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Exploração madeireira no Acre cai 60% em 2023, aponta estudo da Simex

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Toras de madeira em pátio de serraria. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A exploração madeireira no Acre passou por uma transformação entre agosto de 2022 e julho de 2023, registrando uma redução de 60% na área explorada em comparação ao período anterior. Dados publicados hoje, 19, pelo Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (Simex) apontam que 10.359 hectares de floresta foram submetidos à atividade madeireira no último ciclo, uma queda considerável se comparada aos 25.667 hectares mapeados no ano anterior. 

Este declínio acentuado corresponde a cerca de 15 mil hectares a menos de exploração. Em 2022, a exploração madeireira havia mais que dobrado em relação a 2021, alcançando um pico de 25.667 hectares. Contudo, 2023 marca uma reversão significativa dessa tendência, possivelmente devido à forte retração do mercado consumidor nacional e internacional, ou em resposta a regulamentações mais restritivas e uma pressão global por práticas mais sustentáveis. 

A análise da dinâmica econômica, elaborada pelo Imaflora com informações da plataforma TimberFlow, também sugere uma retração no mercado madeireiro, evidenciada pela diminuição nas transações de madeira em tora registradas nos sistemas oficiais de controle para o mesmo período e analisadas pela plataforma Timberflow que apontam redução de 8% que os valores registrados em 2021-2022. 

Concentração geográfica 

Apesar da redução na exploração, a atividade permaneceu fortemente concentrada em três municípios: Feijó, Rio Branco e Tarauacá. De acordo com Júlia Niero Costa, analista de certificação e geotecnologias do Imaflora, os dois primeiros municípios são os principais polos do setor madeireiro no Acre e ao lado do terceiro citado são responsáveis por 90% da exploração autorizada.

Feijó, que liderou em 2022 com 9.505 hectares explorados, manteve-se no topo da lista em 2023, ainda que com uma área significativamente menor (5.189 ha). A persistência desses municípios como principais centros de exploração sugere desafios e oportunidades locais que devem ser explorados em políticas públicas específicas. 

Legalidade e conformidade 

Em um cenário onde a exploração ilegal de madeira é uma preocupação constante na Amazônia, os dados de 2023 trazem uma boa notícia: 100% da exploração mapeada no Acre estava devidamente autorizada. Em comparação, em 2022, embora a maior parte da exploração (98%) também fosse autorizada, ainda havia 2% (554 hectares) de exploração não autorizada, evidenciando uma melhora na observação das conformidades legais. 

De acordo com Leonardo Sobral, diretor de Cadeias Florestais do Imaflora, esse avanço reforça o papel das autoridades locais como agentes de um controle rigoroso e legalmente responsável sobre a exploração de recursos naturais. “A ausência completa de atividades ilegais de exploração madeireira em Terras Indígenas e Unidades de Conservação em 2023 sugere que as estratégias de monitoramento e fiscalização estão funcionando conforme o planejado”, argumenta. 

Essa proteção efetiva de áreas protegidas é particularmente significativa no contexto da Amazônia, onde a exploração ilegal frequentemente ameaça Terras Indígenas e Unidades de Conservação. O caso do Acre contrasta positivamente com outras regiões da Amazônia brasileira, onde as invasões e a exploração ilegal são problemas recorrentes.  

Segundo Júlia, os resultados apontam que 93% das atividades foram realizadas em imóveis rurais privados. “Este dado, que se mantém consistente em relação a 2022, quando a mesma proporção foi observada, indica que a exploração madeireira no estado está predominantemente concentrada em áreas de propriedade particular”, destaca.  

A predominância de imóveis privados na exploração, no entanto, levanta outras questões, pois embora a conformidade com as autorizações seja um ponto positivo, é essencial que haja um monitoramento contínuo para garantir que essas áreas sejam exploradas de forma sustentável, respeitando as diretrizes ambientais e contribuindo para a conservação da biodiversidade. 

O setor madeireiro no Acre 

Com uma queda expressiva na área explorada e uma concentração geográfica cada vez mais definida, o estado se encontra em um ponto de inflexão. A busca por um equilíbrio entre desenvolvimento econômico e sustentabilidade ambiental será fundamental nos próximos anos. Para os municípios que se tornaram o foco dessa atividade, o desafio será encontrar maneiras de diversificar suas economias e garantir que a exploração madeireira, ainda que reduzida, continue a ser uma atividade gerida de forma sustentável e legal. 

*Com informações do Imaflora

SGB alerta que Rio Solimões tem 65% de probabilidade de ficar abaixo da mínima histórica

Pesquisadora Jussara Cury durante o Alerta de Vazante. Foto: Divulgação/SGB

A Bacia do Rio Amazonas enfrenta um cenário de grande seca e algumas regiões podem registrar cotas mínimas históricas. De acordo com projeções do Serviço Geológico do Brasil (SGB), há 65% de probabilidade do Rio Solimões chegar à menor cota já observada em Tabatinga (AM), abaixo da marca de -86 cm, de 2010. O Rio Negro, em Manaus (AM), tem 16% de probabilidade de ficar abaixo da mínima histórica. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (23), no Alerta de Vazante. 

O cálculo foi realizado com base na série histórica de dados e na mediana das descidas. Martinelli ressalta que foram calculadas as probabilidades para as mínimas históricas. “Mesmo as regiões que não têm altas probabilidades de atingir as mínimas históricas (o que seria o pior cenário), enfrentam uma grande seca, que afeta toda a população”. 

EstaçãoRioCota mínimaProbabilidade 
Tabatinga (AM)Solimões-86 cm (2010)65% de ficar abaixo
Fonte Boa (AM)Solimões8,02 m (2010)53% de ficar abaixo
Itapéua (AM)Solimões1,31 m (2010)31% de ficar abaixo
Beruri (AM)Purus4,07 m (2023)34% de ficar abaixo
Manaus (AM)Negro12,70 m (2023)16% de ficar abaixo
Itacoatiara (AM)Amazonas36 cm (2023)14% de ficar abaixo
Fonte: SGB

Cotas históricas

Tabatinga (AM) chegou a registrar a cota de 2 cm no início da semana, nos dias 18 e 19 de agosto, conforme dados do Sistema de Alerta Hidrológico da Bacia do Rio Amazonas. Essa já é a 3ª menor marca da série histórica – atrás apenas das cotas de -75 cm (2023) e -86 cm (2010).

“Já temos uma seca extrema estabelecida nessa região do Alto Solimões. No Médio Solimões até Manaus (AM), ainda não foram alcançadas as cotas que trazem transtorno, mas a tendência é que isso ocorra”, disse Martinelli. Nesta semana, já começaram a ser observadas descidas mais intensificadas, da ordem de 20 cm por dia, no Rio Negro, em Manaus (AM), efeito do que ocorre em Tabatinga (AM).

O pesquisador enfatiza que as secas extremas refletem uma mudança no padrão dos regimes hidrológicos observados nos últimos 20 anos: “A gente tem vivenciado, cada vez de forma mais frequente, esses eventos hidrológicos extremos, tanto de cheia quanto de vazante. Isso tem muita relação com as mudanças climáticas”.

Políticas públicas 

Esse é o 1º Alerta de Vazante da Bacia do Rio Amazonas e tem por objetivo chamar a atenção para a intensificação da seca na região e apoiar políticas públicas que visem mitigar e prevenir seus efeitos. “É só por meio da informação que podemos planejar e investir em ações de enfrentamento a eventos extremos. Esse trabalho está alinhado à missão do SGB de gerar e disseminar conhecimento geocientífico, contribuindo para a qualidade de vida da população e desenvolvimento sustentável do país”, destaca Martinelli.

*Com informações do SGB

Amazonas é destaque da Região Norte em Ranking de Competitividade dos Estados

O Amazonas é o 1º estado da Região Norte e o 8º estado do Brasil com o melhor índice de Sustentabilidade Ambiental. O resultado foi divulgado por meio do Ranking de Competitividade dos Estados 2024, promovido pelo Centro de Liderança Pública (CLP), que analisa diferentes parâmetros das 27 unidades federativas.

O Ranking de Competitividade dos Estados é uma ferramenta para balizar as ações dos governos estaduais e apoiar a elaboração de políticas baseadas em evidências. Para tanto, a metodologia e a estrutura leva em consideração uma literatura acadêmica especializada, bem como da experiência nacional e internacional na confecção de rankings de competitividade.

“O resultado foi muito favorável ao Amazonas e isso é relevante porque, dentro dos indicadores que compõem esse ranking, a maioria deles vêm da contribuição direta das políticas que o estado do Amazonas tem implementado na área de meio ambiente e sustentabilidade. Tem sido uma determinação do governador Wilson Lima que a gente possa atender a essas metas e compromissos que estão, inclusive, registradas no Programa Amazonas 2030”, destacou o secretário de Estado do Meio Ambiente, Eduardo Taveira.

No pilar de Sustentabilidade Ambiental, consideram-se os indicadores ligados à emissão de gases poluentes, desmatamento e manejo do esgoto, resíduos e recursos hídricos. No total, são considerados 13 indicadores, sendo o de “Coleta Seletiva do Lixo” o que apresentou melhor desempenho no Amazonas, em comparação com o último relatório.

Ao todo, o Amazonas obteve nota de 71,21 em Sustentabilidade Ambiental, subindo duas posições no ranking deste indicador, em relação a 2023, quando pontuou 64,6.

Os maiores destaques vão para os indicadores de Transparência das Ações de Combate ao Desmatamento e Vegetação Nativa dos Imóveis Rurais, em que o Amazonas atingiu o 1º lugar, em comparação aos demais estados brasileiros.

Ranking geral

O Ranking de Competitividade dos Estados elenca os indicadores considerados fundamentais para a promoção da competitividade e melhoria da gestão pública dos Estados brasileiros, distribuídos em 10 pilares temáticos:

  • Infraestrutura,
  • Sustentabilidade Social,
  • Segurança Pública,
  • Educação,
  • Solidez Fiscal,
  • Eficiência da Máquina Pública,
  • Capital Humano,
  • Sustentabilidade Ambiental,
  • Potencial de Mercado
  • e Inovação.

No ranking geral, que leva em consideração os 10 pilares avaliativos, o estado do Amazonas subiu três posições, passando de 14º para 11º lugar. Com isso, o Estado do garantiu novamente a liderança da região Norte. O relatório completo com o ranking por indicador pode ser acessado em rankingdecompetitividade.org.br.

*Com informações da Agência Amazonas

Grupo Ykamiabas realiza workshop sobre mudanças climáticas no Glocal Amazônia

Quem disse que arte e mudanças climáticas não podem se misturar? Nesta sexta-feira (23), a produtora cultural Kaylla Gomes realizou o workshop “Arte e Mudanças Climáticas: Criando Conexões Sustentáveis” durante o “Glocal Experience Amazônia”. A ideia era inspirar novas formas de expressão artística que reflitam os desafios ambientais da Amazônia.

Glocal Amazônia 2024: confira a programação e os locais de realização do evento

No início do workshop, o grupo de teatro “Ykamiabas Produções” realizou uma intervenção artística de temática ambiental “Oxigênio”. Em 2023, a mesma intervenção foi realizada no Largo de São Sebastião. A ideia da performance foi sensibilizar o público sobre as mudanças climáticas.  

“O Grupo Ykamiabas tem como objetivo focar na Agenda 2030 da ONU, e antes de iniciar o workshop decidimos fazer a intervenção como forma de reflexão. O bom das artes é gerar esse ponto de sensibilização, seja através do audiovisual, literatura, teatro e música”, afirmou Keylla.

Outra idealizadora da intervenção, Francy Júnior, afirmou que a arte deve trazer o pensamento crítico para os espectadores. “Agora, por exemplo, passamos por um momento delicado devido ao calor extremo. Queremos trazer com o workshop um alerta para a população de Manaus”, contou.

Sobre o Acelera Amazônia

Glocal Experience Amazônia faz parte do projeto Acelera Amazônia 2024 e tem o apoio da Apa Móveis, Prefeitura de Manaus, Secretaria do Meio Ambiente (SEMA), Amazonastur e Governo do Amazonas. Idealização e operação: Dream Factory. Realização: Fundação Rede Amazônica (FRAM).

Glocal Experience nasceu em maio de 2022 com sua primeira edição no Rio de Janeiro. O encontro busca se tornar anual e tem a intenção de ser realizado em cada Estado da Amazônia. Em 2024, Manaus (AM) recebe o evento pela segunda vez.

Glocal Amazônia promove programação especial para todos os públicos e idades

O Glocal Experience Amazonia 2024 está de volta com mais uma edição em Manaus (AM) colocando a Amazônia no centro de debates. O evento discute desafios e ações para a região com foco na sustentabilidade.

Gratuito, o Glocal acontece até este sábado, 24 de agosto, no Largo de São Sebastião, localizado no Centro da cidade, com programações especiais para todos os públicos e idades.

Além das conferências e shows, diversas atividades tem sido realizadas no entorno do Largo, como os jogos intergeracionais sustentáveis da Amazônia, um atrativo a parte para todas as idades.

O que também tem atraido o publico mais hovem é a pintura corporal indígena, que desperta curiosidade e gera informação sobre a cultura dos povos originários.

Os stands de vendas e exposições também são algumas experiências que o público pode aproveitar na Feira Glocal, que proporciona oportunidades para os microempreendedores artesanais. A artesã gourmet Edelene Portela, que produz geleias e molhos, é uma das expositoras este ano e se diz maravilhada com a oportunidade de participar pela primeira vez do Glocal Amazônia.

“Acho importante a realização desse evento, que pensa na sustentabilidade e no futuro na nossa rica Amazônia”, disse a empresária. A feira acontece a partir das 16h até este sábado.

E para enfrentar o calor que tem feito na cidade durante o dia, o evento também conta com pontos de hidratação.

Glocal Amazônia 2024: confira a programação e os locais de realização do evento

Sobre o Acelera Amazônia

Glocal Experience Amazônia faz parte do projeto Acelera Amazônia 2024 e tem o apoio da Apa Móveis, Prefeitura de Manaus, Secretaria do Meio Ambiente (SEMA), Amazonastur e Governo do Amazonas. Idealização e operação: Dream Factory. Realização: Fundação Rede Amazônica (FRAM).

Glocal Experience nasceu em maio de 2022 com sua primeira edição no Rio de Janeiro. O encontro busca se tornar anual e tem a intenção de ser realizado em cada Estado da Amazônia. Em 2024, Manaus (AM) recebe o evento pela segunda vez.

Novo contexto climático da Amazônia é explorado por especialistas no Glocal Amazônia 2024

O Glocal Experience Amazônia 2024, que iniciou no dia 22 de agosto e segue até sábado (24) em Manaus (AM), segue com inúmeras atividades e discussões voltadas à preservação e progresso sustentável da Amazônia.

Temas de relevância para o futuro da região foram debatidos na tarde desta sexta-feira (23) em conferências como ‘Organização Urbana para Cidades Sustentáveis e Turísticas’, ‘Cultura Amazônica: Preservação e Valorização da Diversidade e Queimadas’ e o ‘Novo Contexto Climático na Amazônia’.  

Na primeira conferência os especialistas em mobilidade urbana Nádia Aguiar, Emádina Gomes, Geraldo Alves e Manoel Paiva, discutiram sobre quais seriam os melhores planos de mobilidade para a capital do Amazonas.

Durante a conversa, os participantes expuseram ideias que podem contribuir para melhorar a mobilidade na cidade. O especialista Manoel Paiva citou uma forma inusitada de resgatar as raízes e cooperar com o futuro: 

“Poderíamos pensar em um modal acessível. Hoje, a pergunta seria, por que não resgatar nossas raízes e pensar em mobilidade fluvial? Andar de pequenos barcos e em canoas, seria mais uma oportunidade de mobilidade”, sugeriu.

Foto: Diego Andreoletti/Amazon Sat

A segunda palestra, abordou ‘Cultura Amazônica: Preservação e Valorização da Diversidade’, com a participação do Tenor Miquéias William, maestro Zacarias Fernandes, a curadora de arte Cleia Viana e a doutoranda em tecnologia educativa Labibe Araújo. Os convidados conversaram sobre formas de como propagar, através da cultura, a preservação do meio ambiente e respeito.     

Cleia Viana relata o quanto é importante para as futuras gerações debater, em palcos como o do Glocal Amazônia, a diversidade e a sustentabilidade visando o futuro.

“Acho super importante colocar esses três pilares num debate, porque a gente vive na Amazônia, tem essa autoridade para falar. Então esse é o momento de discutir, agir. O futuro não é mais daqui a 100 anos como era na época do meu avô, o futuro é agora”, exclamou a curadora.

No último painel, ‘Queimadas e o Novo Contexto Climático na Amazônia’, a discussão central contou com a participação da diretora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, Ane Alencar; e o secretário de meio ambiente do Estado do Amazonas, Eduardo Taveira. Eles mostraram dados que revelam a gravidade das secas severas e queimadas na região amazônica. 

“Vivemos um cenário climático que mesmo com combate tradicional, enfrentamos dificuldade. Precisamos que o setor agropecuário faça também a sua parte, o governo federal já nos ajuda bastante, mas precisamos educar melhor a população quanto ao cuidado que todos precisamos ter”, alertou Taveira.

Foto: Diego Andreoletti/Amazon Sat

Glocal Amazônia 2024: confira a programação e os locais de realização do evento

Sobre o Acelera Amazônia

Glocal Experience Amazônia faz parte do projeto Acelera Amazônia 2024 e tem o apoio da Apa Móveis, Prefeitura de Manaus, Secretaria do Meio Ambiente (SEMA), Amazonastur e Governo do Amazonas. Idealização e operação: Dream Factory. Realização: Fundação Rede Amazônica (FRAM).

Glocal Experience nasceu em maio de 2022 com sua primeira edição no Rio de Janeiro. O encontro busca se tornar anual e tem a intenção de ser realizado em cada Estado da Amazônia. Em 2024, Manaus (AM) recebe o evento pela segunda vez.

Em destaque crescente no país, filmes indígenas inspiram estudos

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Em uma cena de Teko Haxy – Ser imperfeita (2018), das cineastas Patrícia Ferreira Pará Yxapy, da etnia Guarani Mbya, e a não indígena Sophia Pinheiro, a primeira diz: “Acho que vocês [brancos] não queriam que a gente existisse”. No filme, espécie de diário cotidiano coletivo, as mulheres partilham angústias, memórias e questões do dia a dia, como preparar uma galinha ou lidar com dores no corpo. “Em geral, as narrativas dessas mulheres partem de um lugar bastante íntimo e o cinema funciona como uma cesta, na qual se guarda o que depois se compartilha”, comenta Pinheiro, professora da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo. “Por meio da linguagem audiovisual, elas podem contar suas próprias histórias.”

Na pesquisa de mestrado em antropologia, defendida em 2015 na Universidade Federal de Goiás (UFG), Pinheiro estudou a trajetória de Ferreira. Constatou que a autoria feminina ainda passa por apagamentos em razão do machismo dentro e fora das aldeias. No doutorado em cinema na Universidade Federal Fluminense (UFF), concluído em 2023, ela aprofundou a investigação. Além de Ferreira, examinou também a produção fílmica de Flor de María Alvarez Medrano, da etnia Maya, na Guatemala, e Graciela Guarani, da etnia Guarani Kaiowá, de Mato Grosso do Sul. No ano passado, a pesquisadora ajudou a criar a Katahirine – Rede Audiovisual das Mulheres Indígenas, que busca mapear e divulgar a produção indígena de autoria feminina no Brasil, além de fomentar parcerias. A ideia foi concebida pela cineasta não indígena Mari Corrêa, do Instituto Catitu (SP), que coordena a rede com Pinheiro e a jornalista e cineasta Helena Corezomaé, da etnia Umutina (MT).

A iniciativa reúne hoje 67 cineastas de 33 etnias espalhadas pelo país, além de contar com seis conselheiras indígenas, a exemplo de Ferreira. Ela codirigiu cinco filmes, entre eles, Bicicletas de Nhanderu (2011), feito em parceria com seu companheiro, o realizador Ariel Karay Ortega, também da etnia Guarani Mbya, no Rio Grande do Sul. Além disso, contribuiu como roteirista no longa A transformação de Canuto (2023), dirigido por Ortega e pelo antropólogo não indígena Ernesto de Carvalho. No final do ano passado, a produção conquistou os prêmios de melhor filme e contribuição artística na competição Envision, do Festival Internacional de Documentários de Amsterdã (IDFA, na sigla em inglês), na Holanda.

O longa reencena a história contada por anciões de uma aldeia Guarani Mbya, na fronteira do Brasil com a Argentina, sobre um homem que se transforma em onça e morre de forma trágica. “É uma obra que combina elaboração ficcional e documental, explicitando na narrativa o seu processo de feitura”, analisa André Guimarães Brasil, professor de cinema na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisador de poéticas audiovisuais indígenas. Em abril, ele foi um dos debatedores do filme no 10º Colóquio Cinema, Estética e Política, promovido naquela universidade.

De acordo com Brasil, a produção fílmica de realizadores indígenas vem se consolidando nos últimos anos no país.

Dentre eles está o cineasta e educador guarani Alberto Alvares Tupã Ra’y, graduado na Formação Intercultural para Educadores Indígenas, oferecida pela Faculdade de Educação da UFMG desde 2009. “Hoje vou para vários territórios, em todo o país, dar oficinas para os parentes”, conta Alvares.

Com 11 anos de carreira, o cineasta calcula ter dirigido cerca de 20 filmes. Em sua pesquisa de mestrado em cinema e audiovisual, cuja dissertação foi defendida em 2021 na UFF, ele reflete sobre o próprio fazer cinematográfico “na fronteira entre o conhecimento guarani e o não guarani” ao examinar o arquivo bruto de dois de seus longas, Guardiões da memória (2018) e O último sonho (2019). “Nós, os Guarani, somos um povo da oralidade. A gente não sabe como vai ser o amanhã. O tempo todo estamos sendo encurralados. Por isso, um filme pode ser um guardião da memória dos mais velhos, uma maneira de compartilhar esse saber e preservar nossa tradição”, constata Alvares.

Seu longa mais recente, Yvy Pyte – Coração da Terra (2023), foi exibido neste ano na abertura do forum.doc – Festival do Filme Documentário e Etnográfico, em Belo Horizonte, e na 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes, ambos em Minas Gerais. “Hoje, temos mostras e festivais especializados ou não que exibem, premiam e discutem os filmes feitos por indígenas”, diz Brasil, da UFMG. “Essa movimentação faz com que o interesse sobre o tema na universidade cresça e impulsione a realização de pesquisas.”

O múltiplo conjunto audiovisual que se convencionou em chamar de “cinema indígena” reúne filmes com essa temática realizados em parceria com diretores não indígenas, além das produções etnográficas, capitaneadas geralmente por antropólogos visuais ou pesquisadores de áreas afins. Para o norte-americano Robert Stam, da Universidade de Nova York (EUA), os indígenas brasileiros hoje transitam por uma ampla gama de mídias e formatos, que abarcam desde clipes no YouTube a videoperformances, exibidas em museus, galerias e bienais de arte.

Cena de Guardiões da memória do cineasta educador e pesquisador indígena Alberto Alvares Tupã Ra’y. Foto: Alberto Alvares Tupã Ra’y.

Em 2023, Stam lançou o livro Indigeneity and the decolonizing gaze: Transnational imaginaries, media aesthetics, and social thought (Bloomsbury Academic) ou, em livre tradução, Indigeneidade e o olhar descolonizador: Imaginários transnacionais, estética midiática e pensamento social, ainda inédito no Brasil. Na obra, dedica um dos capítulos à representação do indígena no cinema brasileiro desde a época dos filmes silenciosos. Segundo o pesquisador, a temática está presente na produção audiovisual brasileira a partir da década de 1910. Exemplo disso são os documentários dirigidos por Luiz Thomaz Reis (1878-1940), major e cinegrafista das expedições do marechal Cândido Rondon (1865-1958), do então Serviço de Proteção ao Índio (ver Pesquisa FAPESP nº 255). Alguns anos mais tarde, vieram os longas do cineasta Humberto Mauro (1897-1983), caso de Descobrimento do Brasil (1937), que romantiza os colonizadores portugueses. De acordo com Stam, nesses filmes e em muitos posteriores, a representação dos grupos e sujeitos indígenas oscilou entre os “bons selvagens”, passivos e submissos, e os “maus”, que se opunham à dominação dos brancos.

As primeiras experiências de autorrepresentação indígena no país só vieram acontecer no final do século XX. Foi quando surgiram oficinas de formação audiovisual voltadas para esse público, impulsionadas por duas novidades: a tecnologia VHS e os equipamentos portáteis de vídeo. É o caso do Vídeo nas Aldeias (VNA), projeto independente criado em 1986 pelo cineasta e indigenista franco-brasileiro Vincent Carelli. A princípio, a ideia era exibir na aldeia as imagens filmadas ali pela equipe do projeto e incorporar as sugestões da própria comunidade ao material. Porém a partir de 1997, a iniciativa, que está até hoje na ativa, passou a oferecer oficinas de capacitação para os indígenas dirigirem seus próprios filmes.

Exibição na aldeia Enawenê Nawê (MT) de material gravado nos anos 1980 e 1990 pelo projeto Vídeo nas Aldeias – Foto – Vicent Carelli

No mestrado concluído em 2014 na UFMG, Belisário analisou o filme As hiper mulheres (2011), dirigido pelo cineasta Takumã Kuikuro, da etnia Kuikuro, formado pelo VNA, em parceria com os não indígenas Carlos Fausto e Leonardo Sette. Já no doutorado, defendido em 2018 na mesma instituição, ele pesquisou a produção audiovisual do realizador Divino Tserewahú, da etnia A’uwe Xavante, que também passou pelo VNA. O trabalho de campo rendeu o filme Waia rini (2015), dirigido por Tserewahú e Belisário.

As demandas por terras e por direitos têm sido uma forte motivação para a realização de trabalhos audiovisuais pelos indígenas, comenta a antropóloga Ana Lúcia Ferraz, professora da UFF e coordenadora do Laboratório do Filme Etnográfico daquela universidade. A pesquisadora já se dedicava à etnografia audiovisual quando fez um documentário com um grupo da etnia Guarani Mbya que havia saído de Paraty para se radicar em Maricá, ambas cidades fluminenses. Esse encontro fomentou em 2014 a criação de um programa de extensão universitária de formação em processos audiovisuais com grupos da etnia Guarani Mbya, no Rio de Janeiro, e os Kaiowá e Nhandeva, em Mato Grosso do Sul.

Na sequência, Ferraz passou a acompanhar os Nhandeva, da Terra Indígena Potrero Guaçu (MS), em seu processo de retomada do território e recuperação dos próprios saberes. Juntos, já produziram um filme, Nhande ywy, nosso território (2018), e no momento finalizam um novo longa. Atualmente, a pesquisadora está filmando com outro grupo, os A’uwe Xavante (MT), cujo território está ameaçado pela construção de quatro centrais hidrelétricas no rio das Mortes.

Frames do filme A transformação de Canuto – 2023 – de Ariel Karay Ortega e Ernesto de Carvalho

Ferraz é também uma das docentes da disciplina de pós-graduação O cinema indígena: Do território à tela, ministrada em 2022 e 2023 no Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos da Universidade de São Paulo (Diversitas-USP). De acordo com a pesquisadora, a iniciativa deve ser retomada no ano que vem. Pela proposta, estudantes de mestrado ou doutorado da universidade, indígenas ou não, realizam seus próprios vídeos em parceria com comunidades indígenas. Os três documentários produzidos até então, como Fora do lugar, compuseram uma mostra no Museu das Culturas Indígenas, na capital paulista, em junho.

Feitos em intensa negociação com os anciãos e os pajés da aldeia, os filmes indígenas trazem a marca da escuta: não se realizam sem consulta e diálogo. “Toda a vez que vou produzir um filme, converso com as comunidades para saber que tipo de sentimento elas querem guardar nesse mundo da imagem”, conta Alvares. Essa é também a preocupação da antropóloga e cineasta Alice Villela, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Entre 2006 e 2015, ela pesquisou a recepção e a produção de imagens entre os Asurini do Xingu (PA) no mestrado, na Unicamp, e no doutorado, na USP. Ambos tiveram apoio da FAPESP.

Em suas pesquisas, a estudiosa ressalta a importância do “mapeamento” cuidadoso dos conceitos nativos relativos ao campo da imagem, pois há sempre a possibilidade de mal-entendidos. “É uma tradução que não é apenas linguística, mas cosmológica”, observa Villela. “Para os Asurini do Xingu, as imagens fotográficas e audiovisuais despertam várias interpretações. Mobilizam, por exemplo, o ynga, o princípio vital, um fundamento de sua cosmologia que está diretamente vinculado à prática do xamanismo.” Ao mesmo tempo, segundo ela, a imagem pode ser muito política: cumpre um papel de visibilidade, de comunicação e de produção de documentos que embasam lutas por direitos.

Os trabalhos audiovisuais mais recentes de Villela acompanham o grupo Sabuká Kariri-Xocó, de Alagoas, em seus rituais e atividades cotidianas, mas também nos deslocamentos que fazem para garantir a sobrevivência e nas lutas por seu território, homologado, mas tomado por posseiros. O contato com o grupo se iniciou durante sua pesquisa de pós-doutorado, concluída em 2022 na USP, que integrou o projeto temático financiado pela FAPESP, “O musicar local: Novas trilhas para a etnomusicologia”.

Um dos resultados do estudo é Toré (2022), filme sobre o fazer musical desse grupo indígena nas terras retomadas. “A eles interessa que as imagens circulem, já que buscam visibilidade política. O território demarcado em que vivem é menor do que aquele que está na memória dos antepassados, que chamam de ‘território memorial’”, conta. Como os demais, o longa-metragem que está finalizando com o cineasta não indígena Hidalgo Romero também reflete as negociações com a comunidade. “O pajé Pawanã Crody contribuiu desde a ideia inicial do filme. Nesse momento, ele tem participado da etapa de edição, comentando as filmagens ou chamando a atenção para algo que nos passou despercebido”, finaliza Villela.

  • A reportagem acima foi publicada com o título “Tela demarcada” na edição impressa nº 342, de agosto de 2024.

Projeto
Taquaras, tambores e violas: Relações entre musicar e localidade na construção de narrativas audiovisuais (nº 17/21063-1); Modalidade Bolsa de pós-doutorado; Pesquisadora responsável Rose Satiko Gitirana (FFLCH-USP); Bolsista Alice Martins Villela Pinto; Investimento R$ 431.652,32.

Artigos científicos
BELISÁRIO, B. Rebobinando a fita: Arqueologia do videotape nas aldeiasGIS – Gesto, Imagem e Som – Revista de Antropologia. USP. v. 7, n. 1. 2022.
FERRAZ, A. L. Os cantos-dança guarani, sua territorialidade cósmica e a etnografia como antropologia modalProa: Revista de Antropologia e Arte. Unicamp. v. 13. 2023.

Livro
STAM, R. Indigeneity and the decolonizing gaze: Transnational imaginaries, media aesthetics, and social thought. Londres (Reino Unido): Bloomsbury Academic, 2023.

Capítulo de livro
BRASIL, A. “De uma a outra imagem”. In: FURTADO, B. e DUBOIS, P. (org.). Pós-fotografia, pós-cinema: Novas configurações das imagens. São Paulo: Edições Sesc, 2019.

*O conteúdo foi originalmente publicado por Revista Pesquisa FAPESP ,de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

Pesquisa em floresta do Amapá fornecerá dados sobre mudanças climáticas para a Nasa

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Pesquisa do Inpa e da Ueap na Floresta Nacional do Amapá. Foto: Rafael Aleixo/g1 AP

Uma pesquisa inédita no Amapá vai usar sensores instalados no solo e em árvores da Floresta Nacional do Amapá (Fona) para medir o fluxo de água que chega até a atmosfera através da Amazônia. O objetivo é analisar, ao longo de um ano, como a floresta se comporta durante o período chuvoso e de estiagem em relação à mudança climática.

O estudo é realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) em parceria com a Universidade do Estado do Amapá (Ueap) através do projeto INCT Madeiras da Amazônia, coordenado pelo pesquisador Niro Higuchi – Nobel da Paz em 2007 como membro do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC).

Parte dos equipamentos usados pelo projeto foram financiados pela agência espacial norte-americana, a Nasa, que usará os dados via satélite para a missão Soil Moisture Active Passive Mission (SMAP), que monitora as alterações no clima do planeta.

Segundo o pesquisador da Ueap e líder do projeto no Amapá, Perseu Aparício, os sensores irão monitorar simultaneamente o comportamento da fisiologia das árvores e serão alimentados por placas solares e datalog para armazenamento das informações por 24h durante 1 ano.

Pesquisa do Inpa e da Ueap na Floresta Nacional do Amapá. Foto: Rafael Aleixo/g1 AP

O doutorando em ciências de florestas tropicais do Inpa, Regison Oliveira, é o responsável pelas instalações dos sensores no solo. Para fixar os medidores de temperatura e umidade, são cavados buracos de cerca de 2 metros de profundidade onde os equipamentos são colocados em várias camadas.

“Compreender a dinâmica da água no solo é importante para entendermos a transpiração da floresta. Esse teor de água no solo é o que mantêm a floresta durante os períodos de seca, principalmente no El-Niño. E monitorar a umidade da floresta e do solo em uma escala de Amazônia é importante para que possamos avaliar a saúde da floresta”, explicou o pesquisador.

Ainda de acordo com o cientista, a missão “Smap” – lançada em 2015 pela Nasa, precisa de calibrações por conta da falta de dados em campo. E os novos sensores na Amazônia vêm contribuir com esse monitoramento. Segundo o Inpa, o satélite americano lança “visados” na superfície da Terra e avalia a umidade, porém existem dificuldades por conta do alto teor de biomassa das folhas das árvores.

‘Caminhos’ da água por dentro das árvores

Cristina Santos, pesquisadora do laboratório de Manejo Florestal do Inpa, já realiza um estudo semelhante no Amazonas que estima a transpiração das árvores. Essa é a segunda vez que sensores desse tipo são instalados na Amazônia, segundo a cientista.

“Estimamos a velocidade da água que sai do solo e vai até a atmosfera através das folhas. Colocamos duas agulhas e por diferença de temperatura a gente consegue estimar essa velocidade da água. Também identificamos por onde a água passa por dentro da árvore, que é chamado de ‘Caminho da água’”, descreveu a cientista.

A cientista explicou que ter esses dados é importante para saber o quanto a árvore está “trocando” água com a atmosfera. Na Floresta Nacional do Amapá foram instalados 18 sensores, que passam a ser monitorados a partir de um computador de campo.

O equipamento registra dados a cada 30 segundos e faz uma média a cada 5 minutos. Segundo a pesquisadora, a periodicidade de coleta dos dados será a cada 15 dias.

Tanto os sensores de solo, quantos os de árvores estão sendo instalados em área que receberam manejo florestal em áreas não manejadas. Essa escolha é para outra frente do projeto, que vai analisar o comportamento das florestas.

Observatório orbital da Nasa

Soil Moisture Active Passive (SMAP), observatório orbital da Nasa. Foto: Divulgação/Nasa

A missão Soil Moisture Active Passive (SMAP) é um observatório orbital que mede a quantidade de água na superfície do solo em todos os lugares da Terra. De acordo com a Nasa, a quantidade de água que evapora da superfície terrestre para a atmosfera depende da umidade do solo.

O satélite foi lançado em janeiro de 2015 e começou a operar em abril do mesmo ano. Na Amazônica, apenas sensores no Amazonas forneciam informações no Brasil. A partir do funcionamento dos equipamentos no Amapá, mais dados serão fornecidos para o observatório.

O SMAP foi projetado para medir a umidade do solo a cada 2-3 dias, o que permite que mudanças ao redor do mundo sejam observadas em escalas de tempo que variam de grandes tempestades a medições repetidas de mudanças ao longo das estações.

A partir dos dados, o observatório orbital produz mapas globais de umidade do solo, que cientistas usam para ajudar a melhorar a compreensão de como os fluxos de água, energia e carbono mantêm o clima e meio ambiente.

*Por Rafael Aleixo, da Rede Amazônica AP

Glocal Amazônia reforça importância da inclusão da educação indígena no Brasil

A inclusão da educação indígena no Brasil está prevista na Constituição Federal de 1988, que garante às comunidades indígenas o direito a uma educação específica, diferenciada, intercultural, bilíngue/multilíngue e comunitária. Este foi um dos tópicos da conferência ‘Educação Transformadora: inclusão e qualidade na Amazônia’, realizada no segundo dia de programação do ‘Glocal Experience Amazônia’ nesta sexta-feira (23), no Contemporâneo Eventos, em Manaus (AM).

Uma das palestrantes no debate foi Ana Claudia Martins Tomás, também conhecida como professora Claudia Baré. Indígena da etnia Baré, Claudia é artesã e multiartista, mas foi na educação que encontrou a sua vocação.

Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia

Durante o evento, ela falou sobre sua carreira acadêmica e a importância do Espaço Cultural Indígena Uka Mbuesara Wakenai Anumarehit (Parque das Tribos). Ela fazia parte da liderança indígena que criou o local em 2014.

Além disso, enquanto educadora indígena, Claudia desenvolveu uma metodologia para alcançar os povos originários: “Seja por meio de palavras ou arte cênica, sempre inseri a língua indígena dentro da sala de aula. Acho importante que os jovens indígenas tenham contato com a sua cultura e herança. Eu já fiz pecas que abordavam certas temáticas indígenas”.

No plateia estavam alunos do Instituto de Educação do Amazonas (IEA). Eles acompanharam com atenção os conselhos da professora. “Eles são a próxima geração, eles precisam pegar esse compromisso para eles desde agora, principalmente os jovens com sangue indígena. Ouvir mais sobre a educação dos povos indígenas e suas vivências”, destacou.

Escola na Floresta

A Secretária de Estado de Educação e Desporto Escolar, Arlete Mendonca, também participou do bate-papo e falou sobre a dificuldade de levar educação de qualidade para o Amazonas. “Levei alguns exemplos dos trabalhos que desenvolvemos no Estado e a importância de compartilhar todo o conhecimento necessário”, disse.

Um dos projetos destacados por Arlete foi a ‘Escola na Floresta’, que iniciou as atividades em julho deste ano na comunidade Bom Jesus do Angelim, dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do município de São Sebastião do Uatumã, no Amazonas. Essa é a primeira estrutura do tipo, no Brasil, com capacidade para 200 alunos, sendo 100 em tempo integral e 100 em período noturno.

“Os desafios são grandiosos, mas o maior desafio é compreender todos os cantos do Amazonas. Para isso, contamos com diversos recursos, como por exemplo, o Centro de Mídia, onde atendemos mais de duas mil salas em comunidades do Amazonas”, comentou a secretária.

Glocal Amazônia 2024: confira a programação e os locais de realização do evento

Sobre o Acelera Amazônia

Glocal Experience Amazônia faz parte do projeto Acelera Amazônia 2024 e tem o apoio da Apa Móveis, Prefeitura de Manaus, Secretaria do Meio Ambiente (SEMA), Amazonastur e Governo do Amazonas. Idealização e operação: Dream Factory. Realização: Fundação Rede Amazônica (FRAM).

Glocal Experience nasceu em maio de 2022 com sua primeira edição no Rio de Janeiro. O encontro busca se tornar anual e tem a intenção de ser realizado em cada Estado da Amazônia. Em 2024, Manaus (AM) recebe o evento pela segunda vez.

UEA é primeira instituição pública do Norte a conceder selo do Inmetro

Foto: Antônio Lima/Secom AM

O Laboratório de Ensaios de Produtos (LabEP), da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), conquistou recentemente a certificação de ser o primeiro e único laboratório de uma universidade pública a conceder selo do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) às empresas do Polo Industrial de Manaus (PIM).

Agora, o laboratório reúne competência técnica para realizar ensaios térmicos e mecânicos, em atendimento à norma ABNT NBR ISO/IEC 17025, no produto “isqueiro”. No Amazonas já existem dois fabricantes de isqueiros que vão ser os principais beneficiários dessa acreditação.

O reitor da UEA, André Zogahib, enfatizou que atualmente, o laboratório se destaca entre um dos melhores laboratórios do país. E enfatizou que a acreditação é a coroação de todo trabalho e esforço desempenhados pela atual gestão.

“Várias instituições tentaram obter o reconhecimento ao longo de 50 anos. E a UEA conseguiu o feito. Tenho certeza que a gente vai buscar essa terceira acreditação nos nossos próximos dois laboratórios que já estão nesse processo, e esperamos que sejam os três primeiros desses 130 laboratórios que a UEA possui”, ressaltou.

Foto: Antônio Lima/Secom AM

Na avaliação do diretor-presidente do Instituto de Pesos e Medidas do Amazonas (Ipem-AM), Renato Marinho, com o reconhecimento internacional do laboratório, a UEA poderá atender a demanda de empresas do setor instaladas no Amazonas e também de outras indústrias das regiões Norte e Nordeste, uma vez que é a primeira a obter a acreditação do Inmetro, fora do circuito Sul e Sudeste, para realizar ensaios térmicos e mecânicos em atendimento à norma ABNT NBR ISO/IEC 17025, produto isqueiro.

Ainda de acordo com a UEA, outros laboratórios já estão no radar para serem acreditados, como o laboratório de elétrica para a realização de ensaios de qualidade em ar condicionados. A instituição possui, também, o laboratório com instalações permanentes e móveis, cujos serviços são realizados em embarcações adaptadas denominado “Central de Análises Químicas”, com ensaios em “água bruta”.

Dessa forma, ele está em fase de implementação do seu sistema de gestão laboratorial para atendimento às normas de acreditação. Está prevista, ainda, a implantação de um Laboratório de Refrigeração e Climatização ligado à Escola Superior de Tecnologia (EST).

Foto: Antônio Lima/Secom AM

“Estamos avançando em passos largos, a gente espera que nos próximos meses a gente também acredite mais esses dois laboratórios. O Inmetro veio reconhecer os nossos padrões de teste, de avaliação e eles estão de acordo, ou seja, o que a gente certifica aqui pode ser absorvido em termos de produção, aquisição, por meio das nossas exportações para países que são signatários desses acordos com o Inmetro“, explicou reitor André Zogahib.

A coordenadora do LabEP, professora Samantha Coelho, afirma que a principal importância do laboratório é mostrar para as empresas que a UEA está pronta e capacitada para realizar essas análises e agora, acreditada e com selo do Inmetro.

“Nós somos capazes, nós estamos prontos. Só estamos esperando a demanda. Eu acho que essa é a principal importância. Somos uma instituição de peso, somos uma instituição que tem credibilidade e um time acreditado”, enfatizou.

*Com informações da Agência Amazonas