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Rio Acre fica a 5 centímetros da maior seca da capital acreana

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Rio Acre, em Rio Branco, se aproxima da menor cota da história desde 1971. Foto: Vitória Guimarães/Rede Amazônica AC

Após baixar 12 centímetros em apenas cinco dias, o Rio Acre chegou a marca de 1,30 metro em Rio Branco (AC). O nível, alcançado nesta sexta-feira (30), é o segundo menor da série histórica do manancial e só havia sido atingido em outras duas ocasiões em mais de 50 anos.

O rio está a 5 centímetros da menor cota histórica desde 1971, quando o manancial começou a ser monitorado em Rio Branco. A marca histórica de seca é de 1,25 metro, em 2 de outubro de 2022.

Toda a Bacia do Rio Acre está em situação de alerta máximo para seca, agravada em razão da falta de chuvas na região. Esta situação generalizada perdura há dois meses. Já o manancial em Rio Branco se encontra abaixo de 4 metros há mais de três meses. Mais de 387 mil pessoas nas zonas urbana e rural de Rio Branco já foram afetadas.

Prejuízos: como resultado da seca, produtores perderam plantações e houve queda nas vendas. O baixo nível do manancial também afeta o transporte das mercadorias.

A primeira vez que o nível do Rio Acre baixou para 1,30 metro foi no dia 17 de setembro de 2016. Na ocasião, a seca chegou a ser considerada a pior da história da capital acreana.

O Departamento de Pavimentação e Saneamento do Acre (Depasa) chegou a gastar mais de R$ 2 milhões em equipamentos e insumos para manter o abastecimento na cidade. Depois de chegar até a marca, o rio voltou a subir, mas foram necessários mais nove dias até que voltasse a ficar acima dos dois metros.

Entre cheias e secas, se passaram mais seis anos até que a marca de 1,30 metro fosse novamente alcançada no dia 10 de setembro de 2022. Daquela vez, porém, o manancial continuou a bater a menor marca por mais quatro vezes até chegar a 1,25 metro no dia 2 de outubro.

Na época, a Defesa Civil já trabalhava com a possibilidade do rio ficar abaixo de 1 metro, mas chegada do período de chuvas afastou essa possibilidade.

Agora, em um cenário de seca que começou antes do esperado, no final de maio, e ainda distante do início do período chuvoso em outubro, a avaliação do órgão é que é possível ultrapassar a marca histórica de 2022.

“Já há um plano de contingência para o caso do rio ficar abaixo de 1,25 metro”, explica o coordenador da Defesa Civil do Acre, coronel Carlos Batista.

Última medição de julho marcou 1,48 metros e não houve medição no dia 23 de agosto por problemas na régua.

A seca já afeta, direta e indiretamente, mais de 387 mil pessoas apenas na capital acreana. As mais atingidas, entretanto, são as comunidades da zona rural. Desde junho, equipes da Defesa Civil Municipal levam carros-pipas para atender os moradores dessas regiões.

Alerta máximo

Toda a Bacia do Rio Acre está em situação de alerta máximo para seca, agravada em razão da falta de chuvas na região. Esta situação generalizada perdura há dois meses. Já o manancial em Rio Branco se encontra abaixo de 4 metros há mais de três meses.

As oscilações têm sido frequentes desde que o manancial ficou abaixo de 4 metros na capital, e mais precisamente este mês, quando o chegou a ultrapassar 1,50 metro e depois voltou a reduzir.

A situação acima contrasta com a vivenciada entre fevereiro e março, quando o Acre passou pela segunda maior enchente de sua história desde 1971, ano em que a medição começou a ser feita. Na época, a inundação provocada pelo Rio Acre fez com que mais de 11 mil pessoas deixassem suas casas. Agora os acreanos vivem o contrário da cheia.

Histórico de seca

O governo do estado decretou, no dia 11 de junho, situação de emergência por conta da seca e emergência ambiental por causa da redução da quantidade de chuvas e riscos de incêndios florestais.

Duas semanas depois, foi montado um gabinete de crise para discutir e tomar as devidas medidas com redução dos índices de chuvas e dos cursos hídricos, bem como do risco de incêndios florestais. O decreto com a criação deste grupo foi publicado no dia 26 de junho, em edição do Diário Oficial do Estado (DOE), e fica em vigência até dia 31 de dezembro deste ano.

Em 2022, a seca levou o Rio Acre a bater recordes negativos pelo menos quatro vezes. A cota histórica era de 1,30 metro, registrada em 2016.

Há dois anos, o manancial marcou esse nível no dia 10 de setembro. No dia 11, o rio reduziu para 1,29 metro, e depois seguiu em baixa até o dia 29 quando chegou a 1,26 metro. Na manhã do dia 2 de outubro o nível chegou à marca de 1,25 metro, a menor da série histórica iniciada em 1971.

No ano passado, o decreto de emergência foi publicado em outubro. O coordenador estadual da Defesa Civil, coronel Carlos Batista, disse que o plano estadual de contingenciamento já foi elaborado.

No dia 28 de junho, o prefeito de Rio Branco, Tião Bocalom, também assinou um decreto de emergência em razão do baixo nível do Rio Acre e da falta de chuvas.

A situação alerta para a possibilidade de um período de seca que, segundo especialistas, pode se antecipar e se tornar cada vez mais frequente em um menor espaço de tempo.

O mesmo quadro foi observado em 2016, ano com a segunda pior seca. Em 17 de setembro, o rio atingiu a menor cota histórica da época: 1,30 metro.

*Por Yuri Marcel, do g1 AC

Inspirado no K-pop, peruano cria o “Q’pop” e resgata idioma antigo usado pelos Incas

A língua dos Incas dança ao ritmo do pop coreano. Esta é a proposta de Lenin, um artista peruano que cultiva um estilo em que funde coreografias cuidadosas com notas eletrônicas, bases musicais das montanhas de seu país e letras em quíchua, língua dos Incas, que se espalhou do norte da Argentina ao sul da Colômbia, cobrindo os territórios do Equador, Peru e Bolívia. É assim que foi criado o “Q-pop“.

“Fiz uma proposta musical que agregasse minhas influências de criança e jovem, a música que ouvia; a andina (do Peru) por parte de mãe, e os novos gêneros musicais que descobri no ensino médio como o K-pop, música de anime e pop americano”, diz Lenin Tamayo.

Foto: Reprodução/Agência Andina

A estética, a música e as danças do artista unem os ritmos do interior do Peru com danças e trajes típicos de festas ancestrais, mas a coreografia, a encenação e os ritmos são claramente de influência coreana.

É uma ideia partilhada por uma nova tendência de artistas que fundem o trap e o hip-hop com o quéchua e sons tradicionais do interior do país.

Assim, o artista passou a unir elementos da cultura peruana, país que compõe a Amazônia Internacional, com a influência do pop coreano.

*Com informações da Agência Andina

Mais de um terço dos municípios da AMACRO já tem mais área para agropecuária do que floresta

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BR-319 é considerada vetor de desmatamento na região da AMACRO. Foto: Fábio Bispo/InfoAmazonia

A AMACRO, região que abrange 45 milhões de hectares na tríplice fronteira entre o Amazonas, Acre e Rondônia e ocupa 10% do bioma amazônico, avança rapidamente para ter mais área de agropecuária do que de floresta. 

Uma análise exclusiva da InfoAmazonia, com base nos dados da rede MapBiomas, aponta que em 20 anos, de 2003 a 2022, a área destinada ao agronegócio na AMACRO mais que dobrou de tamanho e chegou a 7,2 milhões de hectares, um território maior do que o da Irlanda. Atualmente, em 13 dos 32 municípios que compõem a região, a agropecuária já ocupa uma área maior do que a floresta. 

Leia também: Saiba o que é o projeto AMACRO

O projeto começou a ser discutido em 2018 e foi lançado durante o governo de Jair Bolsonaro para incentivar o agronegócio na região. Na prática, se tornou um dos principais motores do desmatamento no bioma Amazônia.

Ao todo, a região reúne 32 municípios. Em 2022, representou, sozinha, mais de 34% de todo o desmatamento da Amazônia brasileira.

A abertura de áreas para a agropecuária cresceu em média 5,61% por ano de 2018 a 2022, mais que o dobro da média para o bioma no Brasil.

Por dia, foram 4,2 mil hectares para novas pastagens e lavouras, que atingiram 7,2 milhões de hectares em 2022 – uma área maior do que a Irlanda.

Em 13 dos 32 municípios que formam a AMACRO, a agropecuária já ocupa mais áreas do que as florestas. São eles: Buritis. Plácido de Castro, Senador Guiomard, Monte Negro, Acrelândia, Alto Paraíso, Ariquemes, Campo Novo de Rondônia, Cujubim, Capixaba, Epitaciolândia, Rio Crespo e Porto Acre.

Nos próximos anos, pelo menos outros nove municípios devem ter o mesmo destino, incluindo as capitais Porto Velho, de Rondônia, que deve atingir 1,7 milhões de hectares em 2037, e Rio Branco, no Acre, onde as áreas de agropecuária devem cobrir mais da metade do município em 2041, segundo análise da InfoAmazonia.

Além dessas duas capitais, os seguintes municípios são os que estão mais perto de ter mais pasto do que floresta nos próximos anos: Nova Mamoré, Bujari, Machadinho D’Oeste, Lábrea, Candeias do Jamari, Xapuri e Itapuã do Oeste.

Entre os 32 municípios que formam a AMACRO, há um corredor ecológico vital formado por 49 terras indígenas e 86 unidades de conservação, que representam a última linha de defesa para a biodiversidade e os povos tradicionais da floresta.

A agropecuária, especialmente sua expansão entre 2018 e 2022, cercou muitas das terras indígenas e unidades de conservação na AMACRO, que agora estão diretamente ameaçadas pelo ritmo crescente dessas áreas sobre os territórios.

A Terra Indígena Karipuna, localizada entre os municípios de Porto Velho e Nova Mamoré, é um exemplo emblemático dessa pressão da agropecuária. Cercada por fazendas de gado, a comunidade Karipuna tem visto suas áreas tradicionais de subsistência serem destruídas para dar lugar ao pasto.

A data-chave, segundo a análise da InfoAmazonia (leia mais sobre a metodologia aqui), é 2067: ano em que a AMACRO como um todo, terá mais área de agropecuária do que floresta. Essas previsões foram feitas a partir de um modelo estatístico que analisa a variação da área de floresta e agropecuária ao longo dos anos.

A expansão da pastagem e da agricultura cresce duas vezes mais rápido nessa região do que no restante da Amazônia brasileira: enquanto em outras partes do bioma a abertura de novas áreas de agropecuária cresceu, em média, 2,63% ao ano, na AMACRO, esse crescimento anual foi de 5,61% entre 2018 e 2022.

Assim, o projeto da AMACRO, lançado no governo de Jair Bolsonaro como um polo de produção agropecuária para promover o “desenvolvimento sustentável”, torna-se, segundo o climatologista Carlos Nobre, um dos motores que podem levar a Amazônia ao ponto de não retorno — limite crítico para a sobrevivência da Amazônia como a conhecemos. Ao atingir este ponto, os rios, as florestas e os animais não terão mais as mesmas funções e condições de adaptação, perdendo a capacidade de regeneração e de manutenção dos serviços ecossistêmicos essenciais para o clima global. 

“Ali [na AMACRO], se nada for feito, até 2050 a Amazônia passa do ponto de não retorno e perde sua capacidade de regeneração natural. Não existe mais nenhuma justificativa para mais desmatamento. Essa é a região mais crítica para a floresta, junto com o norte do Mato Grosso e o centro-sul do Pará, onde mais de 90% do desmatamento ocorre para abertura de pastagens e lavouras”, observou Nobre.

O climatologista explica que a Amazônia já perdeu 13% de sua cobertura florestal ao longo de mais de 50 anos de intensa exploração. Nas últimas décadas, segundo ele, a destruição atingiu níveis industriais. “Quando a perda de floresta chegar entre 20% e 25%, a Amazônia vai atingir o ponto de não retorno. Com o avanço do desmatamento nesta região [AMACRO], este risco é altíssimo”.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo InfoAmazonia. Leia completo AQUI.

Cáritas Brasileira atende 2,8 mil famílias com projetos emergenciais em Roraima

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A Cáritas Brasileira tem acompanhado de perto a Terra Indígena de São Marcos (TISM), em Roraima, afetada diretamente pelos efeitos das mudanças climáticas. Em 2023, comunidades foram atingidas com fortes chuvas, que comprometeram espaços comunitários e destruíram casas de farinha. Já nesse ano de 2024, o estado registrou uma estiagem recorde e focos de incêndios ocasionando, desta vez, destruição pelo fogo nos sistemas de abastecimento de água. 

Sensível a essas situações, a Cáritas Brasileira iniciou duas ações. Uma em parceria com a Catholic Relief Services (CRS), por meio do Programa Empower, com financiamento da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e com apoio técnico da Agência para o Desenvolvimento Ultramarino (CAFOD), por meio da qual desenvolveu e implementou o projeto Apoio Humanitário às Comunidades Afetadas Pelas Queimadas em Roraima, que teve início em abril e está em fase de finalização. 

A segunda ação, que se chama Casa de Farinha, foi possível com o apoio da organização humanitária inglesa The Little Way Association. Com início em fevereiro e finalização neste mês de agosto. 

O Apoio Humanitário às Comunidades Afetadas Pelas Queimadas restabeleceu os sistemas de abastecimento de água que foram destruídos durante as queimadas nas comunidades indígenas do território, além de criar condições para que muitas delas, que antes não contavam com um sistema captação de água, pudessem ter acesso otimizado à água. 

Através desse projeto, foram entregues para cerca de 12 comunidades, mais de 22 mil metros de canos hidráulicos, essenciais para transportar a água. Além disso, foram distribuídas aproximadamente 26 caixas d’água, de mil litros e seis caixas d’água de cinco mil litros, em 26 comunidades.

O segundo projeto doou materiais para a construção de dez casas de farinha, telhas, itens para dormir e cozinhar. A primeira parte desse apoio chegou na TISM ainda no primeiro mês de execução, em fevereiro, com a entrega de 125 redes, 125 cobertores, panelas e utensílios domésticos. 

Nos últimos dias 21 e 22 de agosto, agentes Cáritas estiveram na região do Alto São Marcos, em Pacaraima – RR, nas comunidades Ouro Preto, Nova Morada, Sakaomota e Tarau Paru. A visita fez parte de um ciclo formativo para realização de promoção de higiene, com foco nos cinco momentos críticos de lavagem de mãos e com orientações sobre como cuidar das caixas d’água. 

As ações de resposta à emergência e de assistência às famílias atingidas pelas mudanças climáticas em Roraima fazem parte da área de atuação em Meio Ambiente, Gestão de Riscos e Emergências (MAGRE) da Cáritas Brasileira.

“O MAGRE tem investido fortemente na gestão de riscos, com foco no monitoramento e prevenção, para minimizar os impactos da atual emergência climática”, comentou a assessora nacional da Cáritas Brasileira, Taynara Dettmann, acrescentando também sobre os treinamentos nas comunidades para mitigação de danos.

“Eu fico feliz, não só por mim, mas sim pela comunidade”

Giselda Freitas, moradora da comunidade indígena de Ouro Preto, comentou sobre o restabelecimento do abastecimento de água: “Eu fico feliz, não só por mim, mas sim pela comunidade, porque aqui em Ouro Preto realmente não tinha as caixas. Todas as comunidades que receberam são agradecidas a esse projeto. Algumas comunidades tinham o projeto de puxar a água, mas não tinham os canos, e hoje os canos estão interligados”. 

Para o vice-coordenador da Associação dos Povos Indígenas da Terra São Marcos (APITSM), Adizon Menandro, a parceria com a Cáritas foi fundamental para o enfrentamento das emergências causadas pelas mudanças climáticas. 

“Fizemos vários levantamentos nas comunidades, detectamos muitos problemas e muitas deficiências. Em cima desses levantamentos, os projetos de encanamento e poços foram efetuados. Levamos caixas d’água para as comunidades, materiais para as casas que queimaram com o verão muito forte, e conseguimos recuperá-las. Assim como também, conseguimos chegar com água em comunidades indígenas que nunca tiveram nenhum tipo de abastecimento de água”, detalhou. 

Cuidado com a água

Além da distribuição das caixas e canos, foram desenvolvidos materiais informativos para as comunidades impactadas pelos incêndios em Roraima, como parte do projeto de Ajuda Humanitária às Comunidades Afetadas por Incêndios. Os banners e folhetos produzidos fornecem informações sobre como limpar e manter os sistemas de abastecimento de água, bem como técnicas adequadas de armazenamento de água.

Os folhetos foram impressos e distribuídos em cinco idiomas: Português, Espanhol, Macuxi, Wapichana e Taurepang, sendo os três últimos línguas indígenas. É possível visualizar e baixar esses materiais no link: https://caritas.org.br/divulgacao/24

*Com informações da Cáritas Brasileira

Espécie de ave rara e ameaçada de extinção é avistada em parque no Pará

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A região amazônica possui um grande número de aves. Uma descoberta rara e significativa foi registrada nos últimos dias no Parque Estadual do Utinga “Camillo Vianna” em Belém (PA). O professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) e fotógrafo de natureza, Gustavo Melo, conseguiu capturar imagens de um uiraçu (Morphnus guianensis) sobrevoando o Lago Bolonha.

A ave conhecida como accipitriforme da família Accipitridae, também é conhecida como gavião-real-falso ou gavião-de-penacho. A identificação da espécie contou com o auxílio do biólogo Felipe Furtado, confirmando a presença da ave em uma das áreas de conservação mais importantes da capital paraense.

O uiraçu é uma espécie rara, mais difícil de ser avistada do que o gavião-real (Harpia harpyja), com o qual compartilha diversas características. Considerada uma das maiores aves de rapina das Américas, o uiraçu pode medir entre 81 e 91 centímetros de comprimento, com as fêmeas geralmente maiores e mais robustas que os machos. Uma de suas características marcantes é o penacho escuro na cabeça, com uma única pena negra mais longa, que o diferencia do gavião-real, que possui duas penas no penacho.

De acordo com a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), o uiraçu é classificado como “quase ameaçado”. No Brasil, a situação é ainda mais crítica em alguns estados da Mata Atlântica, onde a espécie é severamente ameaçada ou até mesmo considerada extinta regionalmente, como no caso do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. A raridade desse avistamento no Parque Estadual do Utinga ressalta a importância da conservação das áreas verdes remanescentes em grandes centros urbanos.

Relevância

O gerente da Região Administrativa de Belém, Júlio Meyer, destacou a importância do registro para a conservação da biodiversidade na região.

“O avistamento do uiraçu no Parque Estadual do Utinga é um sinal claro de que nossos esforços para proteger e conservar este ecossistema estão dando frutos. Esse registro reforça a necessidade de continuarmos a trabalhar para garantir que espécies raras e ameaçadas, como o uiraçu, possam encontrar refúgio seguro em áreas protegidas como o Utinga”, afirmou.


Foto: Gustavo Melo/IdeflorBio

O uiraçu é encontrado em florestas conservadas ou com pouca alteração, tanto em florestas primárias quanto secundárias. Prefere viver sozinho ou em pares e é conhecido por passar longos períodos imóvel, oculto em poleiros altos enquanto caça suas presas. Sua ampla distribuição geográfica abrange desde o México até o nordeste da Argentina, com ocorrência registrada em vários países da América Central e do Sul.

No Brasil, a espécie é mais comum na Amazônia, mas também pode ser encontrada em biomas como o Cerrado e a Mata Atlântica. No Cerrado, há registros em pontos do Centro e Sudeste, incluindo Minas Gerais. Já na Mata Atlântica, sua presença é mais notável no sul da Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, embora em algumas dessas áreas a espécie esteja sob risco extremo de extinção.

Refúgio

O Parque Estadual do Utinga, uma das 28 Unidades de Conservação (UCs) do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio), com sua rica biodiversidade e importância ecológica, tem se consolidado como um refúgio para diversas espécies de fauna e flora da região amazônica. O avistamento do uiraçu neste local reflete a qualidade do ambiente preservado e a relevância do parque como área de conservação.

Vale lembrar que em maio deste ano, o Ideflor-Bio, por meio da Gerência da Região Administrativa de Belém (GRB), promoveu um evento que culminou na criação do Clube de Observação de Aves do Pará (Coapa). A iniciativa é aberta à participação de todas as pessoas interessadas em observação de aves.

Para Gustavo Melo, professor da UFPA, que também é atual vice-presidente do Coapa e fotógrafo que registrou o momento, o encontro com o uiraçu foi emocionante e inesperado.

Avistamentos como este não só contribuem para o conhecimento científico, mas também inspiram o público a valorizar e preservar a rica biodiversidade da região. O Ideflor-Bio enfatiza que o registro do uiraçu no Parque Estadual do Utinga deve servir como um lembrete da importância de proteger os habitats naturais e reforçar as políticas de conservação.

*Com informações do Ideflor-Bio

Porto Velho atinge nível mais grave em escala que mede poluição do ar

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Encoberta por fumaça desde o início da semana, a cidade de Porto Velho registrou, no final da manhã desta quinta-feira (29), uma concentração de material particulado de 621 microgramas por metro cúbico (µg/m3), apontou a plataforma que mede o Índice de Qualidade do Ar em tempo real, da fundação suíça IQAir.

A medição indicou um nível de poluição muito acima do padrão de qualidade do ar estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como seguro à população, que admite a presença de material particulado em até 45 microgramas por metro cúbico (µg/m3).

Pela classificação da Fundação IQAir, a cidade registra atualmente o nível perigoso, o mais grave em uma escala de seis, no qual há indicação de evitar atividade física ao ar livre, fechar portas e janelas para manter a poluição fora dos ambientes internos e usar máscara em áreas de maior exposição.

 Foto: Tiago Frota/Rede Amazônica

Com 5,88 mil focos de incêndio registrados de 1° de janeiro até o dia 29 de agosto, segundo o programa BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o estado teve nesses meses mais do que o dobro dos 2,4 mil focos registrados no mesmo período de 2023.

O governo de Rondônia declarou no início desta semana situação de emergência por incêndios florestais. Também foi decretada a proibição do uso do fogo em todo o estado por um período de 90 dias.

A reportagem entrou em contato com a assessoria da prefeitura de Porto Velho e do governo do estado de Rondônia em busca de informações sobre medidas de proteção à saúde da população. A prefeitura informou que a secretária municipal de Saúde, Eliana Pasini, não tinha disponibilidade na agenda, e o governo do estado reforçou as medidas adotadas para o enfrentamento às queimadas da região.

*Com informações da Agência Brasil

MIDR aprova R$ 11,7 milhões para ações de defesa civil na Amazônia

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O atual período de estiagem na Amazônia será o mais severo em 20 anos. A região enfrenta condições climáticas extremas, aumentando a frequência e a intensidade dos focos de incêndio. Diante do cenário, o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), por meio da Defesa Civil Nacional, aprovou o repasse de R$ 11,7 milhões para a região até o momento.

O recurso será destinado para ações de defesa civil nos estados do Amazonas e Roraima. O MIDR também reconheceu a situação de emergência em 53 municípios do Acre, Amazonas, Roraima e Rondônia e aprovou oito planos de trabalho.

O ministro Waldez Góes falou sobre as ações de enfrentamento ao desastre do Governo Federal. “Desde o primeiro momento, o governo Lula está mobilizado. Assim que montamos uma sala de situação para debater e resolver o problema do Pantanal, a ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudanças do Clima), sob o comando do ministro Rui Costa, está analisando todas as questões referentes à Amazônia. Está prevista para a próxima semana uma reunião com os governadores dos estados que passam pelo problema”, disse o ministro, ressaltando o esforço do MIDR.

“Reconhecemos várias situações de emergência e liberamos recursos para ajuda humanitária em alguns municípios”, completou.

Waldez Góes também lamentou o cenário atual da Amazônia.

Ações do Governo Federal na Amazônia

Até o momento, foram liberados R$ 405 milhões do Fundo Amazônia para apoiar o Corpo de Bombeiros dos estados da Amazônia Legal (Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Pará, Maranhão, Amapá, Tocantins e Mato Grosso). Além disso, R$ 785 milhões do programa União com Municípios foram destinados para ações de combate ao desmatamento e incêndios em 70 municípios prioritários.

Em julho deste ano, o presidente Lula sancionou projeto de lei que regulamenta o manejo integrado do fogo no país. O projeto proíbe o uso do fogo para desmatamento da vegetação nativa, exceto para queima controlada, permite o uso do fogo em práticas agropecuárias apenas em situações específicas, com responsabilização dos proprietários em caso de incêndios, estimula a criação, capacitação e fortalecimento de brigadas voluntárias e privadas e fortalece o Corpo de Bombeiros e brigadas federais, estaduais e municipais.

Em junho, no Dia Mundial do Meio Ambiente, Lula também assinou um pacto com governadores do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Amazonas, Maranhão, Tocantins, Acre, Amapá, Roraima e Rondônia. O pacto busca reforçar a ação coordenada para prevenção, controle e manejo do fogo e inclui a suspensão de autorizações de queima até o fim do período seco e durante épocas com previsão de ondas de calor.

“Estamos realizando ações como a dragagem nos rios (processo de limpeza, desobstrução e remoção de material do fundo de grandes reservatórios de água), além de medidas de emergência adotadas, também, pelo Ministério de Minas e Energia em comunidades isoladas, no combate a incêndios”, concluiu o ministro Waldez Góes.

Como solicitar recursos

Cidades com o reconhecimento federal de situação de emergência ou de estado de calamidade pública podem solicitar ao MIDR recursos para ações de defesa civil. A solicitação deve ser feita por meio do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD).

Com base nas informações enviadas nos planos de trabalho, a equipe técnica da Defesa Civil Nacional avalia as metas e os valores solicitados. Com a aprovação, é publicada portaria no Diário Oficial da União (DOU) com o valor a ser liberado.

Capacitações da Defesa Civil Nacional

A Defesa Civil Nacional oferece uma série de cursos a distância para habilitar e qualificar agentes municipais e estaduais para o uso do S2iD.

As capacitações têm como foco os agentes de proteção e defesa civil nas três esferas de governo. Confira neste AQUI a lista completa dos cursos.

Entenda por que a Apib deixou a mesa de conciliação sobre o Marco Temporal

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Após a retirada da mesa de negociação, Edinho Macuxi, coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR), falou das violências sofridas pelo movimento indígena. Foto: Adriano Machado/Greenpeace

Nesta quarta-feira (28), a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) tomou uma decisão firme e histórica: se retirou da mesa de negociação convocada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para discutir e “conciliar” diversas questões relativas ao Marco Temporal.

A decisão foi tomada de maneira coletiva, por lideranças de todo o território nacional, que enxergaram na convocação da Suprema Corte mais um gesto de violência do Estado brasileiro contra os povos originários do Brasil. A reunião de conciliação foi feita sem consulta anterior, sem regras claras e com representação minoritária dos povos indígenas – das 24 cadeiras na mesa, apenas 6 eram dedicadas ao movimento indígena (originalmente, era apenas uma).

Além disso, foram convocadas para esta conversa instituições como a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) e o Fórum dos Governadores – organizações que, segundo o movimento indígena, não tem porquê se fazer presentes em discussões envolvendo os direitos dos povos originários.

Racismo e violências

A primeira reunião dessa mesa ocorreu no dia 05 de agosto – e, desde o início, diversos episódios incomodaram as lideranças indígenas. Representantes foram impedidos de entrar no anexo do Supremo Tribunal Federal, as falas dos indígenas foram constantemente interrompidas, e os juízes conciliadores tiveram discursos inadequados para com o movimento.

Um ponto especialmente preocupante foi a sugestão de que a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) representasse as lideranças durante a negociação, caso a Apib decidisse se retirar. Essa proposta remete à doutrina da tutela do Estado sob os povos originários, uma ideia ultrapassada que, juridicamente, foi extinta na promulgação da Constituição em 1988. Isso enfureceu o movimento indígena. Ao final das seis horas de conversa, as lideranças saíram denunciando o racismo institucional e relatando violências simbólicas sofridas durante a conciliação.

A segunda reunião ocorreu ontem, 28 de agosto. A saída da mesa se deu com a divulgação de uma carta, lida no plenário por Maria Baré, Coordenadora da Articulação das Organizações e Povos Indígenas do Amazonas (Apiam). No documento, a Apib – que representa o movimento indígena em âmbito nacional – denunciou o ambiente de opressão enfrentado durante a primeira reunião, descrevendo-o como “um ambiente aflitivo” e que “ os apontamentos realizados durante a primeira audiência de conciliação foram violentos e opressivos”.

A Apib também expressou sua insatisfação com a falta de clareza sobre os reais objetivos da conciliação. “Não havia nitidez sobre o que se estaria a conciliar, quais seriam os pontos em discussão e o que poderia ser concretamente alterado no sistema de proteção dos direitos indígenas”. Além disso, a entidade criticou as visões ultrapassadas e inadequadas sobre a garantia dos direitos indígenas.

Após a retirada da mesa de negociação, Edinho Macuxi, coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR), falou das violências sofridas pelo movimento indígena © Adriano Machado/Greenpeace
Mesa de imposição

Paulo Macuxi, liderança da Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR), contou que os representantes indígenas estão muito indignados e revoltados. “É inadmissível o que aconteceu aqui. A gente não considerou isso uma mesa de negociação. Foi uma mesa de imposição, de retaliação de nossos direitos. A partir do momento em que se fala que a mesa continua sem a nossa presença, não há dúvida de para quê ela serve”, declarou.

A saída da mesa de negociação vinha sendo discutida desde a reunião do dia 05, mas amadureceu ao longo de diversos encontros e conversas realizadas nas últimas duas semanas. Na madrugada do dia 28, foi finalizada a carta que sintetiza o sentimento e a posição oficial do movimento indígena brasileiro em relação a esse processo.

E agora?

Mesmo com a saída da Apib da mesa de negociação, o processo vai continuar ocorrendo. Segundo o despacho de junho do Ministro Gilmar Mendes, a mesa de negociação deve funcionar até o dia 18 de dezembro. Já existe a sinalização de novas reuniões em setembro. No entanto, após a saída da Apib, existem muitas dúvidas sobre a continuidade e legitimidade desse processo.

Uma das condições estabelecidas pela Apib para continuar participando da mesa de conciliação foi a suspensão da Lei 14.701. Promulgada em 2023, essa Lei restabeleceu o Marco Temporal em nosso ordenamento jurídico e colocou diversas dificuldades para a demarcação de territórios indígenas. O Ministério da Justiça já admitiu que diversos processos demarcatórios estão paralisados por conta dessa Lei. Embora um pedido de inconstitucionalidade tenha sido apresentado ao STF, ainda não houve resposta. Sem a derrubada da Lei 14.701, os territórios continuarão vulneráveis diante dos interesses ruralistas e do agronegócio, que permanecem na ofensiva contra os territórios originários.

Além disso, os territórios indígenas continuam a sofrer diversos tipos de ataques, incluindo invasões de garimpeiros, madeireiros, fazendeiros e jagunços. Recentemente, a situação se agravou com o uso criminoso do fogo, que espalhou fumaça por quase todo o país. Não podemos compactuar com essa situação! Para construir o futuro ecológico e inclusivo que queremos, é preciso proteger os territórios indígenas – que possibilitam a sobrevivência dos povos originários, protegem nossos ecossistemas e biodiversidade e ajudam na mitigação dos efeitos da crise climática.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Greenpeace Brasil

Mazagão concentra 100% da exploração madeireira no Amapá

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Apenas um dos 16 municípios do Amapá concentrou toda a extração madeireira que foi possível detectar no estado entre agosto de 2022 e julho de 2023. Foi Mazagão, a quarta maior cidade amapaense, onde puderam ser identificados 351 hectares com a presença da atividade, todos com autorização dos órgãos ambientais.

Os dados são do Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (Simex), composto por quatro instituições de pesquisa: Imazon, Idesam, Imaflora e ICV. Após realizarem o mapeamento por imagens de satélite, os pesquisadores verificaram se havia planos de manejo emitidos pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Amapá (Sema/AP) autorizando a atividade nessas áreas.

Ainda no município de Mazagão, a retirada de madeira foi identificada em duas classes territoriais, ambas sob plano de manejo. A maior parte, aproximadamente 97%, correspondente a 341 hectares, ocorreu na unidade de conservação de uso sustentável Floresta Estadual do Amapá. Os outros 3%, que equivalem a 10 hectares, foram registrados no Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Maracá.

Os dados mostram a predominância da gestão autorizada na região, destacando a importância do manejo florestal adequado para a preservação da natureza e o uso planejado e regulamentado do meio ambiente.

“Para que uma pessoa ou organização obtenha autorização para extrair madeira, é necessário apresentar um plano de manejo florestal para o território. As diretrizes legais e técnicas recomendadas pelo manejo florestal sustentável e descritas no documento são essenciais para garantir a sustentabilidade e a continuidade da produção de madeira no local” afirma Dalton Cardoso, pesquisador do Imazon.

Foto: Reprodução/Prefeitura de Mazagão

O especialista ainda explica que, devido às condições climatológicas do Amapá, caracterizadas por uma elevada cobertura de nuvens na maior parte do ano, é possível que os números apresentados não reflitam a totalidade da extração madeireira no estado.

Dados do cenário madeireiro no Amapá serão divulgados em congresso ambiental

Entre os dias 22 e 23 de agosto, Macapá, capital do estado, recebe o III Congresso Ambiental dos Tribunais de Contas. Durante o evento, que tem como tema “Amazônia – Realidade, Desafios e Oportunidades para o Desenvolvimento”, serão apresentados os novos dados da Rede Simex sobre o Amapá.

A iniciativa é um espaço de discussão sobre as problemáticas e perspectivas da região amazônica e o papel necessário dos Tribunais de Contas na fiscalização e controle das ações governamentais relacionadas à proteção do bioma. O congresso, que já está com suas vagas esgotadas, será realizado no auditório do Sebrae Macapá e reunirá especialistas da área ambiental, gestores públicos, pesquisadores e outras pessoas envolvidas com a temática. Além disso, contará com transmissão ao vivo pelo YouTube da Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon) e do Tribunal de Contas do Amapá (TCE-AP).

Entenda mais sobre o Simex aqui
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*Com informações do Imazon

Milhões de ribeirinhos da Amazônia se nutrem de alimentos contaminados, afirma Fiocruz

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Milhões de vidas estão em situação de risco iminente na Amazônia, conforme alertas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Dois temas, insegurança alimentar e insegurança pública, estão apresentados lado a lado porque revelam interdependência: para a descontaminação dos rios, a preservação ambiental e a garantia do bem-estar da população, é essencial a erradicação da violência e o combate ao crime.

Insegurança alimentar

O relatório da Fundação, coordenado pelos cientistas Paulo Cesar Basta e Sandra de Souza Hacon, é um guia para estudos imediatos. Todos os dias, milhões de habitantes ribeirinhos da Amazônia, um dos maiores ativos ambientais do planeta, se nutrem de alimentos contaminados. O peixe, sua alimentação básica e cotidiana, é contaminado pelo mercúrio despejado nos rios que atravessam a região. Morte lenta e gradual, ocasionada por mãos assassinas de bandidos em busca de ouro. Para facilitar seu trabalho, os garimpeiros ilegais derramam esse metal líquido prateado, denso e fatal, nas principais reservas de água doce do mundo.

Imagens captadas pela organização MapBiomas revelam que as bacias mais afetadas pelo assoreamento dos rios e contaminação das águas foram as do Amazonas (o famoso rio-mar), Tapajós, Teles Pires, Jamanxim e Xingu. Em 2022, o garimpo ilegal teve um incremento de 265% em relação aos anos anteriores. Isso significa uma área de 35 mil hectares. Para que se tenha ideia da monumentalidade criminosa, basta dizer que as leis ambientais brasileiras não permitem que cada concessão ultrapasse cinquenta hectares. Isso mesmo, apenas cinco dezenas. Mas, durante quatro anos, todas as leis e multas foram, na prática, anuladas.

Quatro instituições – Fiocruz, Instituto Socioambiental (ISA), Instituto Evandro Chagas e Universidade Federal de Roraima (UFRR) uniram-se em um estudo sobre a contaminação dos rios no território indígena Yanomami. Os peixes recolhidos em vários pontos da bacia do Rio Branco tinham concentrações de mercúrio bem maiores ou no limite fixado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Foi detectado que os peixes barba-chata, coroataí, filhote, piracatinga e pirandirá, carnívoros, apresentam riscos elevadíssimos, e deles somente podem ser consumidos cinquenta gramas, uma vez por mês. Também apresentam alto risco os peixes dourado, mandubé, pescada, tucunaré e piranha-preta, requerendo baixo consumo.

Em síntese, a presença de garimpos em terras indígenas não traz riqueza e desenvolvimento às comunidades. Pelo contrário, deixa um legado de enfermidades e problemas ambientais que contribuem para perpetuar o ciclo de pobreza, miséria e desigualdade na Amazônia.

O que fazer?

O que é urgente e efetivo é a proteção integral dos rios. Isso quer dizer aumento da fiscalização, bloqueio das vias de acesso do garimpo, destruição das pistas de pouso, veículos e maquinário dos infratores, além de prisão em flagrante. Estas práticas, naturalmente, devem ser levadas a efeito em paralelo com a busca de tecnologias limpas.

Por meio do Global Mercury Partnership, almeja-se a disseminação de boas práticas para a descontaminação das águas na região. Merece destaque a experiência praticada nos arredores do Tapajós, onde os mineiros locais são treinados visando à redução do uso do mercúrio e à recuperação ambiental.

Instituições do saber científico no Brasil unem-se na defesa da Amazônia. USP, UFPA e Inpa e abordam no Pensa Brasil 2024 as questões levantadas e outros desafios na região. A Embrapa Florestas, a Unicamp, a UFMT, a UEM e a Coogavepe pesquisam os efeitos de quatro bioextratos produzidos a partir de uma árvore nativa da Amazônia, conhecida como pau-de-balsa (Ochroma piramidale) como tecnologia livre de mercúrio na mineração de ouro.

Em complemento, pesquisadores da Chalmers University of Technology, na Suécia, conceberam um processo eletroquímico para tratar rios contaminados por mercúrio. A solução está em um eletrodo que atrai para si os metais pesados e purifica as águas. O novo método torna possível reduzir as impurezas em 99%. O trabalho foi publicado na revista Nature Comunications.

No que se refere à saúde, é preciso incluir médicos que abordem os efeitos da exposição crônica e aguda ao mercúrio, especialistas em saúde pública que analisem padrões de grandes populações e sociólogos e antropólogos que estudem os impactos decorrentes da prospecção e extração de ouro.

Insegurança pública

Na Amazônia brasileira, o cenário é preocupante e exige uma política de segurança pública em condições de cortar o mal pela raiz. Um desses estudos é Cartografias da Violência na Amazônia. Apoiado em mapas, quadros, gráficos e tabelas repletas de informações auditáveis, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta o território em disputa neste infernal mercado de violência, suas dinâmicas, redes, efeitos ambientais e sociais e capacidades a explorar para o seu urgente enfrentamento. A invasão do crime organizado ocupou 23% do território da Amazônia Legal, adotando procedimentos iguais ou até mais nocivos do que aqueles que essas mesmas facções aplicam nas favelas metropolitanas.

Este relatório oferece indicadores preocupantes: nas cidades caracterizadas como “urbanas” da Amazônia, a taxa de mortes por violência é de 35,1 por 100 mil habitantes, 52% a mais do que a média nacional, enquanto nos municípios ditos “rurais”, por sua proximidade ao campo, a taxa média de homicídios superou em 38% a média do País, chegando a 31%.

O feminicídio fez-se rotina na Amazônia e exige combate por todos os meios, que convergem, na justa medida, repressão, educação e, sobretudo, ações preventivas, além do pronto apoio às vítimas em situação de risco. Nos municípios amazônicos, este crime apresenta uma taxa de 1,8 para cada 100 mil mulheres – superior à sinistra média nacional, de 1,4 por 100 mil.

O que fazer?

Quando se fala em Política Nacional de Segurança, é imperiosa a urgência de um modelo específico para tratar os conflitos da Amazônia. A região, por suas peculiares características geográficas, econômicas, sociais e culturais, é como um país à parte, exigindo normas próprias, embora emanadas, como estabelece a Constituição, dos mesmos poderes centrais. Trata-se de um ecossistema a ser monitorado com dados mais precisos sobre demografia, trabalho e condições de vida, rastreabilidade e acesso aos benefícios por parte das comunidades das florestas dedicados à bioeconomia de produtos não madeireiros. A experiência de uma “Casa de Governo”, instalada para monitorar as invasões de garimpeiros, poderia ser replicada no território amazônico para desconstruir as ações do crime organizado.

Conclusão

Promover o bem-estar humano e a conservação da natureza na Amazônia é a missão da Estratégia Nacional de Bioeconomia, instituída no Decreto 12.044 de 5/6/24. Trata-se de uma estratégia para o fortalecimento das cadeias de valor sustentáveis, visando estimular atividades geradoras de emprego e renda para os habitantes da floresta, permanentemente ameaçados pelo crime organizado e envenenados pelo mercúrio espalhado nos rios. A implementação da Estratégia Nacional de Bioeconomia depende da articulação de esferas de governo, incluídos os órgãos responsáveis pela segurança pública, com organizações da sociedade civil e entidades privadas. Uma articulação que exige governança adequada para eleger prioridades, determinar responsabilidades e selecionar métricas de monitoramento para a ampla divulgação dos seus resultados e impactos.

*Artigo escrito por Jacques Marcovitch (professor sênior da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da USP) e Adalberto Luiz Val (pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações), originalmente publicado pelo Jornal da USP