe resgate histórico

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Porto do Itaqui. Foto: Reprodução/Site oficial

Ativo desde os anos 70, o Porto do Itaqui, no Maranhão, é um dos mais importantes portos públicos da América Latina, integrando um dos maiores complexos portuários organizados do Brasil, que tem se tornado uma eficiente conexão logística, em razão da sua eficaz infraestrutura multimodal, tendo uma das maiores movimentações de cargas do Brasil.

Além da contribuição para o desenvolvimento da atividade portuária de São Luís e do país, o Porto do Itaqui tem atravessado a história de muitos brasileiros, seja por meio da oferta de empregos, seja pela diversidade cultural gerada pela migração de pessoas de diferentes regiões do estado e do país em seu entorno.

Por meio da história oral, acessando a memória de quem fez parte de um evento, o projeto de extensão “Aportando nas Águas da Memória: escutar, conhecer, contar e preservar histórias de vidas do Itaqui”, desenvolvido no Laboratório de Extensão, Pesquisa e Ensino em Geografia (Lepeng), da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), iniciou-se uma jornada de conexão entre o passado e o presente, resgatando a memória de trabalhadores da Empresa Maranhense de Administração Portuária (EMAP), empresa responsável pela gestão do Porto do Itaqui, com o intuito de preservar as contribuições da comunidade portuária e manter viva a sua história.

Ao preservar essas memórias e resgatar outras tantas não documentadas, que estão vivas nos bairros e nas comunidades do entorno, o projeto “Aportando nas Águas da Memória” também vai revelar as percepções e vidas construídas em ligação com o porto, além de potencializar as características de pertencimento dos trabalhadores que por ali passaram e daqueles que agora contribuem com a existência e ampliação de atividades. O projeto será acompanhado de perto por crianças e jovens das proximidades, conciliando a realidade vivida no porto pelas novas gerações ludovicenses.

Além dos trabalhadores que construíram e ainda constroem a história do Porto do Itaqui, outra participação efetiva é a comunidade escolar do Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IEMA) – Tamancão, que vai participar de oficinas, da aplicação de questionários, da documentação e divulgação dos resultados da pesquisa. Segundo Ronaldo, a escolha da escola levou em consideração a história da escola, sua localização geográfica e o fato de os estudantes serem moradores da Área Itaqui-Bacanga. O projeto conta com cinco estudantes bolsistas do IEMA-Tamancão.

Na última semana, os alunos do IEMA-Tamancão participaram da primeira oficina do projeto, com o intuito de prepará-los para fazer entrevistas com moradores do Itaqui-Bacanga, como explica o coordenador do projeto: “Fizemos essa primeira oficina, mas ainda teremos outras, a próxima será sobre cartografia. Também teremos oficina de história oral e de técnicas de entrevistas. A ideia é que eles busquem fazer entrevistas com moradores do Itaqui-Bacanga, que possam contar histórias sobre o processo de formação dos bairros e também da relação com o Porto do Itaqui. O projeto tem sido muito interessante porque está havendo uma troca de informações, os estudantes estão envolvidos, assim como toda a comunidade escolar, os professores, técnicos e pais estão participando ativamente de todas as etapas”.

Para Marivânia Pinheiro, aluna do IEMA Tamancão, o projeto “Aportando nas Águas da Memória” traz novas possibilidades e oportunidades.

“Está sendo muito importante para mim, é bom a gente ver que a gente está tendo a possibilidade de ter oportunidades de aprender coisas novas, eu estou vendo coisas que eu ainda não tinha visto [..] que talvez eu não teria a possibilidade de aprender se eu não tivesse entrado nesse projeto. Também saber que eu vou poder ter o contato com outras pessoas, conhecer histórias novas, isso para mim é muito importante, eu gosto muito de ouvir as pessoas.Com o que a gente praticou hoje, eu mesma puder ver coisas que eu não percebia. Isso me trouxe bastante benefício, e acredito que vai continuar trazendo ao longo do tempo”, comentou Marivânia.

A professora de Geografia do IEMA Tamancão, Lidiane Vasconcelos, vê o projeto como uma oportunidade de aproximar os alunos da educação básica da iniciação científica.

“Aportando nas Águas da Memória: escutar, conhecer, contar e preservar histórias de vidas do Itaqui” conversa com as metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) em específico com a de número 8, que diz respeito ao Trabalho Decente e Crescimento Econômico. E conta com o financiamento da EMAP e Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema).

*Com informações da UFMA

Halloween Sephora: conheça a lenda amazônica por trás da fantasia de Isabelle Nogueira

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Fotos: Reprodução/Instagram @isabelle.nogueira

O dia 31 de outubro é conhecido como Halloween ou Dia das Bruxas, uma data tradicional celebrada em países como Estados Unidos, Irlanda e Canadá. A tradição consiste em se fantasiar como figuras que representam filmes de terror ou histórias de suspense. No Brasil, a festa também é bastante popular e diversas celebrações como o Baile de Halloween da Sephora, em São Paulo, se tornaram tradição.

Evento anual que reúne os famosos, o baile aconteceu no Hotel Unique, em São Paulo, na noite do dia 11. E, este ano, a cunhã-poranga do boi-bumbá Garantido, de Parintins (AM), Isabelle Nogueira, foi uma das convidadas. Ela participou do evento usando uma fantasia que remete à uma das principais lendas amazônicas: a Matinta Perera.

Evento anual que reúne os famosos aconteceu no Hotel Unique, em São Paulo, na noite do dia 11.

Na Amazônia, existem diversas lendas sobre figuras que protegem a natureza, como o curupira, a Iara, o Mapinguari, e a icônica bruxa Matinta.

Ela é retratada como uma mulher que se transforma no pássaro rasga-mortalha, para amedrontar as crianças e os moradores locais com o seu assobio estridente.

Saiba mais: “Som da morte”: Descubra a lenda por trás da coruja-rasga-mortalha

A lenda conta que à noite é ouvido um assobio agudo que acaba assustando crianças e adultos, até que o morador da casa prometa tabaco ou fumo à bruxa. Ao ouvir o assobio, a pessoa deve dizer: “Matinta, pode passar amanhã aqui para pegar seu tabaco”.

Já no dia seguinte, uma velha aparece na residência onde a promessa foi feita, a fim de apanhar o fumo. A senhora é a pessoa que carregaria a maldição de ‘virar’ Matinta Perera, ou seja, à noite, ela se transforma no ser indescritível que assombra as pessoas.

Caso o dono da casa não cumpra a promessa, Matinta amaldiçoa todos os moradores da casa, com doenças ou até mesmo com a morte. 

Isabelle Nogueira acabou explicando em suas redes sociais a escolha da personagem, o que viralizou em diversos perfis:

Características da Matinta Perera

A Matinta Perera pode ser de dois tipos: com asa e sem asa. A que tem asa pode transformar-se em pássaro e voar nas cercanias do lugar onde mora. Enquanto, a que não tem, anda sempre com um pássaro, considerado agourento, e identificado como sendo ‘rasga-mortalha’.

Há quem conte que a sina de se transformar na Matinta é passada de mãe para filha, mas caso a mulher não tenha herdeiras, a bruxa, quando está para morrer, sai perguntando: “Quem quer? Quem quer?”.

Se alguém responder “eu quero”, pensando se tratar de alguma herança de dinheiro ou joias, recebe na verdade a maldição de se tornar a próxima Matinta Perera.

A bruxa amazônica também foi a escolha da influenciadora paraense Theulyn Reis:

Inédito: pesquisadores encontram ‘barbeiros’ em 13º andar de edifício

Foto: Reprodução

O grupo de pesquisa do Laboratório de Medicina Tropical (LabMedt), da Universidade Federal do Acre (Ufac), realiza pesquisa com triatomíneos (insetos conhecidos como barbeiros, transmissores da doença de Chagas) capturados em residência e ambientes urbanos do Acre. Artigo desenvolvido durante o mestrado de Manoella da Silva Moura no programa de pós-graduação em Ciência da Saúde na Amazônia Ocidental destacou-se por descrever a ocorrência de barbeiros do 2º ao 13º andar de residencial urbano em Rio Branco.

Os espécimes foram coletados na capital acreana no período de julho de 2022 a junho de 2023 por moradores dos apartamentos e foram entregues ao setor de vigilância entomológica da cidade. Segundo o professor Dionatas Ulises de Oliveira Meneguetti, que lidera o grupo de pesquisa com a professora Mariane Albuquerque Lima Ribeiro, trata-se de um fato inédito para a ciência, pois esse tipo de vetor nunca tinha sido encontrado em andares tão altos.

O artigo foi publicado, em inglês, na “Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical”, com o título “Voando para a Lua: Relatos Impactantes da Invasão de Triatomíneos do 2º ao 13º Andar de um Edifício Residencial Urbano no Município de Rio Branco, Acre, Brasil”.

Ele contou que a ocorrência de barbeiros em apartamento foi descrita em outros artigos publicados pelo LabMedt.

No Estado do Acre, além dos apartamentos, barbeiros também foram encontrados em residência de municípios, como Cruzeiro do Sul e na capital Rio Branco. Para Meneguetti outro achado preocupante foi a ocorrência de barbeiros em locais “atípicos”, como penitenciária, hospital, posto de saúde, igreja e escola.

*Com informações da Ufac

‘Manual do Trabalhador Amazônico’ criado pelo TRT-11 ganha versão em nheengatu

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Imagem: Divulgação/TRT-11

Diversidade é uma das mais marcantes características da Amazônia e sendo o Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região (AM/RR) um Tribunal amazônico, suas ações buscam cada vez mais refletir essa diversidade. Por isso, o TRT-11 produziu o ‘Manual do Trabalhador Amazônico’ em formato de história em quadrinhos e em três línguas: português, espanhol e nheengatu (para os povos indígenas). O lançamento ocorreu em 11 de outubro, no Fórum Trabalhista de Manaus (AM).

Para o presidente do Tribunal, desembargador Audaliphal Hildebrando da Silva, o lançamento do ‘Manual do Trabalhador Amazônico’ é mais uma ação inclusiva que atende desde o trabalhador residente nos centros urbanos e nas capitais de Roraima e Amazonas até os refugiados venezuelanos e os povos indígenas. “Todos merecem um tratamento digno, respeitoso, que permita o acesso aos seus direitos. Por isso fizemos esse Manual”, comemora.

Rodas de conversa

Representantes de várias etnias foram convidados a participar do evento e integrar as rodas de conversa, promovendo uma troca de saberes que abrange tanto os aspectos legais quanto os culturais dos direitos indígenas.

Líderes como Ismael Munduruku Franklin Gonçalves, cacique geral do Parque das Tribos; e Fábio Cardoso Munduruku, coordenador regional substituto da Fundação Nacional do Indígena (Funai), foram alguns dos convidados.

Sobre o Manual

A publicação do Manual do Trabalhador Amazônico faz parte de um esforço coletivo. Idealizado pelo desembargador Audaliphal Hildebrando da Silva, a edição tem roteiro da juíza Carolina França e foi confeccionado por artistas do coletivo de ilustradoras de Manaus, o “Má Tinta”.

A diagramação é de Lílian dos Reis e Silva e colaboração de Lorena Souza de Souza (layout e storyboard), Viviane Feitoza Cavalcanti (ilustrações e capa), Hirlaine Vasconcelos de Lima (ilustrações) e Aivlis Nicole Matos de Souza (colorização). A servidora Laís Reis coordenou o trabalho do coletivo e fez a revisão final.

O manual reconhece a diversidade da força de trabalho na Amazônia, incluindo os povos originários e imigrantes venezuelanos, e busca oferecer orientações para a proteção de grupos vulneráveis. Com versões em português, espanhol e nheengatu, a obra estará disponível tanto de forma impressa quanto digital, acessível por QR code, promovendo a inclusão e o fácil acesso à informação.

noturno, intervalos inter e intrajornada, orientações sobre o que fazer em caso de acidente de trabalho. Sobre normas de saúde e segurança no trabalho, como o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), adicional de periculosidade e insalubridade. Também fala sobre a proibição do trabalho infantil e sobre a aprendizagem. Na revista são disponibilizados os contatos de órgãos trabalhistas competentes para obter maiores informações.

Confira os manuais:

Manual do Trabalhador Amazônico (Português)

Manual do Trabalhador Amazônico (Espanhol)

Manual do Trabalhador Amazônico (NHEENGATU)

Primeiros dias de outubro registram número de queimadas maior do que os primeiros seis meses de 2024 em Rondônia

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Incêndio em Rondônia. Foto: Divulgação/Secom RO

Entre janeiro e 09 de outubro deste ano, Rondônia registrou 9.979 focos de incêndios, de acordo com dados do “Programa Queimadas” do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Um aumento de mais de 34% em relação ao ano todo de 2023, quando 7.417 focos foram registrados.

Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) indicam que a última chuva significativa observada no estado foi no dia 08 de outubro, na região central do Norte do estado, com acumulados em torno de 25 a 30mm/h. Apesar disso, o cenário crítico de queimadas ainda é uma realidade no estado.

Somente nos primeiros nove dias de outubro foram 635 focos registrados pelo Inpe. Esse número é maior do que o registrado nos seis primeiros meses deste ano, quando juntos somaram 465 focos de incêndio. No cenário nacional, Rondônia ocupa a oitava posição entre os estados com maior número de focos de queimadas do país em 2024.

Fumaça e os prejuízos à saúde

Quem tem problemas respiratórios sofre ainda mais com tudo isso. É o caso da Isabelly Oliveira, ela tem 23 anos e foi diagnosticada com asma 5 anos atrás. Diante da cortina de fumaça que cobriu o céu do estado, ela sentiu de perto os impactos.

A dona Maria do Perpetuo Socorro Santana de Castro, de 66 anos de idade, teve que voltar a um hábito antigo, muito comum no tempo da pandemia de Covid-19: a máscara.

“Deixei de ir aos meus compromissos na igreja, passeios com a família e atividades ao ar livre. E quando tinha que sair usava máscara para me proteger. Tenho bronquite asmática e com a fumaça minha saúde agravou, tive sangramento no nariz e cheguei até a ficar internada”, conta.

De acordo com o Ministério da Saúde, a fumaça das queimadas contém gases tóxicos e partículas de fuligem que podem causar diversas doenças respiratórias e pulmonares. A médica pneumologista, Ana Carolina Terra, explica como a exposição à fumaça pode ser tóxica para a saúde, principalmente para os mais vulneráveis como idosos, crianças e pessoas com problemas respiratórios.

“Estamos falando de liberação de monóxido de carbono e outros diversos compostos químicos que ficam suspensos no ar, o que pode causar uma série de enfermidades. Quem já tem doenças cardiopulmonares e pulmonares, como rinite, sinusite, bronquite, asma, entre outras, deve redobrar o cuidado. Para evitar complicações alguns cuidados incluem umidificar o ar, evitar a exposição a fumaça, hidratação, além do uso de máscara quando estiver em exposição, isso pode colaborar diretamente na melhor qualidade do ar e saúde respiratória”.

Outros impactos

Se para os seres humanos as sequelas são grandes, para os animais a situação não é diferente. Em meio às queimadas eles fogem em busca sobreviver, mas muitos não conseguem. Dados do monitoramento do Corpo de Bombeiros Militar de Rondônia, entre junho, quando os focos de queimadas foram intensificados no estado, até o dia 08 de outubro, apontam que ao menos 423 animais foram mortos em meio a incêndios florestais. O biólogo, Flávio Terassini fala sobre o impacto das queimadas para a biodiversidade.

“Imagine a quantidade de insetos, aves, mamíferos, herbívoros, enfim, a infinidade de animais que acabam sendo prejudicados durante os incêndios florestais que acabam morrendo. A gente acompanha como essa frequência das queimadas está cada vez mais se prolongando, isso tende a ter uma perda maior, com isso infelizmente a gente tem espécies deixando de existir”, afirma o biólogo.

Foto: Reprodução

As queimadas também afetam diretamente a agropecuária, reduzindo a oferta de alimentos como carne, grãos e derivados. A saca de açúcar, por exemplo, sofreu uma queda significativa de produção devido à queima de plantações de cana.

De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os preços já estão subindo: o leite aumentou até 32,1% entre julho e agosto, o café subiu 4,02% e a carne bovina também foi impactada pelas queimadas. Veja:

  • Arroz: +30,13%
  • Tomate: +19,58%
  • Alface: +15,51%
  • Ovo: -8,09%
  • Batata: +69,90%
  • Carnes: +2,84%
  • Linguiça: -1,43%
  • Feijão: -17,45%
  • Leite: +32,1%
  • Mamão: +17,58%
  • Banana: +11,37%
  • Queijo: +5,41%
  • Café: +4,02%
  • Açúcar: +3,70%
  • Carnes: +2,84%

O economista, Otacílio Moreira Carvalho, explica que em Rondônia houve redução de estimativa da produção na safra 2024, estimada em 2,5 milhões de sacas, 16,4% menor do que a obtida na safra de 2023.

“Isso se dá pela mudanças da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na metodologia de apuração da área plantada com café, devido ao ajuste nas estimativas de área total, em razão do trabalho de mapeamento do parque cafeeiro que a referida instituição vem fazendo no estado. Mas cabe destacar que condições climáticas desfavoráveis também contribuíram para essa queda na produção. Como a safra é de um ano para o outro, em razão da forte estiagem que passa o estado e o país, o grande problema será para a safra 2024/2025, onde está ocorrendo um atraso no plantio de grãos, em especial a soja, e isso poderá trazer queda na produção em 2025 ”, disse.

O que está sendo feito?

Para enfrentar, monitorar e prevenir os incêndios criminosos no estado, o Ministério Público de Rondônia (MPRO) deflagrou a Operação Temporã, um movimento que visa combater crimes ambientais em áreas de reserva como o parque estadual Guajará-Mirim e a Estação Ecológica Soldado da Borracha e em outras regiões do estado tomadas pelo fogo.

A Operação foi deliberada pela Força Tarefa de Combate aos Incêndios Florestais, criada para atender uma solicitação do MPRO, após reuniões com diversas instituições ambientais e forças de segurança do estado.

A missão é composta por agentes do Ibama, Polícia Federal, Polícia Militar, Polícia Militar Ambiental, Comando de Fronteira do Exército, Secretaria de Desenvolvimento Ambiental, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros Militar e Politec com o apoio de mais de 300 agentes.

Através dos canais de denúncias do MPRO como o Balcão Virtual ou ligando para o número 127, a população pode contribuir para reduzir os crimes ambientais.

De acordo com o promotor de justiça do MPRO e coordenador do grupo de atuação especial do meio ambiente, o Gaema, Pablo Hernandez Viscardi, o principal objetivo é atuar com medidas preventivas para que este cenário não se repita nos próximos anos.

Outras ações de combate

Combate a queimadas em Rondônia. Foto: Divulgação/Secom RO

No final do mês de agosto, o Governo do Estado decretou a suspensão do uso do fogo para combater queimadas. O Decreto nº 29.428 afirma a suspensão do uso do fogo em todo o estado por um período de 90 dias. Além disso, a contratação de mais 126 brigadistas temporários foi incluída nas ações.

O combate aos incêndios florestais também foi reforçado com dois aviões Air Tractor, cada aeronave possui capacidade de 2 mil litros de água e suporte de quatro lançamentos por hora em uma distância de até 80 quilômetros. Com um total de 800 horas contratadas, as novas aeronaves já estão atuando para a diminuição dos danos causados pelos incêndios florestais criminosos em Rondônia.

*Por Jainni Victória, da Rede Amazônica RO