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5 projetos de soltura de quelônios que preservam a espécie na Região Norte  

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Foto: Reprodução/DNIT

Os projetos de preservação dos quelônios tem sido uma das inúmeras maneiras usadas na Região Norte para manter o equilíbrio da biodiversidade e contribuir na educação ambiental. 

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No Norte do Brasil, todos os anos, milhares de filhotes são devolvidos aos rios, lagos e igarapés, com o intuito de proteger a espécie da predação humana e de fenômenos naturais e ainda auxiliar na reprodução da espécie.

Conheça alguns dos principais projetos de soltura de quelônios na Amazônia:

Acre 

No Acre, um dos principais projetos de soltura é o SOS Quelônios, que iniciou suas atividades em 2000, atualmente já soma aproximadamente 150 mil filhotes soltos.

A sede do projeto está localizada no seringal Porto Dias, entre os municípios de Plácido de Castro e Acrelândia. São mais de 250 praias distribuídas ao longo do rio Abunã, nos limites entre Brasil e Bolívia. 

Amapá 

O Projeto Tracajá, realizado no alto Rio Araguari, no Amapá, é um projeto novo, que teve o primeiro evento de soltura realizado este ano.

Foram cerca de dez mil quelônios que retornaram as águas de Amapá. O projeto é uma realização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).  

Foto: Thiago Nunes/Rede Amazônica AP

Amazonas

No estado do Amazonas vários projetos realizam esse tipo de soltura, como o que ocorre na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Juma, que iniciou em 2023, com a capacitação de duas famílias, além do mapeamento das praias que são ‘tabuleiros’ onde ocorrem as desovas. 

Os programas Quelônios da Amazônia e Pé-de-Pincha são também dois dos projetos conhecidos no Estado. O Pé-de-Pincha, por exemplo, é uma realização da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), desenvolvido para a proteção dos bichos de casco na região amazônica. O programa de extensão atua em mais de 118 comunidades em 15 municípios do estado.

Foto: Reprodução/UFAM

Pará

Projetos de apoio a conservação as mais variadas de espécies de quelônios no estado do Pará é o que não falta. Alguns desses são os mesmos realizados no Amazonas, como o Pé-de-Pincha e o Quelônios da Amazônia. Um dos destaques é a cidade de Afuá, que já realizou mais de 40 edições de soltura de filhotes. 

Outro projeto de grande relevância no estado é o Tartarugas do Xingu, que, desde 2011, já realizou a soltura de mais de 6 milhões de filhotes. O projeto é realizado pela Norte Energia em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio).

Leia também: Soltura de quelônios aquáticos mostra importância da espécie para a fauna amazônica

Rondônia 

Rondônia também conta com o projeto Quelônios da Amazônia, implementado no estado há mais de 12 anos para a prática de soltura de diferentes espécies de tartarugas com foco na manutenção dos estoques naturais desses animais. Em 2024, mais de 117 mil filhotes foram soltos no Parque Estadual Corumbiara.

Foto: Divulgação / Governo de Rondônia 

*Por Karleandria Aráujo, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar

Você sabe quem está por trás de uma pesquisa científica sobre insetos?

Foto: Roberto Dziura Jr/AEN

Uma pesquisa científica envolve diversos protagonistas, cada um com um papel essencial para garantir a credibilidade e o rigor do estudo. O Portal Amazônia conversou com a bióloga entomóloga e pesquisadora do Museu de Ciências e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Kátia Matiotti, sobre como funciona todo esse processo em pesquisa com insetos. 

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Uma das inúmeras dúvidas que surgem quanto a esse processo é saber, por exemplo, quantas pessoas em média são envolvidas nesse tipo de pesquisa científica. De acordo com Kátia Matiotti, esse número pode variar dependendo do estudo específico escolhido.

Entre os profissionais podem estar envolvidos:

  • pesquisadores entomologistas;
  • taxonomistas;
  • ecólogos;
  • pesquisadores de bioacústica
  • profissionais que trabalham com citogenética e molecular.
  • alunos de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado.

Leia também: Biodiversidade de insetos nas copas das árvores na Amazônia surpreende pesquisadores

Da esquerda para direita: Dr. Edson Zefa, Dra. Kátia Matiotti e Dr. Riuler Acosta. Foto: Kátia Matiotti/Arquivo pessoal

Além de ter contribuição de várias áreas e profissionais, por meio de parcerias, como os parasitologistas e microbiologistas. A especialista explica o papel de cada um nas pesquisas em campo:

  • Entomólogo – estuda e realiza coletas no campo em busca de insetos para análise e triagem do material em laboratório. 
  • Taxonomista – tem a função de identificar, classificar e descrever espécies novas. 
  • Ecólogo – tem a função analisar e compreender as interações dos seres vivos com o meio ambiente, buscando compreender as relações entre os diferentes componentes de um ecossistema.
  • Pesquisador de bioacústica – captura e analisa sons dos insetos. 
  • Citogenética –  realiza a análise dos cromossomos e os de molecular tem função de extrair e analisar o DNA.

Como um pesquisador escolhe o tema de seu trabalho?

A escolha de um tema de pesquisa acadêmica deve estar relacionada com algo que pode ser encontrado na literatura existente e ter um foco suficientemente restrito, para que seus objetivos sejam claros e bem integrados.

Uma das preferências, conta a doutora, é pesquisar um grupo/espécie que não tenha especialistas ainda trabalhando.

“A escolha certa impacta diretamente a qualidade da pesquisa, a viabilidade do projeto e principalmente a satisfação pessoal do pesquisador em trabalhar com o respectivo grupo”, relatou.

Foto: Kátia Matiotti/Arquivo pessoal

Após a missão de escolha do tema da pesquisa, começam os trabalhos até a publicação, que são:

Estudos preliminares: uma etapa essencial da pesquisa científica em que se faz um levantamento de questões que já foram publicadas ou não sobre o tema; 

Trabalho de campo e coleta de dados: coleta no campo, triagem, montagem, tombamento em coleções registradas oficialmente;

Análise de dados: relaciona as informações coletadas com as suas primeiras hipóteses de pesquisa científica;

Avaliação: apresenta o estudo para um conjunto de especialistas na área que vão validar o que foi pesquisado.

Por fim, é necessário expor o trabalho em eventos científicos – congressos, simpósios, publicar artigos e outros tipos de materiais que divulguem o estudo.

Leia também: Atenção ao ‘cri cri’: pesquisadores afirmam que grilos são importantíssimos na natureza 

O trabalho de um entomologista e a descoberta de novas vacinas 

De modo geral, os entomologistas estudam os insetos e sua relação com os humanos, outros organismos e o meio ambiente. Kátia explica que o estudo dos insetos abre o caminho para desenvolvimentos em controle químico e biológico de pragas, produção de alimentos, diversidade biológica e uma variedade de outros campos da ciência. 

Segundo a entomóloga, estes especialistas frequentemente trabalham com outros cientistas em projetos conjuntos. Vale mencionar que esses profissionais também podem trabalhar com outras áreas como os parasitologistas ou outros microbiologistas para desenvolver novas vacinas – como a da dengue – e medicamentos que combatam os insetos que espalham doenças. Para tal, eles investigam maneiras de controlar pragas de insetos, parasitas e predadores.

O estudo dos insetos tem ajudado muitos cientistas a resolverem problemas relacionados com hereditariedade, evolução e outras questões. Ela lembre que muitos insetos são importantes por fazerem parte da ‘teia trófica’ de outros animais de interesse para a sociedade, como aves, peixes e alguns mamíferos.

Desafios da pesquisa científica 

O custo elevado da pesquisa, segundo a doutora, é um dos fatores de bastante relevância quando se fala em desafios, sendo um ponto crucial e necessário obter apoio financeiro de bolsas de pesquisas, que servem para custear as viagens das coletas, gasolina, materiais de coleta e de laboratório, hospedagem e visitas a museus. 

O financiamento de pesquisa científica no Brasil é realizado por diferentes instituições de fomento, incluindo o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e agências estaduais. 

Essas agências oferecem apoio financeiro e estrutural para o desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação no país. Mas, segundo Kátia, esses apoios apenas são possíveis se estiver ligado a uma Instituição de pesquisa ou universidade.

Além dos recursos financeiros, estão também as questões regulatórias; burocracias do poder público; legislação de importação; comércio internacional; investimento na carreira de pesquisador; valorização do profissional cientista e incentivo.

*Por Karleandria Araújo, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar

Coração ou morango? Pequena aranha vermelha e com espinhos chama atenção na Amazônia

Aranha-coração (Micrathena clypeata). Foto: Vanessa Gama/MUSA

Foto: Cosmin Manci

A Amazônia é um local perfeito para uma infinidade de vida: milhares de espécies de animais, insetos e plantas curiosas que despertam, diariamente, a curiosidade sobre o que ainda podemos descobrir. Exemplo disso é a aranha coração. Você já viu ou ouviu falar?

A aranha coração (Micrathena clypeata) é uma dessas inúmeras espécies curiosas que habitam a Amazônia. Com uma coloração avermelhada e um corpo que se assemelha ao formato de um desenho de coração, há quem fale que essa pequena aranha também lembra um morango cortado.

O aracnólogo do Museu da Amazônia (MUSA), Thiago Carvalho, contou ao Portal Amazônia que esta não é a única curiosidades sobre essa espécie. Outra curiosidade é sobre os locais que ela pode ser encontrada.

“Há uma falsa dicotomia (divisão de algo em duas partes). Uma espécie pode ocorrer em uma área ou bioma e não ser nativo desta área, geralmente espécies invasoras que possuem grande capacidade adaptativa. Nesta espécie a área de ocorrência se estende do Panamá ao Peru e, também, ao Brasil”, contou.

Leia também: Parece, mas não é: conheça aranha que se disfarça de formiga

 Foto: Arnaud Aury

Thiago Carvalho esclareceu também uma dúvida que muitas pessoas tem: não existe aranha que seja venenosa. Calma, é que este termo é empregado de forma equivocada para estes animais. Segundo o especialista, a Micrathena clypeata, assim como a maioria das aranhas, é peçonhenta.

Animais venenosos

  • Produzem veneno que pode ser liberado quando tocados ou ingeridos
  • O envenenamento é passivo, por compressão ou ingestão

Animais peçonhentos

  • Possuem glândulas de veneno que se comunicam com dentes ocos, ferrões ou aguilhões
  • Produzem substâncias que são usadas para defesa e captura de suas presas

No caso da aranha coração, ele garante que mesmo sendo peçonhenta é completamente inofensiva ao ser humano, pois não representa risco para a nossa saúde.

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“Como ela consegue?”

Nas Micrathenas, segundo o aracnólogo, o formato do abdômen é um fator muito importante na defesa contra vespas parasitóides, impedindo algumas vezes de serem capturadas ou que a larva da vespa consiga comer a aranha e a atrapalhe de completar o ciclo de vida.

Para o especialista todo organismo é um universo e depende de quão profundamente é estudado. Exemplo disso é o fato curioso que acontece com a espécie Micrathena clypeata.

“Uma das coisas mais fascinantes da espécie é sua ooteca (bolsa de ovos), que é uma esfera perfeita de seda, lembra uma bolinha perfeita de algodão bem branquinha. Como ela consegue fazer uma esfera perfeita? Eu não faço ideia!”, revela.  

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As aranhas e equilíbrio ecológico

“A presença destes organismos e o modo de vida deles ajuda a floresta como um todo a funcionar de forma correta. Aracnídeos, principalmente as aranhas, são os principais controladores de populações, tornando possível o equilíbrio ecológico em diversas populações de vários animais”, relatou o especialista.

Confira mais detalhes sobre a espécie no link: https://wsc.nmbe.ch/species/4704

*Por Karleandria Araújo, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar

Gafanhotos não são tão vilões quanto você pensa! Veja 4 curiosidades sobre os encontrados na Amazônia

Foto: Kátia Matiotti

O mundo dos insetos costuma atrair a curiosidade popular. Um exemplo? Gafanhotos. A espécie costuma ser confundida com os grilos e é considerada por muitos como “vilã das plantações”. Mas será mesmo que os gafanhotos são inimigos das plantações?

Leia também: Atenção ao ‘cri cri’: pesquisadores afirmam que grilos são importantíssimos na natureza    

A subordem Caelifera dos gafanhotos é constituída por mais de 2.500 gêneros e mais de 12.400 espécies, das quais 924 são registradas no Brasil. A superfamília Acridoidea possui cerca de 260 espécies. Na Amazônia, segundo a doutora e única taxonomista especialista em gafanhotos do país, Kátia Matiotti, existem 164 espécies e muitas outras ainda não descritas.

O ciclo de vida dos gafanhotos pode ser identificado em três estágios de desenvolvimento: ovo, ninfa e adulto. Neste sentido, que é importante entender sobre o desenvolvimento deles, Kátia aborda um fato curioso: existem dois tipos de metamorfose nos insetos, a completa e incompleta. 

De acordo com a especialista, os gafanhotos são caracterizados por apresentarem metamorfose incompleta, sendo o jovem (ninfa) muito similar ao adulto, porém menores e sem asas.

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Um estudo relacionado a algumas espécies de gafanhotos encontrados na região amazônica foi publicado no livro ‘Insetos do Brasil: Diversidade e Taxonomia’ (2ª ed.), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI):

Hábitos e habitats 

Segundo a Dra. Kátia Matiotti, a espécie possui hábitos diurnos, embora muitas atividades como alimentação, acasalamento e muda sejam realizadas à noite.

Preferem ambientes com vegetação aberta e são mais ativos sob sol, ou parcialmente em condições ensolaradas, embora muitas espécies ocorram em florestas da serapilheira ao dossel (camada formada pela deposição dos restos de plantas e acúmulo de material orgânico vivo em diferentes estágios de decomposição).

Você sabia que existem espécies terrestres e semiaquáticas de gafanhotos?

Os gafanhotos terrestres, de acordo com a especialista, utilizam os mais variados ambientes e estratos: desde as vegetações pioneiras rasteiras, campos, arbustos até sub-bosques e vegetação alta das florestas.

Mas além destas, o grupo dos gafanhotos conta com espécies semiaquáticas, de ciclos vitais associados tanto a populações de macrófitas aquáticas (plantas aquáticas que vivem em brejos até ambientes verdadeiramente aquáticos), localizadas às margens da água, como a gramíneas em áreas úmidas e periodicamente alagadas.

Gafanhotos e grilos: como diferenciá-los?

Apesar dos bichinhos parecem idênticos em um primeiro momento, a pesquisadora explica que não é tão difícil diferenciá-los.

“Os gafanhotos apresentam um par de antenas curtas e tímpanos localizados no primeiro segmento abdominal. Essas características podem ser usadas para diferenciá-los dos grilos e esperanças, que apresentam antenas longas e possuem tímpanos na tíbia do primeiro par de pernas”, explica.

Leia também: Esperança, o inseto que supostamente pode mudar destinos

Ilustração: Kátia Matiotti/Acervo pessoal

E dão prejuízo?

Ao contrário do que muitos pensam, os gafanhotos não são inimigos do agronegócio, mas dependem de alguns fatores de controle para que não haja prejuízos.

“Não são inimigos se houver o controle visando as ninfas e adultos de espécies consideradas pragas, através de monitoramento, detecção precoce, controle biológico (uso de inimigos naturais dos gafanhotos) e manejo de pragas (prevenção e controle)”, explicou a especialista ao Portal Amazônia.

Copiocera sp. (Acrididae, Copiocerinae). Gafanhotos arborícolas da Amazônia e endêmico para região Neotropical. Foto: Kátia Matiotti

Espécies mais comuns na Amazônia 

Confira a seguir duas das espécies mais comuns de serem avistadas na Amazônia brasileira:

o Tropidacris collaris conhecido popularmente como ‘Tucurão’, encontrados em Tocantins, Rondônia, Acre e Pará;

e o Chromacris speciosa, o popular ‘brasileirinho’ ou ‘gafanhoto soldado’, que pode ser encontrado no Mato Grosso, Rondônia, Tocantins e Pará.

Tropidacris collaris – Tucurão. Foto: Kátia Matiotti
Chromacris speciosa – brasileirinho ou gafanhoto soldado. Foto: Estevam Cruz

Curiosidades dos gafanhotos amazônicos 

  • O gafanhotos se comunicam através de sinais acústicos, visuais e movimentos das pernas. A produção de som conhecido como ‘estridulação’ ocorre com a fricção da asa com o fêmur posterior (Acrididae) e o atrito entre asas (Romaleidae). Os sons são emitidos para atração da fêmea e alerta de perigo.
  • Em período chuvoso algumas espécies tem presença elevada, em resposta a maior precipitação pluviométrica. Como por exemplo, a grande abundância de Colpolopha waehneri na Amazônia. Os representantes deste gênero possuem baixa valência ecológica e utilizam microhabitats com maior umidade e com menor luminosidade, principalmente no interior das matas.
  • A espécie Phaeroparia lineaalba, representante da família Romaleidae, apresenta hábitos graminívoros e distribuição concentrada na região amazônica.
  • Os gafanhotos da Amazônia apresentam diferenciais em relação aos demais gafanhotos dos outros biomas do Brasil: coloração do corpo mais chamativa, antenas coloridas, maiores em tamanho corporal e muitas espécies são encontradas em copas de árvores (dossel). A diversidade é bem maior em relação aos demais biomas.
Rhopsotettix consummatus Amédégnato & Descamps, 1979. Coloração do corpo chamativa e intensa da região Amazônica. Foto: Kátia Matiotti

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Nuvem de gafanhotos

Há alguns anos ocorreu um fenômeno que assustou os brasileiros: uma nuvem de gafanhotos se aproximou do país, tornando-se uma ameaça ambiental. A Dra. Kátia, explicou quais principais causas desse tipo de ocorrido: 

A formação da nuvem, ocorre quando os gafanhotos se agrupam em bando para se alimentar e reproduzir. As razões, incluem os fatores ambientais e biológicos, e está intimamente ligada à disponibilidade de recursos. Quando os recursos alimentares são escassos. O desequilíbrio ambiental do clima, favorece a disseminação e a reprodução dos gafanhotos”.

A espécie que constituiu a nuvem foi a Schistocerca cancellata (Serville, 1838), nativa da América do Sul, pertencente à família Acrididae, a mesma da história da praga bíblica.

Esse gênero é considerado migratório e, ao mesmo tempo, tem hábito gregário, isto é, eles formam bandos, nessa fase que ocorre a nuvem.

*Por Karleandria Araújo, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar

Você sabe quais cidades da Amazônia tem nome de origem indígena?

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Foto: Edgar Azevedo

A Amazônia é extremamente diversa, influenciada principalmente pela mistura de diferentes etnias indígenas, além de nordestinas e imigrantes de toda parte do mundo. Não à toa muitas coisas conhecidas da região, da culinária às ervas medicinais, ainda preservam a cultura dos povos originários, com nomes dados pelos indígenas.

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Você sabia que, inclusive, boa parte das cidades da Amazônia herdaram seus nomes dos povos indígenas que habitavam seu território?

Conheça nomes e significados de algumas dessas cidades:

Acre

  • Tarauacá –  remete a um significado indígena que quer dizer ‘rios dos paus ou das tronqueiras’. 

Rondônia

  • Ariquemes – o nome é uma homenagem a tribo extinta de indígenas Arikeme, habitantes originais dessa região;
  • Urupá – homenageia o rio Urupá, importante afluente do rio Machado. ‘Uru-Upaba’ significa lagoa do uru. Vem de uma tribo indígena que habitava a bacia hidrográfica dessa região.

Roraima

  • Iracema – termo tupi que significa ‘saída de mel’, ‘saída de abelhas’, ‘enxame’ (ira = mel, abelha + semu = saída);
  • Uiramutã – significa local de espera de aves, na língua indígena Macuxi.

Amazonas

  • Anori – vem da palavra indígena, em Nheengatu, ‘Uanuri’ ou ‘Wanury’. É regionalmente conhecida como ‘Ánory’, que significa ‘tracajá macho’;
  • Apuí – provém de uma árvore típica da região amazônica conhecida como Apuizeiro, que no Tupi significa ‘braço forte’;
  • Caapiranga – de origem Tupi, significa ‘Caa’ = folha e ‘Piranga’ = vermelha, colorida ou ensanguentada. Ou seja, folha vermelha;
  • Coari – ‘Coaya Cory’, ou ‘Huary-yu’, significa ‘rio do ouro’ ou ‘rio dos deuses’. A denominação dada ao rio que banha o município estendeu-se ao lago à cuja margem fica a sede municipal e, posteriormente, ao município;
  • Eurinepé – da língua Tupi significa ‘caminho do mel preto’, por meio da junção de ‘eíra’ (mel), ‘un’ (preto, escuro) e ‘(a)pé’ (caminho, estrada);
  • Humaitá – vem do Tupi-guarani e significa ‘A pedra agora é negra’ (Hu = negro, ma = agora, itá = pedra);
  • Itacoatiara – significa em língua indígena ‘pedra pintada’. Foi dada essa denominação ao local em consequência da existência ali de inscrições gravadas em algumas pedras no rio
  • Juruá – provem do rio com o mesmo nome, que corta o município de um extremo a outro na direção Sul-Norte. O vocábulo Juruá vem do guarani ‘Iuruá’, que significa ‘rio de boca larga’;
  • Manacapuru – de origem indígena, que deriva das expressões ‘Manacá’ e ‘Puru’ (uma planta brasileira das dicotiledôneas, da família Solanaceae). Em tupi-guarani, a palavra significa ‘flor’;
  • Manaus – homenagem aos Manaós, grupo indígena da região conhecido pela coragem e valentia;
  • Maués – provém do rio que banha o município, cuja margem fica na cidade. O nome Maués tem origem da língua tupí:, adjetivo traduzido por ‘curioso, inteligente ou abelhudo’;
  • Parintins – originou-se da tribo Parintintin que vivia no local;
  • Tabatinga – de origem tupi significa ‘barro branco de muita viscosidade’, que é encontrado no fundo dos rios, e no tupi-guarani quer dizer ‘casa pequena’.

A lista tem muito mais nomes, mas você já conhecia esses? Quais mais deveriam estar aqui?

*Por Karleandria Araújo, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar

Táxis Fluviais ou Bandeirinhas: transporte típico em Barcelos faz sucesso entre visitantes

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Foto: Reprodução/Instagram – Erick Frota

Barcelos é um município do Amazonas conhecido por sua história e rica cultura, que incluem romarias de forte preservação cultural e o Festival do Peixe Ornamental, um dos maiores e mais aguardados eventos da região. A cidade é cheia, mas cortada por rios e igarapés, por isso o modo de locomoção tem suas particularidades como em muitas cidades amazônicas. Mas é possível chamar um táxi para se locomover por lá: um táxi fluvial.

Também chamados de bandeirinhas, esses transportes não possuem aplicativos, mas estão sempre disponíveis em seus pontos de embarque e desembarque, para fazer travessias para lugares mais próximos da cidade. O destino mais procurado é a famosa Praia Grande.

Leia também: 3 atrações turísticas imperdíveis em Barcelos, no Amazonas

Os bandeirinhas ficaram conhecidos por esse nome por usarem uma bandeira pequena em sua embarcação. No município, existem duas associações a Mariuá Táxi Fluvial e a Uber Fluvial. 

Leia também: Conheça os tipos de embarcações mais usados na Amazônia

O bandeirinha Nivaldo Braga é membro credenciado desde 2005 e já trabalha com essa atividade há 20 anos. Apesar do tempo, contou ao Portal Amazônia, recorda com gratidão os pioneiros desse movimento: 

“Os fundadores dessa atividade que hoje fazemos foram o Luiz Maia da Silva, o Antônio da Silva Fonseca, o Nixo Garrido e o Edgard’s Bittencourt. Sou funcionário de uma empresa privada e nos finais de semana exerço a função de bandeirinha para complementar a minha renda”.

Foto: Nivaldo Braga/Arquivo pessoal

Segundo Nivaldo, existem duas épocas do ano em que o movimento melhora e, com isso, o aumento da renda das famílias também.

“Tem dois períodos de mais movimentação: no réveillon e no Festival do Peixe Ornamental de Barcelos, que sempre é realizado na última semana do mês de janeiro. Fazemos lindos passeios turísticos nas praias, observação de fauna e flora”, comentou.

Foto: Reprodução/Instagram – Erick Frota

O influenciador digital Erick Frota, o ‘Caboquinho’, tem uma página na redes sociais onde chegou a mostrar a aventura turística que é andar de táxis fluviais.

“Eles são organizados em duas associações. Com toda promoção da festa que foi feita na praia, possibilitou um reconhecimento maior para esses táxis fluviais. Continuar promovendo eventos na praia ajuda a aumentar a demanda para eles, como ocorrer mais vezes no ano, não somente em janeiro na festa do peixe ornamental”, sugeriu Erick.

“Cheguei na cidade e as pessoas falaram: ‘olha, tu tem que viver a experiência por inteiro aqui, fazer a experiência de andar num táxi fluvial’. Então eu disse que precisava gravar um vídeo contando como é a experiência de atravessar a frente da cidade de Barcelos até a praia e o cotidiano do bandeirinha. Daí veio a ideia dessa curiosidade para as redes sociais, eu gosto de ir por aquele caminho onde pouco se fala, gosto de desse destaque”, afirmou.

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Com a experiência, segundo o influenciador, Barcelos “tem um potencial turístico grande”, por ser uma cidade que tem praia no período de seca, principalmente pelas belezas naturais, com praias acessíveis e quiosques a beira rio.

*Por Karleandria Araújo, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar

Árvore com cheiro de peixe? Conheça a planta louro-pirarucu

Foto: Vanessa Gama/Musa

A Amazônia é repleta de encantos e mistérios. A todo instante nos deparamos com uma espécie nova, de planta ou animal, e com curiosidades como esta: uma árvore com cheiro de peixe.

A espécie em questão é a Licaria cannella, pertence à família das lauráceas, que se caracterizam por frequentemente apresentar tronco, ramos e folhas aromáticos.

 A árvore é parente do louro (Laurus nobilis), da casca-preciosa (Aniba canelilla) e do pau-rosa (Aniba rosaeodora). É uma árvore com porte de médio a grande, folhas que podem ser alternadas ou quase opostas no ramo. Por seu cheiro específico, ficou popularmente conhecida como louro-pirarucu.

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O doutor e mestre em Ciências Biológicas, Camilo Veríssimo, contou ao Portal Amazônia que além do cheiro que remete ao peixe, essa planta também apresenta uma característica particular em suas flores.

“As sépalas e as pétalas não podem ser diferenciadas, sendo chamadas de tépalas. Os frutos são carnosos e do tipo baga. No entanto, o que realmente chama atenção nessa espécie é seu cheiro característico, que lembra o odor do peixe pirarucu, origem de seu nome popular”, disse Veríssimo.

O odor, conforme Veríssimo, é um dos principais aspectos utilizados para identificá-la em campo. Em algumas espécies, o cheiro é tão intenso não tem como não a reconhecer. Mas, até o momento, não existem estudos específicos que determinem quais compostos químicos são responsáveis pelo cheiro particular dessa planta.

O pesquisador explica ainda que, antes de ser unificada sob o nome Licaria crassifolia, o louro-pirarucu (Licaria cannella) era dividido em três subespécies encontradas na Amazônia: Licaria cannella subsp. angustata, Licaria cannella subsp. cannella e Licaria cannella subsp. tenuicarpa. No entanto, estudos mais recentes mostraram que essas variações pertencem, na verdade, à mesma espécie.

O especialista esclarece que fatores ecológicos também podem influenciar a ocorrência dela na Amazônia:

“A distribuição da espécie é influenciada por fatores como disponibilidade de luz, tipo de solo e dinâmica da sucessão florestal. Sendo uma espécie secundária tardia, ela cresce predominantemente em áreas sombreadas do sub-bosque, desenvolvendo-se lentamente até atingir o dossel ou emergir acima dele. Além disso, sua presença está associada à dispersão de sementes por animais e ao solo argiloso, geralmente rico em nutrientes”.

Os frutos dessa espécie, segundo Veríssimo, são carnosos e servem como alimento para diversos animais. Como resultado, a dispersão das sementes ocorre por zoocoria, ou seja, os animais que se alimentam dos frutos acabam transportando e disseminando as sementes pela floresta.

Outro fato interessante é que, atualmente, a espécie tem registo de uso biotecnológico para os compostos na indústria de fármacos. “Há registros do uso de compostos dessa espécie na área da saúde. O principal componente dos óleos essenciais de Licaria crassifolia (L. canella) é o benzoato de benzila, uma substância já utilizada comercialmente como medicamento no combate a diversas parasitoses, incluindo a Leishmania amazonensis, que causa a leishmaniose”, comenta o especialista.

A exploração da espécie representa risco de conservação?

“Essa árvore é bastante comum e distribui-se exclusivamente na região amazônica. Sua população é grande e, no momento, não enfrenta ameaças significativas. Além disso, não há previsão de riscos graves no futuro. Por isso, ela está classificada como ‘pouco preocupante’ na Lista Vermelha da IUCN [Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, sigla em ingês)], que avalia o risco de extinção das espécies”, esclarece Veríssimo.

*Por Karleandria Araújo, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar

Saiba quais são os bairros mais antigos de cada capital da Região Norte

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Vista aérea do bairro Centro da de Manaus. Ao fundo, o então Teatro Amazonas, entre o Palácio da Justiça e a torre da Igreja de São Sebastião, década de 1950. Foto: Corrêa Lima/Acervo de Eduardo Braga

A Região Norte do Brasil é a mais extensa do país, sendo composta por sete estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Cada estado possui uma história, cultura e costumes diferentes, mas não é só isso.

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Suas construções, que ocorreram em períodos diferentes, também despertam a curiosidade. Pensando na origem de cada estado da região, o Portal Amazônia procurou informações sobre os bairros mais antigos de cada capital. Confira:  

Belém (Pará)

Chamado de Cidade Velha, o primeiro bairro de Belém é onde está o Forte do Presépio, uma construção que representa a importância desse local para a cidade com história desde o século XVII. 

A Cidade Velha é um bairro histórico que, de acordo com a Assembleia Legislativa do Estado do Pará, tem forte influência portuguesa em seus casarões antigos que impressionam

Foto: Daniel Vilhena/AID/Alepa

Boa Vista (Roraima)

Em Boa Vista, a história do bairro mais antigo é dividida em duas partes: a primeira é na região onde está o Forte São Joaquim (a 30 km de distância da capital), fundado em 1775, onde se formou o primeiro povoamento da cidade. A segunda, já remonta a alguns anos depois, quando surgiu na cidade sede o Bairro São Pedro, às margens do rio Branco.

Foto: Reprodução/Rede Amazônica RR

Macapá (Amapá)

Macapá é conhecida como a cidade do meio do mundo. E o bairro Central é onde nasceu a cidade. Fundado em 1758, é considerado a “Cidade Velha” de Macapá. No local, habitaram as primeiras famílias da capital amapaense. Atualmente é um importante centro comercial.

Foto: Rogério Lameira/PMM

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Manaus (Amazonas)

O Centro é o bairro mais antigo de Manaus. Localizado na Zona Sul, é onde hoje estão localizados os principais monumentos da cidade, como o Teatro Amazonas, a Igreja de São Sebastião e o Mercado Municipal Adolpho Lisboa.

Foto: Reprodução/Rede Amazônica

Palmas (Tocantins)

O bairro Jardim Aureny I, na região sul de Palmas, foi um dos primeiros bairros da capital do Tocantins que se tem registro e, segundo o IBGE, o Aureny III é o mais populoso da cidade. 

Foto: Reprodução/Prefeitura de Palmas

Porto Velho (Rondônia)

Já o bairro mais antigo da história de Porto Velho, o Caiari, surgiu como o primeiro conjunto habitacional do Brasil, a partir do primeiro governador do Território Federal do Guaporé, Aluísio Ferreira, que nacionalizou a Ferrovia Madeira -Mamoré. 

Foto: Divulgação/Prefeitura de Porto Velho

Rio Branco (Acre)

Em Rio Branco, a formação do Bairro Quinze se confunde com a própria origem de Rio Branco. Ainda na Revolução Acreana, após seis meses de confrontos entre brasileiros e bolivianos, o 15º Batalhão de Infantaria do Exército nacional foi enviado para garantir a trégua. O nome do bairro tem essa referência. 

Foto: Reprodução/ Google Maps

*Por Karleandria Araújo, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar

Gongocompostagem: o trabalho “oculto” dos embuás

Foto: Clarice Rocha/Embrapa

Os diplópodes (Diplopoda) são popularmente conhecidos como piolhos-de-cobra, gôngolo ou embuá. Este é um animal que possui corpo cilíndrico, com um par de antenas e dois pares de patas locomotoras por segmento, que muita gente não gosta ou até tem medo.

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Esses bichinhos preferem locais escuros e úmidos debaixo de troncos ou pedras para sobreviverem. De modo geral, são lentos e se defendem de um jeito diferente: enrolando-se!

Alimenta-se de matéria vegetal em decomposição, embora possam, algumas vezes, também se alimentar de vegetais vivos, chegando a apresentar problemas sérios em hortas e estufas.

Foto: Clarice Rocha/Embrapa

A espécie é ovípara: as fêmeas depositam seus ovos em um ninho e os guardam com cuidado. As formas larvais possuem apenas um par de pernas em cada segmento.

São preocupantes?

Apesar de muitas pessoas não gostarem da aparência desses animais por serem milípedes (possuem até 100 pernas), podendo até mesmo desenvolver a entomofobia (medo racional ou irracional de insetos e aracnídeos), eles não são peçonhentos, pois não possuem órgãos inoculadores de veneno (estruturas especializadas que os animais peçonhentos utilizam para injetar suas toxinas).

No entanto, muitos milípedes também protegem-se de predadores produzindo fluidos tóxicos ou repelentes em glândulas especiais (glândulas repugnatórias), localizadas ao longo da lateral do corpo. 

Não há registros de casos fatais em humanos decorrente do contato com estas substâncias de defesa dos diplópodes. O mais comum é o surgimento de manchas enegrecidas na pele.

Gongocompostagem

Os embuás são excelentes trituradores de resíduos sólidos e podem produzir um adubo orgânico que não deixa nada a desejar do composto gerado pelas minhocas.

Quem descobriu esse fato curioso e importante para o meio ambiente foram pesquisadores da Embrapa Agrobiologia, no Rio de Janeiro, e agora a tecnologia está sendo difundida aos produtores de Roraima.

“O gongocomposto é o produto final da gongocompostagem, técnica desenvolvida pela Embrapa Agrobiologia que consiste na compostagem de resíduos orgânicos a partir do uso de gongolos – ou piolhos-de-cobra”, explicam. 

Foto: Divulgação / Embrapa

Segundo dados do projeto, a gongocompostagem funciona por meio da “parceria” entre o gongolo (o embuá) e os microrganismos presentes no solo e nos resíduos. Eles trituram os materiais, facilitando a decomposição por esses microrganismos. É por meio desta decomposição que os resíduos são transformados em adubo orgânico.

*Por Karleandria Aráujo, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar

Atenção ao ‘cri cri’: pesquisadores afirmam que grilos são importantíssimos na natureza 

A Amazônia é uma rica região quando se fala em biodiversidade, certo? Com muitas espécies até desconhecidas, você já pensou nos insetos que parecem tão comuns… como os grilos?

O Brasil é um dos países que, segundo o ‘Livro Insetos do Brasil – diversidade e taxonomia’ (Inpa), tem a maior riqueza conhecida do mundo em diversidade de insetos (confira a publicação no fim da matéria). E o grilo (Grylloidea) faz parte desse universo que ainda precisa de muita pesquisa.

Leia também: Você conhece o fantástico micro-mundo dos insetos das florestas brasileiras?

Os grilos são ortópteros, com hábitos em sua maioria noturnos, onívoros e que vivem em lugares escuros, embaixo de pedras e tocas. São insetos de cores relativamente escuras, variando do verde até o preto. Possuem um par de pernas traseiras adaptadas para o salto, um par de pernas dianteiras com tímpanos para escutar os sons, e um par de asas responsáveis pela emissão dos sinais acústicos, dos quais só os machos podem produzir.

O doutor em biologia animal e pesquisador de bioacústica no Instituto  de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Riuler Corrêa Acosta, relata que não há um número exato de espécies quando falamos em grilos, pois faltam estudos que monitorem as espécies e que façam o levantamento inventário de determinadas regiões.

Segundo o pesquisador, há plataformas específicas como o Orthoptera Species File, um catálogo digital voltado para grilos e outros insetos aparentados que indicam alguns números. Porém, Acosta afirma que não condiz com a realidade. Como é uma plataforma dependente de atualizações constantes, os dados sobre todas as regiões podem estar desatualizados.

Recentemente, ainda em 2024, foi divulgada uma descoberta: os doutores Riuler Corrêa Acosta e Diego Mendes, do Instituto Mamirauá, descreveram mais duas novas espécies de inseto encontradas na Amazônia: um grilo (Oecanthus buxixu) e uma esperança predadora (Spinaraptor taja).

Leia também: Duas novas espécies de insetos são descobertas na Amazônia

Na imagem, uma fêmea de um pequeno grilo do gênero Hygronemobius pertencente a uma espécie ainda não descrita. Foto: Gustavo Tavares

O entomólogo, doutor em Zoologia e pesquisador na Universidade Federal do Pará (UFPA), Gustavo Tavares, contou ao Portal Amazônia que os poucos registros compilados de espécies que se tem confirmados são em nível nacional. Segundo ele, os grilos são organismos pouco estudados, principalmente na região amazônica, por isso “é difícil saber com exatidão”.

“Segundo o Sistema de Informação sobre Biodiversidade Brasileira, o SiBBr, existem aproximadamente 250 espécies de grilos no Brasil, mas na região amazônica nós não temos informações compiladas sobre isso”, esclareceu.

Grilos arbustivos 

Um pequeno grilo arborícola do gênero Hebardinella. Foto: Gustavo Tavares

Sobre as principais características dos grilos encontrados na região, o Dr. Gustavo Tavares comentou que os grilos normalmente são organismos de solo, então o padrão de coloração é usualmente o marrom ou preto, pois se camufla mais facilmente entre a cor das folhas secas da serrapilheira e do solo.

O entomólogo explicou ainda que existem espécies de grilos que são encontrados nas copas das árvores. Esses podem apresentar uma coloração mais esverdeada, com a função de se camuflar entre as folhas verdes. “Mas não há um padrão claro que diferencie entre os biomas”, informa.

Grilos e o equilíbrio ambiental

“Todo organismo é importante para o ecossistema”, alega o entomologista. “Eles [os grilos] normalmente são onívoros, se alimentando tanto de matéria vegetal quanto animal, desempenhando seu papel na cadeia trófica [que é relativo ou pertencente à nutrição] como consumidores em diferentes níveis. Mas além de consumidores, esses animais servem de alimento para uma grande variedade de organismos, tanto vertebrados, como invertebrados”, contou o Dr. Gustavo.

Grilo do gênero Gryllus sendo consumido por formigas. Foto: Gustavo Tavares

O que pode levar os grilos a um possível risco de extinção?

Para o Dr. Riuler Acosta, a ações antrópicas, realizadas pelo ser humano, são as mais graves e podem levar espécies à extinção. Os insetos geralmente são noturnos, utilizam os sons para se comunicar, e a luz urbana interfere no voo desses insetos, assim como os sons urbanos interferem diretamente na comunicação deles, impedindo o alcance destes sinais e até mesmo silenciando estes insetos.

Acosta expõe que essa é uma área que necessita de apoio, como o Projeto Providence, que é uma parceria internacional entre o Brasil, através do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, e a Espanha, através da Universidade Politécnica da Catalunha, que há 5 anos tem como objetivo monitorar as espécies amazônicas.

“Há muitas espécies de insetos e uma das espécies monitoradas é o Eneoptera surinamensis, espécie comum na Amazônia e em parte do Brasil. Com os dados de monitoramento através do som, desta e de outras espécies, em breve podemos dizer quais espécies poderão ou não correr risco de alguma forma. Porém, como são insetos, se reproduzem rápido, e talvez não tenha um impacto tão grande”.

Leia também: Portal Amazônia responde: os vagalumes estão desaparecendo na Amazônia?

O Brasil também conta com espécies invasoras, como o grilo Gryllodes supplicans, uma espécie que foi introduzida em muitos países através de navios de mercadorias. Embora sejam grilos pequenos, uma das poucas que produz sinais no meio urbano, as invasoras podem comprometer e muito a saúde ambiental e o nicho de outras espécies. Como ela não possui predadores, até este momento desconhecido, ela se reproduz rapidamente, passando a ocupar tanto o nicho de outras espécies quanto nichos até então desocupados. É importante que estas sejam monitoradas.

Um grilo da espécie Gryllodes supplicans, introduzido em várias partes do mundo, inclusive na Amazônia. Foto: Gustavo Tavares

Curiosidades 

Os pesquisadores listaram uma série de curiosidades sobre as espécies de grilos que ambos acompanharam em locais distintos da Amazônia.

Existem alguns fatos entre eles que são considerados similares, por exemplo a produção sonora alta. Confira:

  • Apesar dos grilos serem conhecidos pelo som que emitem, é comum ter espécies que perderam a capacidade de produzir som, como é mostrado no trabalho publicado recentemente pelo Dr. Gustavo Tavares em colaboração com pesquisadores do Brasil e Colômbia, descrevendo, para a Amazônia, a primeira espécie de grilo do gênero Zebragyllus que não é capaz de produzir som, o Zebragryllus aphonus.
  • É comum também que grilos machos utilizem atrativos químicos para as fêmeas, secretados por glândulas normalmente no tórax, abdômen ou nas pernas posteriores. No entanto, algumas espécies abandonaram a produção de sons e utilizam somente sinais químicos, assim como o grilo amazônico Xulavuna krenakore, outra espécie descrita recentemente em um outro trabalho assinado pelo Dr. Gustavo, a qual apresenta uma grande glândula na asa e outra no tórax (logo abaixo da asa)
  • O sistema de comunicação acústica de grilo é bem rico, pois eles normalmente têm mais de um tipo de canto. Dentre estes sinais, há um sinal específico para atrair fêmeas a longas distâncias (som de chamado), um sinal que serve para manter a fêmea nas proximidades e posteriormente copular (som de corte), e um sinal produzido entre os machos para disputas territoriais ou acesso a recursos (som de agressividade). Este é o repertório comum de espécies que produzem sons, mas também há suas variações, como espécies sem som de chamado ou até mesmo somente com som de corte.
  • Grilos da família Oecanthidae alteram a produção de seus sinais de acordo com a temperatura do local, como o grilo recém descrito Oecanthus buxixu. Se estiver com temperaturas altas, o sinal é emitido de forma frequente, se a temperatura estiver alta o sinal é emitido de forma esporádica.

Grilos: vilão ou mocinho? 

Para muitas pessoas o “canto” dos grilos pode ser incômodo, assim como sua presença em locais urbanos. Mas eles são “vilões ou mocinhos”? Para o Dr. Riuler a funcionalidade desses insetos no meio ambiente é importante e pode ser reinterpretada.

“Eles são mocinhos. Embora o grilo seja conhecido pelo ‘cricri’ noturno que interrompe o sono dos humanos, ele só está tentando se reproduzir. Grilos são importantíssimos na natureza. Através de seus sinais acústicos podemos saber a qualidade de determinado ambiente: eles reciclam  matéria orgânica, transportam sementes, constroem tocas que aumentam a circulação do oxigênio no solo. Os grilos nos ajudam muito, muito mais do que sabemos”, justificou.

*Por Karleandria Araújo, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar