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COP da Biodiversidade: entenda papel do evento que acontece na Colômbia em 2024

Abertura da plenária da COP16 da Biodiversidade, em Cali, na Colômbia. Foto: Divulgação/ONU Biodiversidade

A 16ª edição da Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (COP-16) começou nesta segunda-feira (21) em Cali, na Colômbia. O encontro ocorre até o dia 1ª de novembro e traz como tema ‘Paz com a Natureza’.

É a primeira COP da Biodiversidade após a estruturação do Marco Global de Kunming-Montreal (GBF – Global Biodiversity Framework, em inglês), assinado por 196 países em dezembro de 2022, durante o último encontro liderado pelos chineses e ocorrido no Canadá. O documento reúne 23 metas globais a serem alcançadas até 2030 em busca da regeneração de todo o conjunto de vida na Terra.

Brasil

Nesta edição, são esperados debates sobre o alinhamento da Estratégia e Plano de Ação Nacional para a Biodiversidade (NBSAP – National Biodiversity Strategies and Action Plans, em inglês) pelos países ao GBF. A versão brasileira foi elaborada para o período de 2010 a 2020, publicada em 2017, e tratava das Metas de Aichi, aprovadas na COP-10, no Japão.

Segundo a secretária nacional de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, Rita Mesquita, embora as discussões sobre a atualização das EPANB no Brasil ainda não tenham sido esgotadas, a proposta está bastante avançada e as políticas públicas adotadas pelo governo federal já estão alinhadas ao compromisso internacional assumido pelo Brasil.

“Nesta COP-16, nós estamos levando uma série de iniciativas que a gente espera poder divulgar e a partir delas construir intercâmbios, interações, parcerias e inclusive novos entendimentos. E que esses entendimentos bebam da nossa experiência”, diz.

Segundo Rita, é o caso do Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa, parte central do Plano Clima, que por sua vez agrega ações para biodiversidade e de enfrentamento à mudança climática, em um movimento que tem sido defendido globalmente pelo Brasil.

De acordo com o secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, embaixador André Corrêa do Lago, já há uma movimentação internacional para que o Brasil lidere a união dos dois temas nos debates globais e que isso ocorra em 2025 na COP-30, em Belém, no Pará.

Financiamento

Assim como na COP-29, que debaterá o clima em novembro no Azerbaijão, o tema de financiamento também deverá ter destaque em Cali. O próprio Marco Global de Kunming-Montreal já prevê o valor de US$200 bilhões anuais para financiar os esforços globais de conservação da biodiversidade.

Há metas anuais estabelecidas, dentro desse valor total, que seriam a parte obrigatória de financiamento dos países desenvolvidos aos países em desenvolvimento, mas o relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta que apenas 23% dessas metas foram cumpridas no primeiro semestre deste ano, por exemplo.

Para diretora do Departamento de Meio Ambiente, Ministra Maria Angelica Ikeda, além do cumprimento das metas também será necessário um debate sobre a transparência na aplicação desses financiamentos. “Existem outros cálculos que estão sendo feitos por organizações, inclusive da sociedade civil, porque há uma percepção de que pode haver o que a gente chama de contabilidade dupla, que o que está sendo contabilizado pelo OCDE, na verdade, são outros projetos que acabam beneficiando também a biodiversidade, mas na verdade são projetos para clima ou para desenvolvimento social”, explica.

Fundo

O Brasil também deve participar da discussão sobre a eficiência do Fundo do Marco Global para a Biodiversidade (Global Biodiversity Framework Fund – GBFF, em inglês), gerido pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (Global Environment Facility – GEF, em inglês), como forma de financiamento. De acordo com Maria Angélica, no primeiro semestre deste ano foram repassados apenas 1% do que estava previsto.

“Nós estamos abertos, na verdade, com uma visão um pouco até mais moderna sobre o financiamento ambiental. Aceitamos financiamento de diversas fontes e estamos muito engajados nesse diálogo, mas o que nós gostaríamos de ver é uma liderança maior dos países desenvolvidos”, destaca.

Recursos genéticos

A criação de um mecanismo multilateral que reúna os sequenciamentos genéticos de forma digital garantindo uma justa distribuição dos benefícios gerados em suas patentes, conforme o previsto na Convenção sobre Diversidade Biológica é outro debate em que o Brasil estará presente, segundo a diretora do Ministério das Relações Exteriores.

“A ideia é que ele [o mecanismo] também seja munido de um fundo, que os usuários de todos aqueles códigos genéticos, que estão espalhados em vários bancos de dados no mundo e que não se sabe nem a origem de uma grande parte deles, que o uso desses códigos, quando gerem benefícios, eles entram em um fundo que beneficiará também os países em desenvolvimento, os países megadiversos”, conclui.

*Com informações da Agência Brasil

Estudo aponta que espécies de vespas são maiores à medida que hábitats se aproximam do Equador

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Variação no tamanho corporal das vespas do gênero Polistes analisadas no estudo. Cada indivíduo na foto representa uma espécie distinta. Foto: Alexandre Somavilla

Um grupo brasileiro de pesquisadores conseguiu demonstrar a relação da latitude e de variáveis ecológicas no tamanho corporal das vespas. A conclusão é que, quanto mais próximo o hábitat do Equador, maiores são as espécies do gênero Polistes. Amplamente distribuído no mundo, o gênero serve como um modelo para analisar padrões mais gerais das vespas.

O resultado, publicado no Biological Journal of the Linnean Society, refuta para esses insetos uma teoria do século 19, segundo a qual os maiores animais estariam nas latitudes mais altas, ou regiões mais frias do planeta.

Os pesquisadores concluíram que espécies de locais mais próximos do Equador, portanto, com maiores temperaturas e menor sazonalidade, tendem a ser maiores do que as que estão em altas latitudes, ou seja, mais próximas do hemisfério Norte e mais frias. É o oposto do que diz a chamada regra de Bergmann.

Postulada em 1847 por Carl Bergmann, a hipótese prevê organismos maiores em altas latitudes ou climas mais frios. Isso se daria porque indivíduos com maior tamanho corporal teriam uma menor razão entre a área de superfície e o volume do corpo, o que reduziria a perda de calor. Portanto, um corpo maior seria uma vantagem quando em baixas temperaturas.

O estudo publicado agora, porém, chegou a um resultado oposto, se adequando ao que já havia sido postulado como o oposto da regra de Bergmann. Formulado no século 20 por autores que analisaram animais ectotérmicos, que dependem da temperatura do ambiente para regularem o calor do próprio corpo, o raciocínio define que seriam os animais menores que estariam mais ao norte, em climas frios e com baixa sazonalidade.

Enquanto nas regiões temperadas a estação favorável para as vespas dura de três a quatro meses, nas tropicais esse período tem cerca de nove meses. Por isso, na região haveria mais tempo para se alimentar e, portanto, crescer.

Coleções

Os pesquisadores tomaram as medidas de 429 exemplares de vespas em bom estado de conservação, pertencentes a 39 espécies que ocorrem do Canadá à Argentina, portanto, representando as Américas como um todo.

Os exemplares foram enviados ao Brasil de coleções presentes em diversos países ou analisados nas próprias instituições em que estão depositadas no exterior. Foram 37 espécies representadas por indivíduos fêmeas e 28 dessas espécies também representadas por indivíduos machos (em duas, só havia representantes machos, totalizando as 39 espécies investigadas). Os dados foram analisados por ferramentas estatísticas que mostraram uma relação direta entre latitude e tamanho do corpo.

A escolha das espécies americanas do gênero Polistes se deu por conta da bem resolvida filogenia do grupo nessa região. Isso significa que, no continente, todas descendem de um mesmo ancestral, algo que ainda não é sabido para outras regiões. Além disso, nas Américas se encontra a maior diversidade do gênero, com cerca de 90 espécies. Assim, foi possível ter uma amostra significativa para postular que o tamanho corporal é definido pelas condições ecológicas.

Em um trabalho anterior, Souza e outro grupo de colaboradores já haviam demonstrado que a regulação térmica não é o fator principal para determinar o tamanho, como a Regra de Bergmann postula, no caso das vespas.

Nesses animais, a latitude é determinante para definir a cor, já que espécies mais escuras estão presentes em áreas mais frias, provavelmente porque o tom ajuda a aquecer mais rápido o corpo do que cores mais claras.

Além disso, completa, os estudos mostram a importância da preservação das coleções entomológicas, que podem fornecer material para o estudo contínuo das espécies e das relações entre elas.

O trabalho tem ainda entre os autores pesquisadores das universidades federais do Triângulo Mineiro (UFTM) e de Viçosa (UFV), além do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

O artigo Interspecific variation in paper wasp body size supports the converse Bergmann’s rule pode ser lido em: https://academic.oup.com/biolinnean/advance-article-abstract/doi/10.1093/biolinnean/blae074/7738264.

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência Fapesp, escrito por André Julião

Contagem de pirarucu em Santa Maria do Tapará, no Pará, revela impacto da seca na região

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Foto: Luan Robson/Sapopema

Manejadores da comunidade Santa Maria do Tapará, no Pará, e a Sapopema realizaram no dia 8 de outubro a contagem anual de pirarucus na região. A atividade, que é fundamental para o monitoramento e conservação da espécie, evidenciou a seca que está assolando a área este ano.

Considerada uma das piores dos últimos anos, a estiagem severa tem dificultado a vida das comunidades ribeirinhas e impactado diretamente a fauna aquática. Durante a contagem, os manejadores tiveram muita dificuldade para chegar ao lago, que ficou mais distante.

A contagem é uma ferramenta fundamental para avaliar as condições ambientais e adaptar as estratégias de manejo. Todos os anos, durante o período de águas baixas, os pescadores realizam contagens de pirarucus para avaliar os estoques pesqueiros e calcular a cota de captura de 30% a partir do resultado das contagens de pirarucus adultos, preservando os 70% restantes, como forma de assegurar a reprodução para fins de manutenção do seu estoque de forma sustentável. Os números servem também para indicar avanços da conservação e apontar estratégias para promover a renda dos pescadores.

Foto: Luan Robson/Sapopema

Os procedimentos utilizados para contagem de pirarucus seguem o método de Castello (2004), onde os pescadores demonstram sua habilidade de contar quando observam e escutam a boiada do pirarucu no momento em que ele vem à superfície da água realizar a sua respiração aérea.

Segundo a bióloga da Sapopema, Poliane Batista, cada pescador conta quantos pirarucus observou em uma unidade de área durante um intervalo de 20 minutos. Somente pirarucus maiores de 1 metro são contados, sendo classificados em duas categorias: juvenis (bodecos) (1-1,5 m) e adultos (>1,5 m). Os pescadores devem fazer as contagens de forma silenciosa para assegurar a acurácia das contagens e evitar que o comportamento do pirarucu seja alterado.

Nas comunidades que desenvolvem o manejo, além do cumprimento das regras de tamanho mínimo captura (1,5m) e período de defeso (IN 34/2004) estabelecidas pelo – IBAMA, os pescadores definem em seus territórios acordos de pesca que normatizam as regras válidas que restringem ainda mais o uso do recurso. Baseados nesses acordos, eles realizam vigilância dos ambientes aquáticos contra a ação de invasores.

O esforço dos comunitários para o manejo sustentável compreende diversas etapas, como a organização comunitária, respeito à legislação e estabelecimento de acordos de pesca, vigilância dos lagos, contagens, pesca sustentável e comercialização da produção. A iniciativa exige uma dedicação enorme, e muitas vezes o pescador não é devidamente valorizado.

Foto: Luan Robson/Sapopema

Feira do Pirarucu de Manejo do Pará

Em novembro, manejadores de Costa do Tapará, Santa Maria e Igarapé da Praia promoverão a 5ª edição da Feira do Pirarucu de manejo do Pará. Agora como patrimônio histórico, cultural e imaterial de Santarém, o evento deste ano será em 09 de novembro na Praça São Sebastião. Uma realização do Conselho Regional Tapará, Sapopema, Colônia de Pescadores Z-20, Mopebam, Sedap, Semap, Sebrae, e apoio da TNC.

*Com informações da Sapopema

Castanha do Brasil produzida pelos povos Mẽbêngôkre-Kayapó é exportada para a Inglaterra

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Foto: Reprodução/Cooba-y

Castanha do Brasil produzida pelos povos Mẽbêngôkre-Kayapó é exportada para a Inglaterra com apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil). O manejo da oleaginosa é feito por cerca de 600 famílias indígenas da região da Bacia do Rio Xingu, que são associadas à Cooperativa Kayapó de Produtos da Floresta (COOBA-Y), cuja sede está localizada no município de Tucumã (PA).

O assessor técnico da COOBA-Y, Adriano Jerozolimski, conta que a cooperativa foi criada em 2012 com objetivo de fortalecer as cadeias produtivas voltadas para geração de renda e subsistência.

A produção gira em torno de 300 toneladas/ano de castanha in natura (com casca) e 33 toneladas/ano de castanha beneficiada (sem casca). Mas, segundo o assessor técnico, a cadeia dessa oleaginosa depende muito do desempenho da safra, por isso, a receita anual pode variar de R$ 200 mil a R$ 1 milhão gerados para os coletores de castanha do Brasil.

Outras duas cadeias produtivas da COOBA-Y são o cumaru e o artesanato tradicional indígena. 

Já o artesanato, por não ser sazonal, permite que as comunidades tenham renda ao longo de todo o ano. “A cooperativa tem conseguido proporcionar uma renda para as comunidades de cerca de R$ 150 mil. Talvez esse ano a gente tenha uma renda maior, mais próxima de R$ 200 mil, com um conjunto de produtos que vão desde produtos tradicionais, com materiais da floresta, até produtos que já passaram a ser tradicionais, mas que são feitos com matérias-primas de fora, com muita miçanga”, detalha.

Da Amazônia para o mundo

No ano passado, a COOBA-Y realizou a primeira exportação de seis toneladas de castanha do Brasil beneficiada para a Inglaterra e, este ano, outro contêiner com mais seis toneladas já está a caminho pelo Oceano Atlântico. Segundo Adriano Jerozolimski, o apoio da Apex tem sido fundamental para alcançar o mercado externo.

Além disso, em junho deste ano, a COOBA-Y participou da 12ª edição do LAC Flavors, um fórum de negócios de alimentos e bebidas realizado em parceria com a ApexBrasil. O evento proporcionou o encontro com compradores internacionais, workshops e seminários sobre sustentabilidade, tecnologia alimentar, certificações e técnicas de negociação.

Como resultado, hoje a COOBA-Y participa da Mesa Executiva de Exportação da Castanha do Brasil. O agrônomo da cooperativa Mattheus Costa detalha as vantagens dessa iniciativa.

Essas ações já resultaram em tratativas para a COOBA-Y expandir a exportação da castanha do Brasil para a França e alcançar ainda mais o mercado europeu.

*Com informações do Brasil 61

Silvero Pereira, estrela do filme ‘Maníaco do Parque’, visita pontos turísticos famosos no Amazonas

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Foto: Reprodução/Instagram – @silveropereira

O ator cearense Silvero Pereira, que se tornou conhecido por seus trabalhos no cinema e televisão e, recentemente, estrela o filme ‘Maníaco do parque’, baseado em fatos reais, é um dos que agora fazem parte do grupo que viveu uma verdadeira imersão pela cultura amazônica durante visita em Manaus (AM).

Vencedor de prêmios como ‘Grande Otelo’ e ‘Prêmio Guarani’, o ator esteve no último fim de semana na cidade e foi conferir até do show de Ludmilla.

Silvero destacou a visita aos botos, Paricatuba e também à aldeia Cipia.

‘Como a floresta vai se recuperar?’ Yanomami e Ye’kwana apresentam plano ao governo para evitar novos invasores

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Foto: Fabrício Marinho/Platô Filmes/ISA

Lideranças de toda a Terra Indígena Yanomami se reuniram por cinco dias na comunidade Fuduuwaaduinha, em Auaris, para o V Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana. Integrantes do Governo Federal foram convidados ao evento para prestar contas da atuação durante a emergência e ouvir os indígenas sobre o que ainda precisa ser feito. Ao final, uma carta dos Yanomami e Ye’kwana foi enviada às autoridades.

A reunião, com 284 participantes, ocorreu um ano e 10 meses após Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarar situação de emergência no território. À época, o presidente recém-empossado visitou a Casa de Apoio à Saúde Indígena Yanomami (Casai), em Boa Vista, e demonstrou choque com os casos de desnutrição, explosão de malária e massiva invasão de garimpeiros.

“Aqui estamos vendo o resultado do papel da autoridade. Vamos limpar nosso rio, é prioridade. A terra não vai curar. É fácil estragar, mas consertar é difícil. Precisamos que este dinheiro seja gasto certo, não apenas em horas de voo, estamos morando em um só planeta. Em 2025 precisamos continuar a limpar nossa terra”, disse Davi Kopenawa aos representantes do governo federal.

O governo afirmou que 77% dos garimpeiros invasores já foram expulsos e se comprometeu a continuar com operações para manter o controle e remover os garimpeiros insistentes. A Saúde apresenta dados que mostram diminuição do número de óbitos em comparação a 2023, e da letalidade por doenças evitáveis, mas admite a dificuldade em controlar a malária em regiões mais próximas aos locais explorados pelos garimpeiros ilegais.

No entanto, o Fórum não é apenas um local de promoção das ações, portanto, os representantes do governo foram submetidos a questionamentos das lideranças e escutaram relatos sobre o que ainda precisam melhorar.

O ponto-chave para os indígenas é que o governo, embora se esforce, ainda precisa aprender a conversar com os povos tradicionais para entender que as ações do Estado precisam andar em conjunto com a manutenção dos saberes tradicionais e os modos de vidas das comunidades.

Quando os Yanomami e Ye’kwana construíram seu Protocolo de Consulta, em 2019, previram a criação do Fórum como um espaço para tomadas de decisões coletivas sobre ações e projetos a serem desenvolvidos na Terra Indígena Yanomami com a participação de lideranças, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e outros órgãos do governo federal. Em 2023, o governo participou pela primeira vez do evento, enquanto os três primeiros encontros foram ignorados pela gestão de Jair Bolsonaro.

“No IV Fórum, foi a primeira vez que o governo escutou os Yanomami. Aquele Fórum foi um momento de consulta. Tivemos reuniões com as lideranças e com as organizações para discutir o que a Funai estava planejando”, lembrou a presidenta da Funai, Joenia Wapichana.

Nilton Tubino, diretor da Casa de Governo, presta contas ao fórum. Foto: Fabrício Marinho/Platô Filmes/ISA

Carta das associações da Terra Indígena Yanomami

Reunidos na comunidade Fuduuwaadunnha, região de Auaris, Terra Indígena Yanomami, entre 23 e 27 de setembro de 2024, durante o ‘V Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana’, nós, lideranças indígenas, em conjunto com nove das nossas associações, que abaixo assinam, escrevemos esta carta ao Governo Federal do Brasil.

Entendemos que no Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) estão presentes o sol, os rios, o frescor da floresta, as árvores… todos eles estão dentro do PGTA. Por isso, com base neste documento, estamos trabalhando com vocês para salvar a nossa terra-mãe e a alma do rio, cuja água tomamos. A terra é fundamental para os yanomami, assim como para todos os povos deste planeta e por isso queremos saber: como expulsar os garimpeiros perigosos que restaram na Terra Yanomami?

Queremos continuar trabalhando junto do Governo para expulsar todos os invasores da nossa terra-floresta. Queremos fortalecer a saúde e as escolas de nossas comunidades. Queremos acompanhar os projetos públicos que nos dizem respeito, para que funcionem de verdade. Precisamos que o Governo esteja sempre olhando o nosso PGTA e Protocolo de Consulta, porque buscamos inclusão, participação colaborativa e autonomia de acordo com as palavras que estão ali escritas.

Reconhecemos a importância das ações emergenciais realizadas pela Casa de Governo, mas pedimos por medidas estruturantes que garantam que a desintrusão dos garimpeiros ilegais se mantenha. Pedimos que o Governo construa centros de vigilância e monitoramento em pontos estratégicos de toda a Terra Yanomami e apoiem a formação dos agentes de vigilância ambiental indígena, como está descrito no Urihi noamatima thëpë (Plano de Vigilância Territorial da Terra Indígena Yanomami).

Sobre a saúde de nossos povos, em primeiro lugar, queremos que nossa medicina e ciência tradicional sejam sempre reconhecidos. Em segundo lugar, infelizmente, nossas comunidades ainda observam muitas fragilidades para alcançar uma melhora significativa. Igualmente, as associações tampouco consideram que houve uma reestruturação na saúde indígena, como fora pedido no Fórum de Lideranças de 2023.

O DSEI-YY ainda enfrenta sérios problemas logísticos, como a falta de gasolina e transporte para visitar as nossas casas e a ausência de estruturas adequadas para nos atender: desde locais que permitam a permanência de equipes de saúde próximo de nossas comunidades até um espaço adequado para internações e acompanhamento. Esperamos que o AgSUS possa resolver essas dificuldades. Além disso, entendemos ser necessário um reforço no atendimento à saúde yanomami no estado do Amazonas, que funcione como um “subdistrito”.

Em terceiro lugar, reforçamos que a situação da malária e desnutrição ainda são problemas que nos preocupam muito. Por isso, pedimos, urgentemente, um novo plano de monitoramento de vetores e ações para eliminação da malária. Além disso, preocupados com a desnutrição infantil, pedimos uma avaliação compreensiva, que possibilite a imediata implementação do Alimento Terapêutico Pronto para Uso (ATPU).

Em quarto lugar, pedimos o reconhecimento profissional dos microscopistas indígenas e parteiras; a atualização na formação dos nossos Agentes de Saúde Indígena (AIS) e Agentes Indígena de Saneamento (AISAN) e que os yanomami, ye´kwana, ninam e sanöma sejam incentivados nessas carreiras. Acreditamos que apenas assim, com a nossa participação qualificada, nossa saúde irá melhorar.

Também pensamos muito sobre a contaminação por mercúrio e a falta de acesso à água potável que enfrentamos. Por isto, nosso quinto e último pedido, é que a Saúde Indígena pense em estratégias para monitorar a contaminação por mercúrio nos moradores da Terra Yanomami, assim como da qualidade da água, garantindo o acesso à água potável, de acordo com as especificidades de cada localidade. Alternativas e possibilidades para esses dois problemas precisam ser imediatamente pensadas.

Desejamos também que vocês nos digam quando a entrega de cestas vai terminar, porque queremos mais ferramentas para abrir roças, plantar e colher alimentos. Vocês precisam nos avisar com antecedência, para que possamos nos preparar. Não queremos estar dependentes da alimentação dos brancos, queremos que nossos hábitos alimentares sejam respeitados, porque vez ou outra precisaremos desse apoio. Estamos vivendo um período bastante incerto, por conta das mudanças climáticas.

Ainda dormimos preocupados pensando: “como a floresta vai se recuperar”? É o que colocamos para vocês sonharem, para discutirmos isso em nossa próxima reunião. Queremos que vocês pensem na recuperação de nossas florestas, porque nós, povos originários, somos a floresta.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo ISA, escrito por Fabrício Araújo. Leia completo AQUI.

Técnica utiliza gravadores de som para medir a intensidade da chuva na Amazônia

Foto: Reprodução/Inmet

Compreender e prever as chuvas é um grande desafio, principalmente em regiões remotas como a Amazônia, onde a infraestrutura de monitoramento é limitada. Pesquisadores do Instituto Mamirauá desenvolveram uma abordagem que utiliza gravações de som para medir a intensidade da chuva, medindo o som das gotas ao atingir superfícies. Um artigo detalhando este método inédito foi publicado recentemente na revista Geophysical Research Letters: ‘Measuring Amazon Rainfall Intensity With Sound Recorders‘.

A técnica foi desenvolvida no campus do Instituto Mamirauá, em Tefé, no Amazonas, e testada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá. A partir das gravações do som da chuva, um modelo de aprendizado de máquina foi treinado para prever taxas de precipitação. O método foi testado com sucesso em áreas com diferentes tipos de vegetação e até 30 km de distância do local de calibração, algo inédito para esta técnica.

Essa metodologia, segundo pesquisadores, é promissora, principalmente em regiões com pouca cobertura de sensores tradicionais, como a Amazônia, que enfrenta desafios devido à densa cobertura vegetal, dificultando o uso de métodos convencionais.

Foto: Reprodução/Instituto Mamirauá

Esse avanço tecnológico pode auxiliar na expansão do monitoramento climático em áreas sub-representadas, contribuindo para a gestão de recursos hídricos e a adaptação às mudanças climáticas.

Além disso, há potencial para integrar essa técnica a outros campos, como a ecologia, fornecendo dados sobre o impacto das chuvas no comportamento de espécies e ecossistemas tropicais.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Instituto Mamirauá, escrito por Miguel Monteirio

Cuias feitas por mulheres indígenas na Amazônia abasteciam mercado de luxo europeu no século XVIII

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Cuias ANT. Br. 193 e ANT. Br. 194. Museu da Ciência da Universidade de Coimbra (Foto de foto de Renata Martins, Coimbra, Portugal, 2023. Imagem reproduzida com permissão da Portuguese Research Infrastructure of Scientific Collections)

Utensílios domésticos ou objetos de uso ritual, as cuias estão presentes em vários ambientes culturais do Brasil, especialmente em comunidades indígenas ou ribeirinhas, mas também em grandes cidades da região amazônica, como Belém do Pará.

“Acredita-se que na Amazônia as cuieiras estejam entre as primeiras plantas cultivadas, e que provavelmente seu uso seja ainda mais antigo do que o das cerâmicas”, diz a pesquisadora Renata Maria de Almeida Martins, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) e coordenadora do Labya-Yala – Laboratório de Estudos Decoloniais – e do projeto “Barroco-açu: a América Portuguesa na geografia artística do Sul global” , contemplado com Auxílio à Pesquisa da FAPESP na modalidade Jovens Pesquisadores Fase 2.

No contexto do projeto, Martins fez uma análise detalhada da produção de cuias e cabaças envernizadas na região do Grão-Pará no século XVIII. Esses objetos estão preservados em museus de Portugal. Artigo a respeito foi publicado no periódico Heritage: “Lacquers of the Amazon: Cuias, Cumatê and Colours by Indigenous Women in Grão-Pará in the 18th Century”.

Importante destacar que essas cuias não eram feitas espontaneamente e de forma aleatória, mas produzidas em manufaturas mantidas por colonos ou no âmbito de missões religiosas na Amazônia. O ofício de pintoras de cuias era reconhecido no início do século XVIII. Os produtos dessas “fábricas” eram destinados majoritariamente ao mercado europeu, participando, portanto, do que, já naquele tempo, constituía um processo de globalização.

As cuias ressignificadas eram produzidas principalmente na Vila de Monte Alegre (antes aldeia indígena de Gurupatuba, atual Monte Alegre, Pará), em outras localidades da região do Baixo Amazonas e também em Belém, capital do Estado do Grão-Pará e Maranhão. O naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815), em sua Viagem Filosófica, coletou diversas delas, que, atualmente, fazem parte dos acervos do Museu Maynense da Academia das Ciências de Lisboa e do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra. Em seu relato, Ferreira afirma que entre 5 mil e 6 mil cuias eram produzidas na Vila de Monte Alegre por ano, a maioria delas enviada para Lisboa. “Suas decorações diversificadas e complexas, referenciadas nas tradições indígenas e/ou com inspirações asiáticas e europeias, são exemplos que evidenciam práticas criativas e artísticas de resistência de mulheres indígenas, africanas e mestiças”, informa Martins.

Além de estudar as cuias do século XVIII, a pesquisadora visitou, em 2023, a comunidade de Carapanatuba, na região do Aritapera, Santarém, no Baixo Amazonas, onde esses objetos ainda são produzidos, agora por mulheres livres e empoderadas da região ribeirinha. Reunindo artistas das cinco comunidades do Aritapera, a Associação das Artesãs Ribeirinhas de Santarém (Asarisan), criada em 2003, atuou de forma fundamental para que o “Modo de Fazer Cuias do Baixo Amazonas” fosse inscrito em 2015 no Livro de Registro dos Saberes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), como Patrimônio Cultural do Brasil.

“Constatei, como outros estudiosos igualmente relataram, que, em sua maior parte, a fabricação ainda segue o mesmo processo descrito por Ferreira. Mulheres como dona Lélia Maduro, Silvane Maduro, Marinalva Correia, Francisca Pereira, Socorro Pereira e outras das comunidades da região do Aritapera retêm conhecimentos ancestrais sobre a natureza, os rios, as plantas, os animais do lugar. Bem como sobre o longo processo de preparação de cuias envernizadas com o cumatê e ‘bordadas’ com incisões”, conta Martins.

No jardim que circunda a casa de dona Lélia e de seu marido, o senhor Antônio, existem diferentes tipos de árvores cuieiras (Crescentia cujete), que produzem frutos redondos ou ovais de diversos tamanhos. Eles são colhidos pelas mulheres no ponto exato de maturação desejado: quando, ao serem percutidos, produzem um som específico.

Os frutos são, então, seccionados com facão ou serrote, e as cuias resultantes são colocadas em uma grande panela de água fervente, para que as cascas amoleçam. Depois, a casca externa de cada cuia é cuidadosamente raspada com uma lâmina, a borda é alisada com a língua áspera do peixe pirarucu (Arapaima gigas) e o interior com a escama do mesmo peixe. A preparação final para aplicação do verniz é feita esfregando-se o interior e o exterior com as grandes folhas da árvore embaúba (Cecropia), uma espécie também presente na área próxima à residência da família. A cuia tratada, mas ainda sem verniz, é chamada de “pitinga”.

O processo de “laqueação” é feito com aplicação de tintura de cumatê, um líquido avermelhado produzido a partir da infusão de cascas de outra árvore da região, o cumatezeiro (Myrcia atramentifera). Após serem pintadas com várias camadas de tintura, as cuias são deixadas para descansar sobre um leito de areia ou cinzas e borrifadas com urina humana, permanecendo cobertas por uma noite inteira. A reação química entre componentes da tintura e da urina transforma o tingimento avermelhado em uma espécie de “laca” negra brilhante. Essa técnica, desenvolvida por mulheres indígenas do Baixo Amazonas, produz um resultado comparável e até superior ao da melhor laca da China (Rhus vernicifera ou Rhus verniciflua), conforme relatos do século XVIII.

Nas cuias atuais, produzidas para uso ou comércio, a iconografia de origem indígena, composta de motivos geométricos e abstratos, voltou a ser cada vez mais utilizada. “Porém, mesmo na época colonial, a produção das cuias, além de servir ao mercado de exportação, também atendia a funções importantes no contexto ritual. Em suas memórias, Ferreira relatou a resistência das mulheres indígenas de Monte Alegre em vender certas cuias, que possuíam miçangas e muiraquitãs, por seus significados sensíveis nas relações sociais das comunidades”, pontua Martins.

Produzidas por mulheres, as cuias também são simbolicamente associadas à fecundidade, aos mitos de criação e às antigas práticas de cura dos povos indígenas, sendo ainda hoje muito utilizadas para preparar e verter banhos terapêuticos e benzimentos; como também para servir alimentos típicos da Amazônia, como o tacacá.

Mas, no século XVIII, as oficinas instaladas nas vilas e nas missões religiosas redirecionaram essa tradição ancestral para atender ao mercado europeu, ávido por artigos luxuosos, como também por objetos considerados “exóticos”. Peças asiáticas, ou europeias de inspiração asiática, como porcelanas, sedas, bordados e até crucifixos de marfim, serviram de modelos para objetos de produção local que reinterpretavam aqueles importados.

“Artistas indígenas e afro-indígenas utilizavam técnicas como o embutido, a incrustação e o douramento, adaptando materiais amazônicos e plantas como a copaíba (Copaifera langsdorffii) e o jutaí (Hymenaea courbaril), por exemplo, para criar efeitos similares ao dourado presente nos objetos asiáticos. A participação das mulheres indígenas, a sua intimidade com a natureza da floresta, foi fundamental nesse processo. Tal contribuição e protagonismo, muitas vezes invisibilizados, são essenciais para compreender a complexidade das relações culturais e artísticas na Amazônia da época colonial e na atualidade”, conclui Martins.

O artigo “Lacquers of the Amazon: Cuias, Cumatê and Colours by Indigenous Women in Grão-Pará in the 18th Century” pode ser acessado em https://www.mdpi.com/2571-9408/7/9/230.

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência Fapesp, escrito por José Tadeu Arantes

Edson Paiva: uma história no Rádio e na TV no Amazonas

Edson Paiva. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Por Abrahim Baze – literatura@amazonsat.com.br

Entre tantos títulos dos programas produzidos e apresentados por Edson Paiva, este foi o de maior destaque: “Esta Noite Feliz de Todos Nós”. Este era o título de um programa que fez muito sucesso na década de 70. Embalado pelo som da Jovem Guarda, que era grande sucesso na época, esse programa era obrigatório todos os sábados, quando Manaus ainda não tinha televisão. Foi um tempo em que, as rádios comandavam a programação. No comando, um disque jóquei de voz firme, porém agradável, que tratava as meninas da época por “guria” e prendia a atenção dos seus ouvintes. Seu nome: Edson Paiva, esse amigo de sempre.

Foram mais de três décadas atuando no rádio em Manaus. Edson Ribeiro Paiva, amazonense de Manaus, capricorniano e naturalmente torcedor do Clube de Regatas Flamengo. Sua primeira participação no rádio foi em 26 de março de 1956. Edson Paiva comentava sempre como fato inusitado.

Naquela época, a rádio Rio Mar que funcionava no antigo Iapetec estava contratando locutores comerciais. Duzentos candidatos fizeram a inscrição, dentre eles Edson Paiva e Deni Menezes, por ironia do destino Deni Menezes não fora classificado e mais tarde transferiu-se para o Rio de Janeiro, tornando-se repórter esportivo da Rede Globo.

Edson Paiva, Nonato Oliveira, Luiz Fabiano, Epami, com o cantor Roberto Carlos em sua primeira visita à Manaus, em 1968. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

No dia seguinte, o grupo de amigos de Edson e Deni, que costumava se reunir na Praça Dom Pedro II, em frente a antiga sede da Prefeitura Municipal, parabenizava Edson Paiva, afinal ele havia sido escolhido por Wilma Pinheiro, considerada na época a mais bela voz feminina que o rádio amazonense já projetou.

Sob a direção de Alfredo Fernandes, a rádio Rio Mar era na época uma das maiores audiências do rádio em Manaus e, após alguns anos na emissora, Edson Paiva resolveu acompanhar com a amizade muito próxima de Deni Menezes, que se encontrava no Rio de Janeiro e trabalhava, na época, na área de esporte da rádio nacional.

Inicialmente, Deni Menezes tentou ingressar na Rádio JB, onde Alberto Cury comandava uma equipe de primeira linha que posteriormente cedeu aos argumentos de Deni Menezes, da equipe de esporte da Rádio Nacional.

A primeira participação de Edson Paiva como repórter de campo ocorreu no jogo Flamengo e Vitória da Bahia, com o Flamengo vencendo a Bahia por 4×1, em partida realizada em Teixeira de Castro. Além de integrar a equipe que, entre outros, contava com Jorge Cury e Oswaldo Moreira, Edson Paiva apresentava o musical Philips, no Rio de Janeiro, de grande audiência na época e tomava parte da resenha esportiva ‘Três no Mundo da Bola’.

Edson Paiva comentava com orgulho com os amigos que, em certa ocasião, faltou o terceiro apresentador e o programa foi ao ar com sua participação e de Deni Menezes, o que motivou uma declaração escrita por Deni no livro de Rádio Nacional (pela primeira vez dois amazonenses apresentam junto um programa no Rio de Janeiro).

Edson Paiva não esquecia sua cidade natal e resolve voltar a Manaus. A Jovem Guarda já começava a alcançar as paradas de sucesso, era comum na época os jovens usarem cabelos compridos, Roberto Carlos fazia sucesso com a música ‘Calhambeque’ e é nesse período que Edson chega a Manaus, naturalmente indo outra vez trabalhar na Rádio Rio Mar.

Walter Santos que era na época o representante da CBS, deixara a companhia, passando a Edson Paiva que resolveu montar um novo programa para alcançar principalmente um público jovem. Nascia assim, o programa semanal ‘Esta Noite Feliz de Todos Nós’, que era apresentado aos sábados, às 20h.

Da esquerda para a direita: João Silva, Epami, o cantor Carlos Alberto e Edson Paiva. Década de 1960. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Foi um programa de muito sucesso, as cartas e telefonemas eram constante mostrando que o novo programa tinha conquistado o público, cujo sucesso principal era os novos lançamentos da Jovem Guarda. Nas noites de sábado, Edson Paiva oferecia pelas ondas do rádio os cantores como Lenon e Lilian, Deny e Dino, Roberto Carlos, Wanderleia, Martinha, Os Vips, entre tantos, que marcaram época na Jovem Guarda.

Edson Paiva deixa a Rádio Rio Mar para trabalhar na Rádio Difusora, onde lançou o programa ‘Viva a Juventude’, que manteve novo sucesso, porém novamente sai da Difusora para a Rádio Baré, onde permaneceu até 1979.

Edson Paiva ficou um período afastado dos microfones até 1982, pois passou a representar a Empresa CBS em Manaus, como representante divulgador e, mais tarde, convidado que foi para Rádio Difusora FM, cuja passagem durou mais ou menos um ano. Foi chamado novamente para Rádio Rio Mar, onde assume a direção comercial da empresa. Na década de 80, apresentou o Jornal Baré da TV Baré (hoje TV À Crítica).

Entre as idas e vindas, ele declarava que não podia viver longe dos microfones. A prova disto é que estava de volta ao rádio, desta vez pelas ondas tropicais da Rádio Ajuricaba, onde de segunda a sábado apresentava o programa ‘Tempo de Amar’, que apesar da simplicidade tinha marca do bom gosto do apresentador. O programa destinava-se principalmente aos solitários, amantes da boa música romântica e procurava estabelecer um contato direto com seus ouvintes por telefone.

Na verdade não podemos ignorar a força do rádio, mas será possível que um “disc jockey” (DJ) evitaria que alguém cometesse um suicídio? Pois foi possível. Edson recordava que quando apresentava o programa ‘Esta Noite Feliz de Todos Nós’, costumava fazer a abertura com mensagens espirituais, com Emanuel ou André Luís, e um dia ele recebeu uma carta de uma ouvinte da região do Cambixe. Na carta, a ouvinte contava que, havia sido seduzida e só não chegara ao suicídio, porque ouvia as mensagens lidas no programa.

À esquerda: Edson Paiva, o cantor Carlos Alberto de João Silva, da Novidade Discos. À direita: Jogo do Nacional e Fluminense em 1957, repórter esportivo da Rádio Globo, Deni Menezes, ao lado do árbitro Odail Braga Martins. (Registro de Rui Heliandro Sá Valente). Fotos: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Edson Paiva amou fazer rádio. Foram mais de três décadas. Homem que seguia as orientações espíritas e com humildade guardou consigo as orientações do amigo Jaime Rebelo, da Rádio Baré. Em termos nacionais, afirmava que Aroldo de Andrade era o símbolo da Rádio no Brasil.

Edson Paiva foi casado com Maria da Conceição Corrêa Paiva, em 28 de dezembro de 1965, fruto desse casamento nasceram dois filhos, Yara Cláudia Corrêa Paiva e Edson Ribeiro Paiva Júnior.

Edson Paiva nasceu em 3 de janeiro de 1938 e faleceu no dia 3 de novembro de 2013, escrevendo uma bela história do Rádio Amazonense.

Aeroporto de Ponta Pelada, 1968. Foto: Ediúcio de Castro Alves/Acervo pessoal

Como renasceu o amor …

“… Estava eu no aeroporto de Ponta Pelada, nos idos de 1962, para recepcionar uma tia que chegava do Rio de Janeiro, quando me deparo com a bela figura de um rapaz, também chegando do Rio.

Estávamos todos aguardando que passasse o temporal que se abatera na cidade quando, para minha surpresa (e alegria), o belo rapaz se aproxima de mim e se apresenta. Então, passamos a conversar assuntos triviais, apenas para justificar a aproximação.

Na época ainda não dispúnhamos da tecnologia de celulares e nem eu possuía telefone. Então, combinamos um encontro na boate de domingo no Atlético Rio Negro Clube, que funcionava no parque aquático, entre 20h e 23h.

No domingo seguinte, para minha tristeza o belo rapaz que se chamava Edson Paiva, não apareceu. Então pensei: “quem sou eu para chamar a atenção de um moço recém-chegado do Rio” … Enfim …

Mas … no domingo seguinte … estava no parque aquático quando vejo surgir Edson Paiva! Dançamos, conversamos, combinamos novo encontro.

Nesse novo encontro, eu que já estava caidinha pelo moço, ele me disse que tinha resolvido não voltar mais para o Rio de Janeiro, para se estabelecer em Manaus, onde morava sua família.

Mas … (novamente o mas …) não continuaríamos com nossos encontros, pois iria recomeçar do zero e não poderia assumir um compromisso comigo.

Então eu, audaciosamente, perguntei: “Eu não posso fazer parte desse recomeço?”

E foi assim que nosso Amor se reencontrou por 50 anos, nesta vida e, que seguirá pela eternidade, porque a Vida continua …

Eu sou Conceição Paiva e esta é a nossa história.

*Informações cedidas pela senhora Maria da Conceição Corrêa Paiva.

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Treme-treme: você sabia que as abelhas sem ferrão “dançam” para se comunicar?

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Foto: Kemilla Sarmento Rebelo/Acervo pessoal

Além de essenciais para a manutenção da vida no planeta, as abelhas tem um complexo sistema de organização e diferentes formas de comunicação entre si e que variam de acordo com as espécies.

Para orientar outras abelhas campeiras sobre localização de alimentos, elas…dançam. “Já outras fazem movimentos com as asas e algumas fazem algum tipo de barulho”, explica a agrônoma Wilza Pinto, pesquisadora da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra).

Leia também: Meliponicultura: Entenda o universo das abelhas sem ferrão na Amazônia

Segundo a pesquisadora, essa são estratégias de comunicação importantes para a sobrevivência das espécies e das colônias. “Com esses movimentos, elas transmitem informações entre si sobre onde estão as fontes de alimento, incluindo a disponibilidade, a localização exata e o cheiro”, diz.

A coreografia e os movimentos conseguem transmitir com exatidão a localização. “Funciona como se fosse um gps”, diz Wilza Pinto.

Treme

A pesquisadora explica que as abelhas com ferrão Apis Mellifera fazem movimentos circulares para informar para o restante de suas companheiras de ninho a localização da fonte de alimento.

“Já as abelhas sem ferrão, ou nativas, podem se comunicar por meio de vibrações, assim como a Apis mellifera também faz. Elas literalmente fazem um treme treme. Quanto mais intensa a vibração, maior a qualidade do alimento”. E ainda há um terceiro grupo de abelhas sociais, conhecidas como mamangavas-de-chão, que produzem sons para transmitir informações.

Preservação

Essas pequenas dançarinas são essenciais para a vida no planeta. Estima-se que mais de 90% das plantas com flores dependem de polinizadores animais. Esses polinizadores estão distribuídos em 250 espécies, destes 87% são abelhas.

Wilza Pinto alerta que algumas espécies vegetais somente as abelhas polinizam. E que a relação entre abelhas e flores é de mutualismo, ou seja, ambas as espécies se beneficiam da interação.

“É importante preservar a vegetação primeiro para que as abelhas tenham condições de sobrevivência e vice-versa já que existe mutualismo na relação. Preservar o meio ambiente significa preservar todos os seres nele presente”.

*Com informações da UFRA