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Em destaque crescente no país, filmes indígenas inspiram estudos

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Em uma cena de Teko Haxy – Ser imperfeita (2018), das cineastas Patrícia Ferreira Pará Yxapy, da etnia Guarani Mbya, e a não indígena Sophia Pinheiro, a primeira diz: “Acho que vocês [brancos] não queriam que a gente existisse”. No filme, espécie de diário cotidiano coletivo, as mulheres partilham angústias, memórias e questões do dia a dia, como preparar uma galinha ou lidar com dores no corpo. “Em geral, as narrativas dessas mulheres partem de um lugar bastante íntimo e o cinema funciona como uma cesta, na qual se guarda o que depois se compartilha”, comenta Pinheiro, professora da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo. “Por meio da linguagem audiovisual, elas podem contar suas próprias histórias.”

Na pesquisa de mestrado em antropologia, defendida em 2015 na Universidade Federal de Goiás (UFG), Pinheiro estudou a trajetória de Ferreira. Constatou que a autoria feminina ainda passa por apagamentos em razão do machismo dentro e fora das aldeias. No doutorado em cinema na Universidade Federal Fluminense (UFF), concluído em 2023, ela aprofundou a investigação. Além de Ferreira, examinou também a produção fílmica de Flor de María Alvarez Medrano, da etnia Maya, na Guatemala, e Graciela Guarani, da etnia Guarani Kaiowá, de Mato Grosso do Sul. No ano passado, a pesquisadora ajudou a criar a Katahirine – Rede Audiovisual das Mulheres Indígenas, que busca mapear e divulgar a produção indígena de autoria feminina no Brasil, além de fomentar parcerias. A ideia foi concebida pela cineasta não indígena Mari Corrêa, do Instituto Catitu (SP), que coordena a rede com Pinheiro e a jornalista e cineasta Helena Corezomaé, da etnia Umutina (MT).

A iniciativa reúne hoje 67 cineastas de 33 etnias espalhadas pelo país, além de contar com seis conselheiras indígenas, a exemplo de Ferreira. Ela codirigiu cinco filmes, entre eles, Bicicletas de Nhanderu (2011), feito em parceria com seu companheiro, o realizador Ariel Karay Ortega, também da etnia Guarani Mbya, no Rio Grande do Sul. Além disso, contribuiu como roteirista no longa A transformação de Canuto (2023), dirigido por Ortega e pelo antropólogo não indígena Ernesto de Carvalho. No final do ano passado, a produção conquistou os prêmios de melhor filme e contribuição artística na competição Envision, do Festival Internacional de Documentários de Amsterdã (IDFA, na sigla em inglês), na Holanda.

O longa reencena a história contada por anciões de uma aldeia Guarani Mbya, na fronteira do Brasil com a Argentina, sobre um homem que se transforma em onça e morre de forma trágica. “É uma obra que combina elaboração ficcional e documental, explicitando na narrativa o seu processo de feitura”, analisa André Guimarães Brasil, professor de cinema na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisador de poéticas audiovisuais indígenas. Em abril, ele foi um dos debatedores do filme no 10º Colóquio Cinema, Estética e Política, promovido naquela universidade.

De acordo com Brasil, a produção fílmica de realizadores indígenas vem se consolidando nos últimos anos no país.

Dentre eles está o cineasta e educador guarani Alberto Alvares Tupã Ra’y, graduado na Formação Intercultural para Educadores Indígenas, oferecida pela Faculdade de Educação da UFMG desde 2009. “Hoje vou para vários territórios, em todo o país, dar oficinas para os parentes”, conta Alvares.

Com 11 anos de carreira, o cineasta calcula ter dirigido cerca de 20 filmes. Em sua pesquisa de mestrado em cinema e audiovisual, cuja dissertação foi defendida em 2021 na UFF, ele reflete sobre o próprio fazer cinematográfico “na fronteira entre o conhecimento guarani e o não guarani” ao examinar o arquivo bruto de dois de seus longas, Guardiões da memória (2018) e O último sonho (2019). “Nós, os Guarani, somos um povo da oralidade. A gente não sabe como vai ser o amanhã. O tempo todo estamos sendo encurralados. Por isso, um filme pode ser um guardião da memória dos mais velhos, uma maneira de compartilhar esse saber e preservar nossa tradição”, constata Alvares.

Seu longa mais recente, Yvy Pyte – Coração da Terra (2023), foi exibido neste ano na abertura do forum.doc – Festival do Filme Documentário e Etnográfico, em Belo Horizonte, e na 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes, ambos em Minas Gerais. “Hoje, temos mostras e festivais especializados ou não que exibem, premiam e discutem os filmes feitos por indígenas”, diz Brasil, da UFMG. “Essa movimentação faz com que o interesse sobre o tema na universidade cresça e impulsione a realização de pesquisas.”

O múltiplo conjunto audiovisual que se convencionou em chamar de “cinema indígena” reúne filmes com essa temática realizados em parceria com diretores não indígenas, além das produções etnográficas, capitaneadas geralmente por antropólogos visuais ou pesquisadores de áreas afins. Para o norte-americano Robert Stam, da Universidade de Nova York (EUA), os indígenas brasileiros hoje transitam por uma ampla gama de mídias e formatos, que abarcam desde clipes no YouTube a videoperformances, exibidas em museus, galerias e bienais de arte.

Cena de Guardiões da memória do cineasta educador e pesquisador indígena Alberto Alvares Tupã Ra’y. Foto: Alberto Alvares Tupã Ra’y.

Em 2023, Stam lançou o livro Indigeneity and the decolonizing gaze: Transnational imaginaries, media aesthetics, and social thought (Bloomsbury Academic) ou, em livre tradução, Indigeneidade e o olhar descolonizador: Imaginários transnacionais, estética midiática e pensamento social, ainda inédito no Brasil. Na obra, dedica um dos capítulos à representação do indígena no cinema brasileiro desde a época dos filmes silenciosos. Segundo o pesquisador, a temática está presente na produção audiovisual brasileira a partir da década de 1910. Exemplo disso são os documentários dirigidos por Luiz Thomaz Reis (1878-1940), major e cinegrafista das expedições do marechal Cândido Rondon (1865-1958), do então Serviço de Proteção ao Índio (ver Pesquisa FAPESP nº 255). Alguns anos mais tarde, vieram os longas do cineasta Humberto Mauro (1897-1983), caso de Descobrimento do Brasil (1937), que romantiza os colonizadores portugueses. De acordo com Stam, nesses filmes e em muitos posteriores, a representação dos grupos e sujeitos indígenas oscilou entre os “bons selvagens”, passivos e submissos, e os “maus”, que se opunham à dominação dos brancos.

As primeiras experiências de autorrepresentação indígena no país só vieram acontecer no final do século XX. Foi quando surgiram oficinas de formação audiovisual voltadas para esse público, impulsionadas por duas novidades: a tecnologia VHS e os equipamentos portáteis de vídeo. É o caso do Vídeo nas Aldeias (VNA), projeto independente criado em 1986 pelo cineasta e indigenista franco-brasileiro Vincent Carelli. A princípio, a ideia era exibir na aldeia as imagens filmadas ali pela equipe do projeto e incorporar as sugestões da própria comunidade ao material. Porém a partir de 1997, a iniciativa, que está até hoje na ativa, passou a oferecer oficinas de capacitação para os indígenas dirigirem seus próprios filmes.

Exibição na aldeia Enawenê Nawê (MT) de material gravado nos anos 1980 e 1990 pelo projeto Vídeo nas Aldeias – Foto – Vicent Carelli

No mestrado concluído em 2014 na UFMG, Belisário analisou o filme As hiper mulheres (2011), dirigido pelo cineasta Takumã Kuikuro, da etnia Kuikuro, formado pelo VNA, em parceria com os não indígenas Carlos Fausto e Leonardo Sette. Já no doutorado, defendido em 2018 na mesma instituição, ele pesquisou a produção audiovisual do realizador Divino Tserewahú, da etnia A’uwe Xavante, que também passou pelo VNA. O trabalho de campo rendeu o filme Waia rini (2015), dirigido por Tserewahú e Belisário.

As demandas por terras e por direitos têm sido uma forte motivação para a realização de trabalhos audiovisuais pelos indígenas, comenta a antropóloga Ana Lúcia Ferraz, professora da UFF e coordenadora do Laboratório do Filme Etnográfico daquela universidade. A pesquisadora já se dedicava à etnografia audiovisual quando fez um documentário com um grupo da etnia Guarani Mbya que havia saído de Paraty para se radicar em Maricá, ambas cidades fluminenses. Esse encontro fomentou em 2014 a criação de um programa de extensão universitária de formação em processos audiovisuais com grupos da etnia Guarani Mbya, no Rio de Janeiro, e os Kaiowá e Nhandeva, em Mato Grosso do Sul.

Na sequência, Ferraz passou a acompanhar os Nhandeva, da Terra Indígena Potrero Guaçu (MS), em seu processo de retomada do território e recuperação dos próprios saberes. Juntos, já produziram um filme, Nhande ywy, nosso território (2018), e no momento finalizam um novo longa. Atualmente, a pesquisadora está filmando com outro grupo, os A’uwe Xavante (MT), cujo território está ameaçado pela construção de quatro centrais hidrelétricas no rio das Mortes.

Frames do filme A transformação de Canuto – 2023 – de Ariel Karay Ortega e Ernesto de Carvalho

Ferraz é também uma das docentes da disciplina de pós-graduação O cinema indígena: Do território à tela, ministrada em 2022 e 2023 no Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos da Universidade de São Paulo (Diversitas-USP). De acordo com a pesquisadora, a iniciativa deve ser retomada no ano que vem. Pela proposta, estudantes de mestrado ou doutorado da universidade, indígenas ou não, realizam seus próprios vídeos em parceria com comunidades indígenas. Os três documentários produzidos até então, como Fora do lugar, compuseram uma mostra no Museu das Culturas Indígenas, na capital paulista, em junho.

Feitos em intensa negociação com os anciãos e os pajés da aldeia, os filmes indígenas trazem a marca da escuta: não se realizam sem consulta e diálogo. “Toda a vez que vou produzir um filme, converso com as comunidades para saber que tipo de sentimento elas querem guardar nesse mundo da imagem”, conta Alvares. Essa é também a preocupação da antropóloga e cineasta Alice Villela, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Entre 2006 e 2015, ela pesquisou a recepção e a produção de imagens entre os Asurini do Xingu (PA) no mestrado, na Unicamp, e no doutorado, na USP. Ambos tiveram apoio da FAPESP.

Em suas pesquisas, a estudiosa ressalta a importância do “mapeamento” cuidadoso dos conceitos nativos relativos ao campo da imagem, pois há sempre a possibilidade de mal-entendidos. “É uma tradução que não é apenas linguística, mas cosmológica”, observa Villela. “Para os Asurini do Xingu, as imagens fotográficas e audiovisuais despertam várias interpretações. Mobilizam, por exemplo, o ynga, o princípio vital, um fundamento de sua cosmologia que está diretamente vinculado à prática do xamanismo.” Ao mesmo tempo, segundo ela, a imagem pode ser muito política: cumpre um papel de visibilidade, de comunicação e de produção de documentos que embasam lutas por direitos.

Os trabalhos audiovisuais mais recentes de Villela acompanham o grupo Sabuká Kariri-Xocó, de Alagoas, em seus rituais e atividades cotidianas, mas também nos deslocamentos que fazem para garantir a sobrevivência e nas lutas por seu território, homologado, mas tomado por posseiros. O contato com o grupo se iniciou durante sua pesquisa de pós-doutorado, concluída em 2022 na USP, que integrou o projeto temático financiado pela FAPESP, “O musicar local: Novas trilhas para a etnomusicologia”.

Um dos resultados do estudo é Toré (2022), filme sobre o fazer musical desse grupo indígena nas terras retomadas. “A eles interessa que as imagens circulem, já que buscam visibilidade política. O território demarcado em que vivem é menor do que aquele que está na memória dos antepassados, que chamam de ‘território memorial’”, conta. Como os demais, o longa-metragem que está finalizando com o cineasta não indígena Hidalgo Romero também reflete as negociações com a comunidade. “O pajé Pawanã Crody contribuiu desde a ideia inicial do filme. Nesse momento, ele tem participado da etapa de edição, comentando as filmagens ou chamando a atenção para algo que nos passou despercebido”, finaliza Villela.

  • A reportagem acima foi publicada com o título “Tela demarcada” na edição impressa nº 342, de agosto de 2024.

Projeto
Taquaras, tambores e violas: Relações entre musicar e localidade na construção de narrativas audiovisuais (nº 17/21063-1); Modalidade Bolsa de pós-doutorado; Pesquisadora responsável Rose Satiko Gitirana (FFLCH-USP); Bolsista Alice Martins Villela Pinto; Investimento R$ 431.652,32.

Artigos científicos
BELISÁRIO, B. Rebobinando a fita: Arqueologia do videotape nas aldeiasGIS – Gesto, Imagem e Som – Revista de Antropologia. USP. v. 7, n. 1. 2022.
FERRAZ, A. L. Os cantos-dança guarani, sua territorialidade cósmica e a etnografia como antropologia modalProa: Revista de Antropologia e Arte. Unicamp. v. 13. 2023.

Livro
STAM, R. Indigeneity and the decolonizing gaze: Transnational imaginaries, media aesthetics, and social thought. Londres (Reino Unido): Bloomsbury Academic, 2023.

Capítulo de livro
BRASIL, A. “De uma a outra imagem”. In: FURTADO, B. e DUBOIS, P. (org.). Pós-fotografia, pós-cinema: Novas configurações das imagens. São Paulo: Edições Sesc, 2019.

*O conteúdo foi originalmente publicado por Revista Pesquisa FAPESP ,de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

Pesquisa em floresta do Amapá fornecerá dados sobre mudanças climáticas para a Nasa

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Pesquisa do Inpa e da Ueap na Floresta Nacional do Amapá. Foto: Rafael Aleixo/g1 AP

Uma pesquisa inédita no Amapá vai usar sensores instalados no solo e em árvores da Floresta Nacional do Amapá (Fona) para medir o fluxo de água que chega até a atmosfera através da Amazônia. O objetivo é analisar, ao longo de um ano, como a floresta se comporta durante o período chuvoso e de estiagem em relação à mudança climática.

O estudo é realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) em parceria com a Universidade do Estado do Amapá (Ueap) através do projeto INCT Madeiras da Amazônia, coordenado pelo pesquisador Niro Higuchi – Nobel da Paz em 2007 como membro do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC).

Parte dos equipamentos usados pelo projeto foram financiados pela agência espacial norte-americana, a Nasa, que usará os dados via satélite para a missão Soil Moisture Active Passive Mission (SMAP), que monitora as alterações no clima do planeta.

Segundo o pesquisador da Ueap e líder do projeto no Amapá, Perseu Aparício, os sensores irão monitorar simultaneamente o comportamento da fisiologia das árvores e serão alimentados por placas solares e datalog para armazenamento das informações por 24h durante 1 ano.

Pesquisa do Inpa e da Ueap na Floresta Nacional do Amapá. Foto: Rafael Aleixo/g1 AP

O doutorando em ciências de florestas tropicais do Inpa, Regison Oliveira, é o responsável pelas instalações dos sensores no solo. Para fixar os medidores de temperatura e umidade, são cavados buracos de cerca de 2 metros de profundidade onde os equipamentos são colocados em várias camadas.

“Compreender a dinâmica da água no solo é importante para entendermos a transpiração da floresta. Esse teor de água no solo é o que mantêm a floresta durante os períodos de seca, principalmente no El-Niño. E monitorar a umidade da floresta e do solo em uma escala de Amazônia é importante para que possamos avaliar a saúde da floresta”, explicou o pesquisador.

Ainda de acordo com o cientista, a missão “Smap” – lançada em 2015 pela Nasa, precisa de calibrações por conta da falta de dados em campo. E os novos sensores na Amazônia vêm contribuir com esse monitoramento. Segundo o Inpa, o satélite americano lança “visados” na superfície da Terra e avalia a umidade, porém existem dificuldades por conta do alto teor de biomassa das folhas das árvores.

‘Caminhos’ da água por dentro das árvores

Cristina Santos, pesquisadora do laboratório de Manejo Florestal do Inpa, já realiza um estudo semelhante no Amazonas que estima a transpiração das árvores. Essa é a segunda vez que sensores desse tipo são instalados na Amazônia, segundo a cientista.

“Estimamos a velocidade da água que sai do solo e vai até a atmosfera através das folhas. Colocamos duas agulhas e por diferença de temperatura a gente consegue estimar essa velocidade da água. Também identificamos por onde a água passa por dentro da árvore, que é chamado de ‘Caminho da água’”, descreveu a cientista.

A cientista explicou que ter esses dados é importante para saber o quanto a árvore está “trocando” água com a atmosfera. Na Floresta Nacional do Amapá foram instalados 18 sensores, que passam a ser monitorados a partir de um computador de campo.

O equipamento registra dados a cada 30 segundos e faz uma média a cada 5 minutos. Segundo a pesquisadora, a periodicidade de coleta dos dados será a cada 15 dias.

Tanto os sensores de solo, quantos os de árvores estão sendo instalados em área que receberam manejo florestal em áreas não manejadas. Essa escolha é para outra frente do projeto, que vai analisar o comportamento das florestas.

Observatório orbital da Nasa

Soil Moisture Active Passive (SMAP), observatório orbital da Nasa. Foto: Divulgação/Nasa

A missão Soil Moisture Active Passive (SMAP) é um observatório orbital que mede a quantidade de água na superfície do solo em todos os lugares da Terra. De acordo com a Nasa, a quantidade de água que evapora da superfície terrestre para a atmosfera depende da umidade do solo.

O satélite foi lançado em janeiro de 2015 e começou a operar em abril do mesmo ano. Na Amazônica, apenas sensores no Amazonas forneciam informações no Brasil. A partir do funcionamento dos equipamentos no Amapá, mais dados serão fornecidos para o observatório.

O SMAP foi projetado para medir a umidade do solo a cada 2-3 dias, o que permite que mudanças ao redor do mundo sejam observadas em escalas de tempo que variam de grandes tempestades a medições repetidas de mudanças ao longo das estações.

A partir dos dados, o observatório orbital produz mapas globais de umidade do solo, que cientistas usam para ajudar a melhorar a compreensão de como os fluxos de água, energia e carbono mantêm o clima e meio ambiente.

*Por Rafael Aleixo, da Rede Amazônica AP

Glocal Amazônia reforça importância da inclusão da educação indígena no Brasil

A inclusão da educação indígena no Brasil está prevista na Constituição Federal de 1988, que garante às comunidades indígenas o direito a uma educação específica, diferenciada, intercultural, bilíngue/multilíngue e comunitária. Este foi um dos tópicos da conferência ‘Educação Transformadora: inclusão e qualidade na Amazônia’, realizada no segundo dia de programação do ‘Glocal Experience Amazônia’ nesta sexta-feira (23), no Contemporâneo Eventos, em Manaus (AM).

Uma das palestrantes no debate foi Ana Claudia Martins Tomás, também conhecida como professora Claudia Baré. Indígena da etnia Baré, Claudia é artesã e multiartista, mas foi na educação que encontrou a sua vocação.

Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia

Durante o evento, ela falou sobre sua carreira acadêmica e a importância do Espaço Cultural Indígena Uka Mbuesara Wakenai Anumarehit (Parque das Tribos). Ela fazia parte da liderança indígena que criou o local em 2014.

Além disso, enquanto educadora indígena, Claudia desenvolveu uma metodologia para alcançar os povos originários: “Seja por meio de palavras ou arte cênica, sempre inseri a língua indígena dentro da sala de aula. Acho importante que os jovens indígenas tenham contato com a sua cultura e herança. Eu já fiz pecas que abordavam certas temáticas indígenas”.

No plateia estavam alunos do Instituto de Educação do Amazonas (IEA). Eles acompanharam com atenção os conselhos da professora. “Eles são a próxima geração, eles precisam pegar esse compromisso para eles desde agora, principalmente os jovens com sangue indígena. Ouvir mais sobre a educação dos povos indígenas e suas vivências”, destacou.

Escola na Floresta

A Secretária de Estado de Educação e Desporto Escolar, Arlete Mendonca, também participou do bate-papo e falou sobre a dificuldade de levar educação de qualidade para o Amazonas. “Levei alguns exemplos dos trabalhos que desenvolvemos no Estado e a importância de compartilhar todo o conhecimento necessário”, disse.

Um dos projetos destacados por Arlete foi a ‘Escola na Floresta’, que iniciou as atividades em julho deste ano na comunidade Bom Jesus do Angelim, dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do município de São Sebastião do Uatumã, no Amazonas. Essa é a primeira estrutura do tipo, no Brasil, com capacidade para 200 alunos, sendo 100 em tempo integral e 100 em período noturno.

“Os desafios são grandiosos, mas o maior desafio é compreender todos os cantos do Amazonas. Para isso, contamos com diversos recursos, como por exemplo, o Centro de Mídia, onde atendemos mais de duas mil salas em comunidades do Amazonas”, comentou a secretária.

Glocal Amazônia 2024: confira a programação e os locais de realização do evento

Sobre o Acelera Amazônia

Glocal Experience Amazônia faz parte do projeto Acelera Amazônia 2024 e tem o apoio da Apa Móveis, Prefeitura de Manaus, Secretaria do Meio Ambiente (SEMA), Amazonastur e Governo do Amazonas. Idealização e operação: Dream Factory. Realização: Fundação Rede Amazônica (FRAM).

Glocal Experience nasceu em maio de 2022 com sua primeira edição no Rio de Janeiro. O encontro busca se tornar anual e tem a intenção de ser realizado em cada Estado da Amazônia. Em 2024, Manaus (AM) recebe o evento pela segunda vez.

UEA é primeira instituição pública do Norte a conceder selo do Inmetro

Foto: Antônio Lima/Secom AM

O Laboratório de Ensaios de Produtos (LabEP), da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), conquistou recentemente a certificação de ser o primeiro e único laboratório de uma universidade pública a conceder selo do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) às empresas do Polo Industrial de Manaus (PIM).

Agora, o laboratório reúne competência técnica para realizar ensaios térmicos e mecânicos, em atendimento à norma ABNT NBR ISO/IEC 17025, no produto “isqueiro”. No Amazonas já existem dois fabricantes de isqueiros que vão ser os principais beneficiários dessa acreditação.

O reitor da UEA, André Zogahib, enfatizou que atualmente, o laboratório se destaca entre um dos melhores laboratórios do país. E enfatizou que a acreditação é a coroação de todo trabalho e esforço desempenhados pela atual gestão.

“Várias instituições tentaram obter o reconhecimento ao longo de 50 anos. E a UEA conseguiu o feito. Tenho certeza que a gente vai buscar essa terceira acreditação nos nossos próximos dois laboratórios que já estão nesse processo, e esperamos que sejam os três primeiros desses 130 laboratórios que a UEA possui”, ressaltou.

Foto: Antônio Lima/Secom AM

Na avaliação do diretor-presidente do Instituto de Pesos e Medidas do Amazonas (Ipem-AM), Renato Marinho, com o reconhecimento internacional do laboratório, a UEA poderá atender a demanda de empresas do setor instaladas no Amazonas e também de outras indústrias das regiões Norte e Nordeste, uma vez que é a primeira a obter a acreditação do Inmetro, fora do circuito Sul e Sudeste, para realizar ensaios térmicos e mecânicos em atendimento à norma ABNT NBR ISO/IEC 17025, produto isqueiro.

Ainda de acordo com a UEA, outros laboratórios já estão no radar para serem acreditados, como o laboratório de elétrica para a realização de ensaios de qualidade em ar condicionados. A instituição possui, também, o laboratório com instalações permanentes e móveis, cujos serviços são realizados em embarcações adaptadas denominado “Central de Análises Químicas”, com ensaios em “água bruta”.

Dessa forma, ele está em fase de implementação do seu sistema de gestão laboratorial para atendimento às normas de acreditação. Está prevista, ainda, a implantação de um Laboratório de Refrigeração e Climatização ligado à Escola Superior de Tecnologia (EST).

Foto: Antônio Lima/Secom AM

“Estamos avançando em passos largos, a gente espera que nos próximos meses a gente também acredite mais esses dois laboratórios. O Inmetro veio reconhecer os nossos padrões de teste, de avaliação e eles estão de acordo, ou seja, o que a gente certifica aqui pode ser absorvido em termos de produção, aquisição, por meio das nossas exportações para países que são signatários desses acordos com o Inmetro“, explicou reitor André Zogahib.

A coordenadora do LabEP, professora Samantha Coelho, afirma que a principal importância do laboratório é mostrar para as empresas que a UEA está pronta e capacitada para realizar essas análises e agora, acreditada e com selo do Inmetro.

“Nós somos capazes, nós estamos prontos. Só estamos esperando a demanda. Eu acho que essa é a principal importância. Somos uma instituição de peso, somos uma instituição que tem credibilidade e um time acreditado”, enfatizou.

*Com informações da Agência Amazonas

“O principal desafio continua sendo o desconhecimento”, comenta CEO da Rede Amazônica no Glocal Amazônia

O ‘Glocal Experience Amazônia’, realizado em Manaus (AM), conta com uma vasta programação que debate a sustentabilidade e ações com foco na Amazônia. Na manhã desta sexta-feira (28), no segundo dia de evento, o CEO do Grupo Rede Amazônica, Phelippe Daou Junior, participou da conferência ‘Amazônia Produtiva: Caminhos para uma economia sustentável’.

A conferência contou ainda com a participação da diretora executiva do Instituto Ava, Isabel Ferreira, e da presidente do Conselho de Administração da Bemol, Ilana Benchimol Minev.

Durante o debate, Phelippe Daou Junior falou sobre a importância de investir e cuidar da região amazônica: “A gente sofre uma série de ameaças ao desenvolvimento da Amazônia, por esse motivo temos que buscar, evidentemente, alternativas para passar pelas crises. Eu diria que o principal desafio continua sendo o desconhecimento que se tem a respeito da Amazônia”.

Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia

O CEO do Grupo Rede Amazônia afirmou que o veículo de comunicação é mais que notícias e entretenimento. “De certa maneira, nós formamos os telespectadores. Eles se tornam donos do seu próprio destino e passam a ter uma perspectiva econômica”, comentou.

“A participação no Glocal é sempre importante, pois podemos dividir com as pessoas toda a bagagem que adquirimos durante esses 52 anos de experiência”, completou.

Investimento

O mediador do painel, o professor aposentado da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e Conselheiro Empresarial, José Alberto Machado, destacou que a economia sustentável é importante para o crescimento da região amazônica. “Precisamos debater sobre o tema, pois ainda falta infraestrutura para que você possa ter rotas logísticas que conectem as nossas possibilidades com os grandes mercados”, disse.

Machado ainda falou sobre a importância do Distrito Industrial para a cidade de Manaus. “É muito claro que nós temos aqui uma economia industrial que dá sustentação para tudo aquilo que a gente tem. Assim, tem se conseguido preservar o nosso Estado do Amazonas”, disse o especialista. 

Glocal Amazônia 2024: confira a programação e os locais de realização do evento

Sobre o Acelera Amazônia

Glocal Experience Amazônia faz parte do projeto Acelera Amazônia 2024 e tem o apoio da Apa Móveis, Prefeitura de Manaus, Secretaria do Meio Ambiente (SEMA), Amazonastur e Governo do Amazonas. Idealização e operação: Dream Factory. Realização: Fundação Rede Amazônica (FRAM).

Glocal Experience nasceu em maio de 2022 com sua primeira edição no Rio de Janeiro. O encontro busca se tornar anual e tem a intenção de ser realizado em cada Estado da Amazônia. Em 2024, Manaus (AM) recebe o evento pela segunda vez.

Rios da Amazônia registram níveis abaixo da média histórica, aponta Censipam

Seca no Amazonas em 2023. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Um mês antes da atingir o período mais crítico da estiagem, que costuma ser em setembro, os rios da Amazônia têm registrado recordes de baixas cotas na comparação com as séries históricas de registros em agosto. De acordo com dados do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), órgão ligado ao Ministério da Defesa, o Rio Solimões está 3 metros abaixo da média observada nesse período do ano e alguns de seus afluentes como os Rios Madeira e Acre registram cotas próximas aos mínimos históricos.

Segundo o analista do Censipam, Flávio Altieri, embora o volume de chuvas esteja abaixo da média esperada para esta época do ano em grande parte da Amazônia, ainda é cedo para afirmar que a seca será a mais intensa registrada na região:

De acordo com o analista, o que já vem se confirmando é um quadro de seca extrema, que é o penúltimo nível de severidade na escala de cinco estágios de medição do fenômeno. Nesse nível é esperada escassez de água generalizada, restrições e grande perdas de plantações. “O Censipam, por meio de suas previsões hidrológicas divulgadas em junho durante o evento Pré-Seca, já havia alertado que 2024 a Amazônia enfrentaria uma seca semelhante à de 2023”, destaca.

Altieri reforça que com os baixos níveis, comunidades tradicionais que dependem dos rios como vias de acesso são as mais afetadas. “Essas populações enfrentam desafios agravados pelo desabastecimento de alimentos e água potável, além de dificuldades no acesso a serviços essenciais como saúde e educação”, explica.

Uma reunião de ministros com governadores da Amazônia Legal realizada na tarde dessa quarta-feira (21), no Palácio do Planalto, tratou de medidas para amenizar os impactos da estiagem no norte do Brasil. Durante o encontro, o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), informou que já aprovou nessa terça-feira (20) o repasse de R$ 11,7 milhões para ações de defesa civil nos estados do Amazonas e Roraima e também reconheceu a situação de emergência em 53 municípios do Acre, Amazonas, Roraima e Rondônia.

*Com informações da Agência Brasil

Água potável é levada à TI Yanomami com ajuda do Exército Brasileiro

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Militares do 6º Batalhão de Engenharia de Construção (6º BEC) realizaram a perfuração de um poço no Distrito Sanitário Especial Indígena, em Surucucu, para levar água à comunidade local. A ação é parte da Operação Catrimani II, em parceria com agentes locais e com coordenação da Casa de Governo em Roraima.

A abertura do poço foi concluída no dia 15 de agosto, garantindo o abastecimento de água para o Centro de Referência em Saúde Indígena em Surucucu e beneficiando os povos indígenas, militares e agentes que atuam na Terra Indígena (TI) Yanomami. O poço integra o projeto de construção do Centro de Referência, já em andamento, que visa aprimorar o atendimento em saúde na área.

O poço perfurado tem uma profundidade de 61 metros e uma vazão estimada de três mil litros por hora, operando de forma contínua. A bomba de extração da água é acionada por energia solar, o que elimina a necessidade de combustível reduz e os custos logísticos. O poço artesiano abastecido por energia solar oferece uma solução sustentável e minimiza o impacto ambiental na região. 

Agora, a equipe do 6º BEC e o maquinário utilizado para a perfuração desse primeiro poço seguem para a Aldeia Koriyaoupe, onde continuam os trabalhos em área próxima ao 4º PEF. O esforço conjunto para superar os desafios logísticos da região amazônica também foi atuou no deslocamento, em um helicóptero UH-15 da Marinha, de uma perfuratriz da região de Maloca Paapiú para Kayanaú, onde também será aberto um poço, contribuindo para a saúde e qualidade de vida da população local.

A Operação Catrimani II é uma ação conjunta entre órgãos de Segurança Pública, Agências e Forças Armadas, em coordenação com a Casa de Governo de Roraima, no emprego, temporário e episódico, de meios na Terra Indígena Yanomami, em cumprimento à Portaria GM-MD N° 1511, de 26 de março de 2024, que visa agir de modos preventivo e repressivo contra o garimpo ilegal, os ilícitos transfronteiriços e os crimes ambientais.

*Com informações do Exército Brasileiro

Alegria, prazer e felicidade não são a mesma coisa

Por Julio Sampaio de Andrade – juliosampaio@consultoriaresultado.com.br

Ouvi de um empresário recentemente: “Eu não sou bom com este negócio de felicidade. Aqui a gente leva o trabalho muito a sério”.

Pedi que me explicasse melhor o que ele queria dizer com isso.

“Aqui na empresa, trabalhamos muito e somos exigentes com os nossos colaboradores quanto à qualidade de nossos serviços; temos também metas ousadas e um orçamento que nos obriga a sermos disciplinados. Estamos sempre buscando ser melhores do que somos, o que nos mantém focados. Não há espaço, no dia a dia, para nos preocuparmos em criar um ambiente mais festivo, onde as pessoas estejam alegres, sentindo muito prazer com o trabalho. Queremos sim, que os nossos clientes estejam felizes”.

Pedi que falasse um pouco mais de sua empresa e dos resultados que vem obtendo. Da conversa concluí que: a empresa dele tem um propósito inspirador; vem superando as suas metas que, mesmo ele, considera ousadas; ele percebe que a equipe atua realmente focada no trabalho e engajada em atender aos clientes; as condições de trabalho são consideradas boas, assim como as remunerações justas; as lideranças são bem-preparadas para obter o melhor dos colaboradores; a equipe demonstra ser fiel e a grande maioria deseja continuar na empresa. E, por último, os clientes estão aumentando e sinalizam estar satisfeitos.

A conversa se estendeu e ele sustentou algumas destas informações com índices, dados e fatos para comprovar o que estava dizendo, com entusiasmo. Perguntei então como ele se sentia diante de tudo isso. “Feliz”, respondeu ele. E a sua empresa? “Pensando bem, feliz também”. No que você não é bom, mesmo? Brinquei.

Há uma confusão de termos quando tratamos de felicidade. Felicidade não é prazer, alegria ou bem-estar, embora possa abranger todos estes momentos. Felicidade é algo mais duradouro do que momentos pontuais, e inclui uma maneira de ser e não de estar. Há várias dimensões de felicidade, como demonstram estudos da psicologia positiva, da neurociência e da filosofia. Escrevi sobre elas em outros artigos.

Dois exemplos mostram o quanto o prazer e a alegria podem estar dissociados da felicidade e serem até contrários a ela. Se é um prazer que nos torna dependentes, ele não contribuirá para a nossa felicidade. Se é uma alegria provocada pela desgraça de alguém, mesmo que seja a de um concorrente, ela não nos fará mais felizes. Outros exemplos poderiam ser dados.

Da mesma maneira que prazer não é felicidade, o sofrimento também não é sinônimo de infelicidade. A dor e as perdas nos causam sofrimento, mas não precisam nos tornar infelizes. A maneira como lidaremos com acontecimentos indesejados será muito mais determinante. Reforçando, a felicidade é uma maneira de ser, de nos tornarmos. A felicidade não cai do céu e deve ser construída.

Como pessoas, para sermos mais felizes, precisamos nos tornar melhores pessoas. Para empresas, não é diferente. Não sei se você se lembra de um frase do empresário acima: “Estamos sempre buscando ser melhores do que somos”. É por isto que o tema Felicidade estará na pauta da próxima reunião de conselho desta empresa. Sempre poderemos ser melhores e mais felizes.

Sobre o autor

Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Norte e Nordeste são as regiões com maior carência de médicos no Brasil, aponta associação

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A desigualdade na distribuição de médicos atuando no Brasil é ainda mais evidente no Norte e Nordeste, regiões com o menor número de profissionais na ativa, segundo dados da Associação dos Mantenedores Independentes Educadores do Ensino Superior (AMIES). Ambas as regiões contam com menos de dois médicos por mil habitantes, número muito abaixo da recomendação de 3,73 médicos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Estados como o Maranhão, na região Nordeste, e o Pará, na região Norte, contam com os menores índices de médicos por mil habitantes: 1,13 e 1,22, respectivamente. Outros estados também se destacam negativamente pela falta de profissionais, como o Piauí, com 1,40 médico por mil habitantes, Acre com 1,46 médico, Bahia com 1,90 médico e Ceará com 1,95 médico.

Somando as regiões Norte e Nordeste, são mais de 71 milhões de habitantes e apenas 130 mil médicos, números que reforçam a carência de profissionais. Para atenuar esse cenário, há diversas faculdades que estão com processos em tramitação no MEC (Ministério da Educação) para abertura de novos cursos de medicina e também para aumentar as vagas nos cursos já existentes em ambas as regiões.

No Nordeste, são 50 pedidos de criação de novos cursos e 32 pedidos de ampliação das vagas, como na Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba, e na Faculdade de Medicina de Olinda, em Pernambuco.

Já no Norte, são 24 pedidos de criação de novos cursos e cinco pedidos de ampliação das vagas, como na Faculdade de Ciências Médicas de Palmas, no Tocantins, e no Centro Universitário CEUNI – FAMETRO de Manaus, no Amazonas.

“Em abril de 2018, o MEC publicou a Portaria MEC nº 328/2018 suspendendo por cinco anos a criação de novos cursos de medicina e o aumento de vagas em cursos já existentes”, explicou o advogado Esmeraldo Malheiros.

“Nesse sentido, diversas instituições de ensino, fundada no direito de petição e na livre iniciativa no campo do ensino, assegurada no art. 209, II da CF, pleitearam ao MEC autorização para a implantação de curso de medicina, tendo em vista a demonstração da demanda e da necessidade social do curso na região, bem como a carência de profissionais médicos e a existência de equipamentos públicos de saúde e de infraestrutura preparada exclusivamente para a oferta do referido curso, tais como laboratórios, corpo docente, biblioteca”, afirmou.

MEC anuncia repasse de R$ 32 milhões para ações educacionais na Terra Indígena Yanomami

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Foto: Lohana Chaves/Funai

O Ministério da Educação (MEC) destinou R$ 32 milhões para a construção de escolas na Terra Indígena Yanomami (TIY), localizada nos estados de Roraima e do Amazonas. Os recursos são destinados também à manutenção dos espaços e à formação de educadores no território etnoeducacional Yanomami e Ye’kwana, de forma emergencial. A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) ficará responsável por executar as obras. Além disso, o Instituto Federal de Roraima (IFRR) conduzirá a formação de professores para atuarem junto aos estudantes Yanomami. 

O ministro da Educação, Camilo Santana, anunciou o repasse na terça-feira (20), em reunião com lideranças indígenas para tratar de ações voltadas à educação.  A diretora de Administração e Gestão, Mislene Methacuna, e o coordenador de Processos Educativos, André Ramos, representaram a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) no encontro,  no qual também foi anunciado o investimento de mais de R$ 195 milhões para construção de outras escolas indígenas no país. 

Acompanhada de servidores das áreas técnicas da Funai, a presidenta Joenia Wapichana cumpre agenda em Roraima desde terça-feira (20) para dialogar com as lideranças indígenas Yanomami e Ye’Kwana e com os órgãos parceiros sobre as ações de enfrentamento à crise humanitária no território, causada pelas atividade criminosas do garimpo na região. Entre as demandas apresentadas pelos indígenas, estão pedidos voltados para a pauta da educação. 

Foto: Angelo Miguel/MEC

Investimento

O território etnoeducacional Yanomami e Ye’kwana será o primeiro a receber o apoio do MEC por meio das universidades e institutos federais, neste ano. O investimento será destinado para a construção de quatro casas-escola Yanomami e Ye’kwana; dez espaços de saberes de autogestão; e um centro de formação. Também será criado um curso técnico em magistério indígena pelo IFRR, além de outras atividades de formação de professores e da compra de material didático. 

Do investimento total de R$ 32 milhões, aproximadamente R$ 18 milhões serão destinados à formação de professores, maior demanda trazida pelas lideranças. Os Yanomami são a etnia brasileira com o menor número de profissionais formados pela educação superior — menos de 1% tem formação neste nível. Os novos aportes visam fortalecer o Programa Saberes Indígenas no Território, responsável pela formação continuada e pela produção de material didático voltado a esse público. 

Participação indígena 

A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, defendeu os avanços na educação indígena, mas apontou que ainda é preciso fazer mais. “Mesmo com o que já conquistamos, sabemos que existem dificuldades enfrentadas por esses povos e que ações mais articuladas são fundamentais para a superação da crise humanitária e educacional. Políticas e iniciativas de educação indígena trabalham mais do que o quesito educacional dos povos, elas permeiam aspectos sociais e culturais dos territórios”, declarou. 

O ativista e escritor indígena Ailton Krenak pediu mais participação dos povos na educação. “É muito importante que conselhos consultivos, formados por membros da comunidade indígena, façam parte da tomada de decisões na educação indígena. Assim, podemos ajudar a garantir a efetividade das políticas e sua integração com a realidade dos povos originários”, ressaltou. 

Presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY) e escritor, Davi Kopenawa destacou a união de esforços para a manutenção da educação escolar indígena. “É importante pensarmos juntos nessas políticas e ações para atingir o nosso desejo coletivo: a garantia da educação indígena com qualidade para os brasileiros”, afirmou Kopenawa. “Nosso povo precisa aprender a ler e a escrever porque só por meio da educação teremos a capacidade de garantir os nossos direitos e a nossa terra”, finalizou. 

*Com informações do Ministério da Educação e da Funai