Home Blog Page 78

Camu-camu é usado para enriquecer farinha de mandioca

Pesquisadores brasileiros constataram que a adição de camu-camu à farinha de mandioca amarela é capaz de enriquecê-la nutricionalmente, torná-la mais atraente ao paladar e agregar valor ao produto. Desidratados sob diferentes métodos tecnológicos, como a liofilização e naturalmente à luz do sol, os resíduos agroindustriais de frutos de camu-camu, adicionados à farinha de mandioca, incrementaram significativamente os produtos finais, com destaque para a coloração e concentração de antioxidantes.

O estudo sobre o ‘Desenvolvimento de produtos à base de frutos e resíduos beneficiados do processamento de camu-camu’ foi conduzido por Pedro Vitor Pereira Guimarães durante o seu doutorado no Programa de Pós-graduação em Biodiversidade e Biotecnologia da Rede Bionorte (Belém, PA), em parceria com a Universidade Federal de Roraima (UFRR), Embrapa Roraima (RR) e Embrapa Instrumentação (SP), além da Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado do Amazonas, em Manaus (AM). De acordo com Guimarães, a pesquisa teve o objetivo de formular e caracterizar as farinhas sob diferentes métodos de secagem, oriundas de frutos ou de resíduos agroindustriais de camu-camu.

Com base nos experimentos realizados, os pesquisadores acreditam que a farinha de camu-camu tem potencial para enriquecer outras farinhas e alimentos, com boa aceitação regional e potencial internacional. O produto desenvolvido e suas possibilidades de uso podem fortalecer a economia local, gerar emprego e renda, principalmente para a agricultura familiar e programas destinados às mulheres rurais da região. Além disso, é capaz de contribuir de forma significativa com a segurança alimentar e nutricional ao proporcionar dietas com alto valor nutricional, enriquecidas à base de produtos nativos e populares.

Guimarães ressalta que testes futuros ainda devem ser realizados para aprimorar a elaboração das farinhas oriundas de camu-camu e a sua adição a novos alimentos, bem como a verificação da aceitabilidade desses novos produtos, avaliados pioneiramente na pesquisa.

Foto: Ronaldo Rosa

Formulações testadas

O camu-camu, fruto vermelho-arroxeado, típico da região amazônica, é fonte natural de minerais e antioxidantes, com destaque para os altos teores de vitamina C. Conhecido também como caçari ou araçá d’água, a árvore de pequeno/médio porte, cresce em áreas de várzea, lagos e rios, com galhos e raízes submersas, com alto potencial para a economia local e relativamente pouco explorado.

Para Guimarães, os maiores desafios da pesquisa foram evidenciar as possibilidades de aproveitamento de resíduos e materiais orgânicos, alinhar o estudo à política nacional de resíduos sólidos, possibilitando destinos ambientalmente adequados, principalmente, para esse tipo de material de interesse biotecnológico, com alto potencial nutricional e para ser adicionado a outros processos produtivos.

O pesquisador constatou que, com base na validação estatística, a farinha de mandioca enriquecida com diferentes doses de farinha de camu-camu foi afetada de forma positiva e significativa, com destaque para incremento na coloração dos produtos finais, assim como nos teores de sólidos solúveis e totais, e nos conteúdos de antioxidantes, entre eles, os ácidos ascórbicos e cítricos.

Os resultados do estudo apontaram que as doses testadas podem ser modelos com qualidades organolépticas desejáveis. As formulações foram produzidas com farinha de mandioca adicionadas de cinco doses percentuais de farinhas de camu-camu: 0% (testemunha/controle), 5%, 25%, 50% e 100%.

Com isso, os pesquisadores esperam a obtenção de um alimento enriquecido e estável que possa ser consumido de diferentes formas, considerando as propriedades organolépticas, funcionais e agroindustriais desejáveis que o camu-camu possui.

Diferentes processos

Os frutos foram coletados às margens do Lago da Morena, no município de Cantá, em Roraima, e transportados para a Embrapa Roraima, em Boa Vista, onde foram selecionados, higienizados, sanitizados, beneficiados, processados e caracterizados.

O estudo focou na possibilidade de aproveitamento integral de material em diferentes níveis tecnológicos e diversos processos de secagem, atendendo à demanda de agroindústrias familiares locais no desenvolvimento de produtos funcionais, além de enriquecer um alimento já reconhecidamente bem aceito na região amazônica.

Embora diferentes técnicas tenham sido testadas, a farinha de camu-camu obtida por meio do processo de liofilização apresentou os melhores resultados. A liofilização é um método de desidratação no qual a água congelada de um alimento é evaporada sem passar pelo estado líquido. Ou seja, é a transição direta da fase sólida para a gasosa, sem perder as propriedades.

Nesse estudo, no entanto, como forma de ampliar as possibilidades quanto às tecnologias acessíveis à agroindústria familiar, os frutos e os resíduos agroindustriais gerados na produção de polpa e suco também foram desidratados naturalmente ao sol, utilizando-se forno solar artesanal, bem como forno elétrico e estufa elétrica convencional, possibilitando a replicação em diferentes níveis tecnológicos.

Métodos eficazes

Tanto os métodos mais simples e de baixo custo quanto a desidratação via liofilização resultaram em formulações padronizadas com boas características farináceas, com qualidades desejáveis para o mercado interno e externo.

O pesquisador da Embrapa Edvan Alves Chagas, orientador da pesquisa, acredita que a secagem solar pode ser uma alternativa econômica para frutos de camu-camu e resíduos gerados no processamento, devido ao seu baixo custo e alta qualidade, principalmente em áreas com disponibilidade de sol durante todo o ano, como as regiões produtoras de camu-camu.

“A secagem de forma natural permitiu notável redução no teor de água, tanto dos frutos de camu-camu como nos resíduos orgânicos gerados durante o processamento, resultando em uma consistência semelhante à farinha. Isso não só aumenta o seu prazo de validade, mas também reduz o impacto ambiental, minimizando o desperdício”, afirma Chagas.

Industrialização do fruto

Foto: Pedro Guimarães

Para a pesquisadora da Embrapa Instrumentação (SP) Maria Fernanda Berlingieri Durigan, coorientadora do estudo, os métodos de processamento da farinha à base de frutos inteiros ou de resíduos agroindustriais de camu-camu são uma excelente alternativa para a industrialização desse fruto, principalmente em regiões naturalmente produtoras, sendo um aproveitamento viável de suas qualidades agroindustriais e nutricionais.

“Acreditamos que os produtos secos obtidos e avaliados nessa pesquisa possuem atributos interessantes e podem ser uma importante oportunidade econômica para aplicação nas indústrias agrícola e alimentícia roraimenses e amazônicas, principalmente para as agroindústrias familiares e projetos relacionados às mulheres rurais”, diz a pesquisadora.

Ela acrescenta ainda que a farinha de camu-camu, como aditivo alimentar e ou ingrediente nutricional, possui inúmeras possibilidades de utilização, tanto individual como incorporado a receitas diversas.

O estudo foi apoiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Embrapa. Artigos de Guimarães já estão disponíveis em sistemas da Embrapa, como este. Um dos trabalhos está na revista Cuadernos de Educación y Desarrollo, da Europub European Publications, com sede em Portugal, envolvendo autores de diferentes instituições de pesquisa e ensino do País.

*Com informações da Embrapa Instrumentação

Potássio, cal, fósforo: minerais para uso agrícola já podem ser encontrados na Amazônia

0

A expansão contínua das fazendas industriais brasileiras criou um mercado robusto para as matérias-primas minerais usadas na fabricação de fertilizantes químicos. Historicamente, a demanda era atendida em grande parte por importações, mas uma combinação de custos e considerações geopolíticas motivou o agronegócio e o governo a investir na produção doméstica de fertilizantes. 

A maior parte desse investimento será feita em minas e fábricas em outras partes do Brasil; no entanto, a Amazônia brasileira tem recursos minerais que são competitivos em termos de custo e estrategicamente vitais. Os países andinos também dependem de importações e, embora haja interesse por parte do Peru em aumentar as fontes domésticas, as matérias-primas de fertilizantes não seriam de origem amazônica.

As Guianas não têm uma economia agrícola suficiente para justificar o investimento em fábricas de fertilizantes, nem, aparentemente, reservas minerais suficientes para criar um setor de exportação.

Potássio: Um novo recurso mineral no coração da Amazônia

O Brasil é o maior importador individual de fertilizantes potássicos do mundo e depende quase que totalmente (95%) das importações de três países: Canadá, Belarus e Rússia. A cadeia de suprimento de fertilizantes está prestes a passar por uma mudança radical, no entanto, devido a um esforço contínuo para desenvolver uma reserva de potássio de classe mundial localizada diretamente sob a planície de inundação do Rio Amazonas.

O potássio foi descoberto por geólogos da Petrobras quando eles exploravam petróleo nas bacias do Amazonas e do Solimões na década de 1980. O depósito consiste em uma faixa de rocha sedimentar de 400 quilômetros de extensão, com espessura de um a quatro metros, enterrada de 650 a 900 metros abaixo da superfície da planície de inundação amazônica. O corpo do minério é um mineral de sal e argila, conhecido como silvinita, que está localizado no estrato de Nova Olinda, formado durante a Era Cretácea, há cerca de 100 milhões de anos.

Trata-se essencialmente de uma camada de sal que se formou em um habitat marinho de águas rasas localizado em um estuário do rio Proto-Amazonas durante um período com forte clima evaporativo. Estima-se que o depósito contenha pelo menos 250 milhões de toneladas de minério com um grau de pureza médio de 31,5% de cloreto de potássio (KCl).

Os recursos estão sendo desenvolvidos por uma subsidiária de um banco comercial canadense, Forbes&Manhattan, especializado em empreendimentos de mineração greenfield. A empresa, Brazil Potash, adquiriu os direitos minerais em 2010 e, desde então, documentou as dimensões do recurso mineral, além de realizar estudos de viabilidade e ambientais. 

A proposta do projeto se baseia em uma mina subterrânea que empregará métodos convencionais de câmaras e pilares para extrair cerca de 8,5 milhões de toneladas de minério por ano. O minério extraído será concentrado em uma instalação de processamento adjacente de “lixiviação a quente” para produzir 2,5 milhões de toneladas de potássio comercial, cerca de trinta por cento do consumo doméstico projetado.

O principal mercado comercial serão as fazendas industriais do Mato Grosso e o potássio será enviado pela hidrovia do Madeira até Porto Velho e pela rodovia BR-364. A mina está localizada a montante dos terminais de grãos de Itacoatiara e Santarém, o que permitirá que as empresas de agronegócio utilizem as barcaças de grãos e os caminhões vazios que retornam às áreas agrícolas.

A mina está programada para iniciar suas operações em 2023, com uma vida útil estimada em 34 anos; os desenvolvedores estão confiantes de que recursos adicionais serão identificados e desenvolvidos no médio prazo. O investimento total está estimado em US$ 2,1 bilhões, com receita bruta estimada em cerca de US$ 1,4 bilhão por ano.

Foto: Reprodução / Mongabay/brazilpotash.com.

Em junho de 2022, os investidores alocaram US$ 100 milhões para o desenvolvimento do projeto. A empresa estima uma economia de custos de aproximadamente US$ 80 por tonelada, cerca de 15% do custo total do potássio enviado do Canadá, o que se traduz em uma economia de US$ 200 milhões a US$ 300 milhões por ano para os agricultores do Mato Grosso.

Supostamente, os desenvolvedores do projeto estão aderindo aos Princípios do Equador e reciclarão a água para evitar a descarga de águas residuais das instalações de processamento e devolvendo todos os resíduos de rocha aos poços e galerias abandonados da mina. De acordo com a empresa, a mina proposta gerará 2.600 empregos diretos durante a fase de construção e 1.300 empregos diretos durante a fase operacional.

Os ambientalistas se opõem à mina devido aos seus impactos negativos sobre as florestas de várzea sazonalmente inundadas e sobre os habitats de remanso que caracterizam a planície de inundação amazônica. A oposição dos líderes indígenas baseia-se em reivindicações antigas e não atendidas do povo Mura por territórios adicionais, embora a mina proposta não esteja dentro ou abaixo de uma Terra Indígena (TI) legalmente constituída. No entanto, como uma de suas reservas é adjacente à mina proposta, sua aprovação ainda é necessária de acordo com as condições do CLPI consagradas na legislação brasileira.

A mina tem o apoio esmagador dos governos local, estadual e federal, bem como do setor de agronegócios, que afirmam que a mina pode ser desenvolvida com salvaguardas para minimizar e compensar quaisquer impactos indesejados, ao mesmo tempo em que compensa de forma justa as comunidades indígenas por quaisquer impactos negativos..

Fósforo

Ao contrário do potássio, o Brasil é quase autossuficiente na produção de fosfato de rocha (P2O5); oito empresas operam minas em sete estados para atender a cerca de 80% do consumo nacional. A maior parte da produção é realizada em Minas Gerais (70%), mas duas empresas (Itafos Inc e Rialma Fertilizantes) abriram minas em Tocantins, e uma terceira está planejada para abrir no sudeste do Pará. 

Em 2022, havia 938 concessões que identificavam o fosfato como o mineral-alvo na Amazônia Legal. No entanto, apenas oito haviam sido aprovadas para exploração, todas elas pertencentes às duas empresas mencionadas anteriormente.

Cal agrícola

O calcário, a dolomita e o gesso são as principais fontes de cal agrícola, que geralmente não é considerado um fertilizante, mas um corretivo do solo que resolve as restrições químicas e físicas comuns a muitos solos tropicais. O componente ativo é o carbonato de cálcio (CaCO2), que é essencialmente uma rocha pulverizada extraída de formações sedimentares ricas em cálcio.

O carbonato de cálcio age alterando o pH do solo de ácido para levemente alcalino, o que elimina a toxicidade do alumínio e facilita a absorção de três macronutrientes essenciais (nitrogênio, fósforo e potássio: NPK), bem como da maioria dos principais micronutrientes. 

A mudança na química do solo também transforma a biota do solo, levando a um aumento da matéria orgânica do solo e a uma melhoria na capacidade de retenção de água a médio prazo.

Tanto o bioma do Cerrado quanto o da Amazônia são caracterizados por solos ácidos, e comumente se presumia que as culturas industriais não poderiam ser cultivadas na Amazônia brasileira. 

No entanto, a partir da década de 1980, os pesquisadores de solo da EMBRAPA demonstraram que a aplicação de grandes quantidades de calcário agrícola reduziria a sua acidez e transformaria esses solos anteriormente inférteis em paisagens agrícolas altamente produtivas. No final da década de 1990, entre quatorze e dezesseis milhões de toneladas de calcário estavam sendo espalhadas nos campos brasileiros a cada ano, à medida que o cultivo em larga escala de soja, milho, algodão e outras culturas industriais em linha passou a dominar a economia rural do Mato Grosso.

As terras mais procuradas eram os planaltos do bioma Cerrado, que tinham solos friáveis, profundos e bem drenados; no entanto, os agricultores industriais logo expandiram suas operações para áreas dominadas por florestas úmidas.

A expansão da agricultura industrial motivou muitos proprietários de terras a converter suas pastagens cultivadas em lavouras em linha ou a alugar suas propriedades para agricultores industriais em empreendimentos conjuntos que teriam início com a aplicação de calcário agrícola. 

Os benefícios do manejo do solo agora estão motivando os fazendeiros a restaurar pastagens degradadas como parte de um modelo de negócios de rotação de gado e plantações que se expandiu para o Pará e Rondônia.

A recomendação da EMBRAPA exige uma aplicação inicial de cinco a nove toneladas de calcário agrícola por hectare. No entanto, o alto índice pluviométrico acabará por lavar a alcalinidade do perfil do solo e, a menos que haja uma aplicação periódica de carbonato de cálcio, os solos perderão gradualmente sua capacidade produtiva. 

Consequentemente, há uma demanda constante e crescente por calcário. Aproximadamente trinta milhões de toneladas foram usadas em 2019 pela agroindústria em Mato Grosso. Grande parte do calcário agrícola usado no estado é extraído em estados limítrofes, mas o custo do transporte motivou os produtores a buscar suprimentos mais próximos de casa. 

Em 2022, havia 24 pedreiras ativas de calcário, dolomita e gesso onde a rocha é extraída e pulverizada para uso imediato, sem nenhum processo de concentração industrial. Algumas pedreiras de calcário estão em operação há várias décadas como fonte de matéria-prima para o cimento Portland, mas a maioria foi aberta recentemente para atender às necessidades das fazendas industriais do país.

Em 2022, havia 1.800 concessões de mineração que listaram calcário, dolomita ou gipsita como mineral alvo; dessas, 222 receberam licença para operar.

“Uma tempestade perfeita na Amazônia” é um livro de Timothy Killeen que contém as opiniões e análises do autor. A segunda edição foi publicada pela editora britânica The White Horse em 2021, sob os termos de uma licença Creative Commons (licença CC BY 4.0).

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Mongabay, com análise de Timothy J. Killeen e tradução de Lisete Correa

Projeto auxilia produção de algodão agroecológico em Mato Grosso

0

Com apoio da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), doze propriedades de agricultura familiar da baixada cuiabana estão produzindo algodão agroecológico para a indústria têxtil brasileira. A ação é resultado de uma pesquisa-ação do Centro Vocacional Tecnológico em Agroecologia (CVT/Agroeco), projeto da Faculdade de Agronomia e Zootecnia (Faaz). A colheita desta safra já teve início e a previsão de término é em setembro.

A pesquisa iniciou em 2023, a partir de uma parceria com a Farfarm, empresa que auxilia na criação e desenvolvimento da cadeia produtiva do algodão, ligando produtores com a indústria e garantindo a entrega de algodão sustentável de qualidade.

O primeiro passo foi a implantação de uma unidade modelo na Fazenda Experimental da UFMT, em Santo Antônio de Leverger. Nesta Floresta de Algodão, além do uso de práticas sustentáveis e ecológicas para produção da matéria-prima, há uma diversidade de culturas integradas, visando a qualidade de alimentação, complementação da renda, saúde do solo e sustentabilidade a longo prazo da produção.

Após a colheita de aproximadamente uma tonelada de algodão em 2023, a Universidade buscou parceiros entre duas comunidades rurais da baixada cuiabana para participarem do projeto, oferecendo capacitação e acompanhamento durante a produção.

De acordo com o coordenador do projeto e do CVT/Agroeco, professor Henderson Nobre, o Brasil está entre os cinco maiores produtores mundiais de algodão e Mato Grosso é o segundo maior produtor entre os estados brasileiros, entretanto menos de 1% desse algodão é orgânico, ainda que haja uma demanda grande para ele.

Uma das proprietárias envolvidas, Bianca Machado, do assentamento Zé da Paes, em Acorizal, complementa a perspectiva do professor: “conhecemos o sistema agroflorestal através do projeto da UFMT e gostamos da alternativa. Ela nos permite o plantio de uma grande variedade de cultura em um mesmo espaço, otimizando custo e espaço”.

Já para a Indústria, de acordo com o pesquisador, a estruturação desta cadeia produtiva representa a possibilidade de produzir peças com fibras responsáveis, deixando um impacto positivo, regenerando a natureza e contribuindo para o desenvolvimento social.

“Uma plantação em Sistema Agroflorestal é caracterizada pela integração de árvores e cultivos em uma mesma área, com uso de tecnologias de baixo carbono, promovendo a biodiversidade e a sustentabilidade”.

Foto: Divulgação/UFMT

No cultivo convencional, o plantio é realizado na maioria das vezes em monocultura, sem diversidade e com excessiva utilização de fertilizantes químicos e pesticidas.

“Nessas plantações, além da diversidade para oferta de alimentos, há uma variedade de benefícios para o meio-ambiente e para a produção, como melhoria do solo, controle de pragas e doenças, conservação de água e aumento da biodiversidade”.

Além da grande produção alcançada pela unidade modelo da Fazenda Experimental, a experiência de 2023 permitiu identificar o melhor desenho da agrofloresta, as melhores formas de manejo para as condições do território da Baixada Cuiabana e a realização de diferentes projetos de pesquisa, como a tese de doutorado do Rafael Laranja que é sobre o tema da produção de algodão agroflorestal.

“Pudemos perceber que os indicadores ambientais tiveram ganhos efetivos num curto período de tempo e também que os indicadores produtivos demonstraram, ainda que preliminarmente, índices superiores às regiões tradicionalmente produtoras deste tipo de algodão, no Nordeste”, afirmou Rafael.

De acordo com o professor Henderson, o projeto Floresta de Algodão tem como visão de futuro desenvolver e consolidar a cadeia produtiva do algodão agroecológico, expandindo e inserindo mais agricultores familiares.

E é essa também a expectativa da Bianca e seus colegas agricultores. “Esperamos que esse projeto cresça e que possamos prosperar nessa parceria, pois queremos nos adaptar a essas alternativas e tornar o nosso sítio auto-sustentável”, concluiu.

Além desta, o CVT/Agroeco atua em frentes em mais de 10 municípios da Baixada Cuiabana, e ao longo de seus 5 anos já construiu cerca de 50 unidades de referência em Sistemas Agroflorestais junto ao público da Agricultura Familiar, Povos e Comunidades Tradicionais, além de ser o organizador da ECOFEIRA na UFMT. 

*Com informações da UFMT

TCE emite alerta aos 62 municípios amazonenses para combate às queimadas e estiagem

0

O Tribunal de Contas do Amazonas (TCE-AM), por determinação da conselheira-presidente Yara Amazônia Lins, emitiu um alerta direcionado aos gestores dos 62 municípios do Estado destacando a necessidade urgente de priorizar ações governamentais para combater as queimadas urbanas e enfrentar os efeitos da vazante extrema, que ameaçam a saúde pública, o meio ambiente e a qualidade do ar.

Publicado na edição desta terça-feira (23) do Diário Oficial Eletrônico (DOE), o alerta se baseia na maior seca já registrada na história do Amazonas em 2023, que levou ao desabastecimento de sedes municipais e ao isolamento de comunidades ribeirinhas, afetando cerca de 600 mil pessoas.

A situação foi agravada pelas queimadas, que totalizaram 19.604 focos de calor, dos quais 13.373 ocorreram em áreas prioritárias, como terras indígenas e áreas protegidas, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Em outubro de 2023, Manaus registrou o ar mais poluído do Brasil, com concentração de monóxido de carbono atingindo 53,6 ppm, conforme o Relatório Mundial da Qualidade do Ar.

As projeções para o segundo semestre de 2024 indicam a continuidade das condições extremas, com baixos níveis de precipitação e altas temperaturas.

Ainda durante a 25ª sessão, o conselheiro-corregedor Josué Cláudio Neto elogiou a decisão da emissão do alerta e comentou sobre a necessidade de um chamado urgente à ação para todos os gestores municipais.

Conforme levantamento da Dicamb, durante todo o ano de 2023 e o primeiro semestre de 2024, foram autuadas 137 representações referentes a desmatamento e queimadas no Amazonas e ao menos 62 representações de ações de governança no âmbito da Defesa Civil por parte do TCE-AM. Destas, 49 foram julgadas pela Corte de Contas amazonense.

Sobrevoo a comunidade do catalão. Foto: Cadu Gomes/VPR

Recomendações

Entre as principais recomendações contidas no texto do alerta estão várias ações imediatas para mitigação de riscos, entre elas a necessidade de os agentes de fiscalização ambiental agirem prontamente diante de infrações ambientais, exercendo o poder de polícia ambiental de forma efetiva; a implementação de planos de ação de educação ambiental em escolas e instituições públicas, conscientizando a população sobre a responsabilidade compartilhada frente às questões ambientais ocasionadas pelo desmatamento e queimadas; criação de comitês municipais de prevenção e combate às queimadas, em articulação com a Defesa Civil, entre outras.

A implementação de planos municipais de contingência à estiagem, a vigilância da qualidade da água e a garantia de estratégias de oferta de água potável para as comunidades mais atingidas são medidas também recomendadas no alerta para enfrentar a crise hídrica e sanitária.

O alerta é fundamentado em diversas normas legais e diretrizes, incluindo a Lei Complementar nº 101/2000, que aborda os impactos negativos que podem comprometer os programas de conservação ambiental, e a Resolução ATRICON nº 02/2021, que estabelece diretrizes para a gestão florestal e a governança das políticas públicas de meio ambiente.

Além disso, a Constituição Estadual do Amazonas e a Lei Complementar 140/2011 atribuem aos municípios a responsabilidade pela gestão e proteção dos recursos florestais, prevenção de desmatamentos e queimadas, bem como a promoção da educação ambiental.

*Com informações do TCE-AM

União Europeia fará doação de R$ 120 milhões ao Fundo Amazônia

0

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a União Europeia (UE) vão estreitar parcerias com foco no apoio ao desenvolvimento sustentável e aos investimentos no Brasil. Com esse objetivo, o presidente do banco, Aloizio Mercadante, e a comissária da União Europeia para Parcerias Internacionais, Jutta Urpilainen, assinaram carta de intenções durante o IV Fórum Brasil-União Europeia, realizado na sede do BNDES.

A carta constitui mais um passo no processo de formalização de uma doação da União Europeia no valor de 20 milhões de euros, ou cerca de R$ 120 milhões, ao Fundo Amazônia.

Para Mercadante, trata-se de uma sinalização muito importante porque significa contribuição do conjunto dos 27 países que fazem parte da União Europeia. “Tem um significado maior, dá muito respaldo e credibilidade ao Fundo Amazônia, que se consolidou por ter uma gestão transparente, eficiente, responsável, e por responder a uma das principais demandas, que é a dramática crise climática do planeta. Nós reduzimos em 50% o desmatamento; é por isso que essas contribuições estão sendo fortalecidas”, afirmou.

A comissária Jutta Urpilainen disse que a Comissão Europeia está feliz em se juntar aos estados-membros da UE, que recentemente anunciaram contribuições ao fundo. “Nosso compromisso deverá respaldar os esforços do governo brasileiro e vai possibilitar a aceleração da luta contra o desmatamento.”

Mercadante destacou a importância da preservação da Amazônia, área que abriga 25% da cobertura de florestas tropicais do planeta, onde vive uma população de aproximadamente 29 milhões de habitantes.

Recorde de investimentos

O Fundo Amazônia tem, atualmente, recursos no montante de R$ 3,9 bilhões. No ano passado, o fundo bateu recorde de investimentos em novas ações, após quatro anos desativado, e hoje apoia 114 iniciativas, que vão do Arco da Restauração (maior projeto de restauro de florestas nativas) ao fortalecimento do Corpo de Bombeiros no enfrentamento a incêndios , além do combate ao crime organizado na região.

Os recursos destinados aos projetos não são reembolsáveis. Cerca de 240 mil pessoas serão beneficiadas com atividades produtivas sustentáveis, informou a assessoria de imprensa do BNDES.

Aloizio Mercadante anunciou ainda que foram concluídas as negociações com o Banco Europeu de Investimentos para o financiamento, “em condições muito favoráveis”, de 300 milhões de euros, também vinculado à transição energética, economia verde e transição digital.

“É um empréstimo bem importante. Nós já concluímos a garantia soberana do Ministério da Fazenda, e agora vai para o Senado Federal. Assim que for aprovado pela comissão, estarão liberados os recursos. É mais dinheiro para nossa economia”, disse Mercadante.

Alemanha

O governo da Alemanha e o BNDES anunciaram a liberação de cerca de R$ 88 milhões (15 milhões de euros) ao Fundo Amazônia, por intermédio do banco estatal de investimento e desenvolvimento KfW. Além de ampliar os recursos destinados ao fundo, a Alemanha se torna o primeiro país parceiro do Brasil com adesão ao Programa Floresta Viva, iniciativa liderada pelo BNDES para restauração ecológica de biomas brasileiros.

Para o Fundo Amazônia, esta é a segunda parcela da doação contratada no final de dezembro de 2022, logo após as eleições presidenciais no Brasil, em iniciativa que marcou a retomada do apoio internacional ao fundo. A nova parcela se soma a cerca de R$ 107 milhões (20 milhões de euros) que foram liberados pela Alemanha para o fundo, em outubro de 2023.

A liberação dos R$ 88 milhões é a última contribuição realizada pelo governo alemão, segundo maior doador do Fundo Amazônia, com cerca de R$ 380 milhões em doações em valores históricos, que superam R$ 500 milhões quando convertidos ao câmbio atual.

Os recursos do governo alemão somam-se às contribuições dos demais doadores do Fundo Amazônia, que são Noruega, Petrobras, Suíça, Estados Unidos e Japão, além da própria Alemanha, e daqueles ainda a serem desembolsados pelo Reino Unido. Tais recursos reforçam as ações do Fundo Amazônia, considerado hoje o maior instrumento de redução de emissões decorrentes do desmatamento e degradação florestal (REDD+) no mundo.

Floresta Viva

Para o Programa Floresta Viva, o BNDES receberá recursos também do Ministério Federal da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento da Alemanha (BMZ), por meio do KfW, no valor de 15 milhões de euros, que serão destinados à execução de projetos para aumento da cobertura vegetal com espécies nativas em todos os biomas brasileiros, desde a coleta de sementes, passando por viveiros florestais até os plantios.

O programa já lançou os primeiros editais referentes aos biomas de Manguezais, Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica.

*Com informações da Agência Brasil

Estudo inédito sobre ilhas de Belém é apresentado no Pará

0

Os estudos e pesquisas realizados pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa) desempenham um papel no planejamento de políticas públicas no Pará. Com base nessa premissa, a Fundação lança o Boletim da Sustentabilidade das Ilhas de Belém. Os boletins apresentam, em cada edição, as principais características socioespaciais das ilhas ao redor da capital paraense, utilizando zoneamento geoambiental.

A primeira edição destaca a Ilha de Cotijuba, por se tratar de uma área de importância turística para a capital. Este estudo ajuda a criar políticas públicas para a região das ilhas, que não tem muitas informações precisas e muitas vezes não refletem a realidade local.

Leia também: O que fazer na Ilha de Cotijuba

Ainda que Cotijuba enfrente deficiências em infraestrutura básica, o seu potencial turístico é inegável. Dessa forma, o estudo contribui para uma administração eficiente, já que ao contar com informações qualitativas e quantitativas, os responsáveis por tomar decisões mantêm seu planejamento atualizado, o que resulta em melhores resultados, conforme explicado pela diretora de Pesquisas e Estudos Ambientais (DIPEA), Luziane Cravo Silva.

Quando se trata de gestão de territórios, esse planejamento torna-se ainda mais detalhado, devido às pressões sociais e econômicas associadas. Nesse contexto, análises técnicas são fundamentais para que os gestores identifiquem desafios e oportunidades em seus planos de gestão, visando oferecer serviços de qualidade à população, por esta razão, projetos com esse são essenciais.

Imagem: Divulgação

O Boletim da Sustentabilidade da Ilha de Cotijuba é um produto do projeto Atlas da Sustentabilidade, projeto da Coordenação de Estudos Territoriais (CET) da Diretoria de Pesquisas e Estudos Ambientais (DIPEA) da Fapespa, formado por uma equipe multidisciplinar, que analisa e apresenta dados e informações sobre sustentabilidade do estado do Pará, para subsidiar ações de gestores e fornecer informações a cientistas e comunidade em geral. Sua produção compõe relatórios sobre a sustentabilidade, boletins, notas técnicas, sendo fonte de produção e divulgação de conhecimento científico na Região Amazônica, sobretudo na Amazônia Paraense.

“Dessa forma, a Diretoria de Pesquisas e Estudos Ambientais da Fapespa, por meio de projetos inovadores como o Boletim da Sustentabilidade das Ilhas de Belém, reafirma seu compromisso com o desenvolvimento sustentável e a conservação ambiental, fornecendo dados essenciais para a formulação de políticas públicas que beneficiem toda a sociedade paraense”, avalia Luziane Cravo Silva.

Histórico

Segundo a pesquisa intitulada “Análises das paisagens da ilha de Cotijuba: através do mapeamento das unidades geoambientais, Belém” (DA SILVA, 2021), a Ilha de Cotijuba possui uma área de 16,5 km², apresenta um clima equatorial super unido, com temperaturas máximas médias de 31,8 °C e mínimas de 22,3 °C. O nome Cotijuba, de origem tupi-guarani, significa “trilha dourada”, referindo-se à coloração do solo arenoso da região.

Conforme o Plano Diretor de Belém, Cotijuba integra o Distrito Administrativo de Outeiro (DAOUT) e está subdividida em duas macrozonas: a Macrozona do Ambiente Urbano (MZAU), localizada na zona Oeste e sul, e a Macrozona do Ambiente Natural (MZAN), situada na zona Norte e Leste.

Imagem: Divulgação

A ocupação da ilha iniciou-se com os indígenas da tribo Tupinambás e ganhou nova configuração socioeconômica em 1874, com a instalação do Engenho Fazendinha, pelo capitão Pereira da Cunha. No século XIX, Cotijuba foi usada como área estratégica militar durante a Revolução Cabana. No século XX, a ilha foi comprada pelo desembargador Raimundo Nogueira de Farias, que estabeleceu um educandário para pequenos infratores, impulsionando seu desenvolvimento social e econômico com o apoio do governador Magalhães Barata.

Hoje, Cotijuba conta com nove praias e é acessível por via fluvial. A construção do Trapiche de Outeiro pela prefeitura de Belém, nos anos 2000, melhorou significativamente o embarque e desembarque de visitantes, aumentando a mobilidade e acessibilidade na região.

Análise Geoambiental

O estudo constatou que cada área da ilha possui características distintas em termos de morfologia e uso do solo. A Macrozona do Ambiente Urbano, por exemplo, inclui praias com maior fluxo turístico e está passando por significativas alterações físicas.

O estudo da Fapespa propõe uma nova delimitação para a Ilha de Cotijuba, abordando uma questão antiga: apesar de ser frequentemente classificada como Área de Proteção Ambiental (APA), Cotijuba sequer possui um plano de manejo. Os estudos cartográficos são fundamentais para o planejamento ambiental da ilha. Estes estudos utilizam imagens aéreas, de radar e satélites, além de Sistemas de Informações Geográficas (SIG), para coletar, armazenar e analisar dados espaciais.

O projeto compara a cobertura ambiental e a expansão urbana na Ilha de Cotijuba entre os anos de 2001 e 2023, através do mapeamento geoambiental. O método é essencial para a gestão ambiental, pois permite a subdivisão da ilha em unidades com características comuns, como: geomorfologia, hidrologia, clima e cobertura vegetal.

Cartografia e Geoinformação

A cartografia é utilizada em conjunto com Sistemas de Informações Geográficas (SIGs) e permite a aquisição, armazenamento e tratamento de informações coletadas em campo e de dados já existentes, promovendo uma visão sistêmica da paisagem a partir dos elementos bióticos e abióticos que a compõem. Tais características são essenciais para o zoneamento do espaço, pois apontam as diferentes ações e manejos necessário a cada local.

Há ainda, entre as novidades do projeto, o mapeamento da malha censitária e das espécies de endereços, dados que fornecem subsídios para políticas públicas na ilha, apontando a concentração populacional e os tipos de equipamentos urbanos presentes. A criação de bases cartográficas detalhadas foi necessária devido à ausência de arquivos vetoriais específicos para essas áreas, sem detalhamento adequado.

Para a coordenadora de estudos territoriais, Maiara Cordeiro: “o projeto sobre estudo das ilhas de Belém está alinhado com o trabalho da Fapespa e, particularmente, envolvida com estudos sobre práticas sustentáveis de uso da terra, impactos socioeconômicos e conservação ambiental no território do Pará” afirma.

Indicadores de Sustentabilidade

Outra análise apresentada foi a medição dos Indicadores de Sustentabilidade da Cobertura Vegetal (SCV) e de Sustentabilidade da Pressão Urbana (SPU). O SCV apontou a supressão de quase 13% da cobertura vegetal da ilha, no período analisado, indicando potenciais perdas na biodiversidade. Além disso, o estudo ponta degradação, devido ao aumento das erosões e fragilidade do solo.

O SPU apresentou aumento na pressão urbana, de 13,58% em 2001 para 24,24% em 2023, em virtude da crescente demanda pelo turismo na ilha, devido a suas paisagens únicas. Os indicadores quantificam dados para ajudar os gestores a compreenderem os problemas e desenvolver planos, projetos e ações que visem mitigar deficiências e ampliar sucessos.

*Com informações da Fapespa

Conheça a paineira, ‘árvore rosa’ reconhecida como patrimônio histórico ambiental de Ariquemes

0

Conhecida pelas grandes dimensões — que podem chegar a 30 metros de altura — e por flores que encantam a paisagem onde ela é inserida, uma paineira se tornou patrimônio histórico ambiental da cidade de Ariquemes (RO) a partir de um decreto municipal.

O documento proíbe o corte, retirada, derrubada ou remoção a fim de preservar a planta e o terreno onde ela fincou suas raízes. A árvore fica localizado na Avenida Capitão Silvio.

Mas onde surgiu essa planta tão peculiar para a região amazônica? E qual a importância de árvores em ambientes urbanos?

O Grupo Rede Amazônica conversou com o pesquisador, botânico e professor do Departamento de Biologia da Universidade Federal de Rondônia (Unir), Narcísio Bigio, que explicou sobre a origem da planta e como árvores de outras regiões do país vieram parar na região do bioma amazônico.

De acordo com o Narcísio, a espécie da planta já foi identificada na região da Bolívia, Mato Grosso e recentemente em Rondônia, formando assim uma linha nessa região batizada como ‘Ceiba Camba’.

O botânico explica que a espécie se adapta muito bem com vegetação de florestas tropicais úmidas. Ela tem uma característica peculiar: quando acaba o período de chuva e o solo fica mais seco, elas perdem as folhas e começam a florescer, liberando finalmente os seus frutos.

A floração da Paineira acontece uma vez ao ano, entre março e junho, início do período de seca em Rondônia. Além das flores, a planta produz matérias-primas, como a paina, uma espécie de algodão que envolve as sementes e pode ser utilizado para isolamento acústico e como enchimento, travesseiros, almofadas, cobertores e colchões.

Espécies como a da Paineira não são comuns na região Norte, mas sim no Sul e Sudeste do Brasil. O professor diz que espécies como essas foram trazidas e preservadas por colonos de estados sulistas e, por lembrar muito da terra natal, elas foram mantidas e preservadas.

Foto: Reprodução/Natureza pelos meus olhos

Mais árvore, menos calor

A presença de árvores faz diferença e é responsável pela melhora da qualidade do ar e também realiza a regulação térmica do ambiente.

Segundo César Guimarães, analista ambiental e doutor em Biologia Experimental, essa percepção de mudanças de temperaturas nas zonas urbanas são chamadas de “Ilhas de Calor”. Esse fenômeno acontece pela falta de árvores.

A grande concentração de asfalto e concreto, acumula mais calor e faz com que a temperatura fique acima da média. A umidade relativa do ar também fica baixa nestas áreas, o analista ressalta que a presença de árvores na zona urbana pode melhorar o conforto térmico por conta da cobertura das folhas. 

Ele diz que uma árvore de cerca de 20 metros quadrados de copa, consegue bombear cerca de mil litros de água para a atmosfera, gerando chuva e produzindo mais oxigênio.

De acordo com César Guimarães, uma árvore pode produzir em média 17 quilos de oxigênio por ano, o suficiente para 10 pessoas por dia.

Preservar para respirar

Para Narciso, além de ajudar na temperatura e na produção de oxigênio, as árvores têm outra grande importância. A preservação e a presença da fauna urbana.

Cidades mais arborizados sempre são beneficiadas com a aparição de aves, pequenos primatas e mamíferos nestas vegetações.

A falta de árvores, não somente na área urbana, mas em todo mundo é prejudicial para os seres vivos. Com a falta destas plantas, a qualidade de vida é reduzida e pode colaborar com o aumento de poluentes como: dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e chuvas ácidas.

A preservação e tombamento de árvores, como a Paineira de Ariquemes é importante para manter os ambientes mais frescos e representa um título de consciência ambiental para a população.

*Por Mateus Santos, da Rede Amazônica RO

Projeto realiza reintrodução de ararajubas em Belém 

0

A ararajuba é tão colorida quanto barulhenta. Penduradas nos galhos, três dessas aves gritam enquanto olham para o biólogo Marcelo Vilarta, alguns metros abaixo, enquanto ele as observa. Também chamada de guarubas, essas parentes de araras e periquitos ostentam plumagem amarela vibrante, com pontas verdes nas asas, que chamam atenção na vegetação amazônica. No entanto, são essas cores que colocam sua população em risco de extinção.

Leia também: Ararajuba: ave candidata a símbolo oficial nacional está ameaçada de extinção

O comércio ilegal de animais de estimação, aliado à perda de habitat, reduziu a população de ararajubas (Guaruba guarouba) a menos de 10 mil espécimes na natureza – um pequeno número para um grande bioma como a Amazônia, o único lugar na Terra onde são encontrados de forma nativa. Eles estão presentes principalmente no estado do Pará, com registros também no Maranhão e no Amazonas.

“Não há ararajubas [na natureza] em nenhum outro lugar do mundo”, diz Vilarta. Ele faz parte de um projeto de reintrodução dessas aves apoiado pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e Biodiversidade (Ideflor-Bio) e pela Fundação Lymington.

O programa começou em 2017, e o primeiro bando de ararajubas foi liberado na natureza em janeiro de 2018, no Parque Estadual do Utinga, em Belém, cidade onde essas aves estão extintas há mais de cem anos. Os curiosos espécimes que observam Vilarta da árvore são três dos 50 que foram soltos aqui até agora.

Foto: Sarah Brown

Capturada por sua plumagem

A ararajuba desempenha um papel importante na dispersão de sementes, especialmente de árvores frutíferas como o murici (Byrsonima crassifolia) e o açaí (Euterpe oleracea), além de outras 21 plantas nativas da Amazônia. Embora bastante comum em cativeiro, a espécie se encontra ameaçada de extinção na natureza. Tanto na Lista Vermelha da IUCN quanto na classificação nacional, a ave é categorizada como vulnerável.

A perda de habitat por desmatamento e o tráfico de animais silvestres continuam a ser ameaças significativas para a ararajuba. O comércio ilegal era uma ameaça maior nas décadas de 1980 e 1990, de acordo com Luís Fábio Silveira, curador de aves do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, que trabalha com o projeto de reintrodução da ararajuba.

Hoje em dia, diz ele, as pessoas criam a ave em cativeiro, e “elas podem ser adquiridos legalmente em todo o mundo” de criadores autorizados.

No entanto, a demanda por aves exóticas e raras como animais de estimação e os lucros que elas trazem mantêm o mercado ilegal ativo na Amazônia.

A compra de aves traficadas pode ser mais barata do que por meio de canais legais, e os traficantes são atraídos pelos altos lucros potenciais. Uma arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus), por exemplo, pode chegar a 90 mil reais. E uma pesquisa online encontrou sites que vendem ararajubas por até 13 mil reais. A maioria das aves traficadas é vendida no Brasil, mas algumas vão para os Estados Unidos e a Europa.

Os traficantes geralmente capturam ararajubas cortando árvores inteiras com ninhos e coletando os filhotes sobreviventes. Essa é uma prática devastadora para a população selvagem. “As aves que sobrevivem não podem se reproduzir  novamente porque seus ninhos foram destruídos”, diz Vilarta. “Eles precisam de cavidades de árvores muito específicas para fazer ninhos, e essas cavidades são muito difíceis de se encontrar.”

Protegendo a espécie

A Fundação Lymington, sediada no estado de São Paulo, tem criado ararajubas com sucesso nos últimos 20 anos para aumentar o número da espécie e, em 2017, uniu-se ao Ideflor-Bio para reintroduzir a ave de volta à natureza, com o apoio do Museu de Zoologia da USP. Belém foi escolhida para a reintrodução para trazer de volta “uma espécie a um lugar onde ela já havia desaparecido”, diz Vilarta.

O Parque Estadual do Utinga, no centro de Belém, é uma unidade de conservação e o maior espaço verde da cidade, com uma área de 1.393 hectares de ambiente amazônico natural amplamente preservado, o habitat preferido da ararajuba. A área é protegida por segurança privada e pela polícia ambiental pública, reduzindo a possibilidade de tráfico e desmatamento.

Os coordenadores do programa montaram dois aviários no meio do parque, onde dez ararajubas estão sendo preparadas para serem reintroduzidos na natureza. A maioria veio do programa de reprodução da Fundação Lymington, mas algumas foram resgatadas do tráfico ou de serem mantidas como animais de estimação. Dentro dos recintos, as ararajubas passam por um período de adaptação e aclimatação que leva pelo menos cinco meses.

Foto: Sarah Brown

O viveiro tem vegetação semelhante à que as ararajubas encontrarão na natureza, e elas são ensinados a reconhecer e consumir alimentos locais. As aves também são treinadas para reconhecer predadores, como jiboias, e para isso Vilarta e sua equipe colocam cobras vivas em segurança perto do recinto. 

Em seguida, os pesquisadores avaliam as reações das ararajubas às cobras, bem como às aves de rapina locais que caçam na área, e dão a elas uma nota de aprovação se emitirem coletivamente gritos de alarme quando os predadores se aproximam.

A educação ambiental para o público em geral, especialmente em escolas e universidades e para os visitantes do parque, também desempenha um papel fundamental na proteção de longo prazo da ave.

As atividades educativas incluem a distribuição de cartilhas sobre a ararajuba para estudantes, a criação de jogos para crianças e a realização de uma exposição sobre a espécie no Parque Porto do Futuro, em Belém.

Até o momento, o programa de reintrodução está funcionando. Um estudo publicado em 2021 sobre o projeto constatou que “as aves liberadas foram muito bem-sucedidas em encontrar e consumir alimentos nativos, fugindo de predadores, e um casal conseguiu se reproduzir com sucesso”.

Apesar do sucesso, a reintrodução de todas as ararajubas, especialmente as capturadas anteriormente, nem sempre é fácil.

No viveiro, uma fêmea de ararajuba se equilibra na rede de malha dentro do recinto e se aproxima de Vilarta, demonstrando pouco medo das pessoas. O biólogo diz que ela já foi mantida como animal de estimação, criada ilegalmente no Pará, antes que o proprietário a entregasse para o projeto. “Você pode até falar com ela e ela responde”, diz ele.

Outra ave se agarra à rede próxima. Vilarta entra na gaiola, recolhe o animal usando uma vara longa e o coloca perto de uma caixa-ninho para protegê-lo do sol escaldante do meio da manhã. Antes de ser resgatado e entregue ao projeto, esse espécime em particular havia sido mantido em uma gaiola por 15 anos e nunca aprendeu a voar.

Vilarta diz que a reintrodução dessas duas aves na natureza será um desafio, se é que será possível, devido à sua incapacidade de se adaptar à vida fora do cativeiro. “Pelo menos esses dois podem ser felizes e seguros aqui”, diz ele.

Atualmente, dez das cinquenta ararajubas selvagens reintroduzidas permanecem no Parque Estadual do Utinga e visitam o recinto diariamente para socializar com as aves em cativeiro e comer nos comedouros que Vilarta deixa para elas. Ele passa todos os dias ao lado dos recintos, monitorando as populações selvagens e em cativeiro.

As outras 40 que foram liberadas anteriormente se dispersaram para outras regiões. Antes de ser solta, cada ararajuba recebe um anel nas pernas e um colar no pescoço para ajudar a manter o controle da população. Os colares de rádio ajudam a monitorar as aves individualmente até certo ponto, mas não são eficazes em longas distâncias.

“Depois que elas são soltas, é difícil mantê-las sob controle”, diz Vilarta. O plano agora é expandir o tamanho dos aviários atuais para acomodar mais ararajubas s e, em seguida, soltar outras 50 na natureza nos próximos dois anos. Os pesquisadores e conservacionistas esperam que essas aves continuem a criar suas próprias populações em Belém e além.

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Mongabay, escrito por Sarah Brown

Boa Vista inicia pesquisa de Origem-Destino Domiciliar

0

A Prefeitura de Boa Vista começa, no dia 24 de julho, a nova etapa do processo de construção do primeiro Plano de Mobilidade Urbana Sustentável (PMUS): a pesquisa de Origem-Destino Domiciliar, ocasião em que pesquisadores cadastrados, treinados e devidamente identificados percorrerão 3 mil domicílios em toda a cidade, das 7h às 19h. A previsão é que os trabalhos encerrem no final de agosto.

O objetivo é coletar informações detalhadas sobre a população, mapeando os padrões de deslocamentos dentro da cidade e viagens. Tais dados serão a base de planejamento, implementação e otimização de políticas públicas relacionadas à mobilidade urbana, como: definição de linhas de ônibus, expansão do sistema, o funcionamento de transporte complementar (como táxi-lotação) e na identificação dos principais corredores caminháveis da cidade.

Além disso, orientam a localização ideal para estações de bicicletas, tanto individuais quanto compartilhadas, e a regulação de outros meios de transporte da capital. Segundo o arquiteto e urbanista Ricardo Freitas, membro do comitê gestor do PMUS, é importante que a população atenda aos pesquisadores quando baterem à porta.

Boa Vista inicia pesquisa de Origem-Destino Domiciliar. Foto: Reprodução/Prefeitura de Boa Vista

PMUS

O Plano de Mobilidade Urbana Sustentável orienta a política de mobilidade de uma cidade e estabelece diretrizes para o sistema de transporte público, incluindo a rede cicloviária. Também mapeia as obras necessárias para melhorar o deslocamento de forma sustentável, considerando a melhor forma de ir e vir das pessoas.

No Brasil, a Lei Federal nº 12.587/2012 instituiu a Política Nacional de Mobilidade Urbana, para que municípios com mais de 20 mil habitantes elaborem seus planos, essenciais para acessar recursos federais para investimentos no setor.

Vídeo raro de doninha amazônica é registrado por produtores de café na Bolívia

0

A Wildlife Conservation Society publicou em suas redes sociais, no dia 18 de julho, imagens raras de um mamífero conhecido popularmente como doninha amazônica ou lobinho d’água (Neogale africana). As imagens foram registradas por um grupo de produtores de café na Bolívia, onde a espécie ainda não havia sido registrada por ninguém até o momento.

Vídeo: Reprodução /Instagram/thewcs.

A espécie é considerada um dos mamíferos menos disponíveis em literaturas da fauna sul-americana, possui  estrutura corporal alongada, crânio  largo com olhos e orelhas pequenos. A cauda é peluda e menor que o corpo. Possuem patas nuas na parte de baixo e apresentam membranas. A doninha amazônica mede aproximadamente de 20 a 30 cm. A pelagem é castanho escuro, castanho claro e bege-amarelado no ventre e na porção posterior dos membros.

No Brasil, segundo consta na revista eletrônica do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), há registros desta espécie em Unidades de Conservação do Acre de acordo com os relatos de moradores locais, no Rio Juruá e no município de Humaitá, no Amazonas, e ainda no Pará.

Curiosidades 

A dieta da doninha é composta basicamente por roedores, mas em caso de falta de suas presas naturais, optam por galinhas, coelhos ou outros animais domésticos em cativeiro. Possuem hábitos tanto diurnos quanto noturnos, tem costume de viver sozinhos, mas podem formar grupos. 

São animais terrestres e aptos para a escalada, indicando hábitos arborícolas. Além disso, como possuem membrana são capazes de nadar. Vivem em floresta úmidas, como a Floresta Amazônica, mas podem ser encontrados em áreas mais secas e abertas.