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Nota Técnica recomenda reparação de danos climáticos do desmatamento ilegal

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Qual o preço do dano climático decorrente do desmatamento ilegal? Buscando soluções estratégicas para aprimorar a reparação climática, a ABRAMPA (Associação Brasileira de Membros do Ministério Público de Meio Ambiente) e o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) lançaram, no dia 13 de setembro, nota técnica que propõe diretrizes para quantificar e precificar os danos climáticos decorrentes da perda de vegetação florestal. 

O desmatamento ilegal é uma das principais fontes de emissões brutas de CO₂ (gás carbônico) do Brasil, e o documento traz uma análise das práticas atuais para aprimorar a reparação dos danos ao sistema climático.

O número de ações judiciais no Brasil que buscam responsabilizar os desmatadores pelos danos climáticos cresce a cada dia. No entanto, ainda faltam critérios claros e consolidados para mensurar o valor dos danos do desmatamento ilegal. A fim de sanar esta lacuna, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) tem trabalhado para orientar o poder judiciário na avaliação dos impactos ambientais com repercussões climáticas.

A nota técnica busca justamente subsidiar tecnicamente esse trabalho. Dessa forma, o documento apresenta fundamentos jurídicos para a responsabilização do desmatador e propõe uma metodologia baseada na ciência para a apuração dos danos climáticos a partir da quantificação do gás carbônico lançado na atmosfera.

O preço do desmatamento para o clima

Para o cálculo do dano climático, a nota técnica sugere a utilização do valor mínimo de cinco dólares americanos por tonelada de CO₂. O Fundo Amazônia estabelece esse valor – atualmente o único parâmetro oficial disponível no Brasil –, até que haja um referencial oficial que contemple adequadamente os danos ecológicos e sociais causados pelas emissões.

Para quantificar esses danos e apoiar a fundamentação de ações judiciais, a nota recomenda o uso da Calculadora de Carbono (CCAL), plataforma desenvolvida pelo IPAM. A ferramenta permite estimar a quantidade de carbono estocado na vegetação antes do desmatamento, facilitando a busca por reparação dos danos climáticos. O cálculo pode ser realizado para todos os biomas brasileiros.

“Considerando a emergência global, imposta pela mudança do clima, a justiça e os Ministérios Públicos têm um papel fundamental no controle do desmatamento da região amazônica, maior fonte de emissão nacional de gases de efeito estufa. A ideia é motivar os procuradores e promotores de justiça a estimarem o dano climático que a derrubada e queima da floresta geram. Para tanto, estamos disponibilizando uma plataforma que calcula tais danos, subsidiando cientificamente as ações civis públicas contra a destruição florestal. Assim, cria-se mais uma via para evitar um prejuízo ainda maior, não apenas para o clima, mas para a economia do Brasil e o futuro dos brasileiros”, afirma Paulo Moutinho, pesquisador sênior do IPAM.

Fontes de emissões no Brasil

A perda de vegetação nativa, seja por desmatamento ilegal ou autorizado, ou ainda pelas queimadas, está entre as principais fontes de emissões de CO₂ no Brasil. Isto porque quando as árvores são derrubadas ou queimadas, liberam na atmosfera o gás carbônico que haviam absorvido. Além disso, elas deixam de atuar como sumidouros de carbono.

O Brasil é o sexto maior emissor de gases de efeito estufa (GEE) do mundo, contribuindo com 3% das emissões globais, atrás de países como China e Estados Unidos. Em 2022, o uso da terra foi responsável por quase metade das emissões nacionais, com 97% destas decorrentes do desmatamento. Por exemplo, só na Amazônia, o desmatamento emitiu 837 milhões de toneladas de CO₂.

O lançamento da nota técnica aconteceu em evento online exclusivo para membros e técnicos do Ministério Público. O documento elaborado pela ABRAMPA e IPAM está disponível aqui.

*Com informações do IPAM Amazônia

Seca severa revela canhões da Coroa Portuguesa no interior do Amazonas

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Peças ajudaram a Coroa Portuguesa impor domínio na região. Foto: Reprodução

A seca severa que atinge o município de Tabatinga, no interior do Amazonas, revelou dois canhões usados na proteção do Forte São Francisco Xavier de Tabatinga. Ainda neste período, as ruínas do forte, já haviam sido reveladas devido ao baixo nível das águas. Esta é a maior seca na localidade registrada nos últimos 42 anos.

Leia também: Forte São Francisco Xavier volta aparecer com a seca do Rio Solimões no Amazonas

A medição do Serviço Geológico do Brasil (SGB), apontou que atualmente o Rio Solimões esta com a cota negativa de -1,91 metros, a menor já registrada em Tabatinga desde o inicio do monitoramento da Agência Nacional de Águas (ANA) em 1982.

As peças de artilharia, que pesam cerca de duas toneladas cada, foram encontradas durante uma pescaria entre amigos no sábado (14). Elas fazem parte do arsenal que era usado na proteção do forte feita pelos portugueses em meio a expedições espanholas na região, hoje conhecida como Alto Solimões.

O militar Alex Cajueiro contou que estava pescando e, no retorno, preferiu cortar caminho por dentro da água. Durante o percurso, acabou esbarrando nas peças de artilharia que estavam no rio.

“Subimos aqui nessa direção e me deparei com alguma coisa muito grande, algum ferro, eu até me bati, mas não consegui identificar o que era. Aí eu chamei os amigos, eles vieram e aí viram que era um canhão. Nossa pescaria não foi boa, mas creio que a gente pescou essa relíquia que faz parte da nossa história”, relatou.

O Exército Brasileiro, por meio do 8º Batalhão de Infantaria de Selva vai ser o responsável pela remoção dos canhões do lugar onde foram encontrados.

O historiador Luís Ataíde explicou que além de impor autoridade contra a presença espanhola na região, os canhões também tinham o papel de coibir crimes de contrabando na área do Forte São Francisco Xavier.

Um dos canhões estava parcialmente submerso. Foto: Reprodução

A luta pela conquista da área de fronteira entre o Brasil, Colômbia e o Peru é marcado por dois momentos histórico, sendo eles: o Tratado de Madri, em 1750, que garantiu a soberania da região ao governo português; e o Tratado de Santo Idelfonso, em 1777, onde a coroa espanhola pede de volta à Portugal a área territorial onde hoje se encontra a região do Alto Solimões.

Para honrar a coragem dos militares, o Exército Brasileiro construiu um memorial que reproduz parte da estrutura do forte. O espaço, que inclui canhões e outras peças da época, pode ser visitado no Museu do Comando de Fronteira Solimões, dentro do Parque Zoobotânico de Tabatinga.

Apesar de ter sido inundado pelas águas do Solimões em 1932, o Forte São Francisco Xavier continua sendo um símbolo de resistência. Atualmente, está inscrito no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

*Por Lucas Macedo e Rôney Elias, da Rede Amazônica AM

Presidente do ICMBio pede consciência da população sobre uso do fogo

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Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Mauro Pires, disse nesta segunda-feira (16) que a população tem que se conscientizar que não é permitido colocar fogo em qualquer área neste período do ano.

“A primeira coisa que nós temos de fazer é uma conscientização nas escolas, nas empresas que em todo o Brasil está proibido colocar fogo no mato. Às vezes, por falta de conhecimento, o fogo é colocado pelo seu vizinho, pelo próprio proprietário que está fazendo a limpeza de uma área, a limpeza do pasto, mas isso pode ganhar uma proporção muito grande”, disse, em entrevista ao programa A Voz do Brasil, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

A denúncia sobre focos de fogo pode ser feita através do número 190 da Polícia Militar e do 193, como também para o Linha Verde dos órgãos ambientais. “É importante também o apoio dos governos estaduais com as suas brigadas e até das prefeituras, que estão mais próximas da população e podem também auxiliar para evitar que um incêndio ganhe grandes proporções”.

Segundo ele, é possível que os efeitos climáticos se agravem nos próximos anos. “Portanto, se a gente não tiver uma ação coordenada, integrada, entre todas as esferas, a gente não vai enfrentar esse tipo de situação”.

Ações criminosas

Pires falou dos focos que são tipicamente criminosos, como colocar fogo num parque nacional, que é crime previsto na legislação ambiental. O presidente do ICMBio lembrou o incêndio que está destruindo o Parque Nacional de Brasília.

“Hoje, a cidade amanheceu com muita fumaça, porque ontem, um domingo muito quente, houve um fogo na Granja do Torto, que acabou se alastrando para o Parque Nacional, como é uma área de floresta nativa, o fogo acabou ganhando uma proporção muito grande”.

Segundo ele, mais de 300 homens do Corpo de Bombeiros, do Ibama e do Exército trabalham no combate às chamas. “Continuaremos a noite inteira, a fim de controlar o incêndio, que poderia ter sido evitado”, garantiu.

*Com informações da Agência Brasil

Boa Vista tem picos de ar insalubre em metade do ano causados pelas queimadas, aponta Inpa

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Vista de Boa Vista com fumaça de queimadas ao fundo neste ano. Foto: Lucas Silva/Platô Filmes/ISA

Em Boa Vista, em seis meses do ano, o ar respirado pela população apresenta picos de insalubridade, principalmente por causa da fumaça das queimadas e incêndios florestais. É o que revela uma pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) publicada no último dia 6. O relatório Monitoramento da Qualidade do Ar na Cidade de Boa Vista – Roraima registrou dados do  período de 2020 a 2024.

No dia 2 de abril, o ar na capital roraimense foi classificado como o 15º pior do mundo. O levantamento do Inpa lembra que, neste ano, a cidade teve quatro dias com níveis de poluição que superaram o de algumas das grandes metrópoles mais poluídas do planeta, como Hanoi, no Vietnam, e São Paulo.

De acordo com a pesquisa, nos quatro dias em questão, foi registrado um nível de material particulado no ar superior a 300 microgramas por metro cúbico (µg/m³) de PM 2.5 (partículas de poeira inaláveis de diâmetro igual ou menor que 2.5 microns por µg/m³) – a unidade de medida da concentração de poluentes.

As cores mais quentes indicam os picos de poluição em Roraima. Fonte: Monitoramento da Qualidade do Ar na cidade de Boa Vista (Roraima)/Inpa

O estado teve recorde de focos de calor em fevereiro deste ano, considerando a série histórica do mês desde 1998. Como várias outras regiões do país, a capital, outros municípios e terras indígenas, incluindo a Yanomami, ficaram cobertos por fumaça. O levantamento do Inpa aponta que a nuvem de poluição gerada em Roraima foi tão grande que acabou alcançando regiões relativamente distantes, como o Alto Rio Negro e o Alto Rio Solimões, no Amazonas. 

Por causa da seca, o fogo se alastrou e destruiu diversas áreas de cultivo de alimentos. O Rio Branco, principal fonte de água potável do estado, chegou a atingir uma marca de 39 cm abaixo do nível mínimo de medição.

“Pico de insalubridade”

“Estamos tratando a insalubridade do ar como a poluição que pode causar danos à saúde humana. Esse impacto à saúde tem níveis diferentes, tanto pela quantidade de poluição quanto pelo público que é afetado”, explica Citó.

O “pico de insalubridade” é um período de tempo que concentra saltos nos níveis máximos de poluição. De acordo com a pesquisa, de janeiro a março, Boa Vista sofre o maior pico por causa de queimadas e incêndios, localizados principalmente no centro e norte de Roraima, em anos de extrema seca e ventos fortes, como em 2024 e 2023.

Ainda conforme o estudo, o segundo período mais crítico, de agosto a outubro, é causado pelo transporte de poluentes vindos de incêndios e queimadas situados no sul da Amazônia, em especial no oeste do Pará e localidades próximas de Manaus. 

“No pico de poluição primário (janeiro a março), os valores de poluição são maiores, oferecendo riscos à população em geral”, aponta o pesquisador.

Pelo fato de parte do estado estar acima da Linha do Equador, em Roraima o período de seca vai de outubro a março e o chuvoso, de abril a setembro, ao contrário do que acontece no resto do país. 

Para se ter uma ideia do problema, nos quatros anos analisados pelos cientistas do Inpa, em 70 dias a qualidade média do ar foi classificada como “insalubre para grupos sensíveis”, “insalubre” ou “muito insalubre”. Por outro lado, em 255 dias a leitura máxima da concentração de poluentes feita ao longo do dia alcançou a classificação de “insalubre para grupos sensíveis”, “insalubre”, “muito insalubre” ou “péssima” (veja a tabela).

Como a pesquisa foi feita?

Os pesquisadores observaram os dados de qualidade do ar em 1290 dias, entre julho de 2020 e maio de 2024. A pesquisa analisou médias diárias (variação ao decorrer do dia) do grau de poluição e também máximas diárias (pico de insalubridade do dia).

Com base nas médias diárias, Boa Vista teve 689 dias (53,4%) com qualidade de ar considerada boa. No entanto, nos outros 601 dias (46,6%), a qualidade do ar apresentou algum grau de risco para os moradores. Já na análise de máximas diárias, a cidade teve pico de ar insalubre em 1010 dias (78,3%), enquanto a qualidade considerada boa sofreu queda brusca em 280 dias (21,7%) (veja a tabela acima).

Para chegar aos resultados, os cientistas utilizaram dois sensores PurpleAir. A tecnologia é conectada à internet e foi instalada em Boa Vista em 2020. Conforme o estudo, há outros sensores instalados em Roraima, mas nenhum deles possui séries temporais adequadas para formatação de qualquer tipo de padrão que pudesse resultar em uma análise científica.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Instituto Socioambiental, escrito por Fabrício Araújo

TRF julga recursos de acusados de matar Bruno e Dom

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O indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips. Foto: Reprodução/TV Globo

O Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), sediado em Brasília, marcou para esta terça-feira (17) o julgamento dos recursos de três réus acusados pelo assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, ocorrido na Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas, em 2022.

Os desembargadores da Quarta Turma do TRF vão analisar os recursos de Amarildo da Costa de Oliveira, Jefferson da Silva Lima e Oseney da Costa de Oliveira contra a decisão de pronúncia, de outubro de 2023, que determinou que os acusados devem ser julgados pelo Tribunal do Júri. Eles estão presos e respondem pelos crimes de homicídio e ocultação de cadáver.

Bruno e Dom foram mortos no dia 5 de junho de 2022, vítimas de uma emboscada, enquanto viajavam de barco pela região do Vale do Javari, no Amazonas, região que abriga a Terra Indígena Vale do Javari, a segunda maior do país, com mais de 8,5 milhões de hectares.

A dupla foi vista pela última vez enquanto se deslocava da comunidade São Rafael para a cidade de Atalaia do Norte (AM), onde se reuniria com lideranças indígenas e de comunidades ribeirinhas. Seus corpos foram resgatados dez dias depois. Eles estavam enterrados em uma área de mata fechada, a cerca de 3 quilômetros da calha do Rio Itacoaí.

Colaborador do jornal britânico The Guardian, Dom se dedicava à cobertura jornalística ambiental, incluindo os conflitos fundiários e a situação dos povos indígenas, e preparava um livro sobre a Amazônia.

Bruno Pereira já tinha ocupado a Coordenação-Geral de Índios Isolados e Recém Contatados da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) antes de se licenciar da fundação, sem vencimentos, e passar a trabalhar para a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Por sua atuação em defesa das comunidades indígenas e da preservação do meio ambiente, recebeu diversas ameaças de morte.

*Com informações da Agência Brasil

Primeiro boi com rastreio socioambiental é registrado no Pará

Foto: Divulgação/Imaflora

O primeiro boi com identificação individual para monitoramento socioambiental, controle sanitário e gestão de produtividade recebeu um brinco com esses registros aplicado em sua orelha pelo governador do Pará, Helder Barbalho. O evento aconteceu no Parque de Exposições Orlando Quagliato, em Xinguara (PA), dando partida oficial ao Sistema de Rastreabilidade Bovídea Individual do Pará (SRBIPA), que pretende identificar cada cabeça de gado nascida ou em trânsito no território paraense até o fim de 2026.

A rastreabilidade individual é um marco fundamental num momento de agravamento das mudanças climáticas e de maior compromisso com a sustentabilidade dos sistemas agroalimentares.

“Atualmente, com base nos dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e das Guias de Trânsito Animal (GTAs), os frigoríficos conseguem controlar apenas a ponta da cadeia de fornecimento, isto é, as fazendas de onde os animais saem para o abate. Com esse novo sistema, será possível traçar toda a trajetória de cada animal e descartar que tenha nascido ou sido engordado em uma propriedade com ilícitos socioambientais e desmatamento”, explica Marina Guyot, gerente de Políticas Públicas do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), que compõe uma instância de governança multisetorial, o Conselho Gestor do Pará, encarregado de apresentar propostas técnicas de viabilização do programa.

“Trata-se de um aperfeiçoamento histórico e necessário para o setor, com poder de impulsionar a transição da pecuária para uma nova realidade, livre de irregularidades ambientais e com ganhos na produtividade”, afirma Guyot.

Ela considera positivo ainda que essa política, que é mandatória (todos terão de aderir), preveja capacitação, incentivo para implementação e o princípio de não-exclusão (aqueles que não cumprirem todos os requisitos de imediato não serão excluídos).

Separar o joio do trigo, com tratativas específicas e apropriadas a cada situação, permite o reconhecimento e a valorização das propriedades regulares, assim como a identificação daquelas com irregularidades menores, que podem ser contempladas com um roteiro para voltar à regularidade. Também as propriedades envolvidas em crimes ambientais podem ser mais facilmente identificadas e bloqueadas no acesso a mercado e a crédito.

Foto: Divulgação/Imaflora

Com o segundo maior rebanho do país, o Pará contabiliza 24,84 milhões de cabeças, distribuídas por cerca de 165,9 mil propriedades, segundo dados deste ano da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará). A produção do estado tem sido voltada ao mercado interno, mas há um movimento de retomada de exportações.

Para tanto, será necessário responder a exigências como a do mercado europeu, que já não comprará mais produtos ligados a desmatamento a partir de dezembro deste ano. A China, maior parceiro comercial do Brasil, também já dá sinais de maior preocupação com aspectos socioambientais associados aos produtos que importa.

O sistema viabilizará ainda melhor controle sanitário por parte do governo estadual, com registros de vacinação e de eventuais doenças. O que, diante de um problema no rebanho, facilita uma intervenção mais rápida e assertiva para separar animais possivelmente afetados. Já o produtor aprimora sua gestão ao manejar cada cabeça de gado. O brinco reúne, por exemplo, dados sobre desenvolvimento, desempenho reprodutivo e outras características que permitem identificar os fornecedores de indivíduos com melhor genética para formar o rebanho.

A brincagem de bovinos e bubalinos do Pará é a primeira iniciativa de rastreabilidade na Amazônia adotada como política pública e que contempla ganhos ambientais, comerciais e de gestão ao mesmo tempo. A Adepará e a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará operacionalizam a iniciativa, que faz parte do Programa de Integridade e Desenvolvimento da Pecuária no estado.

*Com informações do Imaflora

Estados afetados por queimadas recebem reforço da Força Nacional do SUS 

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A Força Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) vai ampliar a atuação nos estados e municípios afetados pelas queimadas. A partir desta segunda-feira (16) visitas das equipes acontecerão nos estados do Acre, Amazonas e Rondônia. A mobilização é uma demanda do Ministério da Saúde e tem como objetivo avaliar a situação e apoiar gestores estaduais e municipais.

De acordo com nota divulgada neste sábado (14) pelo ministério, o apoio da Força Nacional ocorrerá em três níveis. O primeiro deles envolve a orientação e organização da rede assistencial, reforçando os serviços, especialmente nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), onde a maior parte dos problemas pode ser resolvida.

O segundo nível de apoio inclui a expansão da oferta a partir de pontos de hidratação. Já o terceiro nível, se necessário, prevê o uso de estruturas maiores, com espaços otimizados dentro das próprias Unidades Básicas de Saúde ou a partir de estruturas externas, como hospitais de campanha, caso a rede colapse, o que não é o cenário atual.

De acordo com a ministra da Saúde, Nísia Trindade, tanto o Ministério da Saúde quanto o Ministério do Meio Ambiente têm a palavra prevenção como chave.

Sala de situação

Em julho, foi criada a Sala de Situação Nacional de Emergência Climática em Saúde do Ministério da Saúde, juntamente com representantes de estados e municípios e do Distrito Federal, além de instituições de saúde e meio ambiente. 

Além das orientações para a população, os informes já publicados pelo Ministério trazem as recomendações de ações a serem implementadas pelos profissionais da vigilância em saúde ambiental. Uma das iniciativas foi a publicação de orientações para a proteção e monitoramento da saúde dos brigadistas florestais. 

O Ministério da Saúde mantém monitoramento das áreas afetadas pelas queimadas e incêndios florestais por meio da Vigilância em Saúde Ambiental e Qualidade do Ar (VigiAr). A qualidade da água também é monitorada através do VigiÁgua, e em colaboração com outros órgãos orienta as áreas afetadas em relação ao provimento de água potável.

*Com informações da Agência Brasil

Brasil concentra 71,9% das queimadas na América do Sul em dois dias

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O Brasil concentrou, entre os dias 12 e 13 de setembro, 71,9% de todas as queimadas registradas na América do Sul. De acordo com dados do sistema BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram 7.322 focos de incêndio em 48 horas (até a sexta-feira, 13 de setembro).

Na sequência, aparecem Bolívia com 1.137 focos (11,2%), Peru com 842 (8,3%), Argentina com 433 (4,3%) e Paraguai com 271 (2,7%) focos de queimadas nas 48 horas de referência.

Considerando o acumulado do ano, até 13 de setembro, o Brasil registrou 180.137 focos em 2024, 50,6% dos incêndios da América do Sul. O número é 108% maior em relação ao mesmo período de 2023, quando foram anotados 86.256 focos entre janeiro e 13 de setembro.

Imagem: Reprodução/terrabrasilis

Entre os estados brasileiros, Mato Grosso lidera o ranking, com 1.379 registros nas 48 horas, seguido por Amazonas, com 1.205, Pará, com 1.001, e Acre, com 513 focos. O município com o maior número de queimadas no período é Cáceres (MT), que teve 237 focos nas últimas 48 horas. Novo Aripuanã (AM) e São Félix do Xingu (PA) vêm logo atrás com 204 e 187 focos de incêndio, respectivamente.

A Amazônia foi a região mais afetada, concentrando 49% das áreas atingidas pelo fogo. Na sequência, aparecem o Cerrado (30,5%), a Mata Atlântica (13,2%), o Pantanal (5,4%) e a Caatinga (1,9%).

Ações coordenadas

A Polícia Federal (PF) aponta que há indícios de que parte dos incêndios florestais no país pode ter ocorrido por meio de ações coordenadas.

A hipótese de ação humana em parte das queimadas que assolam o país também já foi levantada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, que determinou medidas para o enfrentamento aos incêndios na Amazônia e no Pantanal.

O uso do fogo para práticas agrícolas no Pantanal e na maior parte da Amazônia está proibido e é crime, com pena de dois a quatro anos de prisão.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, associados a essa prática, os incêndios florestais no Brasil e em outros países da América do Sul são intensificados pela mudança do clima, que causa estiagens prolongadas em biomas como o Pantanal e Amazônia. Em 2024, 58% do território nacional são afetados pela seca. Em cerca de um terço do país, o cenário é de seca severa.

Brasília (DF) 26/08/2024- Brasília amanhece encoberta por fumaça de queimadas.
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Fumaça de queimadas reduz visibilidade na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Além das consequências para o meio ambiente, o grande volume de queimadas no país tem pressionado o sistema de saúde e causa preocupação, principalmente envolvendo idosos e crianças com problemas respiratórios. Por causa dos incêndios, cidades em diversas partes do país foram atingidas por nuvens de fumaça, o que prejudica a qualidade do ar.

As orientações para a população nessas regiões são evitar, ao máximo, a exposição ao ar livre e a prática de atividades físicas.

*Com informações da Agência Brasil

Mais da metade da extração ilegal de madeira no Amazonas se concentra em 4 municípios na região da BR-319

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O Greenpeace Brasil realizou sobrevoo no sul do Amazonas e no norte de Rondônia para monitorar o desmatamento e queimadas em julho de 2024. Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace Brasil

Os municípios de Canutama, Humaitá, Lábrea e Manicoré, situados na área de influência da rodovia BR-319, concentraram 57% de toda a madeira extraída ilegalmente no estado do Amazonas, entre agosto de 2022 e julho de 2023. Foram 22.212 hectares (ha) de florestas exploradas de forma não autorizada ou sem a devida identificação de ilegalidade durante o período nesses quatro municípios, uma área equivalente a mais de 22 mil campos de futebol. 

Os dados são do estudo “Monitoramento da degradação florestal no Interflúvio Madeira-Purus: análise da exploração madeireira”, produzido pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), organização que integra o Observatório BR-319. O foco do estudo foi a exploração madeireira, um dos principais agentes da degradação florestal na Amazônia, que resulta na perda de qualidade ambiental e/ou biodiversidade das florestas. 

O levantamento analisou a área compreendida por 13 municípios do interflúvio Madeira-Purus, a partir de dados do Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (Simex) e da plataforma Timberflow, do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), com aquisição e processamento digital de imagens de satélite executados no Google Earth Engine. 

Conforme o mapeamento, entre agosto de 2022 e julho de 2023, um total de 50.037 ha de floresta foi explorado para extração de madeira no Amazonas. Destes, 36,8 mil ha (77%) foi explorado de forma ilegal, com os municípios de Lábrea, Manicoré e Boca do Acre liderando a exploração não autorizada. 

Entre os municípios da área de influência da BR-319, Lábrea concentra 32% da extração ilegal de madeira de todo o Amazonas, o equivalente a 12.377,22 ha de floresta. Manicoré vem em segundo, com 7.239,31 ha (19%), seguido de Humaitá, com 1.387,37 ha explorados (4%) e Canutama, com 1.208,39 ha (3%). 

Exploração madeireira em áreas protegidas 

O estudo também mostrou que a degradação florestal não atinge somente as Florestas Públicas Não Destinadas e propriedades privadas, mas também áreas protegidas como Terras Indígenas (TIs) e Unidades de Conservação (UCs). As TIs Jacareúba-Katawixi, Kaxarari e Tenharim-Marmelos, por exemplo, somaram cerca de 8.170 ha de degradação no período analisado. Os Parques Nacionais (Parnas) Mapinguari e Campos Amazônicos – unidades de conservação integral onde a exploração madeireira é ilegal – apresentaram 1.736 ha de área florestal degradada. 

Segundo a publicação, as informações da extração madeireira em áreas protegidas demonstram “a influência direta das estradas e ramais, na facilitação de acesso às áreas e a movimentação de maquinários e pessoas para auxiliar o processo de corte, separação e transporte de madeira oriunda das áreas identificadas”. 

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Observatório BR-319

Startup de Porto Velho cria “mapa da mina” para insumos da bioeconomia

Reconhecimento das árvores durante oficina. Foto: Puré Juma – Equipe Meu Pé de Árvore

Tornar a restauração de florestas transparente, rastreável e segura, com garantia da origem de sementes e outros bionsumos, respeitando a diversidade genética de cada região, é um imperativo diante do atual volume dos investimentos para recuperar áreas degradadas, gerar renda e mitigar a mudança climática. A crescente demanda por tecnologias que mapeiam e melhoram a produção, sem exaurir os ecossistemas, move o negócio da startup Meu Pé de Árvore, de Porto Velho (RO), voltada à regeneração da floresta amazônica com impacto socioambiental positivo.   

Criado para projetos de recuperação de nascentes e mata ciliar e implantação agroflorestas sob demanda de empresas, o negócio prioriza terras da agricultura familiar e povos tradicionais. E incorpora ferramentas inovadoras, como a plataforma Minhas Matrizes, baseada em aplicativo de celular inicialmente usado para o registro e mapeamento da coleta de sementes, e agora se aplica também a óleos, frutos e produtos da biodiversidade como um todo.

A inovação está sendo desenvolvida em três Terras Indígenas (TI), no Amazonas – a TI Juma, a TI Parintintim e a TI Tenharim, com capacitação das comunidades para uso do aplicativo no extrativismo sustentável, registrando as árvores nativas de maior potencial para a bioeconomia e a sua localização. “É necessário organizar o quintal para aumentar a autonomia e gerar renda”, reforça Hungria. No total, a startup apoia 450 produtores nos três territórios, e tem planos de expandir e aumentar o impacto positivo, após os testes.

A iniciativa recebe recursos do Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), coordenado pelo Idesam. A política pública do governo federal, executada pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), repassa para startups recursos que as empresas são obrigadas a investir como contrapartida dos incentivos fiscais. Até o momento, foram investidos ao todo R$ 145 milhões em cinco estados da Amazônia. São 40 projetos em execução, 38 empresas investidoras e 51 instituições de ciência e tecnologia envolvidas.

No caso da Meu Pé de Árvore, a inovação mapeia e monitora o potencial da bioeconomia no território, demonstrando dados para empresas, investidores e instituições de crédito. Paulo Simonetti, líder de bioeconomia e inovação no Idesam, “a tecnologia facilita o acesso da população tradicional ao mercado e contribui com a conservação da biodiversidade, fortalecendo a conexão entre impacto socioambiental positivo e o retorno de um bom negócio”.

“Rastreabilidade é chave para produtos com maior valor agregado”, concorda Hungria, com experiência em programas de aceleração e mentoria, como o BNDES Garagem. A inovação da startup contribui, ainda, no aumento da inteligência financeira e na redução da informalidade na bioeconomia. Na visão do empreendedor, há o desafio de rastrear os ativos da floresta e reduzir perdas de material genético para não exaurir o ecossistema e inviabilizar a bioeconomia no longo prazo.

Atualmente, o novo aplicativo é utilizado na gestão de áreas restauradas pela Meu Pé de Árvore em territórios de comunidades tradicionais, através da parceria com empresas que reportam ações de sustentabilidade – entre as quais, a fabricante de equipamentos Stihl e a companhia de aviação KLM. Os plantios são monitorados por satélite com alertas de desmatamento e riscos de fogo. O plano atual, segundo Hungria, é avançar na nova tecnologia de rastreabilidade e outros serviços no mercado corporativo da restauração florestal, incluindo viveiros de mudas, empresas executoras dos plantios e instituições de apoio.

*Com informações do Idesam