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Rio Madeira bate sequência de níveis históricos de seca e tem pior julho em quase 60 anos

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O Rio Madeira bateu em julho uma sequência de recordes de seca para o período, com níveis mínimos históricos. No dia 31 de julho, a água baixou a 2,45 metros, o nível mais baixo já registrado no mês de julho desde que o monitoramento passou a ser feito pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), há 57 anos.

A estiagem é o principal motivo dos baixos níveis do rio que corta Porto Velho, que está há mais de dois meses sem chuva significativa. Em todo o mês de julho, a capital de Rondônia teve apenas um dia com chuva, acumulando 3,4 mm, uma medição muito baixa. As informações são do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam).

O Rio Madeira é um dos maiores do mundo e passa por três países: Brasil, Bolívia e Peru. Neste período do ano, o nível da água deveria estar em torno de 5,50 metros. Ou seja, está aproximadamente 3 metros abaixo do que era esperado para julho.

Mas o que causa essa escassez? Segundo o engenheiro hidrólogo e pesquisador em geociências pelo SGB, Marcus Suassuna, dois fatores são determinantes:

  • Oceano Atlântico Norte mais aquecido que o normal, e mais quente que o Atlântico Sul.
  • Fenômeno El Niño, que causa atrasos no início da estação chuvosa e enfraquecimento das chuvas iniciais do período.

Leia também: Portal Amazônia responde: por que o rio Madeira tem este nome?

A cota média se refere ao nível normal de água que o rio atinge ao longo de um período específico, neste caso, durante o período de estiagem. Já a cota mínima é o nível de água mais baixo que o rio atingiu na temporada.

As mínimas históricas foram registradas em um ponto de monitoramento localizado em Porto Velho. A cidade está em estado de emergência, através de decreto, devido ao “cenário de extrema seca”.

Seca do rio Madeira em 2024 — Foto: Edson Gabriel

Níveis críticos

Historicamente, outubro e novembro são os meses em que o rio fica mais seco. Em 2023, a estiagem também causou mínimas históricas para o Madeira. O rio desceu para níveis críticos, até chegar a cota de 1,09 metro. O registro aconteceu no dia 5 de novembro, às 4h, e foi o menor nível que o Madeira já chegou em 57 anos, segundo o SGB.

Bancos de areia e montanhas de pedras surgiram onde antes era possível enxergar somente água. Desde então, especialistas já previam uma seca ainda mais extrema em Rondônia em 2024.

No início de 2024, oito municípios do estado já estavam estão em emergência devido aos efeitos da estiagem. Em meados de julho, o Governo Federal publicou uma portaria que reconhece a mesma situação em outras 12 cidades.

Moradores da comunidade brasileira, situada no Baixo Madeira, já enfrentam as consequências da crise hídrica. Mais de nove famílias estão sem acesso a fontes de água limpa depois que secou o único poço da região, com 8 metros de profundidade, segundo informações da Defesa Civil Municipal.

Defesa Civil leva suprimentos para Comunidade Brasileira, no Baixo Madeira, que enfrenta efeitos da estiagem — Foto: Defesa Civil/Divulgação

Em Terra Firme, também no baixo Madeira, os moradores que antes já precisavam descer uma longa escada para chegar ao rio, agora enfrentam uma caminhada de quase 30 minutos devido ao surgimento de bancos de areia após a seca do Madeira.

Na região não há poços artesianos ou qualquer outro tipo de água tratada, a população depende de bombas de drenagem. Mas, a distância até o afluente e o comprimento limitado da mangueira dificultam esse processo.

Seca do rio Madeira forma bancos de areia próximo a comunidade Terra Firme, no baixo madeira, em Porto Velho — Foto: Maria de Fátima

No início desta semana, a Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA) declarou “situação crítica” de escassez de recursos hídricos no rio Madeira até 30 de novembro.

No entanto, o rio Madeira não é o único afetado. Conforme a Defesa Civil, sete rios apresentam níveis considerados abaixo da cota média e próximos da mínima histórica para a época do ano, conhecida como o verão amazônico:

  • – Candeias
  • – Guaporé
  • – Jamari
  • – Mamoré
  • – Machado
  • – Madeira
  • – Pirarara

De acordo com informações do Censipam, os rios de Rondônia deve atingir um estado crítico e a seca deve ser mais severa neste ano. Além disso, o Atlântico Norte continua aquecendo e isso é motivo de preocupação para os especialistas.

Rio Madeira e geração de energia

Com mais de 3 mil km² de extensão, o Rio Madeira abriga duas das maiores usinas hidrelétricas do Brasil: Jirau e Santo Antônio, que representam cerca de 7% da capacidade de geração do sistema elétrico brasileiro. As duas fazem parte do Sistema Interligado Nacional (SIN) e geram energia para todo país.

A ANA já admitiu a possibilidade de paralisação da hidrelétrica de Santo Antônio por causa da seca. O risco se deve ao funcionamento da usina, em formato de “fio d’água”, que não armazena muita água em seu reservatório e depende do fluxo do rio para manter as turbinas em funcionamento.

Se a vazão do rio for muito baixa, as turbinas ficam impossibilitadas de funcionar para que não sejam danificadas. A hidrelétrica de Jirau, contudo, tem uma flexibilidade maior para operar num espectro de seca maior, por isso ainda não corre risco de paralisação.

Em 2023, a seca extrema na região Norte causou a paralisação da hidrelétrica de Santo Antônio e o desligamento do “Linhão do Madeira”, a mais longa linha de transmissão do mundo, que leva a energia das hidrelétricas Jirau e Santo Antônio para subestação de Araquara (SP).

*Com informações de Rede Amazônica Rondônia

Armadilhas fotográficas são amplamente usadas para monitorar a biodiversidade da Amazônia

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Nas últimas três décadas, as armadilhas fotográficas nos proporcionaram uma rara e inédita visão da vida dos animais. Usadas por organizações de conservação, pesquisadores acadêmicos e projetos de ciência cidadã ao redor do mundo, as armadilhas fotográficas se tornaram referência no monitoramento da biodiversidade e no estudo de espécies pouco vistas na natureza. No entanto, um estudo inédito publicado na revista Remote Sensing in Ecology and Conservation descobriu que as armadilhas fotográficas continuam ausentes de áreas que realmente poderiam se beneficiar delas.

Com a biodiversidade do planeta declinando rapidamente devido às atividades humanas — da caça e a expansão agrícola à construção de estradas e a mineração —, dados de armadilhas fotográficas podem ajudar os conservacionistas a monitorar a saúde, os números e os comportamentos de diferentes espécies da vida selvagem. A ferramenta também pode nos dizer se ações específicas de conservação estão realmente funcionando.

Isso só é válido se implantarmos armadilhas fotográficas nos lugares certos: pontos críticos de biodiversidade que enfrentam as maiores ameaças. No entanto, o novo estudo encontrou uma disparidade enorme entre as localizações dos estudos com armadilhas fotográficas e as regiões com maior risco de extinção de mamíferos, como a Bacia do Congo e a Floresta Amazônica.

Imagem de uma onça-pintada captada na Amazônia peruana. Foto: Zoológico Nacional do Smithsonian. Flickr (CC BY-NC-ND 2.0).

“Mostramos que a pesquisa com armadilhas fotográficas nas últimas duas décadas não acompanhou, de fato, as áreas onde a defaunação [perda de vida selvagem] estava ocorrendo,” diz o coautor do estudo, Badru Mugerwa, do Instituto Leibniz de Pesquisa em Zoológicos e Vida Selvagem, na Alemanha. Em vez disso, os pesquisadores descobriram que a renda do país, a acessibilidade, a riqueza de espécies de mamíferos e o tipo de bioma determinaram a localização desses estudos.

Ahumada, que não participou do estudo, diz que não está surpreso com os resultados.

“Acho que é justo dizer que precisamos de mais armadilhas fotográficas proporcionalmente em áreas com maior biodiversidade,” aponta. “O estudo é um bom ponto de partida para analisar as relações entre a produção científica em diferentes partes do mundo e os fatores que afetam esse processo.”

Disparidades em armadilhas fotográficas


Os pesquisadores examinaram estudos científicos e a chamada literatura cinza — relatórios, documentos de trabalho, documentos governamentais e outros — publicados entre 2000 e 2019 focados em mamíferos terrestres. Em seguida, selecionaram um subconjunto de estudos contendo as palavras-chave “armadilha fotográfica”, “câmera remota” ou “armadilha fotográfica”, e focaram em 2.300 estudos. Então, extraíram manualmente as coordenadas GPS e as mapearam para cada estudo. Os pesquisadores também identificaram dez preditores para determinar quais fatores afetavam a localização das armadilhas fotográficas. Esses fatores incluíram a renda do país, perda de florestas, biomas, relevo e áreas protegidas conforme definido pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza).

“O que realmente se destacou nesta pesquisa é que algumas das áreas que estão sendo atualmente devastadas por atividades humanas — as bacias do Amazonas e do Congo — receberam a menor quantidade de pesquisa com armadilhas fotográficas nas últimas duas décadas,” diz Mugerwa. “Há algo errado nisso.”

Foto cedida por Helena Aguiar-Silva

Mesmo em geografias onde os estudos com armadilhas fotográficas aumentaram nas últimas duas décadas, como no Sudeste Asiático e na Índia, quase dois terços (64,2%) desses estudos foram realizados fora das áreas com os maiores riscos de extinção animal.

A maioria dos estudos com armadilhas fotográficas ocorreu em florestas tropicais e subtropicais úmidas, seguidas por florestas temperadas, pastagens tropicais e biomas mediterrâneos. A maior densidade de armadilhas fotográficas foi encontrada em manguezais, enquanto a menor foi em florestas boreais e na tundra.

Entre 130 países com estudos de armadilhas fotográficas, países de alta renda e de renda média-alta dominaram. Países como os EUA, Brasil, Austrália, Índia, México e China lideraram a lista com o maior número de locais de pesquisa. Em contraste, nações africanas como Mauritânia, República Democrática do Congo, Níger e Angola ficaram atrás, com menos de cinco estudos cada.

Os dados também indicaram que os estudos com armadilhas fotográficas eram mais prováveis de serem realizados na América do Norte, na Europa continental, no Reino Unido e no Japão, enquanto os países africanos tinham algumas das menores chances.

Esta reportagem foi originalmente publicada no site da Mongabay Global em 17/07/2024.

Nos limites de seu ambiente ideal, aves capricham nas escolhas de seus alimentos

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Um estudo publicado em agosto na revista científica Science, envolvendo equipes de 10 países incluindo pesquisadores brasileiros, sugere que ambientes estressantes, como nos extremos de sua distribuição geográfica, podem afetar a estratégia de alimentação das aves.

Os pesquisadores notaram que as aves escolhem frutos de tamanhos diferentes se estiverem no centro ou na borda de seu hábitat, com implicações importantes para as dinâmicas florestais.

Quando estão perto da fronteira de sua distribuição, são mais seletivas e escolhem os maiores frutos que conseguem abocanhar. Uma ave do Cerrado, por exemplo, tende a comer frutos maiores em relação ao tamanho do próprio bico quando vive perto de outro ambiente, como a Amazônia ou a Caatinga. 

As exceções são aquelas aves com dietas mais variadas, incluindo itens como insetos. “Por terem uma fonte alternativa de alimento, essas aves podem adquirir energia por meio de outros recursos em vez de comer os maiores frutos possíveis”, deduz o ecólogo.

Os pesquisadores estudaram 97 espécies de aves e 831 de plantas frutíferas, em 126 localidades dos seis continentes, usando dados de estudos conduzidos em diversos países. As informações incluíam características como o tamanho da abertura do bico da ave, a frequência de alimentação e o tamanho dos frutos ingeridos.

Segundo Martins, é provável que, escolhendo frutos maiores e mais nutritivos, as aves que vivem próximo das bordas de suas distribuições adquiram a energia da qual precisam para lidar com fatores de estresse típicos dessas áreas, que podem variar desde temperaturas desafiadoras a uma menor abundância de alimento disponível. 

O saí-azul (Dacnis cayana) se alimenta de frutos, mas também néctar e insetos. Foto: João Victor Cardoso Fernandes

A quantidade de predadores e a competição entre aves por alimentos também podem aumentar para algumas espécies perto das bordas, já que a composição da fauna tende a mudar na transição entre hábitats.

No entanto, ela ressalta que a distribuição é um dado impreciso para aves. “É comum encontrar espécies fora da distribuição antes atribuída a elas, o que acaba ampliando a área de ocorrência conhecida”, relata. Outro problema é que a classificação das aves nem sempre é bem resolvida – duas populações podem ser vistas como espécies separadas ou uma única, conforme a definição aplicada por cada pesquisador.

A bióloga considera que estudos com bancos de dados são importantes e podem permitir novas sínteses de processos naturais. “No entanto, é importante fazer trabalho de campo para aumentar a quantidade de informações e melhorar sua qualidade.”

Migração das plantas

Segundo a bióloga Carine Emer, pesquisadora do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro e do Instituto Juruá, na Amazônia, e coautora do artigo, o comportamento das aves pode ter implicações ecológicas importantes.

O sabiá-do-campo (Mimus saturninus) habita áreas de campo e urbanas em boa parte do país. Rodrigo Missano / Unesp

Segundo ela, ao passar a selecionar frutos maiores, as aves podem acabar deixando de lado as espécies que produzem frutos menores, que também são importantes na composição das florestas e perdem a carona que pode levá-las para longe da árvore-mãe. 

Entre as funções ecológicas desempenhadas pelas aves está essa dispersão de sementes, depositadas com as fezes depois de digeridos os frutos. 

Se essa parceria entre plantas e dispersores falha, algumas plantas podem não conseguir se estabelecer em outras regiões, o que também pode prejudicar a recuperação de áreas degradadas que dependem do aporte de sementes a partir dos locais onde a biodiversidade se mantém.

Outro fator que afeta a dispersão de sementes são as quedas acentuadas da população de animais, processo chamado de defaunação. A redução mundial de dispersores de sementes já diminuiu a capacidade das plantas de se adaptar às mudanças climáticas em 60%, segundo outro artigo publicado na revista Science em janeiro de 2022. 

Isso acontece em grande parte porque os animais são responsáveis pelo transporte das sementes de 90% das espécies de árvores das florestas tropicais.

Conteúdo publicado originalmente por Revista FAPESP*.

Sangue de dragão: conheça a resina vermelha com propriedades anti-inflamatórias

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Você já ouviu falar sobre o sangue de dragão? Com propriedades, comprovadas clinicamente como antiinflamatório, cicatrizante, inibidor das células cancerígenas, antimicótica e antiviral, o sangue de dragão, também conhecido como sangue de grado, tem atraído a atenção dos extrativistas da calha do rio Madeira. Para incentivar essa nova fonte de renda no campo, o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam) acompanha o potencial da resina e capacita os trabalhadores a desenvolverem a exploração sustentável do produto florestal.

O sangue de dragão (Croton lechleri) é uma resina vermelha, extraída da árvore croton lechleri, muito utilizada na indústria cosmética devido aos benefícios terapêuticos que oferece. A substância é amplamente explorada no Peru e na Colômbia, pois a árvore é abundante nas regiões amazônicas desses países. No Brasil, a espécie é encontrada nos estados do Acre e Rondônia, em áreas próximas aos rios e de florestas secundárias, assim como no Amazonas.

Em território amazonense, a extração do látex dessa árvore pode representar uma importante atividade econômica para as comunidades de Manicoré e Humaitá (a 332 e 590 quilômetros da capital, respectivamente). Nos municípios, há grande potencialidade a ser explorada, conforme o chefe do Departamento de Assistência Técnica e Extensão Florestal (Datef/Idam), Luiz Rocha.

Principais características

O sangue de grado pertence ao gênero Croton da família Euphorbiaceae. Esta família botânica possui espécies de grande importância econômica como, por exemplo, a seringueira (Hevea spp.) e a mandioca (Manihot esculenta). A primeira produz um látex que é usado para fazer borracha. Já a mandioca ou macaxeira é
uma das principais fontes de carboidratos para as comunidades rurais na Amazônia.

Algumas espécies desta família têm despertado interesse pela presença de compostos químicos chamados diterpenóides, que possuem atividades promotoras de tumor. Vários outros terpenóides também são encontrados no látex das euforbiáceas, bem como em diferentes partes das plantas. O Croton lechleri é uma espécie originária da América do Sul, que habita especialmente os bosques úmidos e é utilizado devido suas propriedades antiinflamatórias, cicatrizantes e no tratamento da anemia. No Peru e Bolívia é conhecido como: “sangre de grado”, “sangre de dragon” e “sangre de draco”. Em inglês é denominada “dragon’s blood”. No Brasil é conhecido por “sangue de grado”, “sangue de dragão”, “sangue de galo” e “sangue de pau”.

Foto: Divulgação/Idam

Uso

O látex de sangue de grado é muito utilizado por populações indígenas da região Amazônica devido suas
propriedades medicinais, como fazem os índios Yaga do Amazonas. Também é largamente utilizada por
populações indígenas e não indígenas do Peru.

Atualmente existem vários medicamentos que são preparados à base do látex de sangue de grado, sendo
utilizados principalmente no tratamento de úlceras e gastrite, bem como no tratamento de pacientes
portadores de AIDS com a finalidade de aumentar a resistência imunológica do organismo. Os principais componentes ativos encontrados no látex são os diterpenos, alcalóides e compostos fenólicos. O alcalóide taspina promove a cicatrização de tecidos celulares enquanto a dimetilcedruzina aumenta a imunidade do organismo através do estimulo à produção de glóbulos brancos.

Expectativa

É esperado que a descoberta da capacidade da região atraia os institutos científicos para realização de estudos, que possam mapear e estimar a capacidade de exploração nos municípios. De antemão, o Idam tem atuado na capacitação dos trabalhadores para aprimorar as técnicas utilizadas por eles, pois muitos atuam hoje na extração da copaíba.

Com informações do IDAM e IPAM*

Leia o artigo completo Guia para extração de Sangue de Grado AQUI.

Professor da UFMA explica o que é e os principais cuidados contra a febre do oropouche

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A Febre do Oropouche (FO) tem ganhado destaque como uma preocupação crescente em várias regiões da América Central e do SulDe acordo com o Ministério da Saúde, a FO é uma doença provocada por um arbovírus (vírus transmitido por artrópodes) do gênero Orthobunyavirus, pertencente à família Peribunyaviridae.

O vírus Oropouche (OROV) foi identificado pela primeira vez no Brasil, em 1960, em uma amostra de sangue de uma preguiça (Bradypus tridactylus) capturada durante a construção da rodovia Belém-Brasília. Desde então, casos isolados e surtos foram registrados no Brasil, especialmente nos estados da região Amazônica. Além disso, surgiram relatos de casos e surtos em outros países da América Central e do Sul, como Panamá, Argentina, Bolívia, Equador, Peru e Venezuela.

A febre do oropouche se manifesta com sintomas como febre alta, dores de cabeça intensas, dores musculares e articulares, além de sintomas gastrointestinais. A doença pode causar grande desconforto e incapacidade temporária, impactando significativamente a qualidade de vida dos afetados.

Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2024, foram registrados 7.236 casos de febre do oropouche em vinte estados brasileiros. A maior parte dos casos foi registrada no Amazonas e Rondônia. No Estado do Maranhão, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) confirmou dezoito casos de FO, sendo um em Açailândia, um em Pinheiro, um em Santa Rita, dois em São Luís, quatro em Bacabeira e nove em Cidelândia.

A Universidade Federal do Maranhão (UFMA) tem se destacado na luta contra a febre do oropouche, informando a comunidade sobre os riscos e as medidas necessárias para evitar a contaminação. Para uma compreensão abrangente dos cuidados necessários e das formas de transmissão, o mestre em Entomologia e doutor em Zoologia, professor da UFMA José Manuel Macário Rebêlo, responde a algumas perguntas. Confira a entrevista abaixo:

febre do oropouche
Foto: Gato Júnior / Rede Amazônica
  • Como se contrai a febre do oropouche?

José Manuel Macário Rebêlo – O meio de transmissão natural é pela picada de fêmeas de maruins da espécie Culicoides paraensis (insetos da ordem dos dípteros e da família Ceratopogonidae). Esses insetos são muito pequenos, quando pousam em nossa pele para infligir a picada, parece um grão de pólvora, por isso, comumente são chamados de mosquito-pólvora. Como são muito frequentes nos manguezais, são conhecidos também pelo desígnio mosquito-do-mangue.

  • Existe transmissão alternativa da febre do oropouche? 

De acordo com o Ministério da Saúde há a suspeita de que o vírus seja passado da gestante para o feto, por isso, é preciso manter a vigilância para a possibilidade de transmissão vertical do vírus Oropouche. Também há possibilidade de o vírus ser transmitido por outros maruins, além de Culicoides paraensis, e por outros insetos, como os mosquitos e pernilongos, mas isso só vai ser confirmado em pesquisas futuras.

  • Quais são os principais sintomas da doença?

Os sintomas são parecidos com os de outras doenças transmitidas por mosquitos como zika virus e febre chikungunya ou seja: febre de início repentino, dor de cabeça, dores musculares e nas articulações, além de tontura, dor na parte posterior dos olhos, calafrios, náuseas e vômitos. Na maioria dos casos, manifestações, como febre e dor de cabeça persistem por duas semanas. Pode ocorrer sintomas mais próprios e, eventualmente, pode ocorrer a evolução de problemas  mais  graves como  meningites ou meningocefalites.

  • Há exames que detectam a doença?

O diagnóstico da febre do oropouche é clínico, epidemiológico e laboratorial. Na fase inicial da doença, o exame PCR (método de biologia molecular) é o mais indicado. Todo caso com diagnóstico de infecção pelo OROV deve ser notificado.

  • Qual o tratamento da febre do oropouche?

Como outras arboviroses, não há tratamento para a doença. A prevenção é feita mediante a proteção contra o vetor (os maruins).

  • Quem é o reservatório?

No ciclo silvestre, animais como bichos-preguiça e macacos infectados funcionam com fonte da infecção para o vetor, enquanto, no ciclo urbano, os seres humanos são os mais infectados.

Foto: Flávio Carvalho/WMP Brasil/Fiocruz

Curiosidade!

Essa arbovirose ou doença transmitida por vetores, foi descoberta na década de 60, mas ainda é pouco estudada no Brasil. A notificação epidemiológica dessa doença é muito difícil de ser demonstrada, pois a falta de diagnóstico preciso em hospitais fazem com que os casos sejam subnotificados, por isso foi negligenciada por anos. Agora está requerendo uma atenção especial, devido aos surtos isolados periódicos em populações humanas, principalmente, na região Norte (Pará, Amazonas, Tocantins, Acre, Amapá, entre outros) e Mato Grosso. Recentemente, apareceram casos espalhados pelo Maranhão.

  • Quais são os principais métodos de prevenção que a população pode adotar para evitar a propagação dessa doença?

Como a doença é transmitida por maruins, o ideal é manter-se longe deles. Evitar o contato com áreas de grandes infestações (brejos, alagadiços, manguezal etc) e minimizar a exposição às picadas. Como medidas paliativas individuais, as pessoas podem usar repelentes, os mesmos indicados para os mosquitos e pernilongos, e seguir as recomendações do fabricante. Contudo é indicada a limpeza de terrenos e de locais de criação de animais domésticos, como estábulos e currais, nos arredores das casas, recolhimento de folhas e frutos que caem no solo e fezes de animais. Os maruins podem procriar nesses ambientes úmidos e ricos em matéria orgânica, além de corpos d’água próximos (brejos, alagadiços, manguezal).

  • Qual é a importância da educação pública e da conscientização para prevenir a propagação da doença?

O controle de maruins é um grande desafio, e diversos métodos são empregados. Os inseticidas nem sempre são eficazes para controlar maruins. Aqueles que são altamente tóxicos não são mais recomendados. A aplicação de substâncias com baixa toxicidade (menos prejudiciais ao meio ambiente), incluindo os piretróides, derivados de produtos vegetais, mesmo que funcionem para mosquitos e pernilongos, parecem que não reduzem a abundância de maruins.

O manejo ambiental integrado parece que é uma boa opção. Pode ser adotado em áreas com infestações de maruins. Conforme o estudo executado por pesquisadores do LEV-UFMA, o processo de manejo envolve limpeza, retirada da folhagem do solo, poda de árvores para aumentar a penetração da luz, retirada de lixo e redução do aporte de matéria orgânica próximo às casas. Este método serve para reduzir ou eliminar potenciais áreas de reprodução, diminuindo o assédio de insetos aos moradores. A gestão ambiental é um processo barato e eficaz que pode e deve ser conduzido pelos habitantes locais das áreas focais. Essa estratégia de controle vetorial é incentivada pelo Ministério da Saúde, mas em conjunto com a vigilância epidemiológica e o controle entomológico (vetorial). No entanto todas as medidas de controle devem ser implementadas com cautela e requerem a integração de esforços por parte de vários setores governamentais (por exemplo, Secretaria do Meio Ambiente, Agricultura, Educação e Saúde), universidades e membros da população afetada. A pesquisa da doutora Bandeira (LEV-UFMA) sobre a influência do manejo ambiental nos Lençóis Maranhenses demonstrou que é possível reduzir a população de maruins e outros insetos vetores que se criam nos arredores das casas, adotando a limpeza como uma medida de controle vetorial. Abrigos ativos de animais domésticos, como chiqueiro, galinheiro, estábulo e curral são fortes atrativos para os maruins. A presença de animais domésticos e abrigos de animais, e a falta de gestão ambiental (limpeza) podem contribuir para uma maior infestação desses insetos indesejados. Então é preciso ficar vigilante quanto a esses aspectos. Atividades de educação ambiental e de saúde são muito úteis para ajudar as pessoas a se livrarem dos maruins e outros insetos.

  • Maruins no Maranhão?

As nossas pesquisas entomológicas realizadas no Estado do Maranhão resultaram no encontro de mais de quareta espécies de maruins, inclusive o Culicoides paraensis (o principal vetor da febre do oroupoche). Porém, nem em todos os lugares onde ocorreram casos de febre do oropouche, essa espécie está presente. As vezes devido à mobilidade das pessoas, um paciente pode adquirir o vírus num lugar e adoecer em outro. Essa é uma informação muito importante para a vigilância epidemiológica. É preciso procurar o vetor onde o paciente mora, se não encontrar, faz-se a busca por onde ele andou. Por outro lado, as pesquisas não devem ser direcionadas apenas para o Culicoides paraensis, é preciso procurar outras espécies de maruins e também os mosquitos culicídeos, pois Culicoides paraensis não é um maruim comum, não está em todos os locais de foco da doença.

Atenção!

A febre de oropouche é um problema de saúde pública, e  deve ser mais  estudada para  que  não  seja  confundida  com  outros  tipos  de doenças virais. Precisamos implantar urgentemente laboratórios com infraestrutura adequada e recursos humanos especializados.

Cinco lugares para observar a Colômbia do alto

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Já pensou conhecer lugares que estão nas alturas? A Colômbia é um país lindo e fica ainda melhor se você tiver que se esforçar um pouco para vê-lo de uma nova perspectiva, como por exemplo, de cima.

Com montanhas sagradas, rochas incomuns e passarelas vertiginosas ao ar livre o país possui várias opções de locais para os visitantes mais aventureiros, há sempre um novo desafio a ser conquistado na Colômbia, veja quais você pode explorar:

1. Monserrate, Bogotá

A montanha de Monserrate é o marco mais famoso de Bogotá e uma fonte de peregrinação. Você pode pegar o teleférico ou o Funicular da montanha até seu pico vertiginoso de 3.152 m acima do nível do mar ou fazer como um peregrino e caminhar (ou correr, como atletas colombianos em treinamento). A subida em degraus íngremes de pedra sobe cerca de 600m e leva cerca de uma hora, embora a alta altitude signifique que é melhor ir devagar. No topo, você encontrará a Igreja de Monserrate, além de cafés e restaurantes, bem como beija-flores coloridos e uma vista deslumbrante.

Leia também: 5 lugares mais assombrados da Colômbia para corajosos

Foto: Reprodução/Artte sano

2. El Peñón, Guatapé

A Rocha Guatapé (conhecida também como La Piedra ou A Pedra) é um monumento nacional, adorado pelos povos indígenas que costumavam habitar a área. Esta enorme rocha foi escalada pela primeira vez em 1954, por três homens que precisaram de cinco dias para escalá-la. Hoje em dia, você pode subir os degraus, encravados em uma fenda na superfície da rocha, em menos de uma hora e aproveitar as vistas do reservatório ao redor e suas ilhas. El Peñón fica ao lado da cidade de Guatapé, Antioquia, a cerca de duas horas de ônibus de Medellín.

Leia também: Cinco festivais curiosos que acontecem na Colômbia

Foto: Reprodução/

3. La Torre Panorâmica de Chipre, Manizales

O poeta chileno Pablo Neruda certa vez descreveu Manizales como ‘la fabrica de atardeceres’ (a fábrica do pôr do sol), mas na verdade é melhor subir na Torre Panorâmica da cidade (também conhecida como Torre al Cielo ou Sky Tower) durante o dia, para poder ver o vulcão Ruiz coberto de neve e a montanha Santa Isabel. A torre, no bairro Chipre, tem um balanço extremo, bar, restaurante e jogos interativos, mas o melhor de tudo são as vistas de sua passarela a céu aberto para o vale, cerca de 300 metros abaixo.

Foto: Reprodução/Prefeitura de Alcaldía

4. La Popa, Cartagena

A montanha La Popa e o Convento Santa Cruz de la Popa, de 400 anos, dominam a cidade costeira de Cartagena. O pico pode estar a apenas 150 metros acima do nível do mar , mas sua altura e selva espessa protegeram o convento durante toda a turbulenta história da cidade e, todos os anos, centenas de peregrinos descem até ele para uma grande procissão. Embora os peregrinos prefiram escalar La Popa, a maioria dos visitantes evita o calor e as dificuldades do caminho e pega um táxi até o cume, visitando o convento e apreciando vistas gloriosas da cidade.

Foto: Reprodução/Roger W

5. O Pão de Açúcar, La Guajira

El Pilon de Azucar, em La Guajira, oferece uma vista deslumbrante do litoral caribenho da Colômbia com ondas quebrando, areias vermelho-douradas e deserto que se estende até a Venezuela. Esta rocha branca fica a cerca de uma hora de caminhada da vila de Cabo de la Vela e é conhecida pelos indígenas locais como Kamaici (Senhor das coisas do mar). É uma curta subida até o topo, onde há uma imagem da Virgem de Fátima e vistas de tirar o fôlego das praias quase desertas abaixo, em uma região repleta de pássaros.

Foto: Reprodução/Tanenhause

Isabelle Nogueira fala sobre o Dia Internacional dos povos indígenas

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No dia 9 de agosto, é comemorado o Dia Internacional dos Povos Indígenas, uma data vital para reconhecer a rica diversidade cultural e histórica dos povos indígenas globalmente. Este dia não é apenas uma celebração, mas uma oportunidade crucial para refletirmos sobre os desafios enfrentados por essas comunidades e reafirmarmos nosso compromisso com seus direitos e a preservação de suas culturas.

Isabelle Nogueira, ex-BBB e defensora dos direitos sociais, ressalta a relevância deste dia.

Foto: Arquivo Pessoal

Em Manaus, capital do Amazonas, onde a presença indígena é profundamente enraizada na vida local, a importância desta data é ainda mais significativa. A região amazônica, berço de diversas etnias indígenas, é um testemunho vivo da importância de manter vivas essas culturas e saberes tradicionais que são essenciais para a preservação do meio ambiente e da biodiversidade.

Celebrar esta data é um passo importante para fortalecer as políticas públicas que garantam os direitos dos povos indígenas e a conservação de seus territórios. É um chamado para a ação e para a construção de um futuro mais inclusivo e sustentável.

Dia dos Povos Indígenas: gramática resgata língua Xipaya em aldeias do Médio Xingu

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Úna xíta atuhu anu. A frase, que significa ‘Fui eu que assei o peixe‘, consta, entre outras, no livro Xipai kaména da usetúpa – Sedja kaména bahu de anu (fala dos nossos pais e das nossas mães, ancestrais Xipai), gramática pedagógica do povo Xipaya. A publicação é resultado de ações da Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte, e busca valorizar as culturas, resgatar línguas indígenas e documentar processos próprios de ensino e aprendizagem das etnias que vivem na área de influência da usina. 

Atualmente, a obra é utilizada por professores indígenas para ensinar a língua mãe para alunos de escolas das aldeias Tukamã, Tukaya e Kujubim, localizadas nas Terras Indígenas Xipaya e Cachoeira Seca, em Altamira.

Para elaborar a gramática, a companhia promoveu oficinas, de 2016 a 2017, com os anciões – como se referem aos indígenas mais velhos – que ajudaram os pesquisadores a desenvolverem os fonemas e construírem uma espécie de dicionário com palavras e frases faladas pelo povo Xipaya. 

A indígena Yawaidu Xipaya, moradora da aldeia Kujubim e considerada a mais velha das falantes fluentes da língua foi fundamental para o resgate do idioma. “Hoje, nós já estamos passando para o bisneto dela, meu filho. Nós vamos nas escolas, colocamos as músicas para serem cantadas, fazemos jogos na língua para testar os conhecimentos”, disse, orgulhoso, Antônio Xipaya, neto de Yawaidu.

Segundo Antônio, no final do século passado, a língua xipaya ficou adormecida, sendo considerada extinta por muitos.

A gramática xipaia reúne a maneira como o idioma se organiza, em sua forma falada e escrita e contém ilustrações feitas pelos próprios indígenas. Os trabalhos foram conduzidos pela linguista Carmem Lúcia Rodrigues, professora da Universidade Federal do Pará e pesquisadora da língua xipaya desde 1988.

Neste Dia Internacional dos Povos Indígenas, que representam 6% da população mundial, segundo a Organização das Nações Unidas, trabalhos como esses ficam como legado, para salvaguardar tradições e contar a história do Brasil. A influência indígena está presente em muitos aspectos da cultura brasileira, desde a culinária até a medicina tradicional, passando por nomes de lugares e expressões linguísticas.

Programa de Educação Escolar Indígena

O Programa de Educação Escolar Indígena (PEEI) faz parte do Plano Básico Ambiental do Componente Indígena (PBA-CI) da Usina Hidrelétrica Belo Monte e apoia os órgãos educacionais na implantação de um sistema que atenda às especificidades das comunidades indígenas, promovendo a readequação dos serviços de educação para a construção de um modelo de ensino voltado aos interesses das nove etnias da área de abrangência da Usina – Arara, Parakanã, Xikrin, Araweté, Assurini, Juruna, Kuruaya, Kayapó e Xipaya.

A gramática xipaya faz parte de uma série de 36 publicações viabilizadas pelo programa, entre livros de alfabetização, sobre animais e plantas, além de dicionários, cartilhas e jogos didáticos. Financiado pela Norte Energia, o programa já disponibilizou mais de 26 mil exemplares de material didático às secretarias municipais de educação dos municípios da região para utilização nas 68 unidades educacionais indígenas presentes no território indígena.

Foto: Divulgação/Norte Energia

“As ações do Programa de Educação Escolar Indígena potencializam o fortalecimento da identidade e cultura indígena, somando, para além das melhorias de infraestrutura implementadas no território, produção de materiais didáticos diversos, inclusive na língua indígena, contribuindo, entre outras coisas, para o resgate das línguas xipaya, juruna e kuruaya”, explica Sabrina Miranda Brito, gerente socioambiental do componente indígena.

Contexto histórico

Segundo a linguista Carmen Rodrigues, no final do século passado, a língua Xipaya foi considerada extinta. Isso se deu ao fato de que não se tinha conhecimento de falantes da língua e, também, de indígenas desta etnia. Porém, em 1994, foi criada a primeira aldeia Xipaya, a Tukamã, reconhecida apenas 4 anos depois. Em 2006, a aldeia Tukaya também foi reconhecida e, a partir daí, segue-se a vinda de grupos familiares xipaya para os antigos territórios tradicionais, caso do grupo da aldeia Kujubim. 

No início deste século, começou uma mobilização desse povo no sentido de valorizar e fortalecer seu idioma e sua cultura. Assim surgiu a necessidade de se ter um material comum que possibilitasse alavancar o ensino e a aprendizagem do xipaya.

*Com informações da Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte.

Aquecimento global deve potencializar endemias como a do Oropouche, diz patologista 

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Em 1º de agosto, a Organização Pan-americana da Saúde (Opas) emitiu um alerta epidemiológico sobre o aumento no número de casos notificados da Febre Oropouche em 2024. A organização internacional atribuiu tal crescimento às mudanças climáticas, ao desmatamento e à urbanização desordenada no Brasil e em alguns locais da América Central e do Sul.

Apenas em nosso País, em Boletim Epidemiológico de julho, o Ministério da Saúde informou a ocorrência de 6.976 casos de Febre Oropouche no Brasil, um aumento de quase 12% em relação ao ano anterior. Endêmica na região amazônica, a doença também teve casos confirmados entre homens e mulheres de diferentes faixas etárias, nas regiões Nordeste (Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco e Piauí), Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro) e Sul (Santa Catarina). Novos casos aguardam diagnóstico.

Especialista responsável por diagnosticar o primeiro caso em feto e de relatá-lo em reunião do Ministério da Saúde com a OPAS na última semana, o médico patologista da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) Dr. Juarez Quaresma relaciona às mudanças climáticas a disseminação do Maruim, Puim ou Mosquito-pólvora(Culicoides paraensis), pequeno mosquito comum em árvores frutíferas e que é transmissor do vírus Orthobunyavirus oropoucheense (OROV), causador da Febre Oropouche.

“Esses mosquitos são de zonas tropicais, acostumados a climas quentes e úmidos. Com o aquecimento global, eles estão cada vez mais se espalhando”, afirma o patologista em arboviroses, doenças causadas por vírus transmitidos por artrópodes como os mosquitos, e que atua como pesquisador do Instituto Evandro Chagas e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Universidade Estadual do Pará (UEPA).

Dados recentes do Serviço de Alterações Climáticas Copernicus (C3S) da União Europeia informam que julho de 2024 foi o segundo julho mais quente já registrado desde o período pré-industrial, ou seja, antes do século XIX.

Quaresma também detalha que o OROV foi isolado pela primeira vez no Brasil em 1960 a partir de amostra de sangue de um bicho-preguiça, durante a construção da rodovia Belém-Brasília para a qual foi realizado um desmatamento de parte das Regiões Centro-Oeste e Norte. Em seu ciclo na natureza, o vírus é comum em animais silvestres que atuam como hospedeiros. Em seu ciclo urbano, o humano se torna seu hospedeiro. Desde àquela década, já haviam sido relatados casos isolados e surtos em Estados da região Amazônica, mas agora a doença tomou uma proporção extra-Amazônia.

Foto: Reprodução/Bruna Lais Sena do Nascimento

Sintomas e tratamento

Entre os sinais e sintomas característicos da Febre Oropouche, estão febre, dor de cabeça intensa, exantema (vermelhidão no corpo), prostração e dor nas articulações, tornando-a semelhante à Dengue. “No entanto, diferente da Dengue que a dor de cabeça é atrás do olho, na Febre Oropouche ela afeta toda a cabeça e pode inflamar as meninges, o que pode causar a morte.”, explica ele.

O Ministério da Saúde orienta que as pessoas evitem o contato com áreas de ocorrência e/ou minimizam a exposição às picadas dos mosquitos vetores, usando roupas que cubram a maior parte do corpo e repelente nas áreas expostas da pele, também que sejam limpos terrenos e locais de criação de animais, recolhidas folhas e frutos que caem no solo e usem telas de malha fina em portas e janelas. Ainda não existe tratamento específico, sendo recomendado às pessoas diagnosticadas com Febre Oropouche o repouso e o acompanhamento médico.

Atuação do patologista

Entre as ações tomadas pelo Ministério da Saúde está a descentralização do diagnóstico do vírus Oropouche para os Laboratórios Centrais (Lacens) de Saúde Pública, que recebem para análise amostras de sangue e tecido orgânico e podem também encaminhá-lo para centros de referência como o Instituto Evandro Chagas. Quaresma conta que nesses laboratórios, os patologistas realizam exames de biologia molecular, de imunohistoquímica e correlacionam as lesões nos órgãos à determinada doença, sendo preponderante seu papel no diagnóstico.

O especialista relata que o caso diagnosticado em um feto, que até se desenvolvia de forma saudável até o sétimo mês de gestação, foi transmitido pela mãe a partir de infecção pelo OROV e ocorreu em Recife (PE), portanto, fora da região Amazônica.

“A gestante teve dois episódios de quadros febris e depois não sentiu mais o feto se mexer. Com a verificação de que o feto estava morto, o parto foi induzido e tecidos do cérebro, baço, rim, fígado, coração e pulmão me foram encaminhados para análise. O pulmão e o rim estavam bastante comprometidos e o cérebro apresentava edemas, tinha bastante água, uma das características da Febre Oropouche mais grave”, relata ele, que convenceu representantes do Ministério da Saúde e a OPAS do nexo causal entre a infecção pelo vírus e a morte fetal.

Nesse sentido, para ele, a SBP tem protagonismo ao realizar ações para qualificar exames realizados por médicos patologistas e laboratórios de todo o Brasil, informando e formando os especialistas que podem atuar no diagnóstico das arboviroses cujo crescimento no número de casos é uma tendência com o aquecimento global. “Também podemos atuar fundamentalmente no diálogo com gestores públicos para definir estratégias sanitárias, sem que para isso tenhamos que alarmar a população”, conclui.

Projeto utiliza pigmentos naturais de frutos da região em aulas de química

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Inovar no ensino da química foi objetivo de um projeto desenvolvido com estudantes da Escola Estadual Vicente Telles de Souza, no bairro São Geraldo, em Manaus, que identificou no cará-roxo, pitaya e urucum, frutos da região amazônica, pigmentos naturais indicadores de pH (substâncias orgânicas, ácidas ou básicas, que mudam de cor em função do pH da solução) como recurso didático para auxiliar no processo de ensino-aprendizagem da disciplina.

Intitulado ‘Química das cores naturais, estudo e aplicação de frutas da Amazônia como indicadores de pH’, o projeto recebeu fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), no âmbito do Programa Ciência na Escola (PCE), sob a coordenação da professora da Secretaria de Estado de Educação e Desporto, Persiely Pires.

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Fotos: Divulgação / Fapeam

Doutora em Química, Persiely destaca que o projeto buscou trazer melhorias no ensino de química, por meio da facilitação do acesso aos recursos da região e dos conceitos de equilíbrio químico, pH, titulação ácido-base, Princípio de Le Chatelier, conhecimentos de botânica, além da valorização da fruticultura regional. Os frutos utilizados na pesquisa foram coletados pelos bolsistas que residem nas regiões de ramais e sítios da cidade.

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Fotos: Divulgação / Fapeam

PCE

Pioneiro no Brasil, o PCE é uma ação idealizada pela Fapeam com objetivo de apoiar a participação de professores e estudantes do 5º ao 9º ano do ensino fundamental, da 1ª à 3ª série do ensino médio e suas modalidades: educação de jovens e adultos, educação escolar indígena, atendimento educacional específico e Projeto Avançar, em projetos de pesquisa a serem desenvolvidos em escolas públicas estaduais sediadas no Amazonas e municipais de Manaus e Tefé.

Revista PCE

A história do PCE ao longo de duas décadas e as experiências de professores e estudantes estão registradas em edição especial da revista comemorativa do PCE 20 anos lançada pelo Governo do Amazonas, por meio da Fapeam.

Com o tema principal ‘A chama revolucionária da ciência na educação básica’, a revista, disponível também na versão digital, apresenta dados históricos relacionados ao programa, projetos desenvolvidos no estado e depoimentos de como o PCE tem transformado vidas e aberto possibilidades para futuras gerações de cientistas e pesquisadores no Amazonas.

*Mais informações na Revista FAPEAM