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Duas novas espécies de insetos são descobertas na Amazônia

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Nova espécie de grilo (Oecanthus buxixu) descrita na Reserva Amanã. Foto: Diego Mendes

Considerada a região mais biodiversa do planeta, a Floresta Amazônica abriga uma enorme quantidade de espécies, muitas das quais ainda são desconhecidas para a ciência. Recentemente, os pesquisadores Riuler Corrêa Acosta e Diego Mendes, do Instituto Mamirauá, descreveram duas novas espécies de inseto encontradas na Amazônia: um grilo (Oecanthus buxixu) e uma esperança predadora (Spinaraptor taja).

A nova espécie de grilo foi descoberta na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, no município de Maraã, Amazonas. O gênero Oecanthus possui mais de 70 espécies distribuídas ao longo do planeta, mas esta é apenas a segunda espécie conhecida na Amazônia, a outra tendo sido descrita em Santarém, no Pará.

A nova espécie foi descoberta a partir da soma de características morfológicas externas e internas, mas principalmente a sinalização acústica emitida pelos indivíduos machos, método o qual os cientistas usam para diferenciar espécies de grilos, além de características fisionômicas. O nome científico “buxixu” faz referência à planta homônima onde a espécie é comumente encontrada se alimentando de frutos e folhas.

Já a nova espécie de esperança descrita faz parte de um novo gênero como um todo, Spinaraptor, que inclui outras quatro espécies. O nome do gênero vem do latim: spina (espinho) + raptor (ladrão) significando “ladrão de espinhos”, uma referência aos longos espinhos das pernas dessa esperança que são usados para segurar as suas presas enquanto as devora.

Spinaraptor taja ocorre no estado do Amazonas, com espécimes coletados em Manaus e na cidade de Tefé. Esta espécie foi encontrada principalmente próximo a corpos d’água com presença de plantas da família Araceae, popularmente chamadas de “tajá”, que dá o nome científico à esperança. São noturnas e se alimentam de pequenos insetos que caçam sobre a vegetação.

Leia também: Esperança, o inseto que supostamente pode mudar destinos

Nova espécie de esperança predadora (Spinaraptor taja). Foto: Diego Mendes

Grilos e esperanças, embora pouco conhecidos pelo público em geral, desempenham um papel crucial na cadeia alimentar e no ecossistema. Algumas espécies de grilos, por exemplo, atuam como dispersores de sementes no solo das florestas. Nos dois estudos recém-publicados, são reveladas associações entre essas espécies e plantas nativas, destacando a ligação entre esses insetos e seus habitats.

Esse conhecimento é fundamental para o desenvolvimento de estratégias de preservação dos micro-habitats, como as áreas de borda de floresta, onde o Oecanthus buxixu vive nos arbustos de buxixu, e as margens de igarapés, onde o Spinaraptor taja habita sobre os tajás.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Instituto Mamirauá, escrito por Miguel Monteiro

‘Órfãos do fogo’: mais de 100 animais são levados para reabilitação no Acre por conta de queimadas

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Centro lançou campanha para doação de pelúcias para auxiliar na recuperação dos animais. Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre

Os incêndios que atingem todo o Acre deixaram diversas espécies vulneráveis por conta da destruição da floresta. Diariamente, esses animais chegam ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), em Rio Branco, que pertence ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

O Cetas, que fica nas proximidades do Parque Ambiental Chico Mendes, na capital acreana, já recebeu 105 animais que foram resgatados em áreas de queimadas neste ano. A maior parte chega ferido, outros buscavam abrigo. Em alguns casos, os animais que sobrevivem demoram mais de um ano para se reabilitar e serem devolvidos a natureza.

Desse número, três não resistiram e acabaram morrendo. No local, um tatu, uma mucura e uma jiboia não conseguiram sobreviver. Segundo a chefe da unidade, Elaine Oliveira, entre os que mais chegam, estão a paca de rabo, o quandú, o tamanduá-mirim, o bicho-preguiça e as cobras, além dos macacos.

Ela explica ainda que o retorno desses animais ao habitat natural depende de uma série de fatores, como a idade, a espécie e a condição de saúde.

Foto: Divulgação/CBMAC

Em praticamente todas as ocorrências de queimadas, os brigadistas encontram animais próximos das chamas, em perigo, ou mortos. Em alguns cenários, os animais fogem até para áreas urbanas e casas de moradores.

Neste caso, a orientação é ligar para o Corpo de Bombeiros para a captura adequada. Além do fogo, os rios e igarapés secos fazem alguns bichos procurarem outro abrigo. Em um dos casos, um jacaré chegou ao Cetas sem ferimentos. Ele procurava refúgio após o local que ficava ter secado. A situação foi semelhante com de uma jiboia. Ambos serão encaminhados para regiões monitoradas pelo Ibama.

Doação de pelúcias

Para minimizar os problemas, o Ibama lançou uma campanha denominada “SOS Fauna”. A iniciativa tem como objetivo arrecadar bichinhos de pelúcia para ajudar na adaptação dos animais que ficaram órfãos e precisam ter a sensação de que continuam com a mãe.

“O item bicho de pelúcia para a gente é muito difícil fazer aquisição como instituição pública. Então, a gente está solicitando a colaboração da população em geral, as crianças que veem as imagens dos filhotes sem suas mães, eles são os órfãos do fogo, que a população possa ajudar a gente na doação. Pode ser bichinho usado, se tiver rasgado a gente conserta. O importante é ter esses bichos de pelúcia pra que esses filhotes tenham esse conforto para poder agarrar no bichinho simulando a mãe”, acrescenta Elaine.

Foto: Divulgação/CBMAC

Os pontos de coleta em Rio Branco são a sede do Ibama, próxima da Avenida Ceará, o bloco do curso de Medicina Veterinária, na Ufac, e a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema). No interior, pode ser entregue na unidade técnica de Brasiléia ou de Cruzeiro do Sul.

Animais feridos durante queimadas

As queimadas no Acre deixam muitas vítimas todos os dias. Além da floresta e das pessoas afetadas com a fumaça e demais problemas respiratórios, os animais sofrem com o fogo e em todo o estado. De janeiro até setembro, de 400 animais de todas as espécies resgatados pelo Corpo de Bombeiros do Acre, pelo menos 30 foram localizados carbonizados, feridos ou em fuga por conta dos incêndios florestais.

De acordo com o Corpo de Bombeiros Militar do Acre (CBMAC), de janeiro até o dia 18 de setembro já foram atendidas 4.787 ocorrências de queimadas, contra 3.117 no mesmo período do ano passado. Esse ano também foram registrados mais de 5 mil focos de calor.

A Operação Fogo Controlado possui 115 militares atuando nessa frente de serviço, em 16 bases operacionais. O capitão Freitas Filho, coordenador da operação, comenta que nesses cenários onde os incêndios estão acontecendo, a fauna amazônica é diretamente afetada. É comum, por exemplo, serpentes e roedores se refugiarem em ambientes urbanos por conta dos incêndios.

“O trabalho do Corpo de Bombeiros é resgatar esses animais e levar para um local seguro. Se estiverem feridos ou não tiver local seguro, em que não há um local para que eles permaneçam, eles são levados para o Cetas, que é do Ibama, que faz a triagem e tratamento desses animais e depois os leva para um local seguro de acordo com um estudo técnico”, afirmou.

Em alguns casos, os animais buscam abrigo até em casas que estão próximas de alguma região de floresta. Por esse motivo, o CBMAC orienta os moradores que não maltratem o animal e liguem para o 193, para que os militares façam o resgate adequado e deem a destinação correta para cada espécie.

“É comum nessa época, especialmente serpentes e roedores, justamente porque eles já estão em situação de desespero. Eles já estão afetados em seu habitat por conta dos incêndios. Então naturalmente eles buscam a cidade como local seguro e a residência das pessoas”, explicou o capitão.

O Corpo de Bombeiros, o Instituto do Meio Ambiente do Acre (Imac) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) fazem a captura e a proteção desses animais.

*Por Jardel Angelim, da Rede Amazônica AC

Plano de proteção para sítios arqueológicos do Amazonas é lançado pelo Iphan

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Foto: Divulgação/Iphan

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) apresentou, no dia 23 de setembro, um Plano de Ações Integradas do Patrimônio Arqueológico do Amazonas. O lançamento do plano foi realizado na sede do Instituto Soka Amazônia, organização vizinha ao sítio Ponta das Lajes, que atua na conservação da Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) Dr. Daisaku Ikeda.

O objetivo é promover as orientações para a proteção dos sítios arqueológicos do estado durante o período de seca dos rios e de mudanças climáticas, com medidas de segurança, socialização e boas práticas para a conservação desse patrimônio.

Foto: Divulgação/Iphan

As “caretinhas” talhadas em pedras reapareceram no sítio arqueológico Ponta das Lajes e já são vistas novamente no pedral. Esta é a terceira vez que os vestígios de civilizações antigas aparecem por causa da seca dos rios. Outras aparições dos petróglifos (imagens gravadas em rochas ou pedras que podem representar figuras humanas, formas geométricas ou cenas da vida cotidiana de culturas antigas) ocorreram em 2010 e no ano passado, também por causa da seca extrema dos rios.

“Nos últimos anos temos vivenciado o agravamento das mudanças climáticas e a seca dos rios da região de forma mais frequente. E são muitos os desafios. Mas este cenário também nos coloca diante da necessidade de união de toda sociedade para proteção dos bens mais valiosos da Amazônia: a biodiversidade das nossas florestas, nossos rios, nossas populações e nossa história. E estamos sempre dispostos a colaborar com essa proteção”, disse o vice-presidente do Instituto Soka Amazônia, Milton Fujiyoshi.

Plano de Ação do Patrimônio Arqueológico

O plano de ação é dividido em quatro eixos: mobilização, com o mapeamento de agentes do poder público e da sociedade civil visando a construção participativa do plano; conservação e vigilância, que consiste em estabelecer uma rotina de vigilância e monitoramento da área; produção e divulgação do conhecimento, com atividades de orientação e compartilhamento de informações sobre os sítios para interessados em pesquisas no local; e socialização, para envolver as comunidades e povos indígenas no sentido de orientar sobre a preservação dos sítios.

De acordo com a superintendente do Iphan-AM, Beatriz Calheiro, todos os bens arqueológicos pertencem à União, sendo vedado qualquer tipo de aproveitamento econômico de artefatos arqueológicos, assim como sua destruição e mutilação.

“Além disso, para realização de pesquisas, é preciso o envio prévio de projeto arqueológico ao Iphan, que avaliará e, só então, editará portaria de autorização. Assim, qualquer pesquisa interventiva realizada sem autorização do Iphan é ilegal e passível de punição nos termos da lei”, acrescenta Beatriz.

Foto: Divulgação/Iphan

Sítio Ponta das Lajes

Com cronologia estimada entre mil e dois mil anos atrás, o sítio Ponta das Lajes possui blocos rochosos nos quais há registros rupestres que representam figuras humanas. Em sua maior parte, as representações são de rostos, que a comunidade local chama popularmente de “caretas”, mas há também gravuras e uma área de oficina lítica com marcas de amoladores. O sítio das Lajes ainda possui bacias de polimento locais em que, há milhares de anos, povos originários confeccionavam suas ferramentas, como machadinhas.

Segundo o arqueólogo do Iphan Marco Túlio Amaral, na região Norte, as gravuras em formato de rostos humanos são encontradas somente no estado do Amazonas. “Temos registros delas no sítio Ponta das Lajes, mas também já encontramos em Itacoatiara e em Itapiranga”, explicou.

*Com informações do Iphan

Rio Negro está a menos de um metro de bater seca recorde de 2023 em Manaus, aponta Defesa Civil

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Rio Negro está a menos de um metro de bater seca recorde de 2023 em Manaus, aponta Defesa Civil. Foto: Matheus Castro/g1 Amazonas

O Rio Negro está a menos de um metro da seca histórica de 2023, em Manaus (AM). Segundo a Defesa Civil do Amazonas, neste domingo (29), o rio está medindo 13,37 metros, 67 centímetros a mais que a cota mais baixa já registrada em 121 anos de medição: 12,70 metros.

Manaus está em situação de emergência por conta da seca do rio, que tem mais de 1,7 mil quilômetros de extensão e é um dos principais afluentes do Rio Amazonas. A praia da Ponta Negra, principal balneário da cidade já foi fechada para banho, devido ao baixo nível do rio.

No Porto da Capital, bancos de areia estão surgindo no meio do rio, forçando as embarcações a se afastarem e ficando cada vez mais longe do local onde costumavam atracar, próximo à via pública. A cidade pode, inclusive, sofrer com a escassez de peixes.

A previsão inicial do governo do estado é de que, neste ano, o Amazonas tenha uma seca severa nos mesmos moldes ou até pior do que o estado viveu no ano passado. Um relatório divulgado pelo Serviço Geológico do Brasil no sábado (28) aponta, inclusive, que o rio pode ficar abaixo dos 12 metros pela primeira vez na história.

Segundo a Defesa Civil, o rio começou o mês de setembro medindo 19,73 metros e já vazou, até este domingo, 6,36 metros.

“Nos últimos 30 dias, o nível hidrológico do rio variou em -0,23, o que significa que ele vazou, em média, 23 centímetros por dia. Já nos últimos sete dias, o nível hidrológico do rio variou -0,19, o que significa que ele vazou 19 centímetros por dia, em média”, aponta o órgão, que monitora a vazante.

A seca do Rio Negro também fez com que o Encontro das águas ficasse difícil de ser visto no Amazonas. A mistura das água escura do rio, com a água barrenta do Rio Solimões, é um dos patrimônios do estado e atrai turistas de todos os lugares do Brasil e do mundo.

Além de Manaus, todos os outros 61 municípios do Amazonas estão em situação de emergência por conta da estiagem severa. De acordo com o Governo do Estado, 560 mil pessoas estão sendo impactadas pelo problema. O número de famílias atingidas chega a 140 mil.

*Por Matheus Castro, da Rede Amazônica AM

Cultura gastronômica natural do povo Huni Kuin, do Acre, perde espaço para alimentos industrializados

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Foto: Reprodução/Pilnik (2019, p.450

O Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) – Ciências Humanas, Volume 19, nº 2 (maio-agosto de 2024), faz um alerta sobre um tema bem caro a todos os amazônidas, para não se falar em escala mundial: a culinária do povo indígena Huni Kuin, da Terra Indígena (TI) Kaxinawá do baixo rio Jordão, no estado do Acre, encontra-se sob risco de extinção.

Isso diante do avanço cada vez mais latente da globalização, que acaba de substituir culturas tradicionais por outras, no caso, por outros produtos fornecidos e comercializados internacionalmente. Os alimentos naturais, com todo um valor simbólico para os Huni Kuin, estão sendo gradativamente “trocados por alimentos por produtos processados e ultraprocessados que são, atualmente, acessíveis, tanto financeiramente, quanto nos comércios urbanos, tais como óleos e açúcares orgânicos”, escrevem em coautoria Málika Simis Pilnik e Tarik Argentim.

Essa situação é exposta em um dos trabalhos de pesquisa científica que integram essa publicação do Museu Goeldi, instituição que está às vésperas de completar, em 6 de outubro, 158 anos de atuação na realidade amazônica.

A gravidade desse processo verificado na comunidade indígena pode ser mensurada, apenas no aspecto da identidade regional desses e de outros cidadãos da Amazônia, por meio da suposição dos efeitos potenciais que seriam observados a partir da ausência de iguarias como a maniçoba, o vatapá, o arroz paraense, o pato no tucupi e doces de frutas da região na mesa dos amazônidas em geral. Ainda mais, nos dias que antecedem o Círio de Nazaré, em outubro, em Belém do Pará, quando a festa religiosa é emoldurada por essas e outras iguarias que dialogam historicamente com a cultura de povos indígenas e negros da Floresta Amazônica.

No artigo “Etnoculinária do povo indígena Huni Kuin do Jordão, Acre: conhecimentos, práticas e transformações alimentares na Amazônia ocidental brasileira”, assinado pelos pesquisadores Málika Simis Pilnik, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus (AM), e Tarik Argentim, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas, de Cruzeiro do Sul, do estado do Acre, o público verifica que esse processo conhecido como transição alimentar envolve uma redução nas taxas de desnutrição e, em contraponto, a emergência de doenças crônicas, como câncer, obesidade, diabetes e outras comorbidades nesses indígenas.

Saberes ancestrais

Por isso, esse conhecimento da alimentação é um repleto de conhecimentos, memórias, práticas e processos diversos para o povo Huni Kuin. Ao detalhar a centralidade da comida na vida dos Huni Kuin, o artigo mostra a importância da comensalidade (alimentarem-se em grupo); de alimentos entre parentes nas visitas a casas; o significado simbólico/espiritual de serem mastigados conjuntamente (naikĩ) os alimentos da floresta (da fauna e flora) para esse povo Nesse processo, os alimentos são saboreados lenta e simultaneamente.

É feita a abordagem dos cuidados com a alimentação dos bebês, em especial à corporalidade. A macaxeira e a banana são ingredientes essenciais na alimentação huni kuni, principalmente pela oferta abrangente, pelo seu valor nutritivo e ainda pelo uso em dietas/restrições alimentares (samã kea) de cunho espiritual realizado pelos xamãs (mukaya). Na capa do Boletim do MPEG, que está completando 130 anos em circulação, está uma foto do preparo de atsa pei (macaxeira com folha em hãtxa-kuin), em referência ao tema da edição “Territorialidades e patrimônios”.

Na descrição das práticas alimentares dos Huni Kuin, é possível observar o valor simbólico do ato de cozinhar (“ba”) relacionado à reprodução humana, ao ato de “procriar”, “nascer”, uma simbologia que envolve as utensílios da culinária desse povo e destaca a presença feminina em dois processos, entre outros aspectos estruturais da temática abordada, compondo um trabalho minucioso e esclarecedor sobre a relação umbilical de um povo indígena e sua alimentação para a própria existência através dos tempos.

Para baixar gratuitamente a edição completa, acesse AQUI.

*Com informações do Museu Goeldi

Manual em quatro idiomas ensina como interagir com botos, golfinhos e até baleias

Foto: Reprodução/Fórum de Sustentabilidade

O Centro Nacional de Mamíferos Aquáticos lançou o ‘Manual de Boas Práticas em Interação com Cetáceos’, uma iniciativa que visa regulamentar e orientar as atividades de interação com golfinhos, botos e baleias no litoral do Brasil. O manual, disponível em quatro idiomas, é voltado tanto para o público geral quanto para profissionais envolvidos no turismo e lazer aquático. 

Elaborado por pesquisadores em mamíferos aquáticos do Instituto Chico Mendes, o documento oferece orientações para garantir a segurança dos envolvidos nas interações e, ao mesmo tempo, proteger os cetáceos de impactos negativos.

As diretrizes incluem desde a distância mínima que embarcações devem manter dos animais até protocolos para interações emergenciais, como desenredamento e desencalhe. Essas medidas são importantes para prevenir o molestamento intencional desses animais. 

O manual utiliza uma linguagem acessível e ilustrações didáticas, buscando promover a conscientização sobre a importância da conservação dos cetáceos. Aborda aspectos relacionados à interação colaborativa, especialmente observada em comunidades pesqueiras tradicionais, onde os cetáceos muitas vezes auxiliam na localização de cardumes, estabelecendo uma relação benéfica para ambas as partes. 

O ICMBio reforça que o ‘Manual de Boas Práticas’ não substitui a legislação vigente, mas complementa as normas, oferecendo orientações detalhadas para que a interação com cetáceos ocorra de forma responsável e sustentável. 

*Com informações do ICMBio

Ararajubas nascidas em parque de Belém são esperança para conservação da espécie

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Foto: Reprodução/Ideflor-Bio

Cinco filhotes de ararajubas nasceram no Parque Estadual do Utinga ‘Camillo Vianna’, em Belém (PA), com o apoio do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio) e da Fundação Lymington, para a preservação da biodiversidade amazônica.

O nascimento dessas aves marca um avanço no Projeto de Reintrodução e Monitoramento de Ararajubas na Região Metropolitana de Belém. Os filhotes, que já estão com cerca de dois meses, começam a observar o comportamento dos adultos e se prepararem para conquistar os céus.

O Ideflor-Bio informa que, até pouco tempo, as ararajubas eram consideradas extintas nos arredores da capital paraense. Com muita pesquisa, trabalho de campo e dedicação, essa situação está sendo revertida. A iniciativa do Instituto de Desenvolvimento Florestal já devolveu 58 ararajubas à natureza e isso é reflexo do compromisso do Estado com a proteção da biodiversidade e a preservação das espécies ameaçadas de extinção.

O presidente do Ideflor-Bio, Nilson Pinto, destacou a importância desse momento histórico. “O nascimento dessas ararajubas genuinamente paraenses é um testemunho do sucesso do projeto e da resiliência da natureza. Sem dúvidas, esse nascimento representa um grande passo para a conservação da espécie. É um sinal de que nossos esforços têm surtido efeito e que as ararajubas estão se adaptando ao seu habitat natural”, frisou.

Os filhotes que nasceram no Parque Estadual do Utinga têm uma vantagem em relação às demais aves reintroduzidas, que são trazidas do aviário da Fundação Lymington, em Juquitiba, interior de São Paulo: eles não precisarão passar por um período de adaptação ao clima e à alimentação, pois já estão inseridos em seu ambiente natural.

Marcelo Vilarta, um dos biólogos que atua no projeto, explica que essa nova geração de ararajubas é genuinamente paraense e representa a continuidade da espécie na região.

Além disso, o comportamento colaborativo das ararajubas tem sido um diferencial importante para o sucesso da reprodução. Não apenas os pais cuidam dos filhotes, mas outros membros do grupo se envolvem na proteção, alimentação e vigilância. Essa característica é marcante da espécie e tem sido observada pelos pesquisadores do projeto.

“As ararajubas têm um sistema de colaboração muito interessante. Mesmo não sendo os pais biológicos, outros indivíduos do grupo ajudam a proteger e alimentar os filhotes, contribuindo para que eles sobrevivam e alcancem a fase adulta”, ressalta Vilarta.

Adaptação inclui convivência com outras aves

O nascimento das ararajubas foi possível graças ao estabelecimento do grupo de aves reintroduzidas no Parque Estadual do Utinga. Elas passaram a confiar no ambiente e na convivência com os demais membros do grupo, o que facilitou a escolha do local para a reprodução. Leva um tempo até que as ararajubas se sintam confortáveis e selecionem o espaço adequado para fazerem seus ninhos. São aves territorialistas e protetoras, que só escolhem uma área quando sentem que há segurança e comida suficiente.

Outro ponto importante da ação é o monitoramento contínuo das ararajubas após a sua liberação. Marcelo ressalta que, mesmo ao deixarem o ninho, as ararajubas são guiadas pelos pais e pelo grupo. No entanto, caso se percam ou precisem de cuidados, a equipe do projeto estará pronta para realizar o resgate. “O ideal é que essa adaptação aconteça de forma natural, sendo conduzida pelos próprios membros da família”, detalhou.

Continuidade

A iniciativa se prepara para novas etapas de expansão. Em abril de 2024, o Ideflor-Bio e a Fundação Lymington firmaram um Termo de Colaboração para dar continuidade à terceira etapa do projeto. Essa fase prevê a ampliação do aviário para treinamento das aves, a construção de espaços dedicados à educação ambiental e a implementação de um equipamento digital para interação do público no Parque Estadual do Utinga.

De acordo com o presidente da Fundação Lymington, Luís Fábio Silveira, a reintrodução dessas ararajubas representa não apenas um esforço de conservação, mas também um símbolo de esperança. “A continuidade do projeto no Parque Estadual do Utinga e em outras áreas da Região Metropolitana de Belém é um passo significativo para a preservação da biodiversidade no Pará, um exemplo de como a união entre pesquisa, educação ambiental e gestão pública pode gerar resultados positivos”, enfatizou.

O objetivo é devolver mais 50 ararajubas aos céus de Belém até a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que ocorrerá na capital paraense. “Estamos ampliando a infraestrutura para recebermos um maior número de aves. A expectativa é que essas ararajubas passem por todo o processo de treinamento e se sintam preparadas para a vida em seu habitat natural”, destacou a gerente de Biodiversidade do Ideflor-Bio, Mônica Furtado.

*Com informações do Ideflor-Bio

Como os aceiros podem auxiliar no combate a incêndios florestais em Apuí, no Amazonas

Foto: Reprodução/Arquivo Idesam

Em parceria com o Mercado Livre, o Idesam promoveu em setembro uma arrecadação de recursos destinados à construção de aceiros nas áreas de agricultores afetados pelas queimadas em Apuí (AM). O geógrafo e brigadista voluntário, Heitor Pinheiro, explica que os aceiros são estruturas construídas de forma artificial e que podem ser feitas manualmente ou com a utilização de maquinários.

Ele classifica as estruturas como uma importante ferramenta no combate aos incêndios florestais, já que muitas vezes, a criação de um aceiro protege áreas gigantescas apenas com o combate indireto, fazendo com que o fogo não ultrapasse as barreiras criadas.

“Os aceiros podem ser feitos de forma manual, com o auxílio dos brigadistas utilizando enxadas, facões e roçadeiras. Também em grandes áreas pode ser feito de forma mecanizada com apoio de trator e maquinário. Normalmente os aceiros devem ser feitos cinco vezes o tamanho da vegetação. No caso de algumas regiões, pela grande altura da vegetação, os aceiros são construídos da melhor forma para que ele possa evitar que o fogo transpasse de uma região para a outra”, detalha Pinheiro.

Os aceiros também podem ser uma solução permanente, desde que sejam feitos de forma planejada e todos os anos, de acordo com o geógrafo. “O aceiro é uma prévia ao período das queimadas. Então, se você tiver estrutura, pessoas capacitadas e um planejamento prévio, é uma solução bastante eficaz para o combate indireto aos focos de incêndios florestais”, reforça.

Os recursos serão todos destinados para o projeto Café Apuí Agroflorestal e demais ações de agenda positiva pela restauração florestal e produção sustentável em sistemas agroflorestais. Atualmente, são 113 famílias na iniciativa e 231 hectares de áreas plantadas.

*Com informações do Idesam

“Foi devolvido o direito de viver”, diz liderança Yanomami sobre ações da Saúde

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Foto: Rafael Nascimento/MS

Lideranças Yanomami reconheceram os avanços que a saúde indígena alcançou no último um ano e meio. O aumento da assistência, a reabertura de unidades e a ampliação do quadro de funcionários são os principais investimentos no território.

Durante a última semana, no 5º Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kuana, em Auaris, Roraima, o Ministério da Saúde apresentou um balanço das ações para a saúde indígena.

  • Principais números da ação do Ministério da Saúde no território Yanomami:
  • 7 polos-base reabertos;
  • 5,2 mil indígenas voltaram a ter acesso à assistência;
  • 1.497 médicos atuando no território;
  • 33% de queda da mortalidade;
  • 3,3 mil crianças acompanhadas nutricionalmente;
  • 83,1% a mais de testes para a detecção da malária;
  • 47,5% de alta na vacinação de rotina no território.

O presidente da associação Urihi e do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami, Junior Yanomami, afirma que as ações da pasta devolveram o direito de viver e o bem-estar da população local.

Integração

Junior Yanomami destaca que a integração do território foi essencial para que as políticas tivessem efetividade. “As ações vão até as comunidades de mais difícil acesso. Melhorou, por exemplo, a vacinação . Isso é muito importante”, frisa.

“A ação mais importante foi a recuperação das crianças e o combate à desnutrição. Hoje, vemos nova luz. Eu acompanhei a situação que estávamos antes, abandonados. O governo ‘deu a mão’ e salvou crianças, devolveu a esperança”, conclui.

Foto: Rafael Nascimento/MS

Investimentos

O secretário de Saúde Indígena (Sesai) , Weibe Tapeba, apresentou, durante o fórum, um balanço das ações do ministério no território Yanomami .

Ele destaca que, de 2023 para cá, muitas ações foram implementadas, como o aumento do número de profissionais atuando no território, de 690 para 1,5 mil.

“Fizemos investimentos robustos. Quando iniciamos o governo, havia apenas quatro médicos. Hoje temos 40. Reabrimos sete polos-base, construímos seis novas unidades. Além disso, estamos mantendo as estruturas abastecidas”, pondera.

Desde o início da emergência, no ano passado, 5,2 mil indígenas voltaram a receber assistência. Em 2023, a Sesai investiu R$ 221 milhões no território e, até agosto deste ano, já foram R$ 216 milhões.

*Com informações do Ministério da Saúde

‘Quem quer ser uma paleontóloga?’: projeto no Tocantins quebra estereótipos e incentiva ciência nas escolas

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Foto: Daniel dos Santos

O projeto ‘Quem quer ser uma paleontóloga?’ é uma iniciativa desenvolvido pela professora Etiene Fabbrin Pires Oliveira, do Câmpus de Porto Nacional da Universidade Federal do Tocantins (UFT), e tem como objetivo desmistificar a imagem tradicional de cientistas e incentivar a participação feminina na ciência. O projeto ganhou destaque na promoção de uma maior diversidade no campo da paleontologia.

Etiene conta que a ideia para o projeto surgiu a partir da observação da concepção preconceituosa sobre quem faz ciência. Quando questionadas sobre como imaginam um cientista, a maioria das crianças e adolescentes descreve um homem branco e idoso.

O projeto visa, portanto, não só desafiar esses estereótipos, mas também estimular meninas e mulheres a se interessarem pelas carreiras científicas.

O projeto contou com uma equipe diversificada composta por estudantes de pós-graduação e graduação, egressos, servidores do Naturatins e membros da comunidade de Bielândia. A equipe foi fundamental na realização das atividades e na interação com o público-alvo, explicou Etiene.

Etiene é a idealizadora do projeto. Foto: Daniel dos Santos

Desenvolvimento

Para o projeto, foram selecionadas oito escolas públicas dos municípios de Filadélfia, Barra do Ouro e Babaçulândia para participar do projeto. Essas localidades foram escolhidas devido à sua proximidade com o Monumento Natural das Árvores Fossilizadas do Estado do Tocantins (Monaf) e pela ocorrência de afloramentos fossilíferos nas regiões circunvizinhas. Entre agosto de 2023 e março de 2024, três expedições de campo foram realizadas na região do Monaf, com base no alojamento gerido pelo Naturatins em Bielândia.

As atividades nas escolas seguiram uma dinâmica consistente, que incluíram: roda de conversa, para aproximar os alunos das pesquisadoras, foram feitas provocações sobre a imagem tradicional de um cientista, permitindo que os alunos interagissem e refletissem sobre estereótipos.

Na palestra, utilizando um data show, foram apresentadas informações sobre tipos de fósseis, o processo de fossilização e os principais fósseis do Tocantins. Na mostra de Fósseis, os alunos tiveram a oportunidade de ver e manusear fósseis selecionados, proporcionando uma experiência prática e direta com o material paleontológico. Entrega de Produtos de Extensão, foram entregues materiais didáticos para as gestoras das escolas participantes.

No total, participaram das atividades 753 estudantes e 45 professores, abrangendo turmas do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e do 1º ao 3º anos do ensino médio.

Foto: Divulgação

Impacto

Os alunos receberam as atividades com muito entusiasmo. Muitos, mesmo vivendo na área de influência do Monaf, desconheciam o monumento e a importância dos fósseis. As avaliações realizadas pelas gestoras das unidades escolares e pela equipe do projeto revelaram um impacto positivo significativo. A interação com as pesquisadoras e a apresentação dos fósseis despertaram interesse e curiosidade entre os estudantes.

Além disso, as avaliações mostraram que as atividades contribuíram para a democratização do conhecimento e para a popularização da ciência. Os professores notaram um auxílio didático valioso para as aulas de ciências e biologia, e houve uma solicitação por parte de outras escolas para atividades similares.

Além disso, o projeto desempenhou um papel crucial na divulgação da paleontologia, especialmente nas escolas situadas em áreas próximas a importantes sítios fossilíferos. A colaboração com o Naturatins e os moradores de Bielândia também fortaleceu a parceria entre a Universidade e a comunidade local.

Embora o projeto tenha terminado em março de 2024, com a entrega dos produtos de extensão às escolas, sua contribuição para a popularização da ciência e o incentivo à participação feminina na ciência permanece. A experiência também revelou a importância de continuar com iniciativas que promovam a inclusão e o reconhecimento da diversidade no campo científico.

A professora Etiene e sua equipe demonstraram que a ciência pode e deve ser acessível a todos, e que a quebra de estereótipos é essencial para o avanço e enriquecimento das carreiras científicas.

*Com informações da UFT