Maior representante da sua família, o tucano-toco (Ramphastos toco) pode apresentar uma envergadura das asas superior a 1 metro e percorrer voos de mais de 90 metros de distância. Nesses percursos, muitas vezes ele carrega algo preciosíssimo para a regeneração natural das florestas: sementes das frutas das quais ele se alimenta.
Assim como acontece com os tucanos, ao dispersarem sementes no solo, outras espécies de grandes aves frugívoras – jacus (Penelope obscura) ou gralhas-do-campo (Cyanocorax cristatellus), entre outras –, podem contribuir para o aumento do armazenamento de carbono em 38% nas florestas tropicais em regeneração.
O número acaba de ser revelado por uma análise publicada no jornal Nature Climate Change por um grupo de pesquisadores do Crowther Lab, do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH), na Suíça.
“A redução do desmatamento e a restauração de florestas têm um papel fundamental na diminuição do carbono atmosférico e na mitigação das mudanças climáticas. Porém, existem muitas barreiras para restauração em grande escala, como altos custos, o nível de degradação do solo e a falta de banco de sementes”, diz a brasileira Danielle Leal Ramos, doutora em Ecologia e Biodiversidade da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e uma das coautoras do artigo.
Ela explica que em florestas tropicais, como a Amazônia ou a Mata Atlântica, a maior parte das espécies de plantas depende de animais para dispersar sementes – sendo assim, aves podem ajudar a romper essas barreiras, transportando e plantando as sementes em áreas degradadas.
“Nosso objetivo [com o estudo] foi quantificar a contribuição de aves que se alimentam de frutos para a regeneração natural e para o potencial acúmulo de carbono em áreas degradadas”, revela.
Os pesquisadores analisaram dados coletados na Mata Atlântica ao longo dos últimos anos por colegas, estudantes, voluntários, ornitólogos, técnicos de campo e a comunidade local.
Nativo da Mata Atlântica, o jacu (Penelope obscura) tem grande preferência pelo araçá, cujas sementes defeca quase intactas. Foto: Dario Sanches, CC BY-SA 2.0 via Wikimedia Commons
Impacto da fragmentação sobre a movimentação das aves
Qualquer ave frugívora, ou seja, que se alimenta de frutos, tem um papel importante na regeneração das florestas. A diferença daquelas de grande porte e que, consequentemente, conseguem comer frutos maiores, entretanto, é que suas sementes darão origem a árvores com uma maior biomassa.
“Normalmente árvores com uma densidade de madeira maior produzem frutos maiores. E são elas que apresentam maior potencial de acúmulo de biomassa e sequestro de carbono. São árvores de grande porte, madeira densa e crescimento mais lento”, explica Danielle.
Todavia, o estudo indicou que em florestas degradadas a circulação das aves é restringida, levando a uma menor dispersão de sementes e captura de carbono.
Nesses locais, as áreas florestais são pequenas e estão localizadas longe umas das outras. Com isso, as aves precisam fazer voos mais longos e ficar mais expostas a predadores e condições climáticas extremas ao ir de um trecho a outro de mata – um problema para muitas espécies, habituadas à vegetação mais densa.
Jenipapo, ingá, copaíba e embaúba (foto) são algumas das espécies de árvore beneficiadas pela dieta do tucano-toco (Ramphastos toco). Foto: Bernard DUPONT from FRANCE, CC BY-SA 2.0 via Wikimedia Commons
“Para garantir a dispersão eficaz de sementes mediada por pássaros é fundamental manter pelo menos 40% de cobertura florestal e manter os fragmentos florestais a uma distância não superior a 133 metros”, ressalta Carolina Bello, pesquisadora de pós-doutorado do Crowther Lab e principal autora do estudo.
A análise reforça a importância do equilíbrio entre fauna e flora para a preservação e restauração das florestas tropicais. Para que elas se mantenham diversas e eficientes, com seus serviços ecossistêmicos funcionando, é preciso levar em conta o papel dos animais nesse processo.
“A restauração passiva é mais econômica do que a restauração ativa (plantio de árvores), pois é mais barata e produz florestas mais diversificadas com maior potencial de armazenamento de carbono, mas, para que seja bem-sucedida, precisamos garantir que os animais contribuam para ela”, destaca Carolina.
Fenômeno é maior na Amazônia
Apesar de a Mata Atlântica ser considerado o mais devastado dos biomas brasileiros, restando pouco mais de 10% de suas florestas originais, estudos anteriores apontaram que a diminuição do armazenamento de carbono devido à perda de grandes espécies frugívoras é maior na Floresta Amazônica, sobretudo quando se leva em conta não apenas aves, mas também primatas e mamíferos, como a anta e a queixada.
“A Floresta Amazônica e a Mata Atlântica são florestas tropicais onde as espécies frugívoras são muito importantes”, diz a pesquisadora do ETH. Ela alerta que a região amazônica enfrenta um processo de desmatamento grave nos últimos anos, deixando paisagens altamente fragmentadas, onde o movimento das aves também será afetado.
“É de se esperar que os efeitos observados no presente trabalho para a Mata Atlântica também sejam observados na Amazônia, mas precisamos de uma avaliação mais precisa para entender a magnitude do efeito. Devido à maior proporção de árvores que requerem animais para a sua dispersão na Amazônia, podemos esperar que as aves sejam ainda mais indispensáveis para a restauração ali, porém ainda precisamos avaliar o efeito compensatório dos outros grupos de animais”, salienta.
A conservação e a restauração das grandes florestas são essenciais para o combate às mudanças climáticas. O gás carbônico (CO2), considerado um dos principais responsáveis pelo aquecimento global, é extraído naturalmente do ar pelas árvores, que o convertem em oxigênio e material vegetal por meio da fotossíntese. Com aves voando menos e dispersando um menor número de sementes, teremos menos árvores e mais carbono na atmosfera.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Mongabay, escrito por Suzana Camargo
Para quem não tenta, à primeira vista e no primeiro impulso, parece um movimento simples, quase fácil. A ação consiste em agarrar os braços no tronco de uma palmeira, flexionar os joelhos e virar os pés para dentro num gesto similar ao das mãos. Em segundos e em um impulso demasiado rápido e constante, o movimento repetitivo do jovem o faz chegar no topo da palmeira, onde encontram-se as touceiras que carregam os pequenos frutos pretos. Já não é trivial e impressiona. A tarefa exige força, flexibilidade e equilíbrio.
A touceira nas costas juvenis escorrega junto na descida do corpo, deslizante pelo tronco da palmeira. Posteriormente, o duro do fruto se desfaz no contato com a água quente, necessária antes do processo de despolpadeira. Se olhar pra baixo, dá medo. Weneson Paulo Araújo de Freitas, conhecido hoje só como Paulo, tinha tremedeira nas pernas quando pensava em chegar no alto da palmeira. Sua mãe dava um conselho. “Menino, coloca essa água nas pernas e sobe”, falava. Era um menino ativo e gostava da atividade, mas também tinha medo.
Depois do fruto debulhado, aquecido e finalmente batido, o líquido escuro é inconfundível para quem mora no Norte do país: é açaí. Se toma com farinha de mandioca, puro, com açúcar. Em alguns lugares mais distantes dali, até com peixe, camarão ou carne seca.
Nos saberes amazônicos, ouve-se falar dos mais velhos nas comunidades, o fruto do açaí representa as lágrimas de uma mulher tupi que chorou ao ter seu filho sacrificado em uma ordem do cacique pela falta de comida para alimentar novas crianças ou bebês, proibidos de serem gerados. Tupã, considerado um deus, atendeu ao pedido em sofrimento da mãe e a transformou na palmeira de açaí.
Vinho de açaí é o nome que seu Luís, apelido de Luís Reis e conhecido de Paulo por morar na mesma comunidade, apresenta aos visitantes do local. Explica a todos a diferença: vinho de açaí é mais fraco e o mais grosso é só açaí. “Hoje ele tá na força”, comenta Paulo sobre a época de produção do açaí na região, que dura de novembro a maio.
A comunidade está localizada próximo à confluência dos rios Japurá e Solimões, estado do Amazonas. Boa Esperança foi o nome escolhido por Luís e outros fundadores da comunidade, ao finalmente tomarem coragem para fazer daquela terra, desocupada, seu lar. Por que ali? Era a areia branca nas margens que formavam uma praia, praia de rio de água escura que chamava atenção dele e de sua esposa, Romena.
Romena fala menos que Luís. É mais acanhada diante de perguntas e visitas. Juntos, tiveram sete filhos a quem ensinaram o caminho para conseguir as coisas, de acordo com o casal: esperança e organização. Luís e Romena, assim como parte de seus filhos, manejam frutas com destreza. E variadas, pra além do açaí. Na chamada Casa de Polpa, unidade de beneficiamento construída com apoio do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, organização de pesquisa científica da região, freezers são carregados lotados de açaí, cupuaçu, goiaba, melancia e todas as frutas que as famílias do Boa Esperança cultivam e colhem na comunidade.
São variadas e no calor, viram também o chamado “dindim”, o refrescante de criança. Gelam com energia, recurso escasso em comunidades ribeirinhas amazônicas. Boa parte delas depende de geradores movidos à diesel, combustível caro. Paulo, hoje morador dessa comunidade, lembra com clareza. “Cresci com energia só até às 22h”, diz. Movida a energia solar, projeto da Casa de Polpa saiu do papel em 2017 graças a um financiamento do Fundo Amazônia. Anos depois, o programa paralisado com advento do governo Bolsonaro.
Nascido num seringal do município de Carauari, rios distantes dali, Luís lembra suas origens de criança: tem avós cearenses por parte de mãe e uma avó peruana por parte de pai. “Por isso saí bonito assim”, ri da própria piada o homem acostumado a usar um chapéu de caubói surrado e que mantém, há anos, um bigode preto grosso.
O ribeirinho compartilha raízes com Paulo, cujos avós também são cearenses. Mas Paulo não se lembra sequer de histórias do Nordeste. “Mas hoje sou caboco amazonense”, se identifica o agora homem de 34 anos, que cria a filha pequena e um dos enteados com a esposa na comunidade. Sua fruta preferida não podia ser outra, diz ele: é açaí.
O outro enteado, de 11 anos, mora em Tefé, cidade amazonense considerada metrópole da região do Médio Solimões, fica distante cerca de oito horas numa voadeira mais comum. Foi para estudar e ainda não sabe subir no pé de açaí como Paulo. “Não é muito do mato”, comenta sobre o menino. “Mas agora tô começando a ensinar, quando dá”, diz rindo.
A quinze minutos da comunidade Boa Esperança, uma outra margem do lago é povoada por dez casas. “Não dá nem para chamar de comunidade, é sítio mesmo”, diz Paulo. É lá que seu pai mora – onde decidiu ir criar sua família depois trabalhar na roça para os outros por ali. Lá que aprendeu a subir para descer com touceira de açaí.
Seu pai mora até hoje lá e com apoio do irmão de Paulo, planta. Principalmente mandioca que vira farinha – mas também as frutas que dão ali: melancia é a principal.
Foto: Paulo Araújo
A origem similar dos dois homens hoje moradores do Boa Esperança retratam um processo de milhares. Em fuga da seca e pobreza enfrentada no Nordeste, milhares de famílias enxergaram na seringa um caminho para uma vida melhor do fim do século 19 ao início do século 20. Nessa época, o estado do Amazonas encantava rios distantes pelo auge da indústria da borracha, chamada de ouro negro. Estima-se que 300 mil nordestinos migraram para a região entre 1870 e 1900.
Os seringais responsáveis pelo produto que tanto vendia atraíam os nordestinos com uma promessa – mas era ilusória. Os chamados “patrões” seringalistas impunham um sistema de semiescravidão aos trabalhadores da região com base em frequentes adiantamentos: era o chamado sistema de aviamento. Tudo isso num bioma, floresta e área de dimensões continentais e dificuldades de navegabilidade bem descrita por Euclides da Cunha no livro ‘À margem da história”:
A volubilidade do rio contagia o homem. No Amazonas, em geral, sucede isto: o observador errante, que lhe percorre a bacia em busca de variados aspetos, sente, ao cabo de centenares de milhas, a impressão de circular num itinerário fechado, onde se lhe deparam as mesmas praias ou barreiras ou ilhas, e as mesmas florestas e igapós estirando-se a perder de vista pelos horizontes vazios; o observador imóvel que lhe estacione às margens sobressalteia-se, intermitentemente, diante de transfigurações inopinadas. Os cenários, invariáveis no espaço, transmudam-se no tempo. Diante do homem errante, a natureza é estável; e, aos olhos do homem sedentário, que planeie submetê-la à estabilidade das culturas, aparece espantosamente revolta e volúvel, surpreendendo-o, assaltando-o por vezes, quase sempre afugentando-o e espavorindo-o.
As famílias iam se movendo pelo estado, sempre atrás de uma vida melhor. De canoa, pela força dos músculos, ou rabetinha de motor fraco, embarcações lentas que geravam dias e horas de viagem. Enquanto isso, obras arquitetônicas exuberantes surgiam nas capitais do norte, hoje pontos turísticos – como o Teatro Amazonas, no centro de Manaus.
Paulo não se lembra de histórias ou então de costumes dos seus avós nordestinos. Mas foi criado pegando gosto pelas frutas do novo lar da família – seja pelo sabor ou pela brincadeira. “A gente competia pra ver quem juntava mais tucumã”, comenta ao referir-se ao fruto da palmeira consumido em todo o interior do Amazonas e popularizado na capital, Manaus, por integrar o típico sanduíche chamado de xis caboquinho. “A gente gostava de ver aquele volume de fruta, juntava tudo”, diz.
Amanã significa “caminho das chuvas” em tupi guarani. É uma área de águas escuras, responsáveis por indicar a composição daquelas terras e está localizado na reserva de desenvolvimento sustentável, uma categoria de unidade de conservação de mesmo nome – a RDS Amanã. Intuitivo, o significado do nome indica o tanto de chuva que, na época certa, chega à região.
Mais próximo da cidade e há algumas horas de barco do Boa, a cerca de seis horas distantes de Tefé, na comunidade Boca do Mamirauá um objeto quase do tamanho de uma bola de futebol é guardado na casa de artesanato indígena – é feito de borracha, a resina da seringa. “Veio rolando pelo rio e a gente guardou”, conta um dos moradores sobre o artefato exposto na casa de artesanato indígena.
Butirizeiro, palmeira comum no Amazonas. Foto: Miguel Monteiro
O povo maiuruma foi um dos que formou a comunidade, ainda não reconhecida como aldeia indígena. Depois da década de 1960, essas populações miscigenadas se estabeleceram na região com forte influência da Igreja Católica, responsável por incrustar o conceito comunitário e suas formas de organização, que perduram até hoje.
A comunidade apelidada de “Boca” para quem a conhece, à mesma maneira do “Boa”, está localizada na reserva de desenvolvimento sustentável Mamirauá, unidade de conservação “irmã” da RDS Amanã e a primeira da categoria no país. Enquanto a reserva Mamirauá é de região de várzea, o que significa floresta alagada na época da cheia, que dura de dezembro a maio, Amanã é caracterizada por ser a chamada terra firme: diferente da reserva “irmã,” tem mais variedade de frutas e cultivos pela terra que não alaga.
Toda a região é conhecida como “coração” da Amazônia. A reserva Mamirauá possui uma extensão de 1,1 milhão de hectares e a reserva Amanã é a maior, com 2,3 milhões de hectares. Juntas, as duas reservas formam uma área contígua de proteção com cerca de 5,7 milhões de hectares, área superior aos territórios de países como Costa Rica e Suíça.
Até os decretos que criaram as duas pioneiras na categoria, entre a década de 1980 e 1990, as unidades de conservação pouco ou nada consideravam sobre as populações humanas que moravam e formavam as paisagens dessas regiões.
A Amazônia Plantada
“Veio bem uns seis moradores ver. Aí disseram – Lá é um pouco sacrificoso, porque tem muito, muito mato pra desmatar, tá um bocado feio. Cobra tinha bastante, não podia nem botar o pé. Aqui na frente era capoeira, acho que era do tempo dessas urnas, sei lá o quê que é isso! Aí vieram e começaram a trabalhar. Fizeram primeiro os roçados aqui, aí nós plantamos, aí a gente vinha de lá, limpar aqui, zelar. Dava uma hora de rabeta. Nós trouxemos pra plantar abacate, limão, laranja…vários tipos de planta” (Moradora de Boa Esperança entrevistada em maio de 2005 por pesquisadora do Instituto Mamirauá).
Vários tipos de planta. Era isso que os chamava.
Antes de criar coragem para morar lá, a área de mato do Boa Esperança chamava atenção de Luís pela beleza, mas não só. Tinha terra boa. Terra boa, para quem mora na terra, é a que fertiliza e faz crescer coisa. Também tem outro nome bem conhecido na região: terra preta de “índio”.
Esse tipo de solo é caracterizado pelo acúmulo histórico de resíduos orgânicos e uso do fogo na sua carbonização. E é chamada assim porque sabe-se que indica a ocupação de populações pré-históricas no local.
Mas não é só isso que indica essa presença humana. Já perto das casas, urnas funerárias indígenas pré-históricas integram, com notável naturalidade dos moradores que caminham entre elas, os caminhos entre as casas. Cacos de cerâmica ainda são encontrados com frequência. Depois de achados, são recolhidos e levados a uma casa só, que reúne todos. Uma boa parte foi parar numa sala da rádio comunitária da comunidade, onde visitantes examinam com curiosidade.
Trabalhadoras da Casa de Polpas. Foto: Amanda Lelis
A pesquisadora Jaqueline Gomes explicita o encontrado, em linguagem científica, no artigo “Alteridades e paisagens na comunidade Boa Esperança”, publicado pelo Instituto Mamirauá. “Atrás das casas, onde se constituem os quintais com cultivares diversos e plantas perenes, concentra-se a maior porção dos vestígios arqueológicos, formado por um pacote de solo antrópico cujas áreas de terra preta podem atingir mais de 1,5m de profundidade.
Na área de maior circulação da comunidade, próxima à margem d’água, são encontrados grandes recipientes cerâmicos (urnas) aflorando à superfície, o que parece ter sido, no passado, uma área específica de deposição de estruturas funerárias. Além das urnas, são abundantes os fragmentos de apêndices zoomorfos e bordas decoradas de vasos, que, sem dúvida, estimularam a prática de colecionismo entre os moradores, responsáveis pela formação de uma coleção exposta na rádio comunitária”, discorre o texto.
Certa vez, um jovem chutou algo no chão enquanto jogava uma partida de futebol no campinho da comunidade. Ao olhar para baixo, viu que era uma garrafa de barro com um nome de uma marca antiga, em outro idioma. A garrafa quebrada pelo chute foi guardada junto com os cacos e os moradores dizem que são de holandeses que guerrearam por aí.
Antes das famílias nordestinas chegarem ao local por esperança ou desespero, populações indígenas da região sofreram violência sistemática pela disputa de terras entre espanhóis, portugueses e outros invasores de origem europeia. Uma população de diversidade gigantesca, assim como seus cultivos e hábitos alimentares, sofreu genocídio e apagamento.
O Plano de Gestão da RDS Amanã, que abriga o Boa Esperança, detalha esse registro. “Entre os indígenas aldeados naquela época estavam os Catoayari, no lago Urini, os Yaguana, nas várzeas entre o lago Amanã e o rio Solimões, os Cauacaua, na margem esquerda da boca do rio Japurá, os Caiarioni, nas cabeceiras do lago Amanã e os Guayoana, na terra firme entre os rios Unini e Jaú. O fato é que os indígenas aldeados nas imediações de vilas que se transformaram em cidades da região (como, Tefé, Maraã e Coari) passaram por uma espécie de apagamento histórico”, discorre o documento que estabelece as regras de uso sustentável da unidade de conservação.
Mas os vestígios ficam.
“Onde você vai na Amazônia tem pintura rupestre, cerâmica, sítios arqueológicos. Não têm onde você ande que não tem um vestígio e material de ocupação humana. Isso para mim é impressionante. Antes de eu entrar na arqueologia, eu não tinha noção disso, do quanto as pessoas viviam com uma diversidade de escolha, de hábitos e formas de viver gigantesca”, comenta Mariana Cassino, bióloga de formação e conhecedora da comunidade Boa Esperança.
Nascida e criada em Minas Gerais, estado de Mata Atlântica, Mariana se encantou pela área de etnobotânica, como chamava à época, e estuda Amazônia há anos. Foi recentemente para Santarém, no Pará, no Parque Estadual de Monte Alegre. São os dados de ocupação mais antiga da Amazônia brasileira, com 12 mil anos de ocupação ao menos. E a floresta conta essa história. “A gente tem dificuldade de ver a riqueza gigantesca, de abundância de alimentos, que é a floresta amazônica”, diz.
O açaizeiro ao fundo da casa de Paulo. Foto: Paulo Araújo
As populações amazônicas nunca optavam pelo cultivo de uma planta única. Quando se identifica o número maior de uma espécie ou a introdução de outra, explica a especialista, os restos ainda mostram que sempre foram combinadas práticas de manejo da floresta que são diversas. Povos amazônicos têm gosto histórico pela diversidade. “E é possível ver isso claramente no registro arqueológico. Isso me impressiona sempre”, diz.
Tubérculos que vão muito além da mandioca, como a batata mairá, cita como exemplo, ainda são encontrados em cultivos de comunidades “isoladas”, como são chamadas por serem afastadas das grandes metrópoles, mas pouco conhecidos.
Assim como as populações, os cultivos também passaram por um “apagamento”, uma retirada proposital num processo de homogeneização dos alimentos ultra processados e industrializados, cada vez mais comuns nos interiores da Amazônia e responsáveis pela dizimação da diversidade alimentar.
Além dos restos que contam essa história, já carbonizados na terra, o que fica é apenas o que décadas depois foi repassado e perpetua a cultura por meio dos frutos e costumes da floresta amazônica. Às vezes, algo é perdido e depois resgatado com antigas e novas mãos, dali ou de fora.
A Amazônia Ensinada
Nos documentos de Rosa, não se encontra o nome pelo qual ela é conhecida em sua comunidade e em toda região: Edna. Todos conhecem a mulher quilombola como Rosa e ninguém sabe dizer bem o porquê, nem ela. Na Amazônia, muitos quilombos se formaram na segunda metade do século 18, quando fazendeiros iniciavam um processo de levada de negros africanos para serem escravizados nas fazendas de gado e cacau na região. Edna dos Anjos, ou a dona Rosa, nasceu na comunidade São Francisco do Bauana, território quilombola ainda não reconhecido às margens do rio Tefé, agora há apenas umas duas horas de Tefé, na Floresta Nacional de Tefé – a Flona.
Foi morar na comunidade Bom Jesus, distante 10 minutos dali, depois de se apaixonar, como Paulo. Não estava nos seus planos casar-se cedo, mas quando o coração manda, não tem jeito, diz ela. Seu marido é conhecido como Falcão ou então “mano velho”, nome que batiza agora um drink feito de melaço com cacau batizado por Daniel, o inglês cujo apelido em inglês, Danny, soa simples no interior do Amazonas: é Dani.
Daniel Tredgigo nasceu em Lancaster, na Inglaterra. Certa vez, entrou em uma cervejaria numa cidade próxima, algo comum no país, e experimentou uma cerveja feita de “tonka beans” e gostou. Descobriu no Brasil, anos depois, que era cumaru, a chamada “baunilha brasileira”, hoje ingrediente de alta culinária no Sul e Sudeste. Na Amazônia, é só cumaru.
A descoberta fez com que Danny tivesse vontade de experimentar ingredientes amazônicos em drinks autorais, o que posteriormente transformou em um projeto de oficinas de preparação de drinks para comunidades ribeirinhas. É uma forma aumentar a possibilidade de gerar renda e fomentar o turismo de base comunitária, cada dia mais profissionalizado pelas comunidades como a de Bom Jesus, onde mora Rosa.
Rosa, a quilombola de mãos grossas, diz que sua paixão é a cozinha, algo que começou a aprender aos quatro anos de idade, vendo a mãe e as tias. Agora investe na culinária e nas trilhas para fomentar o turismo de base comunitária da comunidade.
Mariana passou longos períodos na comunidade Bom Jesus, onde hoje o casal mora. Lá, coletou o que chama de vestígios arqueobotânicos, os chamados carvões, para agora, em doutorado, analisar. “A gente finalizou a identificação dos vestígios de plantas carbonizados no sítio e estou fazendo também análise dos fitólitos, que são os microvestígios tanto da escavação como da paisagem ao redor. Meu objetivo é fazer uma análise refinada dessa história da paisagem porque o uso e manejo de plantas transformam essa paisagem de diferentes maneiras. Então estamos tentando refinar com análise de solo, desses micros vestígios e com inventário da vegetação do presente e tentar entender, assim, a variação ao longo do tempo, como isso pode ter alterado o solo e como pode ainda estar alterando a composição e estrutura da vegetação”, explica.
Em 2019, pesquisadores do Instituto Mamirauá descobriram um complexo arqueológico na comunidade, marcado pela presença de um vasto e antigo castanhal. A terra preta também se fez presente. Urnas e cacos surgiram nas escavações de dias dos grupos de arqueólogos. Todos alimentados com a comida de Rosa.
Quando criança, Rosa lembra que gostava de roer uxi. Uxi (Sendopleura uchi, em nome científico) é um pequeno fruto amazônico amarelado rico em nutrientes. O irmão mais velho dela catava o fruto de manhã e colocava num pote. “Dentro do pote, o uxi amolecia mais rápido porque ficava quente, pelo calor do lugar. A gente deixava todo mundo dormir, aí de madrugada eu chamava minha irmã. Quando eu não chamava, ela que chamava”, conta como quem se diverte com a lembrança.
“Umbora levantar pra comer uxi”, era o que uma falava à outra. “E quando era de manhã, ele dizia: Betinha, que era o nome da minha mãe, eu não acredito que um rato tá entrando aqui pra ir no pote roer uxi. Aí uma noite meu irmão ficou de vigia e ele pegou nós no flagra. A gente tomou um susto danado”, exclama a mulher, que consome e tem gosto pelo fruto até hoje.
“Apesar de fazer parte importante da cultura e da identidade dos povos da Amazônia, o uxi raramente é citado em catálogos ou levantamentos de plantas frutíferas tropicais, sendo quase que desconhecido em outras regiões do país. Possui uma casca fina cor de terra marmorizada, que recobre uma deliciosa polpa de cor amarelada, e de aroma muito agradável. Essa polpa é consumida ao natural, na maior parte dos casos, roída, de caroço oval. É bastante oleosa, fornecendo um óleo de cor amarelo-limão que lembra muito o azeite de oliva em consistência e sabor”, discorre o projeto “Arca do Gosto”, do movimento Slow Food Brasil.
Falcão, ribeirinho e neto de pajé. Foto: Miguel Monteiro
Falcão, o esposo de Rosa, é neto de pajé e foi para a Flona com apenas três anos de idade, ainda bebê. Caçula, lembra de ser o único dentre os irmãos que não pegou sarampo. Diferentemente de qualquer pesquisa no Google, incapaz de identificar a relação entre a palavra “saborá” e abelha, sabe que é um produto da abelha que seu avô não jogava fora porque fazia bem. Já seu pai jogava.
O mato saracura é amargo, mas depois fica doce. É bom pra tratar fígado e cura anemia. “Minha avó tinha esse conhecimento”, comenta. Criança ia pescar e no caminho buscava o que chamou de “alimentação diferenciada” para os irmãos doentes. Tudo a partir do conhecimento transmitido pelos avós – seja por parte de mãe ou de pai. Há alguns anos, Falcão disse para sua filha que queria comer carne guisada, contou. “Aí ela começou me perguntando como fazia e eu ia explicando”, comenta o homem. É o ato de “passar o bisu”, expressão dele que significa transmitir dica ou ensinamento.
O drink nomeado com seu apelido e criado por Danny substitui o café pelo cacau. Se isso é um ingrediente comum Brasil afora, essa era longe da realidade de Rosa antigamente.
Em sua comunidade, lembra de café só aparecer para visitas dignas disso ou em datas comemorativas. A bebida diária era o cacau, ou o chocolate que tomavam.
“Café, na minha época, era pra rico”, comenta Rosa. “Só tinha um senhor que plantava café, aí quando ele ia coletar ele chamava o meu pai e mãe pra ajudar a apanhar e aí dava um pouco de café. O café comprado era mais difícil. Quando vinha de fora, era só pra gente especial. Tinha várias pessoas com cultivo de cacau. As pessoas se dedicaram a ainda tá até hoje tem o cultivo do cacau, a gente vai descobrindo que ele não é só pro chocolate e faz várias coisas”, lembra a mulher. O pacote vermelho e barato de Kimimo, marca de café comum pelos rios e cidades amazonenses, não falta na lista de rancho de quem vai fazer campo pelas reservas ou pela Flona. Como Mariana e Daniel.
Agora, o líquido preto é a primeira coisa que as crianças dos interiores amazonenses aprendem a fazer. “Uma das primeiras iniciativas com nossos pais é pedir para fazer o café para ver se ele sai gostoso. Não era porque a gente era homem que não podia ir pra cozinha”, comenta Falcão. “Às vezes falo pro meu filho: hoje quero tomar uma caldeirada da tua mão”, diz Falcão, sobre o prato típico amazonense à base de peixe e legumes. Todo homem ali sabe se virar na cozinha.
Para Rosa, apesar dos esforços comunitários, a alimentação nas comunidades da Flona piorou. “Eu sempre digo que se a gente não cuidar, nossos netos e bisnetos não vão mais ver fartura”, comenta ao lembrar do tamanho do tambaqui antes pescado, que chegava a 1 metro de comprimento na sua infância. “Eu já não vejo fartura aqui como antes”, diz.
Ensinar a fazer, mesmo que adaptado ou com outros ingredientes, é importante para a família, diz Falcão. Faz parte da sobrevivência na Amazônia. Sobrevivência essa que agora Daniel, o inglês, não tinha escolhido a pesquisa científica, estuda. Às vezes parecia uma dificuldade inata do jovem para qualquer experiência. “Fui pra Nova Zelândia ajudar um tio a fazer uma casa de adobe, atravessei o Oceano Atlântico velejando. Fui do Brasil para o Chile de bike”, comenta algumas delas.
Quis ser cozinheiro e barman, atividades com mais contato com as pessoas. Nutria paixão similar à de Rosa pela cozinha. Até que um professor falou sobre pesquisa com segurança alimentar e um novo caminho despontava para o inglês pesquisador. Descobriu em sua pesquisa na Amazônia algo: até no lugar mais rico do mundo de comida tem fome – é o que diz em português claro.
A Amazônia Incerta
Paulo cultiva a fotografia como hobbie e registrou cenas da seca desoladora do ano passado. Com os rios secos e longes, todas distâncias percorridas dificultam tudo: ter aula, buscar atendimento médico, levar as polpas para vender fora.
Não se sabe de mais nada, diz ele.
Condução de melancias em direção a Tefé. Foto: Paulo Araújo
“Hoje a gente não sabe mais prever as coisas – os antigos tinham o costume de prever”, diz. “A gente não sabe se a enchente vai ser grande. Não conseguimos prever. A quentura o sol é muito quente, e esquentou mais do que era grande. Já aconteceu algumas cheias grandes. Essa última seca foi muito forte. E todo mundo aqui comenta que é do aquecimento global”, comenta o ribeirinho.
Seca demais é ruim, cheia demais é ruim também.
Em comunidades ribeirinhas no Amazonas, é comum encontrar em casas de palafitas algumas marcas de água, às vezes à altura do peito, nas paredes. Ali os moradores apontam e lembram do ano: essa foi a cheia de 2010.
Se o rio enche muito, explica Daniel, os peixes se “diluem” pela água e é mais difícil de pescar. O pesquisador britânico fez medidas de taxas de capturas em comunidades, ou seja, checou quantos peixes por hora são pescados, e comparou com índices de insegurança alimentar na região para verificar os efeitos das cheias.
Na falta de peixe, a proteína vira ovo ou ainda outros industrializados. “Quando está muito quente, o açaí tá secando no pé e caindo”, foi a frase que Danny ouviu de um produtor de açaí logo depois quando uma professora da Universidade Federal do Pará (UFPA) ofereceu ao inglês uma bolsa de três meses para estudar mudanças climáticas.
“Contei isso pra professora e fizemos uma pesquisa. O resultado mostra os efeitos da crise climática no fruto símbolo da Amazônia – o que Paulo aprendeu a subir. Rendeu o estudo “Vulnerability of the Acai Palm to Climate Change”, artigo publicado sobre a vulnerabilidade do açaí à crise climática e referência no assunto.
Para Paulo, a crise é uma realidade que chega na horta. “Questão de algumas pragas começou a chegar mais na roça. Não sei se tem a ver né, mas tem acontecido. O açaí é um que produz menos no tempo da seca. Ele puxa muita água pra produzir. Quando tem muita secura, tem pouco açaí. As plantas sentem também. Morre os peixes. Várias coisas acontecem com a friagem, que é quando tem muita água”, comenta Paulo. A melancia plantada pelo seu pai no sítio apareceu com um fungo inexplicado.
A Amazônia Impossível
Quando criança, a mãe da Daniel aconselhava: tome limão com laranja para não ficar doente, algo que se ouve com certa frequência. Morango, limão e laranja são as frutas que estampam cadernos, folders e outros materiais didáticos sobre vitaminas no país, inclusive na Amazônia, lugar onde essas frutas não têm protagonismo do lado de fora dos livros.
O camu-camu, por exemplo, tem quantidade significativamente maior de vitamina C e o nome curioso também conta história: vem do som que os frutinhos fazem quando caem na água e atraem os peixes que se alimentam deles; por isso o fruto também é usado por pescadores para atrair o pescado.
Jerimum (conhecido como abóbora fora da Amazônia), pupunha, buriti: todos eles alimentos alaranjados fontes de betacarotena, comumente associado apenas à cenoura. A referência à sua infância é usada em suas oficinas nas comunidades para falar das vitaminas nos frutos regionais. E ressalta que as pessoas das comunidades naturalmente sabem, como mostrou Falcão e Rosa. “Meus avós sabiam das plantas que tinham que comer pra curar”, diz a quilombola. Alimentação e saúde, na Amazônia, nunca foram pautas separadas.
Esse conhecimento detalhado das vitaminas fez com que as próprias comunidades demandassem um material consolidado para as crianças. Com a colaboração de pesquisadores da Universidade Federal de Rio Grande do Norte (UFRRN), o Instituto Mamirauá lançou recentemente o livro “Frutas da Floresta: o Poder Nutricional da Biodiversidade Amazônica”, distribuído nas comunidades.
A publicação compila dados culturais, poemas e curiosidades tradicionais sobre esses vegetais. Ainda, para estimular o consumo desses alimentos, a obra traz mais de 20 receitas de farofas, risotos, pães, bolos e outros pratos feitos com base nas frutas da região amazônica.
Daniel, idealizador da publicação, explica que há pouco conhecimento sobre os micronutrientes, como vitaminas, zinco, ferro e o que se mede comumente em exames de sangue país afora. Além do projeto das frutas, o pesquisador realiza um estudo sobre os micronutrientes na caça e em outros animais do ecossistema da região.
Ribeirinhos têm dificuldade de transportar as frutas no período de seca. Foto: Paulo Araújo
Além disso, a sua pesquisa deve determinar o nível de contaminação de mercúrio de muitos animais utilizados comumente na alimentação amazônica na região das reservas. A situação, em níveis de bioma, é crítica, mostram outros estudos. Um estudo da WWF Brasil identificou que a ingestão de mercúrio pela população local em Roraima ultrapassa a dose recomendada em até 27,2 vezes, com mulheres em idade fértil e crianças de 2 a 4 anos sendo as mais vulneráveis.
As crianças são alvo de preocupação dos comunitários do Boa Esperança e Bom Jesus. Seja pela alimentação reduzida ou piorada, seja saída por conta de estudo, como o enteado de Paulo que ainda não sobe em pé de açaí.Entre 2011 e 2018, dados do Instituto Mamirauá mostram um aumento de 71% na migração de moradores da reserva Amanã para as cidades em busca de maior estrutura educacional.
Uma das lutas defendidas pelo ribeirinho é a obrigatoriedade de 100% de alimentos regionais no cardápio escolar, o que ajudaria a escoar produtos como as polpas produzidas pela comunidade na Casa de Polpa.“ Gera renda, melhora a alimentação das crianças, é bom pra todo mundo”, explica Paulo, que não quer sair da comunidade. “Pensamos em sair por causa do estudo, mas não quero. A vida no interior acostuma”, diz.
Com o apoio da sociedade civil, agora as famílias batalham por uma fábrica de gelo na comunidade. Retomaram o projeto após não conseguirem levar os produtos para vender na feira, em Tefé e depois de uma falha técnica no sistema de energia, ainda pendente de reparo.
Rosa e Falcão também não largam a terra que escolheram pra viver. Se consideram de “luta” no movimento social e apostam no turismo para melhoria da qualidade de vida na região. Levar pessoas de fora para conhecer as árvores, bichos e fatos que ali estavam quando chegaram.
Os vestígios de populações que ali passaram e prosperaram. Tem uma atividade no mundo. “Quase tudo o que a gente quis, a gente conseguiu”, comenta Luís sobre a comunidade. O que ainda falta, se chega com organização, comenta ele.
A vida se reorganiza com o passado e o futuro. E como subir numa palmeira de açaí, exige habilidade. E enfrentamento do medo.
*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Nonada Jornalismo, escrito por Júlia Beatriz de Freitas
O Banco de Desenvolvimento de Econômico e Social (BNDES) e Governo da Noruega formalizam uma nova doação para o Fundo Amazônia, no valor de US$ 50 milhões (cerca de R$ 273 milhões). Esta nova doação confirma o apoio histórico do país ao Fundo Amazônia.
O primeiro acordo de doação assinado entre o BNDES e a Noruega foi em 2009 e, desde então, o país permanece sendo o maior doador, com recursos que superam R$ 3 bilhões.
“Essa nova doação da Noruega vem reafirmar nossos compromissos mútuos e abrir caminho para novos doadores seguirem esse exemplo de parceria bem-sucedida”, diz o superintendente da Área de Meio Ambiente do BNDES, Nabil Kadri, que palestrou no Oslo Tropical Forest Forum dia 26 de junho, anunciando oficialmente o aporte dos recursos.
A doação da Noruega foi compromissada na última COP, em Dubai, dezembro passado. Ao comentar a nova doação, em maio , o embaixador da Noruega em Brasília, Odd Magne Ruud, elogiou a ambição do presidente Lula de zerar o desmatamento e a competência da equipe que administra o Fundo. “Isso é claro quando vemos a quantidade e qualidade dos projetos aprovados desde a reativação”, afirmou o embaixador. . O Fundo é administrado e gerido pelo BNDES, em coordenação com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.
A recriação da estrutura de governança do Fundo Amazônia foi um dos primeiros atos do presidente Lula em 2023. O restabelecimento da governança permitiu, além da contratação de novas e expressivas doações, a diversificação dos países parceiros. O pagamento por resultados pela Noruega é a maior doação anunciada para 2024. O Japão se tornou este ano o primeiro país asiático a apoiar o Fundo.
“A atuação dos governos Lula contra o desmatamento e, principalmente, seus resultados positivos ao longo dos anos, deram ao país essa autoridade e respeito para a gestão do Fundo. A cada ano estamos reforçando a confiança da comunidade internacional nos compromissos de redução do desmatamento”, avalia a diretora Socioambiental do BNDES, Tereza Campelo, lembrando que este é o maior fundo do mundo para Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal.
O Fundo Amazônia prevê o apoio não reembolsável a ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento e de conservação e do uso sustentável da Amazônia Legal. Até 20% dos recursos podem ser aplicados no desenvolvimento de sistemas de monitoramento e controle do desmatamento em outros biomas brasileiros e em outros países tropicais.
Criado em 2008, o Fundo já apoiou 111 projetos, em um investimento total de R$ 2,1 bilhão. As ações apoiadas, segundo avaliações de efetividade, já beneficiaram aproximadamente 239 mil pessoas com atividades produtivas sustentáveis cujas receitas obtidas com a comercialização de produtos atingiram R$ 317 milhões, além de 101 terras indígenas na Amazônia e 196 unidades de conservação apoiadas que resultaram em mais de 74 milhões de hectares de áreas protegidas e com gestão fortalecida (Tis e UCs).
A Games Ram Geek chega em sua 6º edição que acontecerá nos dia 5, 6 e 7 de Julho de 2024 no Centro de Convenções Vasco Vasques, gerando um ambiente diverso com foco nas culturas Geek, Pop e Nerd em Manaus (AM).
O evento espera receber uma média de publico de 10 mil pessoas em cada dia do evento.
Nessa edição a Games Ram Geek contará com a presença de atrações nacionais, musicais e apresentações artisticas que envolve o universo gamer e pop enriquecendo e celebrando a cultura geek brasileira, além do concurso de Cosplay, competição de k-cover dance, campeonato de E-sports na arena gamer e muito mais.
Em 2024, foram confirmados os campeonatos dos jogos eletrônicos: Counter-Strike 2, FreeFire, League of Legends, Valorant, FC 24, Mortal Kombat 1, Street Fighter 6 e Fortnite.
O Festival Folclórico de Parintins, no Amazonas – que ocorre todos os anos no último final de semana de junho, considerado uma atração turística da cidade –, é uma apresentação a céu aberto com participação de várias associações folclóricas. O ponto alto da festa é a competição entre os dois bois folclóricos: o Boi Garantido e o Boi Caprichoso. Nas três noites, eles protagonizam a exploração de temáticas regionais como lendas, rituais indígenas e costumes dos ribeirinhos através de alegorias e encenações.
A tradição deste festival, iniciado em 1965, tem trazido contribuições sociais para a afirmação de um sentido de identidade regional que ocorre por meio da ressignificação do evento. “Essa ressignificação substitui o arquétipo de morte e renascimento pela chamada celebração folclórica, visto que o boi-bumbá parintinense hoje não morre mais e, portanto, não ressuscita”, conclui Rui Manuel Sénico Carvalho em estudo de doutorado defendido no Instituto de Artes (IA) – em 2014.
Segundo o pesquisador, que é mestre em música, faz parte dessa mudança a exaltação de personagens regionais como o indígena e o caboclo, que atuam como protótipos de discursos e conferem uma nova configuração estética ao festival.
Rui conta que escolheu esse assunto pela sua originalidade, já que o Amazonas é pouco estudado em etnomusicologia.
“Creio que uma pesquisa relacionada com a região poderia instigar o conhecimento sobre uma parte do Brasil singular, muito rica do ponto de vista cultural”.
O boi-bumbá, afirma Rui, faz parte de uma manifestação muito arraigada no folclore do país. “Tipifica-se na atualidade como uma manifestação cultural popular amazonense. No entanto, o auto do boi remete aos primórdios do Brasil e está presente em diversas regiões”, contextualiza.
O que afinal é o auto do boi?
É uma encenação que conta a história da negra Catirina que, grávida, desejou comer a língua do boi mais estimado pelo dono da fazenda em que morava. Para atender o seu desejo, Pai Francisco, esposo de Catirina, matou o melhor animal de seu patrão e, em seguida, fugiu. Perseguido, pediu socorro ao padre, que o auxiliou e fez ressuscitar o boi, para alegria e comemoração de todos na fazenda.
Alguns estudiosos apontam Portugal como a origem do auto do boi. Existem muitas similaridades com um folguedo que existia nos arredores de Lisboa até o século 19. Outros sugerem a África Subsaariana (região do atual Senegal) como a origem do bumba-meu-boi brasileiro, manifestação da qual o boi-bumbá parintinense atual deriva.
O auto do boi no Brasil inclui personagens centrais da colônia, como o amo do boi (branco, geralmente português), o Nêgo Chico e a Catirina (negros), e o indígena, este incorporado ao longo do tempo. “Eram três grupos em constante interlocução cultural e, ao mesmo tempo deculturados, face ao gestar de uma nova situação antropológica que emergia no país. À sua maneira, o auto do boi aborda a questão da identidade cultural no Brasil”, constata o pesquisador.
A tese, orientada pelo docente do IA José Roberto Zan, aborda um recorte geográfico temporal específico: ele não descreve a geografia do boi e as implicações mitológicas. “O surgimento do culto do boi acontece no mesmo período em que passa a dominar o ciclo agrário no Oriente Próximo e a relação do chifre do animal com o quarto crescente lunar, bem como com o arquétipo de morte e ressurreição”, situa.
O pesquisador cita Câmara Cascudo, segundo quem o bumba-meu-boi tornou-se o primeiro auto com caráter nacional, na medida em que assimilou, reconfigurou e transformou heranças das diversas matrizes do mosaico étnico da nação brasileira, gestada a partir de 1500. “Apenas posso suspeitar que o complexo mítico do boi, em alguma de suas variantes, já era conhecido pelos contingentes de mão de obra escrava da África, importada para o Brasil, bem como pelos portugueses que para cá migraram”, declarou o folclorista.
Confira um vídeo que explica a origem do ‘Auto do Boi’:
Na trilha do boi
Rui realizou o trabalho de campo em Parintins e em Manaus. Esteve em dois festivais na ilha e presenciou a Alvorada do Garantido, quando o boi sai em cortejo na noite de 30 de abril para o primeiro de maio, inaugurando a temporada anual do boi em Parintins. “Entrevistei intervenientes no processo de elaboração do boi, o que foi muito elucidativo e enriquecedor para a minha pesquisa”, expõe.
Em Manaus, ele entrevistou mestres de boi-bumbá da vertente tradicional da representação do auto e músicos que criam as sonoridades da festa, compositores de toadas e mediadores culturais que constroem a narrativa-mestra do Festival Folclórico de Parintins.
Rui observou como o evento era planejado e como captava a participação popular. “Se por um lado, os mediadores culturais ‘inventavam uma tradição’, por outro, a participação popular legitimava o aspecto folclórico da festa, emprestando-lhe sua identidade primária”.
Essa circularidade, entre a invenção de uma tradição e a satisfação de uma necessidade sentida, ressalta ele, consumava o gozo das pequenas diferenças – o caráter afirmativo do senso de identidade regional que se manifesta no evento.
A leitura de trabalhos anteriores foi enriquecedora para Rui, embora não houvesse nenhuma pesquisa no campo da etnomusicologia. Mas esses trabalhos não descortinaram um aspecto vital para a compreensão do boi-bumbá parintinense contemporâneo, que é a total obliteração do arquétipo morte e renascimento do boi.
De outra via, o músico notou que nenhum dos trabalhos se referia ao significado e ao papel da celebração folclórica, que foram inseridos na reconfiguração estética do festival a partir da década de 1980. E, por fim, há que se destacar a inserção da figura inventada do “índio” no Festival, o que tem por finalidade relacionar o folguedo com uma suposta ancestralidade “indígena”.
Os dois protótipos da regionalidade, revela, são o índio, que prefigura a ancestralidade do amazonense, e o caboclo, que é uma construção simbólica urbana do homem que, ao inserir em seu universo aspectos da civilização trazida pelo europeu, concretiza o caminho entre o índio pré-civilizado e a civilização. “Essas são as personagens exaltadas no folguedo que pretendem conferir um sentido de identidade ao evento”, repara.
As toadas analisadas em trabalho de campo foram obtidas no próprio festival ou com mestres de boi-bumbá, em Manaus. Outras toadas de cunho mais “tradicional”, como as de Lindolfo Monte Verde, fundador do Garantido, foram transcritas de um CD de toadeiros parintinenses, gravado em 2010. Tais composições foram selecionadas por esses toadeiros a partir da tradição oral popular de Parintins e retrabalhadas para a gravação.
“As toadas de cunho mais pop (Vermelho, Tic,Tic,Tac, Canto da Mata) foram transcritas por mim a partir de gravações de apresentações ao vivo, ou de programas de auditório, obtidas no YouTube, e sua análise tem em vista comparar as mudanças operadas no gênero, como parte de um processo de afirmação identitária”, esclarece. “Assim, ao colocar em perspectiva as diferentes toadas, abrangendo um período de cerca de 50 anos, é possível identificar algumas das mais significativas alterações pelas quais o gênero passou.”
A pesquisa começou em agosto de 2006 com a coleta de textos sobre o assunto, antes mesmo de Rui ter ingressado no doutorado, em 2010. As toadas analisadas têm uma abrangência de mais de meio século. “O estudo dos aspectos relacionados ao boi levou-me até a Pré-História”, assinala.
Uma pesquisa em etnomusicologia é bastante abrangente. Por isso, o pesquisador se debruçou sobre a história do Norte, do Brasil-Colônia, do período da Independência e sobre aspectos relacionados com antropologia cultural, mitologia, sociologia e a história do Amazonas em particular.
Rui situa que esse estudo procura ajudar a entender por que a ressignificação do Festival Folclórico de Parintins tem como finalidade gerar um sentido de afirmação identitária regional. O processo agrega um trabalho conjunto entre os que formulam a festa, o poder público, quem a organiza e os brincantes, que dão cor e movimento ao folguedo. “Passei a enxergar, sob a ótica de pesquisador, um tema que se desenrolava numa ilha no meio do Rio Amazonas. Sem nenhuma intenção de cunho essencialista, eu percebia que ressoava algo que nos remetia a um passado muito distante, na história comum da humanidade”.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Unicamp
Assim descreve Márcia Antonelli no lançamento de seu primeiro livreto editorial “Hematofilia”, publicado pela Editora Transe, que na ocasião, também lançava em formato físico a obra “Língua de Prata e outras histórias”, de Felipe Cavalcante, no Espaço Cultural Sereia Mística, na rua Luiz Antony.
Para mim, que acompanho essas duas personalidades já há algum tempo e vivo em Manaus desde o nascimento, é interessante pensá-los enquanto personagens dessa grande narrativa que é esta cidade
Foto: Jan Santos/Acervo pessoal
De rosto indígena e maquiagem europeia, Manaus é em si uma contradição que por vezes a metáfora não dá conta de conciliar.
Nos últimos anos, a capital esteve entre as lideranças na luta pela instalação de um pensamento conservador no Brasil, o que custou a saúde e até mesmo a vida de seus habitantes por mais de uma vez, e mesmo que se situe no coração da Amazônia brasileira, busca incessantemente uma identidade que não é sua, mutilando os próprios pés para que caibam em um sapato que não lhe serve.
Manaus se diz conservadora, mas quem olha de perto percebe que esse discurso não passa da capa. No Mês do Orgulho, como em qualquer outro momento, é interessante lembrar das personagens que de fato sabem quem é Manaus de verdade, quem é Manaus de noite, quando não está coberta pelas vestes de seda que insiste em usar mesmo com um calor de 38º.
Como em qualquer espaço onde existam seres humanos, a comunidade LGBTQIA+ da cidade também é uma força pulsante e impossível de ser ignorada. Antonelli, transescritora cujo trabalho é mais acessível nas mesas de bar do que em uma livraria, e Cavalcante, cuja presença online o situa tanto como escritor de fantasia quanto como advogado da visibilidade bissexual, são vozes que insistem em reverberar nesse espaço controlado pela editoria tradicional, marcando sua presença na literatura local mesmo quando essa é indesejada.
Como diz a pesquisadora Regina Dalcastagnè, a literatura (assim como a alma de Manaus) é um território em disputa.
Em “Hematofilia”, Márcia Antonelli não se esquiva da brutalidade que acomete os becos e vielas da cidade, sendo a autora, em resposta, também brutal. Durante o lançamento, em momentos que eu posso descrever apenas como hipnóticos, Antonelli lê um de seus contos (chamados de Movimentos) sobre uma musicista viciada em dor. A autora, tão parte da vida noturna local quanto o próprio álcool, apresenta assim as delícias e as dores da violência, em um retrato honesto de uma Manaus que é tudo menos parisiense. “Ler a Márcia é ir aonde eu não tenho coragem”, disse uma das participantes do evento, e eu não poderia concordar mais.
Foto: Jan Santos/Acervo pessoalFoto: Jan Santos/Acervo pessoal
Já Felipe Cavalcante aproveitou o momento para ler uma das histórias que acompanham “Língua de Prata”, uma coleção de contos de Fantasia que busca mostrar sua versatilidade enquanto escritor, oferecendo uma série de experimentos literários que vão desde o horror gótico ao realismo mágico. A história escolhida fala de uma criança que, por ter ramos e flores e folhas brotando de seu corpo, é constantemente podada pela mãe, e não coincidentemente, a mutilação é utilizada mais uma vez como alegoria para aquela identidade que o mundo ao redor não está preparado para cultivar (mas para cortar, é rápido).
Foto: Jan Santos/Acervo pessoal
Antonelli e Cavalcante não apenas trazem diversidade à produção literária de uma cidade que se recusa a ver-se diversa, mas trazem ruídos, incômodos e desconfortos a uma mentalidade engessada, que não percebe que está morrendo. A mutilação que tal pensamento impôs a corpos divergentes é quem enfrenta agora o fio da faca, como os enredos dessas pessoas provam. Então secundários, agora são essas personagens de Manaus que se tornam protagonistas, anti-heróis e anti-heroínas feitos de carne e osso e sangue e dor em um espaço em que a ilusão derrete no asfalto quente.
Palmas aqui também para a Editora Transe, que deu suporte para que tais vozes soassem afiadas. A parceria entre os envolvidos criou um momento bastante especial na noite manauara do dia 08 de junho de 2024, um exemplo da qualidade que surge quando lugares, personalidades e vozes diferentes se encontram para dizer a que vieram.
Meus parabéns a todos que tornaram aquele lançamento possível. Que sintamos Orgulho desses novos personagens da literatura local.
Sobre o autor
Jan Santos é autor de contos e novelas, especialmente do gênero Fantasia. Mestre em Literatura pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e com graduações em Língua Portuguesa e Inglesa, é um dos membros fundadores do Coletivo Visagem de Escritores e Ilustradores de Fantasia e Ficção Científica, além de vencedor de duas edições dos prêmios Manaus de Conexões Culturais (2017-2019) e Edital Thiago de Mello (2022).
As toadas dos bois-bumbás Caprichosoe Garantido são parte essencial do Festival Folclórico de Parintins, celebrado anualmente no Amazonas. Algumas dessas canções abordam temas como tradição, rivalidade, amor e, em alguns casos, até mesmo o término de um relacionamento.
O álbum ‘O Boi da Preservação’, de 2008, conta com diversas canções iconicas. Uma delas é ‘Até’, que foi escrita por Chico da Silva. A toada fica ainda mais emocionante por conta dos vocais de David Assayag. Veja a letra:
“Lá vou eu novamente, felizmente pela aí A gente vai se despedindo por aqui Dessa fantástica viagem, até
Até, um abraço forte, um longo beijo, meu amor Quero sentir na pele o teu calor Levar comigo a tua imagem
Dessa relação bonita que nos faz feliz Eu quero bis Vou seguir com a certeza que a gente se amou Como se quis”
Amor de Yandê (Caprichoso)
E quem disse que apenas a vontade do casal apaixonado pode fazer as coisas darem certo? No álbum ‘Amor e Paixão’ do bumbá Caprichoso, a toada ‘Amor de Yandê’ retrata uma relacionamento impossível entre Yandê e Coára. Alerta de spoiler? Eles não ficam juntos no final. Veja:
“O giro de Yandê, enamorada Por toda a noite, até a madrugada Só terminava quando raiava o dia, oh E os dois nunca se encontravam Yandê chorou, ao ver que seu amor E o sonho de apaixonada, nunca se realizaria oh”
Um beijo na palma da mão (Garantido)
Seria o compositor Chico da Silva, o rei da sofrência de Parintins? Ele foi o responsável pela música ‘Um beijo na palma da mão’. A música que fez parte do CD Garantido 2000 fala sobre um amor que vai ser interrompido, mas que pode voltar a existir. Veja:
“Adeus amor, eu já vou embora Sorria amor, por favor não chora O boi Garantido tem que voltar para fazenda Morena bonita, por favor, não mais me prenda
Amor eu vou, voltar E nos teus olhos de novo De boi brincar Pra garantir, a nossa união Deixo contigo morena O meu coração
Vou correndo e volto logo pra te ver Estou chegando bem antes do amanhecer Meu amor não fica assim Não sofre não
Lá vai um beijo na palma da minha mão Vou levar o Garantido Meu amo mandou levar Dou um pulo na fazenda E volto pra te amar”
Toada de Amor (Caprichoso)
Mais uma de Chico da Silva para a lista. O compositor sabe como explorar as emoções em suas músicas. Na ‘Toada de Amor’, Chico mostra um casal que vai ter que se separar por um breve momento. O Motivo? O persagem principal é torcedor do Caprichoso e sua amada do bumbá contrário. Que situação. Confira:
“Meu amor faz pirraça da minha cachaça o meu Boi bumbá Meu amor é contrário e no mês de Junho se manda pra lá Eu confesso que sinto uma grande tristeza da separação Mas meu boi Caprichoso derrama alegria no meu coração”
O Rio Negro voltou a descer após sete meses de cheia em Manaus (AM). Desde o dia 23 de junho, o rio desceu dois centímetros chegando, já no dia 25, ao nível de 26,83 metros.
A previsão de que, em 2024, o Amazonas tenha uma seca severa nos mesmos moldes ou até pior do que o estado viveu em 2023. Com isso, a Defesa Civil tem se preparado para enfrentar o problema. Neste período, inclusive, o rio deveria estar no ápice da cheia, e não iniciando a vazante.
A última vez que as águas retrocederam foi no dia 16 novembro do ano passado. Desde então, o Rio Negro tem mantido um ritmo lento, mas constante de subida. Todavia, no domingo, o rio desceu um centímetro. Na segunda, 24 de junho, as águas se estabilizaram, não subindo e nem descendo. Já no dia 25, o rio vazou mais um centímetro.
O cenário é o mesmo em Itacoatiara, Tabatinga e Coari. Na Velha Serpa, segundo o boletim da Praticagem dos Rios Ocidentais da Amazônia (Proa Manaus), o Rio Amazonas desceu, desde o dia 16 de junho até a última terça-feira, 14 centímetros.
Em Tabatinga, do dia 16 até 25 de junho, o Rio Solimões desceu de 7,89 metros para 6,71 metros. Em Coari, no mesmo período, o rio também desceu 14 centímetros.
A biodiversidade amazônica que abriga os parques nacionais Manu e Alto Purús, localizados nas regiões Madre de Dios e Ucayali, no Peru, receberá uma contribuição internacional para preservar seu ecossistema e paisagens únicas, segundo o Serviço Nacional de Áreas Naturais Protegidas pelo Estado (Sernanp).
O Sernanp especificou que o Programa Legacy Landscapes Fund (LLF) chega ao Peru em um esforço conjunto para preservar a riqueza natural e cultural dos parques nacionais Manu e Alto Purús.
“A LLF representa um compromisso global para proteger esta grande paisagem, destacando-se como um símbolo de esperança e ação nacional conjunta, em meio aos complexos problemas que a Amazônia enfrenta”, frisou.
Segundo o órgão, a preocupação e o apoio internacional refletem a importância da conservação do Manu-Purús, passando uma mensagem clara: o mundo está atento e disposto a agir.
Foto: Divulgação/Agência Peruana de Notícias
O principal objetivo do programa LLF é preencher lacunas na gestão deste grande corredor natural. Ao garantir a sustentabilidade financeira, será possível proteger a biodiversidade excepcional e garantir o bem-estar a longo prazo das populações na região.
Este fundo combina recursos públicos e privados, com contribuições significativas de países como Alemanha, Noruega e França através das suas agências de desenvolvimento. O LLF garante um fundo de 30 anos que permitirá a continuidade das iniciativas de conservação e desenvolvimento sustentável na região, garantindo ainda um legado duradouro para as gerações futuras.
O Sernanp destacou que a inclusão da paisagem Manu-Purús no programa LLF é um reconhecimento internacional de sua importância ecológica e cultural.
“Este fundo reforça o compromisso global com a conservação das áreas protegidas e os direitos das comunidades indígenas”, divulgou.
Indicou também que os seus objetivos incluem a gestão sustentável, a mitigação das alterações climáticas e o empoderamento das comunidades locais. Manu-Purús abriga uma biodiversidade única e sua inclusão fortalece sua proteção e a de seus habitantes indígenas.
O programa também se destaca pela estrutura de gestão colaborativa. A FZS Peru canalizará estrategicamente os fundos, trabalhando em estreita colaboração com o Sernanp e parceiros a nível local e regional.
O Sernanp, como principal beneficiário dos recursos, tem um papel crucial na gestão e execução de projetos de conservação e desenvolvimento sustentável na paisagem Manu-Purús, consolidando a credibilidade e o impacto do programa.
A situação atual realça a importância deste fundo, o programa não só representa um desafio para a integração de duas áreas protegidas numa gestão unificada, mas também uma oportunidade crucial para reforçar a vigilância, o controle e a colaboração entre Sernanp e as comunidades locais.
É comum que pacientes infectados por dengue sintam dores no corpo, febre alta e tenham manchas na pele. Esses sintomas duram em torno de 5 a 7 dias. Porém, mesmo após a cura, alguns sintomas podem persistir, como a fadiga extrema, dores musculares e articulares, além de manchas na pele.
O infectologista Julival Ribeiro aponta que as pessoas diagnosticadas com dengue grave, chamada de dengue hemorrágica, podem continuar com sintomas e ter sequelas, como insuficiência cardíaca e miocardite – uma inflamação do tecido muscular do coração. Julival menciona, ainda, que podem haver sequelas cerebrais.
“A depender do quadro clínico da dengue, se foi grave, podem surgir manifestações neurológicas, por exemplo, perda de memória, se a pessoa teve uma inflamação no cérebro, e irritabilidade. Tudo isso pode acontecer a longo prazo com a dengue”, destaca o infectologista.
Caso o paciente apresente sintomas semanas após a cura, deve procurar assistência médica. “Nas pessoas que tiveram dengue grave, é que essas alterações podem durar por longo tempo, ou mesmo tornar-se um problema crônico. Portanto, quem teve dengue, apresenta sintomas depois de várias semanas ou meses, deve procurar um serviço de saúde para esclarecer”, indica Julival.
Dengue hemorrágica
As alterações de saúde afetam, em especial, pacientes que tiveram dengue hemorrágica. O especialista em doenças tropicais do hospital Anchieta e infectologista, Manuel Palácios, explica como a dengue clássica evolui para a hemorrágica.
“A dengue pode evoluir para dengue hemorrágica, ou dengue grave, quando há um aumento da permeabilidade vascular, levando a vazamento de plasma, sangramentos graves e falência de órgãos. A fase crítica, onde o paciente está mais vulnerável, pode durar de 24 a 48 horas”, pontua.
Segundo Manuel Palácios, os sintomas da progressão da doença costumam aparecer entre o 3º e o 7º dia e coincidem com a queda da febre. Os sintomas são:
Sangramentos espontâneos: nas gengivas, nariz e trato gastrointestinal
Dor abdominal intensa e contínua
Vômitos persistentesLetargia ou irritabilidade
A médica intensivista do Hospital Santa Marta, localizado em Taguatinga Sul no Distrito Federal, Adele Vasconcelos, explica que a dengue causa desidratação interna por perda de líquido, o que faz com que o sangue engrosse e as plaquetas caiam – fatores que aumentam o risco de hemorragia. “A evolução da dengue para a hemorrágica depende de organismo para organismo. A gente só considera uma dengue como hemorrágica se o paciente tiver algum tipo de sangramento, seja ocular, no nariz, na boca, na urina, nas fezes, às vezes até na cabeça, um AVC”, salienta a médica.
Em relação às sequelas da dengue grave, órgãos como coração, rins, fígado e cérebro podem ser afetados. A professora do Gama, no Distrito Federal, Gláucia Ferreira Matos, 45 anos, teve a doença em março deste ano. Ela relata que, além da dengue ter afetado a imunidade dela, tem investigado problemas nos rins e fígado.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
“A dengue atingiu gravemente o meu fígado, consequentemente o meu rim também e, agora, eu venho fazendo acompanhamento, exames de sangue, hemograma, alguns exames mais específicos para acompanhar, porque eu venho sentindo sintomas que eu nunca tive na vida antes de ter dengue”, conta a professora.
Têm maior risco de desenvolver dengue hemorrágica crianças, idosos, gestantes, portadores de doenças imunossupressoras (HIV/Aids, doenças autoimunes, neoplasias), além de pessoas com doenças crônicas, como diabetes e hipertensão e indivíduos previamente infectados com um sorotipo diferente do vírus da dengue.
Quadro diagnóstico
Dengue clássica: febre alta, dor de cabeça, dor por trás dos olhos, dores musculares e articulares, exantema (manchas na pele) e, às vezes, sangramento leve das gengivas ou nariz. Dura geralmente de 5 a 7 dias;
Depois podem persistir: fadiga extrema, que pode durar várias semanas; dores musculares e articulares, por algumas semanas ou meses; exantema pode aparecer novamente alguns dias após a febre ter cessado e durar de 1 a 5 dias; progressão para dengue hemorrágica: sangramentos espontâneos nas gengivas, nariz , dor abdominal, vômitos persistentes. Costumam aparecer entre o 3º e o 7º dia, coincidindo com a queda da febre;
Sinais de dengue grave: choque, caracterizado por pulso fraco e rápido, pressão arterial baixa, extremidades frias e úmidas; sangramento grave (vômitos com sangue, fezes escuras, sangramento vaginal excessivo, entre outros); comprometimento de fígado, cérebro, coração. Podem surgir de 3 a 7 dias após o início dos sintomas (nos casos graves);
Prevenção e combate à dengue
Com uma vistoria de 10 minutos semanais em casa, os moradores podem acabar com os possíveis criadouros do mosquito transmissor da dengue, o Aedes aegypti, segundo o Ministério da Saúde. Confira alguns cuidados:
Colocar areia nos vasos de plantas;
Verificar garrafas, pneus, calhas, caixas d’água;
Checar o recipiente atrás da geladeira e climatizador;