Aluna da Escola Estadual (EE) Maria Calderaro, localizada em Presidente Figueiredo, no Amazonas, Maria Eduarda de Araújo, de 17 anos, é a única representante do estado na 2ª fase da Olimpíada Copernicus, uma competição internacional de astronomia e astrofísica. Com o resultado, a estudante vai viajar para o Texas, nos Estados Unidos, para realizar mais uma etapa do certame.
O bronze alcançado por Maria Eduarda na primeira etapa da Olimpíada Copernicus, entretanto, é apenas mais uma dentre as diversas medalhas conquistadas em olimpíadas. Com medalhas na Olimpíada Brasileira de Língua Inglesa, de Geopolítica, Biologia Sintética e honra ao mérito no Torneio Nacional de Física, a estudante busca participar ativamente em provas de diversas áreas do conhecimento.
Isso porque Maria Eduarda tem um plano bem definido para o futuro: cursar astrofísica em uma universidade no exterior. E para chegar lá, já organiza uma espécie de currículo intelectual para melhor aceitação nas instituições a partir de cartas de recomendação. Agora com 17 anos, Maria Eduarda conta que o interesse pela astrofísica e astronomia surgiu bem mais nova, aos 13 anos.
“Na pandemia, me vi com muito tempo livre e precisava me ocupar. Foi quando, na internet, o tema apareceu para mim por acaso. Me apaixonei e hoje sigo com esse sonho. Também tenho interesse em cursar Física, na Universidade Federal do Amazonas”, destacou.
Experiências únicas
Destinada para alunos do 3º ano do Ensino Fundamental à 3ª Série do Ensino Médio, a primeira etapa da Olimpíada Copernicus consiste em uma prova com 25 questões de múltipla escolha. Aprovada, Maria Eduarda inicia a segunda fase do certame no dia 5 de janeiro de 2025, no Texas. Lá, a estudante realizará provas teóricas e práticas.
“Para mim é um sonho compor a delegação brasileira que irá representar o país na fase global da Copernicus. Visitarei a Nasa, estarei em museus e observatórios de astronomia, e estou muito empolgada”, compartilhou Maria Eduarda.
Suporte escolar
Apesar do interesse por assuntos complexos que fogem da grade curricular da escola, foi com o corpo docente da EE Maria Calderaro que a estudante encontrou apoio em sua trajetória. Para além dos aconselhamentos após as primeiras participações em olimpíadas, Maria Eduarda despertou uma verdadeira força-tarefa entre os professores de exatas da unidade de ensino.
De acordo com o docente Rodrigo Garcia, que orienta a estudante e ministra a matéria de Matemática na unidade de ensino, a adesão ao sonho de Maria Eduarda foi total entre os professores.
“Ela é uma aluna incrível, nós temos muito orgulho. A gente reúne os professores para pensarmos juntos nas respostas aos problemas matemáticos complexos que ela busca entender. Nos encontramos e debatemos juntos. Torcemos muito pelo sucesso dela”, enfatizou o professor.
Com o auxílio do docente, Maria também participou da Olimpíada Internacional de Astrofísica, das primeiras edições da Olimpíada Brasileira Online de Astronomia e da Olimpíada Brasileira de Inovação, Ciência e Tecnologia, além da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas.
No dia 23 de outubro, Maria Eduarda foi recebida pela secretária de Educação do Amazonas, Arlete Mendonça, em seu gabinete. O esforço em conjunto, de acordo com a secretária, é um exemplo de sucesso para a rede estadual.
“Tivemos com ela a participação intensa dos familiares, dos professores e do interesse da própria aluna. É muito satisfatório ver uma jovem cheia de sonhos e objetivos bem estabelecidos. E ter profissionais comprometidos enquanto possibilitadores desses destinos é muito importante. O Amazonas tem muito orgulho da Maria Eduarda”, finalizou Arlete Mendonça.
Amapá possui unidade florestais mais preservadas da Amazônia. Foto: Rafael Aleixo/g1 Amapá
Foi sancionada pelo Governo do Amapá, a Lei nº 3.128 que institui uma política estadual para reduzir a vulnerabilidade dos sistemas ambientais, sociais, econômicos e culturais no estado, por conta de impactos causados pela mudança climática no estado mais preservado do país.
O documento consiste em uma série de medidas sustentáveis, que aborda a Política Estadual sobre Mudanças Climáticas. A lei foi aprovada por unanimidade pela Assembleia Legislativa do Amapá (Alap).
Entre as ações que buscam reduzir estas vulnerabilidades, estão o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) e o monitoramento das emissões de gases do efeito estufa. O Amapá é reconhecido como o estado mais preservado da Amazônia, e abriga vastas áreas de floresta tropical, sendo um importante guardião da biodiversidade.
O secretário adjunto de Meio Ambiente, Cássio Lemos, disse que esta nova legislação consiste em uma resposta aos desafios ambientais que o Amapá enfrenta nos últimos tempos.
“A sanção da lei pelo governador Clécio Luís assegura a proteção e manutenção de um meio ambiente ecologicamente equilibrado e estável, socialmente justo e economicamente viável em benefício das presentes e futuras gerações”, disse Lemos.
As medidas surgem de uma contribuição dos países que buscam a conservação da Amazônia, a partir da 28ª Conferência das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas (COP 28), que aconteceu no ano de 2023.
A reunião teve como objetivo não apenas destacar as riquezas e preservação ambiental, mas também valorizá-la a partir da população que vive na região. Nestes encontros, o Amapá caminha para uma apresentação internacional como um local que segue os acordos ambientais e climáticos.
“A iniciativa do Poder Executivo Estadual representa um marco na busca pelo desenvolvimento sustentável e responsável no Amapá, valorizando a floresta em pé. Esta lei prevê evitar ou minimizar as causas das mudanças climáticas e mitigar seus efeitos negativos na população e na biodiversidade”, disse a secretária de Estado do Meio Ambiente, Taísa Mendonça.
Além disso, a nova lei estabelece o Sistema Estadual do Clima e Incentivo aos Serviços Ambientais, além de criar um Comitê Técnico-Científico. Um dos seus principais focos é a proteção dos direitos das comunidades tradicionais, indígenas e quilombolas.
O documento prevê ainda, a adoção de incentivos econômicos e fiscais, gestão democrática e acesso à informação, promovendo uma economia verde de forma integrada e cooperativa, considerando as oportunidades, desafios locais e a conservação da biodiversidade, além da criação de programas e projetos.
Com isso, o estado busca atrair investimentos e fortalecer a bioeconomia e a economia de baixo carbono, mantendo o Amapá na vanguarda da conservação.
A nova política pública implementada busca não apenas reduzir os efeitos das mudanças climáticas, mas também se adaptar a eles, promovendo um meio ambiente ecologicamente equilibrado.
O peixe-boi é um mamífero aquático caracterizado por seu grande porte, sua dieta vegetariana e seu comportamento calmo, quase gentil. Não há, entretanto, um único tipo de peixe-boi. Existem no mundo três espécies distintas, sendo duas delas nativas do Brasil: o peixe-boi-da-amazônia (Trichechus inunguis), que habita os rios do bioma que carrega no nome; e o peixe-boi-marinho (Trichechus manatus), que vive na região costeira do país.
Apesar dos lares distintos, uma análise genética dos animais revelou uma até então invisível hibridização natural – ou seja, a reprodução e “mistura” das duas espécies – na foz do Amazonas. A descoberta é fruto da pesquisa de Flávia dos Santos Tavares, que em 2020 deu início ao seu mestrado para decifrar a genética destes carismáticos mamíferos marinhos com apoio do Programa Bolsas FUNBIO – Conservando o Futuro.
“O nosso trabalho proporcionou um grande passo: entender a similaridade entre as espécies de peixes-boi do Brasil para contribuir com uma descrição genética mais aprimorada para caracterizar os peixes-boi da região amazônica, pois estudos assim nessa região ainda são escassos”, conta a atual doutoranda da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Em seu mestrado, concluído em 2022, Flávia fez coletas de material genético das duas espécies a partir de animais resgatados e reabilitados no Centro de Mamíferos Aquáticos do ICMBio, em Itamaracá, Pernambuco.
Os peixes-boi-marinho, também conhecidos como manatis, podem ser encontrados em diferentes pontos da costa do Brasil, entre o Alagoas até o Amapá. E é justamente na foz do rio Amazonas, no Pará, que seu caminho se sobrepõe com o do peixe-boi-da-amazônia, restrito à Bacia Amazônica.
Ao fazer a análise genética dos animais oriundos da foz do Amazonas, Flávia se surpreendeu ao se deparar com híbridos, indivíduos que carregavam genes de ambas as espécies. De acordo com a pesquisadora, há muitos fatores que podem levar à hibridização natural de espécies e a alta semelhança genética é um dos mais importantes.
“A presença de híbridos de peixes-boi na foz amazônica é um fenômeno natural que mostra como as espécies de peixe-boi-da-amazônia e peixe-boi marinho evoluíram ao longo do tempo. Embora haja diferenças bem estabelecidas entre essas espécies na morfologia e habitats (rio e mar), a semelhança genética ainda carrega uma memória evolutiva de um passado de milhões de anos, onde os peixes-boi antigos acumularam informações cruciais de sobrevivência, adaptações bem-sucedidas, e superação de barreiras genéticas”, explica a doutoranda da UFPA.
Foto: Flávia dos Santos
Ainda que seja um fenômeno natural na foz do Amazonas, onde o rio encontra o mar, a pesquisadora explica que certos contextos podem pressionar as populações de peixes-boi para essa hibridização, como o desmatamento da mata nas margens dos rios, a perda de habitat, a caça ilegal ou mesmo a captura acidental por pescadores.
Em resumo, quanto menor for a oferta de alimentos, a qualidade do ambiente e o número de indivíduos em idade reprodutiva, maiores as chances dos peixes-boi se aventurarem fora dos seus domínios tradicionais e acabarem reproduzindo com seus “primos” de água salgada.
“Os peixes-boi já possuem registro histórico de superexploração no Brasil, o que afetou drasticamente a diversidade populacional dessas espécies, que ainda sofrem os efeitos do passado. A redução populacional dos peixes-boi no passado é o marco que ainda vai afetar as populações das duas espécies nas próximas gerações, salientando ainda mais a ocorrência de peixes-boi híbridos no futuro”, explica Flávia.
Tanto o peixe-boi-marinho quanto o amazônico são considerados ameaçados de extinção de acordo com a avaliação nacional do ICMBio.
A pesquisa também revelou parte da história evolutiva dos peixes-boi, comprovando pela primeira vez que a espécie dos rios amazônicos é mais antiga do que a dos mares, com muitos sinais de ancestralidade entre todos do grupo taxonômico, e permitindo uma maior compreensão da árvore genealógica destes parentes distantes dos elefantes e mamutes.
Estudar o passado é crucial para entender como os peixes-boi “evoluíram na região amazônica e em outros habitats, se adaptando e diversificando ao longo do tempo”, acrescenta.
Flávia é encantada pelo estudo dos mamíferos aquáticos desde a graduação e já na iniciação científica mergulhou nos mistérios dos peixes-boi. Aos poucos, a própria pesquisadora ajuda a encontrar respostas para as perguntas sobre estes animais e a entender como garantir sua conservação.
“Os peixes-boi ainda são enigmas para os estudos de biodiversidade”, pontua. “Foi crucial o apoio do Bolsas FUNBIO para avançar com as pesquisas. As coletas de material dos peixes-boi requerem um manejo bastante organizado e programado, principalmente por se tratar de diversos fatores como: serem animais ameaçados de extinção, serem animais com instruções específicas de manejo para reintrodução à natureza, animais de grande porte etc”, completa a doutoranda.
Foto: Flávia dos Santos
O encantamento – e a pesquisa – continua no doutorado, em que agora Flávia quer conhecer melhor esses híbridos de peixe-boi e caracterizá-los geneticamente, um dado vital para auxiliar o manejo e conservação dos animais porque mesmo sendo natural, a ciência ainda não sabe quais seus efeitos a médio e longo prazo.
Do lado preocupante da balança, a hibridização pode gerar um desequilíbrio genético nas populações e gerar uma pressão seletiva na escolha por parceiros sexuais. Com isso, pode haver uma diminuição da capacidade reprodutiva, o que poderia levar até mesmo à extinção no longo prazo, alerta a pesquisadora. O que afeta não apenas as espécies, mas os ecossistemas que dependem delas.
No próximo passo da sua pesquisa, Flávia espera que os estudos genéticos dos híbridos tragam ainda mais respostas e possam orientar as melhores estratégias de manejo e conservação para garantir o futuro dos peixes-boi, tanto nos rios quanto no mar.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela FUNBIO
Muita gente gosta de uma competição, não é? Seja no mundo virtual, quanto no real. Na Amazônia, por exemplo, existem concursos e competições de diversos níveis que refletem a criatividade e o espírito comunitário de seus habitantes.
Esses eventos são uma combinação de tradição, esporte e cultura, atraindo participantes e curiosos. O Portal Amazônia preparou uma lista com competições inusitadas pela região amazônica:
A melhor farinha
Pode faltar qualquer coisa no rancho de um amazônida, exceto farinha. Essa iguaria feita da mandioca é motivo de competição no Maranhão. O evento, que visa valorizar a produção da farinha d’água no estado, ocorrerá novamente na 2ª Feira Maranhense da Agricultura Familiar (Femaf), no período de 4 a 7 de dezembro de 2024 em São Luís.
Foto: Divulgação/Governo do Maranhão
Vaca leiteira
A Exposição-Feira Agropecuária de Roraima (Expoferr), que acontece no Parque Dandãezinha, movimenta a cidade de Boa Vista.
Um dos eventos que traz a rivalidade dos amazônidas é o Torneio Leiteiro. Ano passado, a campeã foi a vaca Ana Lú, da fazenda São Pedro, de Manaus (AM), com a produção de 46,2 quilos de leite. O tempo válido para as ordenhas foi cronometrado em 20 minutos!
Foto: Reprodução/Expoferr
Haja bucho
O Kikão é um lanche famoso na capital amazonense, principalmente quando fazem a promoção “3 por 10” (três lanches por 10 reais). Porém, o lanche Hot Dog Mania foi além e realizou uma competição para ver quem comeria mais kikão.
A competição aconteceu em setembro de 2021 e teve como vencedor o venezuelano Alan Marin, que conseguiu comer 18 kikões em apenas 10 minutos.
Foto: Reprodução/RankBrasil
Corrida de Rabeta
A rabeta é um dos meios de transporte mais utilizados pelos ribeirinhos nas “estradas aquáticas” da Amazônia. Porém, algo da rotina deles se tornou a principal peça de uma competição – o campeonato de rabeta. A modalidade já foi realizada no município de Manicoré e Manaquiri, no Amazonas.
A primeira edição em Manaquiri, por exemplo, foi dividida em quatro categorias: Amador 6,5 HP e 13 HP; e Força Livre 6,5 HP e 13 HP.
Foto: Reprodução/Rede Amazônica
Gato e Gata na Parada
Essa é antiga! O projeto ‘Na Parada Manaus’ surgiu em 2014, com a proposta de auxiliar usuários do transporte coletivo por meio das redes sociais. Em 2016, a página propôs um concurso para escolher os “colírios” da categoria.
Não demorou para a repercussão tomar conta de terminais, empresas de transporte e pontos de ônibus de Manaus.
Os vencedores do “Gato e Gata Na Parada” na época foram: Sabrina Alves (cobradora), Beth Estrela (motorista), Diego Amorim (cobrador) e João Júnior (motorista).
Foto: Diego Araújo/Rede Amazônica
E aí? Quais outras competições e concursos deveriam entrar pra essa lista?
A migração rural-urbana é um fenômeno mundial e a Amazônia não é exceção. No entanto, uma grande proporção de seus imigrantes são pequenos agricultores que vieram originalmente dos Altos Andes e do Nordeste do Brasil, apostando seu futuro nas paisagens de floresta da Pan-Amazônia.
Esse fluxo de pessoas para as comunidades rurais diminuiu drasticamente após o ano 2000, quando as famílias rurais começaram a transferir seu domicílio principal para os centros urbanos. No Brasil e na Bolívia, elas tendem a se mudar para cidades amazônicas, grandes e pequenas; no Peru, Equador e Colômbia, no entanto, é mais provável que se mudem para cidades nas terras altas, serras ou montanhas, ou para o litoral.
No Brasil, a proporção relativa de residentes rurais e urbanos na Amazônia Legal era aproximadamente equivalente antes de 1990; no entanto, em 2000, mais de setenta por cento dos residentes residiam no que o censo nacional considera áreas urbanas. A maior parte da migração rural-urbana ocorreu para os seis maiores centros metropolitanos: Manaus, Belém/Ananindeua, São Luís, Cuiabá/Várzea Grande, Porto Velho e Macapá/Santana.
Houve uma expansão semelhante de cidades intermediárias e pequenas, muitas das quais são centros administrativos de municípios conhecidos por seu papel nas cadeias de suprimentos agrícolas (Itaitatuba [AM], Sorriso, Sinop [MT], Tailândia [PA], Ji-Paraná [RO]), minas corporativas (Marabá, Parauapebas, Oriximiná [PA]), cidades de garimpo (Itaituba [PA], Pontes e Lacerda [MT]), ou paisagens pecuárias conhecidas por altas taxas de desmatamento (Altamira, São Félix do Xingu [PA], Humaitá [AM]).
A maioria delas dobrou sua população entre 2000 e 2010 e tem crescido de dois a três por cento ao ano na última década, uma tendência que foi replicada nas categorias de cidades grandes e pequenas que estão no centro da economia rural da Amazônia brasileira.
Imagem: Reprodução/Mongabay
A Amazônia boliviana tem as taxas de imigração mais altas de qualquer jurisdição amazônica, mas essa estatística é distorcida pelo crescimento fenomenal da cidade de Santa Cruz de la Sierra, que passou de cerca de 100.000 residentes em 1970 para mais de 2,5 milhões em 2022. Outros municípios que registraram influxos significativos incluem San Ignacio de Velasco (Santa Cruz), Yapacaní (Santa Cruz), Ivirgarzama (Cochabamba), Cobija (Pando), Riberalta (Beni), Palos Blancos e Caranavi (La Paz). Todas estão localizadas na fronteira agrícola e apresentam taxas muito altas de desmatamento.
No Peru, os esforços para promover a migração para a Amazônia são prejudicados pela atração econômica de Lima e de outras cidades costeiras; consequentemente, a população da Amazônia tem se expandido um pouco acima da taxa nacional na última década (cerca de 1,4%).
A expansão observada da população da Amazônia peruana é consequência de uma taxa de natalidade relativamente alta, pois a emigração atualmente excede a imigração em todos os departamentos de planície, com exceção de um: Madre de Dios, local de uma corrida do ouro em constante expansão, sua população aumentou cerca de 5% ao ano na última década. A maioria dos recém-chegados são residentes rurais que trabalham em campos de mineração.
No restante da planície peruana, há uma migração consistente de pessoas do campo para as cidades e vilas regionais; as comunidades rurais de Loreto têm aproximadamente a mesma população hoje que em 2000, enquanto sua capital, Iquitos, teve apenas um crescimento modesto, aumentando de 360.000 para 423.000 habitantes entre 2007 e 2020 (1% ao ano).
Taxas de crescimento mais altas são registradas para Pucallpa (2,5%) e Yurimaguas (4,1%), sendo ambas cidades terminais de rodovias troncais. De qualquer forma, o número de emigrantes de Ucayali desde 2000 excedeu o de imigrantes; a maioria provavelmente é composta por jovens que estão se mudando para Lima.
O Equador amazônico tem a maior taxa de crescimento populacional de todas as regiões do país, apresentando uma taxa média decenal que é aproximadamente o dobro da média nacional (4% vs 2%).
Aparentemente, isso se deve a uma taxa de natalidade mais alta, porque a migração para a região praticamente parou, com apenas 1,3% dos entrevistados se identificando como imigrantes no censo de 2010. As taxas de natalidade relativamente altas e o ritmo lento da migração interna são justapostos com o ritmo lento da urbanização, já que apenas 29% (em comparação com 59% a nível nacional) dos residentes da região moram no que o órgão responsável pelo censo define como cidade ou vila
Imagem: Reprodução/Mongabay
A crescente urbanização da Amazônia se reflete no número de habitantes da jurisdição administrativa de menor nível (por exemplo, município, cantão, distrito), conforme relatado nos dados recentes do censo nacional (parte superior e central), bem como a mudança relativa entre 1980 e 2020 (parte inferior). Fontes de dados (painel superior e central): Bolívia (INE); Brasil (IBGE); Colômbia (DANE); Equador (INEC); Guiana Francesa (INSEE); Guiana (BS); Peru (INEI); Suriname (AGS); e Venezuela (INE). Fonte de dados (painel inferior): Thomas Brinkhoff, City Population, http://www.citypopulation.de/
Na Amazônia colombiana, a violência civil empurrou milhões de famílias rurais para as cidades. A população de Caquetá diminuiu em 50.000 pessoas entre 1993 e 2005, enquanto a cidade de Florencia aumentou em 33.000: dezenas de milhares de pessoas fugiram para refúgios seguros, como Villavicencio, Huila e Bogotá.
A campanha militar (Plano Colômbia) e o acordo de paz de 2016 mudaram essa dinâmica, e Caquetá tem crescido cerca de 3% ao ano na última década. O aumento da população é impulsionado em grande parte por uma corrida por terras e um boom econômico, com colonos e investidores rurais atraídos por terras baratas que estão sendo comercializadas por grileiros em uma das paisagens mais sem lei da Amazônia.
Ironicamente, os centros populacionais locais cresceram apenas marginalmente com essa nova onda migratória, mas, se as tendências de outras fronteiras florestais se mantiverem, em breve elas sofrerão outro boom populacional.
Historicamente, a região do Escudo das Guianas tem uma população estável e majoritariamente urbana, com a maioria dos habitantes residindo em cidades no Rio Orinoco, na Venezuela, ou na planície costeira da Guiana, Suriname e Guiana Francesa. Os dados do censo podem não refletir com exatidão o número de pessoas nas jazidas de ouro, que sofreram um boom populacional local devido ao influxo de garimpeiros brasileiros e venezuelanos na última década.
A Guiana sofreu um êxodo em massa durante a última metade do século XX. Um pouco mais da metade de seus cidadãos nativos – 750.000 pessoas – deixaram o país desde 1970. A taxa de emigração diminuiu de recordes de quase 15.000 por ano no final dos anos 80 para cerca de 5.000 na última década. A grande maioria dos emigrantes reside atualmente nos Estados Unidos e no Canadá, mas não é incomum manter uma segunda residência e sustentar membros da família. Entre 2015 e 2020, o valor total das remessas variou de US$ 300 milhões a US$ 500 milhões, aproximadamente metade da receita do setor de garimpo de ouro.
Um fenômeno semelhante, porém menos grave, afetou a população do vizinho Suriname, onde cerca de 250.000 cidadãos emigraram, principalmente para a Holanda. A emigração diminuiu para menos de 1.000 cidadãos por ano, o que é aproximadamente igual ao número de indivíduos que imigram ou retornam ao Suriname.
“Uma tempestade perfeita na Amazônia” é um livro de Timothy Killeen que contém as opiniões e análises do autor. A segunda edição foi publicada pela editora britânica The White Horseem 2021, sob os termos de uma licença Creative Commons (licença CC BY 4.0).
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Mongabay, com análise de Timothy J. Killeen e tradução de Lisete Correa.
Santanense levou bandeira do Amapá para o São Paulo Fashion Week. Foto: Raul Fernando
A Poliana Brilhante de 24 anos, nascida e criada em Santana, no Amapá, foi destaque na 58ª edição do São Paulo Fashion Week (SPFW), considerada a maior semana de moda não só do país, mas da América Latina. A jovem é a primeira amapaense a integrar uma coleção no evento.
Na passarela, foram apresentadas peças de crochê com uma pegada futurística, que compõem a coleção DUPE: A Streetwear Parody, assinada pelo estilista Dario Mittman. Ao total, os modelos desfilaram oito peças.
A estilista focou nas peças de crochê por conta da carga emocional que a técnica possui para ela. Poliana começou a ‘crochetar’ ainda criança, aprendendo de sua mãe que buscou a prática durante um tratamento de câncer, e se transformou na assinatura de sua marca “Abrilhante”.
A coleção leva texturas e cores com a pegada ‘cyberpunk’ com composições em jeans com pontos, camisas de time, bonés, calças com costura e renda de roupa em crochê, dando destaque a estampas artesanatos e o branco.
“O que é uma moda de rua genuinamente brasileira, então eu trouxe os clichês do streetwear unidos a nossa estética e o jeitinho que só o brasileiro tem”, disse a jovem.
A jovem iniciou o trabalho de divulgação nas redes sociais, que logo tomou uma grande proporção. A estilista vestiu com sua marca, grandes nomes da música brasileira, como as cantoras Marina Sena, Glória Groove, Iza e a cantora internacional Erykah Badu.
“Eu sempre fazia tudo muito só eu. E agora eu tenho essa possibilidade de ter outras pessoas trabalhando comigo. Então, foi um processo muito compartilhado, com muitas mãos, de muitas crocheteiras. E isso foi perfeito. As peças a gente conseguiu desenvolver numa construção de ideias”, disse Poliana sobre a parceria com Dário.
Foto: Raul Fernando
História da artista
Poliana nasceu e foi criada em uma área de ponte no bairro Fonte Nova, no município de Santana. Desde criança a costura e a produção de peças esteve presente de alguma forma. Após o diagnóstico da mãe com câncer, a família precisou ir até Belém (PA) para o tratamento.
“Como não tinha hospital de câncer no Amapá, ela teve que fazer esse tratamento em Belém. E quando ela voltou já curada, ela me ensinou a fazer. E foi quando eu comecei a entender o crochê como uma forma de me aproximar da minha mãe também, que a gente tinha essa troca muito íntima, mas também como um lugar de criar coisas, e principalmente roupa, que era quando eu fazia roupa para as minhas bonecas, tentava fazer alguns tipos de roupa para mim, enfim, para as pessoas que viviam ali ao meu redor”, disse.
A estilista contou que foi para o Rio de Janeiro de forma não pensada, e atualmente vive em Niterói. Antes da mudança, Poliana trabalhava em um bar próximo a uma Universidade, quando decidiu ajudar uma amiga a perseguir um sonho de fazer jornalismo no Rio de Janeiro.
“Eu juntei o dinheiro em três meses, muito rápido, comprei passagem e vim morar com ela. Mas era tudo muito incerto. Eu, principalmente, não sabia o que eu queria, não sabia quais eram as possibilidades, até porque eu fui uma pessoa que não conseguia terminar o ensino médio, então isso já reduzia muito as possibilidades de trabalho e de viver bem também”, contou.
Logo quando chegou à cidade, a jovem para o seu sustento começou a vender doces no metrô, recitar poesias, além de outros trabalhos manuais como trancista, para conseguir uma renda extra.
Após a pandemia, no final de 2021, a estilista voltou a produzir peças de crochê para si mesma e para vendas pela internet, onde suas coleções viraram uma febre rapidamente.
Foto: Raul Fernando
“Como eu queria sair, e a pandemia estava acabando, eu fazia roupa para eu ir para as festas, porque eu não tinha dinheiro para comprar. Comecei a postar na internet e isso começou a viralizar. Acho que quatro meses depois eu já estava vestindo celebridades. Então, foi uma coisa muito rápida, muito instantânea”, disse.
Tudo mudou rapidamente na vida de Poliana no período de um ano após o investimento nas produções de peças de crochê. Logo a jovem se deu conta de que era a primeira amapaense a conseguir tal feito.
“Para mim, como uma pessoa que veio do norte, do Amapá, da ponte, é um crescimento histórico. De início, eu pensei sobre isso e me questionei se de fato, era inédito. E a gente pesquisou um pouco e não encontrou registros sobre isso. Então, eu me sinto numa responsabilidade muito grande de representar o lugar de onde eu vim. É possível ser do norte e conquistar grandes lugares”, contou.
A Rede de Produção Orgânica da Amazônia Mato-grossense (Repoama) foi destaque como “modelo social inovador” para soluções na floresta amazônica brasileira em artigo da renomada revista científica ‘Ecosystems and People‘.
Analista socioambiental do Instituto Centro de Vida (ICV), Marcondes Coelho, um dos autores da pesquisa, apontou que a análise partiu de estudos que mostram que abordagens da agricultura tradicional para incentivar a produção sustentável são baseadas em suposições equivocadas sobre sistemas de valores humanos e sua ligação com a terra.
O analista afirmou que a incorporação de valores relacionais, que são aqueles que remetem às relações recíprocas entre pessoas e a natureza, podem possibilitar resultados mais justos e sustentáveis para modelos de produção no campo e, por conta disso, esses índices facilitam a formulação de políticas públicas.
“Ao envolver os agricultores de forma democrática, a Repoama demonstrou uma abordagem relacional à agricultura de base por alinhar valores relacionais na forma de produzir e reduzir a pobreza rural, aumentando o capital social por meio da identidade territorial. Observamos ainda que a rede desencadeou um resgate cultural de modos de vida pelo apoio e reforço de um senso de pertencimento à terra”, disse Coelho.
Repoama
A Repoama foi criada em 2019 a partir do desejo das famílias agricultoras da região norte e noroeste de Mato Grosso de se articularem sob uma perspectiva agroecológica de apoio mútuo com o objetivo de ampliar seus conhecimentos em agricultura orgânica.
Conforme destacado pelo coordenador do Programa de Economias Sociais do ICV, Eduardo Darvin, que também é um dos autores do estudo, a rede é baseada no Sistema Participativo de Garantia (SPG), que permite que as pessoas que participam da Repoama certifiquem suas propriedades mutuamente independentemente de intermediários corporativos.
A Repoama passou por importantes reformulações internas nos últimos anos que a permitiram realizar dois ciclos de verificação de conformidade para certificação orgânica além da expansão de novas práticas agrícolas que passaram a agregar cada vez mais famílias.
“Exemplo disso é a rede contar com a ampliação de seu escopo de atuação, abordando também o povo indígena Rikbaktsa que aderiu ao SPG para além da produção agrícola poder certificar também seus produtos extrativistas principalmente a castanha-do-Brasil”, apontou Darvin.
O Programa REM MT apoia um projeto de criação e manutenção de Sistemas Agroflorestais (SAFs) em seis aldeias do Parque Indígena do Xingu. O projeto, que está em fase final de execução, é coordenado pelo Instituto de Pesquisa Etno Ambiental do Xingu (IPEAX) e visa integrar os saberes tradicionais indígenas com tecnologias de produção sustentável por meio da implantação de SAFs.
O projeto promove a segurança alimentar e nutricional, beneficiando diretamente 900 indígenas, sendo a maioria mulheres, das aldeias Piyulaga, Pyulewene, Moygu, Kurere, Moitará e Capivara, dos povos: Waurá, Ikepeng e Kawaiwete.
Com um investimento de R$198 mil, a iniciativa amplia a produção de alimentos de forma sustentável, realizando a expansão do uso de SAFs, respeitando os conhecimentos indígenas e adaptando-os às demandas atuais.
Além de melhorar a qualidade do solo e das plantações, o projeto busca consolidar um modelo participativo de gestão das roças, envolvendo homens, mulheres e jovens em todas as etapas da produção. Dois indígenas por área foram capacitados e remunerados como bolsistas para atuar na implantação e manutenção das roças, garantindo a multiplicação do conhecimento para outras aldeias interessadas.
O coordenador do Subprograma Territórios Indígenas do REM MT, Marcos Antônio Camargo Ferreira, destacou a importância desta iniciativa:
“Este projeto representa um passo significativo para o protagonismo dos povos indígenas na gestão de seus territórios. Ao integrar saberes tradicionais com tecnologias sustentáveis, garantimos não apenas a segurança alimentar, mas também a preservação da cultura e da identidade desses povos. O envolvimento de homens, mulheres e jovens nas etapas de produção fortalece a autonomia das comunidades, demonstrando que a sabedoria ancestral é fundamental para enfrentar os desafios contemporâneos”.
Os alimentos produzidos nos SAFs são compartilhados entre os membros das aldeias, assegurando alimentos de qualidade e a expansão da produção. Foram cultivados: abacaxi, pequi, banana, café, ingá, jenipapo, mandioca, mamão, palmeira e pimentas.
Por meio do apoio técnico da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), a iniciativa também ofereceu oportunidades de pesquisa e disseminação de conhecimento, promovendo a sustentabilidade ambiental no Parque Indígena do Xingu.
Este projeto é um exemplo de como a integração entre conhecimentos indígenas e novas tecnologias pode garantir a preservação das práticas ancestrais, ao mesmo tempo em que atende às demandas alimentares e ambientais dos territórios indígenas, como enfatiza Marcos Antônio Camargo Ferreira.
“O apoio do Programa REM MT é crucial para fortalecer ações para mitigar a crise climática. Com iniciativas que promovem a agroecologia e a conservação, estamos contribuindo diretamente para a redução das emissões de CO2 e para a preservação da biodiversidade. Este trabalho é um exemplo de como a união entre conhecimento indígena e inovação pode transformar não só as aldeias, mas também inspirar soluções eficazes para a luta contra as mudanças climáticas em todo o mundo”, disse Marcos.
Para registrar toda a experiência e os resultados do projeto, o Instituto de Pesquisa Etno Ambiental do Xingu, com o apoio do Programa REM MT, produziu um vídeo documentário:
Em 2023, a crise climática na Amazônia se intensificou com o fenômeno El Niño, que ocasionou a morte de 154 botos-vermelhos e tucuxis no Lago Tefé, no Amazonas. Esse número gerou preocupações e mobilizou o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e outras instituições a instaurar a Emergência Botos Tefé para enfrentar a crise.
Os resultados da análise biológica apontaram que o estresse térmico agudo, causado pelas altas temperaturas, foi o principal fator de mortalidade, sem descartar outras condições ambientais que possam ter contribuído, como a qualidade e a temperatura da água e do ar. Além das questões ambientais, os botos enfrentam outro grande desafio: as atividades humanas. A pesca e a caça na Amazônia têm pressionado ainda mais as espécies aquáticas.
Neste ano, a seca continua a se agravar, e os níveis de precipitação seguem abaixo da média. O efeito disso afeta diretamente os rios amazônicos, que estão com níveis de água historicamente baixos. Os rios Negro e Solimões, por exemplo, registraram em setembro sua cota mais baixa desde o início das medições em 1971. Devido ao déficit hídrico, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) emitiu resoluções declarando situação de escassez quantitativa de recursos hídricos em importantes bacias hidrográficas da região, como os rios Madeira, Purus e Tapajós.
Monitoramento
Em resposta à crise, o ICMBio adotou medidas rigorosas de monitoramento na região do Lago Tefé, um dos principais habitats dos botos. Em setembro de 2024, foi implementado um Sistema de Comando de Incidente, onde mais de 50 profissionais, entre biólogos, veterinários e ecólogos, estão envolvidos em operações diárias para observar o comportamento dos botos e monitorar a temperatura da água. As medições ocorrem em diversos pontos do lago, duas vezes por dia, no início da manhã e no final da tarde.
Até agora, os botos-vermelhos e tucuxis têm mostrado um comportamento considerado normal. Eles continuam nadando, procurando alimentos e interagindo de maneira semelhante ao período anterior à crise. A presença de filhotes indica que, apesar das condições ambientais desfavoráveis, esses animais estão encontrando formas de se adaptar e continuar se reproduzindo. No entanto, os especialistas estão atentos ao risco de novos episódios de mortalidade em massa, como os que ocorreram em 2023.
Foto: Miguel MonteiroFoto: Divulgação
A temperatura média da água do lago tem se mantido em torno de 31,2ºC, com variações entre 28ºC e 38,2ºC. Apesar de relativamente estáveis, essas temperaturas ainda são elevadas e representam uma ameaça para os botos, que são extremamente sensíveis ao calor. A vigilância contínua é essencial para evitar que os animais sejam expostos a um estresse térmico que possa resultar em mais mortes.
O Instituto Chico Mendes ressalta a importância de manter o monitoramento constante dos botos e da qualidade ambiental da região. Caso novos óbitos sejam registrados, os animais serão submetidos a necrópsias para determinar as causas exatas das mortes, fornecendo informações fundamentais para a elaboração de estratégias de conservação. A análise dos dados permitirá uma gestão mais eficaz dos recursos naturais e uma melhor proteção das espécies ameaçadas.
Além do monitoramento, o Instituto Chico Mendes tem realizado ações de comando e controle, a fim de diminuir as pressões sobre essas espécies que têm valor econômico para as populações locais, como é o caso do peixe-boi e do pirarucu. Isso porque, além da temperatura dos rios e da diminuição de habitat, a pressão da caça e da pesca é um dos fatores que mais têm contribuído para a vulnerabilidade desses animais.
Iniciativas educacionais que, mesmo enfrentando uma série de desafios, estão mudando a realidade das comunidades amazônicas, além de proporcionar valorização aos professores e um ensino diferenciado que respeita as características das populações locais. Essas são as características do projeto ‘Práticas Pedagógicas Inovadoras para a melhoria do Ensino Fundamental e Médio na Amazônia profunda’, da Fundação Amazônia Sustentável (FAS).
Trata-se de uma iniciativa que tem o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Movimento Bem Maior (MBM) e teve início em 2023, com objetivo de fortalecer o sistema de formação continuada para profissionais de educação em 11 redes municipais do Amazonas, durante três anos. Até o momento, mais de 516 professores já foram beneficiados pelas atividades do projeto.
“Nós saímos daquela prática rotineira diária com as disciplinas e incorporamos práticas inovadoras, que é exatamente o que esse livro [Bases do Aprendizado], possibilita para inovarmos em sala de aula. As atividades se tornam mais prazerosas, divertidas e, principalmente, debatidas. Porque os alunos podem participar de maneira integral, falando a respeito do que eles entenderam, enquanto nós adequamos para implementar o que está descrito na obra”, diz Jadina Vieira, que leciona na Escola Municipal Maria Almeida do Nascimento, da comunidade Divino Espírito Santo do Isidoro, no município de Coari (a 363 de distância de Manaus).
Foto: Bruna Martins/FAS
As atividades são replicadas a partir da obra Bases do Aprendizado, com 60 práticas divididas entre 10 temas. Dessa forma, o professor planeja as atividades e as desenvolve junto com os estudantes. A publicação ajuda a levar um pouco do dia a dia das comunidades ribeirinhas para dentro da sala de aula, promovendo a integração e potencializando o aprendizado de estudantes em classes multisseriadas de forma mais lúdica e efetiva.
Fabiana Cunha, gerente do Programa de Educação para a Sustentabilidade (PES) da FAS, explica que a proposta nasceu a partir de relatos entre professores e demais atores sociais.
“As escolas da zona rural, áreas ribeirinhas e de comunidades tradicionais requerem um ambiente pedagógico em contato com a natureza, além de um calendário especial, em virtude da vazante anual dos rios. Os eventos de seca extrema, por exemplo, impedem que os alunos frequentem as aulas presenciais e, muitas vezes, nem remotamente, pois muitos não têm acesso à internet de qualidade. Pensando nesses e em outros fatores, como educação inclusiva, construímos um projeto focado na formação continuada dos professores, para que eles continuem transformando a vida de tantos alunos que anseiam por uma educação de qualidade”, destaca.
A professora Jadina avalia que o projeto é fundamental para a melhora da qualidade de ensino, principalmente em comunidades distantes da capital.
“Faz toda a diferença para os alunos, porque eles gostam. Possibilita que eles saiam da sala de aula, conversem, criem algo em grupo. Eles dividem as tarefas e um grupo para apresentar um trabalho melhor que o outro. Não para mostrar que esse aluno ou essa aluna seja melhor, mas para provar que eles são capazes de dar o seu melhor. Tem atividades que a gente elabora não apenas para os alunos, mas para a comunidade em geral. A sala só tem a ganhar, os alunos, a escola e a comunidade também”, complementa Jadina.
Outro exemplo de mudança pedagógica inovadora é o “Alfabetário Ilustrado”, um alfabeto adaptado para as culturas ribeirinhas amazônicas, em que os estudantes aprendem a partir de informações sobre animais, comidas típicas, objetos, entre outros vocabulários, que dizem respeito à vivência ribeirinha amazônica.
Bernardo Lira é professor na zona rural do município de Maraã (a 640 quilômetros de Manaus) e exalta as mudanças com a implantação do projeto. “A Amazônia é uma região onde há muita desigualdade social. Logo, trabalhar com os métodos da FAS é ter muita qualidade com pouco gasto em materiais, visto que aprendemos a utilizar os próprios recursos da natureza para ensinar as disciplinas. Trabalhamos junto à comunidade vários temas, como consciência ambiental. Isso dá mais autonomia e segurança ao professor”, explica.
“Tradicionalmente, os métodos de ensino [usados] eram muito ideológicos, pois eram tendenciosos e procuravam mais a elite do Sul e Sudeste. Hoje, esse novo projeto vem quebrando esse protocolo da desigualdade. Começamos a utilizá-los trabalhando com materiais da própria região mesmo, em que os alunos já têm experiência ao longo de suas vidas. Isso é democrático para o aluno e o professor”, destaca Lira.