Primeiro lugar em três competições, os Karipunas foram o maior destaque dos Jogos Interculturais Indígenas, realizado este ano em Oiapoque (AP). As competições encerraram no sábado (30), durante o 2º Festival e Feira Cultural dos Povos Indígenas do Amapá e Norte do Pará, organizadas pelo Governo do Estado com apoio de parceiros.
Foram três dias de disputas entre times que representaram nove etnias. O povo Karipuna venceu nas modalidades futebol, no masculino e no feminino, e corrida com tora, no feminino. Com o objetivo de enaltecer as tradições e costumes e integrar os povos, o festival reuniu cerca de 600 indígenas em atividades na aldeia do Manga, em Oiapoque, e na sede do município.
“Treinamos há semanas, nos dedicando às modalidades e levamos no futebol e corrida com tora. A gente está muito feliz porque o futebol é uma modalidade que gostamos muito, que jogamos praticamente todos os dias aqui nesse campo”, celebrou Ingrid Monteiro, de 33 anos, jogadora Karipuna que competiu no futebol e na corrida com tora de madeira.
Além dos jogos, o evento contou com artesanato, artes visuais, pintura corporal, atividades culturais, feira gastronômica e atendimentos de saúde por meio da Coordenação de Saúde Indígena da Secretaria de Estado da Saúde, com atendimento médico, primeiros socorros, assistência farmacêutica, encaminhamentos para especialidades, e curativos.
Foto: Max Renê/GEA
“O Governo fez e faz políticas públicas pensadas em conjunto com as comunidades, como, por exemplo, estes jogos, que foi uma demanda dos povos indígenas. Esse tipo de programação mostra a força de vontade e a resistência da população indígena. Promover os esportes nas aldeias é também trazer bem-estar”, destacou a secretária dos Povos Indígenas, Sônia Jeanjacque.
Além da Secretaria dos Povos Indígenas (Sepi), o festival foi coordenado pelas secretarias de Estado do Trabalho e Empreendedorismo (Sete), Bem-Estar Animal, Cultura (Secult), Turismo (Setur), Ciência e Tecnologia (Setec), Desporto e Lazer (Sedel), Saúde (Sesa) e Comunicação (Secom).
A programação foi realizada em parceria com a Prefeitura de Oiapoque, Fundação Estadual de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Amapá (Fundação Marabaixo); Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai); Tribunal de Justiça do Amapá (Tjap); Universidade Federal do Amapá (Unifap); Amapatec; Instituto de Desenvolvimento Rural (Rurap); Corpo de Bombeiro Militar do Amapá, Defesa Civil Estadual e o Exército Brasileiro.
Confira o resultado dos jogos:
Futebol (masculino): Povo Karipuna Futebol (feminino): Povo Karipuna Cabo de força (masculino): Povo Palikur Cabo de força (feminino): Povo Galibi Maruõrno Arco Flexa (masculino): Edervan (Povo Galibi Kalinãn) Arco Flexa (feminino): Samira (Povo Apalay) Zarabatãna (masculino): Vagson (Povo Galibi Maruõrno) Zarabatãna (feminino): Marisele (Povo Palikur) Corrida com tora (masculino): Povo Tiriyó Corrida com tora (feminino): Povo Karipuna
O Campus Guamá, da Universidade Federal do Pará (UFPA), recebeu, na última semana, a visita de uma comitiva de representantes de Instituições de Ensino Superior do Peru para conhecer a estrutura de ensino da UFPA, bem como o Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá. O objetivo do encontro foi conhecer a forma como a Universidade atua na região amazônica, com vistas às futuras cooperações técnico-científicas que possam vir a ser realizadas entre a Federal paraense e as instituições da Amazônia peruana.
Liderada pelo engenheiro Arturo Coral Alamo, CEO de Hero Startup (Lima), a comitiva foi formada por Oliver Vasquez, da Universidad Señor de Sipan (Chiclayo); Manuel Sanchez, da Universidad Nacional de Frontera (Sullana); e Abraham Caso Torres, da Universidad Nacional de Ingeniería (Lima). Os visitantes foram recebidos pelo reitor da UFPA, Gilmar Pereira da Silva, e pelos professores Marcelo Galvão, coordenador do Centro de Internacionalização; Rodrigo Quites Reis, diretor-presidente da Fundação Guamá (PCT-Guamá); e Filipe Saraiva, diretor da Agência de Inovação Tecnológica da UFPA (Universitec).
Ao apresentar a UFPA, o reitor Gilmar Pereira da Silva comentou a importância de se ter uma instituição do tamanho e alcance da UFPA, com 12 campi em diferentes regiões do estado, com uma produção científica significativa para a sociedade. Hoje, o desafio está em tornar possível o compartilhamento desse conhecimento com todo mundo, especialmente com aqueles que vivenciam realidades parecidas com as vivenciadas nos territórios onde a Universidade está presente.
“Nós temos aqui a tarefa de pensar a internacionalização incluindo uma cooperação sul-sul, que inclui América Latina e África, sobretudo porque os países que aqui estão incluídos têm uma relação muito próxima e problemas parecidos. Então, para nós, é uma alegria poder recebê-los aqui para que possamos fortalecer, ainda mais, este contato, realizando um conjunto de ações que nos aproxime”, pontuou o reitor da UFPA, Gilmar Pereira da Silva, ao apresentar a Universidade aos visitantes.
Atento a todas as informações sobre como funciona essa grande universidade multicampi na Amazônia e, especialmente, como se desenvolvem as ações de inovação tecnológica para a região, Oliver Vasquez, diretor do Centro Produção da Universidad Señor de Sipan, comentou a satisfação em poder prospectar futuras atuações conjuntas.
“Estamos felizes com a acolhida e atenção que estamos recebendo. A nossa expectativa é que possamos ter uma relação mais próxima, pois temos problemas que vocês já conseguiram superar e acreditamos que, se vocês nos ajudarem, não mediremos esforços para que esses nossos desafios também sejam superados”, apontou o dirigente peruano.
Também pensando nas possibilidades de parcerias futuras, Arturo Coral Alamo, responsável por reunir o grupo e, em parceria com o professor Rodrigo Quites Reis, por organizar a visita à UFPA, ressaltou a importância de serem pensados, com urgência, outros encontros entre representantes das instituições da Amazônia peruana e da UFPA, principalmente com vistas à criação de um conselho dos países do triângulo amazônico, para que todos possam ter a mesma visão acerca do que está sendo produzido na região.
“O que nós estamos buscando é aproximar a relação das nossas universidades com todo o conhecimento que vocês têm. O fato de vocês terem uma universidade funcionando no mesmo ambiente que um Parque Científico e Tecnológico, com todo esse conhecimento sobre inovação, para nós é muito novo, principalmente para as universidades que estão nesta mesma região amazônica”, comentou Arturo Coral Alamo.
Centro de Internacionalização
Após a reunião, os visitantes foram convidados a conhecer alguns dos espaços que integram o Centro de Internacionalização da UFPA, entre os quais estiveram a Casa Brasil África, a Casa de Estudos Germânicos, o Centro de Recursos Didáticos de Espanhol, o Espaço Fulbright Interdisciplinary Network e o espaço dedicado à Cátedra João Lúcio de Azevedo (Camões, I.P. UFPA).
“O Centro de Internacionalização tem um grande desafio, que é acolher pesquisadores e estudantes de vários países do mundo com uma grande estrutura designada para este fim. Então, nós estamos aqui vocacionados para fomentar a internacionalização e fazer com que todos os estudantes e professores sejam bem recebidos quando vierem para cá e possam se integrar às nossas atividades na UFPA”, explicou aos visitantes o coordenador do Centro, professor Marcelo Galvão.
Durante o reconhecimento dos espaços, os visitantes aproveitaram também para lembrar o fato de muitos acadêmicos peruanos optarem pelo aprendizado de português como segundo idioma, tornando interessante a assinatura de cooperação para a prática dos idiomas nativos de ambos os países. A ideia é que sejam criados clubes de idiomas em que estudantes brasileiros possam praticar o espanhol e estudantes peruanos possam praticar o português a fim de atender, principalmente, às necessidades de um segundo idioma para o prosseguimento da carreira acadêmica na pós-graduação.
A cafeicultora de Rolim de Moura (RO), Sueli Berdes, dona do café eleito o melhor do Brasil produzido por mulheres no Concurso Nacional de Cafés “Florada Premiada 2024“, trabalhou ao lado de toda a família para conquistar o primeiro lugar na competição.
Sueli contou ao Grupo Rede Amazônica que comprou suas terras em 2018 e iniciou o plantio do café em 2019. No começo, foram três mil pés de café, mas, com o apoio do governo do Estado, a produtora aumentou para 5.550 pés em sua propriedade.
A família de Sueli participa de todo o processo, realizado de forma quase artesanal, desde o plantio até a colheita e fermentação dos grãos. Antes de ser comercializado, o café é cuidadosamente monitorado para garantir que o sabor seja mantido.
“São colhidos somente os grãos maduros, lavados, retiradas as impurezas e os grãos verdes, e depois levamos aos biorreatores para o processo de fermentação. Após essa etapa, os grãos são levados para um terreiro suspenso com estufa e mexidos de hora em hora para que a qualidade e o sabor dos grãos sejam preservados”, revelou Sueli.
Foto: Sueli Berdes/Arquivo pessoal
A produtora de café e sua família participam de concursos de café desde 2022, mas este ano foi a primeira vez que Sueli competiu no Florada Premiada. O café alcançou o primeiro lugar na competição com 90,44 pontos. Ela acredita que o bom desempenho em sua estreia no concurso é fruto da persistência do trabalho no campo.
“Quando veio o resultado, foi espetacular, até parece um sonho, que não é real. No início, o processo foi difícil e trabalhoso, mas tínhamos a certeza do que queríamos alcançar, e desistir não estava em nossos planos. Nossa paixão pelo café e pela terra é maior do que as dificuldades que podiam surgir”, disse a cafeicultora.
A cada plantio, a produtora diz ganhar mais experiência e aprimorar a qualidade dos grãos. A união familiar torna tudo mais gratificante. Além disso, ela destaca a importância da participação feminina do estado em concursos como o Florada Premiada, que são oportunidades para mostrar a força da mulher produtora de Rondônia.
“Acredito que todas possam alcançar seus sonhos e objetivos, assim como eu alcancei o meu este ano. Esse concurso é uma oportunidade para a valorização do nosso trabalho”, pontuou Sueli.
O TEDxAmazônia teve início nesta sexta-feira (29), com o objetivo de ser mais do que um evento — um marco no debate sobre soluções para o enfrentamento da emergência climática. Com programação até este domingo (1º), o encontro é realizado em Manaus (AM), com abertura no histórico Teatro Amazonas.
A ancestralidade coletiva e a necessidade do seu equilíbrio com os elementos naturais que sustentam a vida – terra, fogo, água e ar, é o conceito central da nova edição do TEDxAmazônia. O encontro reúne 30 palestrantes e 400 participantes em uma programação com talks e experiência imersiva.
“A Amazônia é o epicentro de discussões sobre o futuro do planeta. O TEDxAmazônia é uma plataforma para amplificar as vozes que estão moldando o presente e o futuro dessa região única. Nossa missão é inspirar ações transformadoras por meio do poder das ideias”, destacou Rodrigo Cunha, organizador licenciado e curador do evento.
A lista de palestrantes é composta com a colaboração de organizações que fazem parte do território e atuam pela Amazônia. Alguns confirmados são a ministra dos povos indígenas, Sônia Guajajara, a cantora Fafá de Belém, o arqueólogo Eduardo Neves, a linguista Altaci Kokama, a cientista ambiental Luciana Gatti, o professor Aiala Colares e outros.
O TEDxAmazônia tem apoio institucional da Profile, agência de comunicação com foco em sustentabilidade e ESG, do Instituto Igarapé, think and do tank independente, que conduz pesquisas e políticas baseadas em dados e evidências para melhorar a segurança pública, digital e climática no Brasil e em todo o mundo; e de Uma Concertação pela Amazônia, rede ampla, diversa e plural de pessoas, instituições e empresas formada para buscar soluções para a conservação e o desenvolvimento sustentável deste território e a melhoria da qualidade de vida daqueles que vivem nele.
“O apoio a momentos como o TEDx Amazônia, onde conversas e reflexões sobre os saberes e a ancestralidade que povoam a Amazônia acontecerão em profundidade, vai totalmente ao encontro da essência e da missão do Instituto Igarapé. A única maneira de reverter as mudanças climáticas, acabar com o desmatamento, proteger a natureza e as gerações futuras é ouvindo, respeitando e nos unindo pela proteção dos povos indígenas e tradicionais em toda a Amazônia”, complementou Ilona Szabó, cofundadora e presidente do Instituto
Com o objetivo de alcançar uma audiência global, o TEDxAmazônia é transmitido ao vivo em português, inglês e espanhol. A iniciativa busca amplificar as vozes da floresta e garantir que as discussões e soluções propostas possam impactar audiências em diferentes partes do mundo.
O TEDxAmazônia é realizado pelo Ministério da Cultura e tem patrocínio do Grupo CCR, por meio do Instituto CCR, Mercado Livre, Suzano e Latam.
Outras edições
Em 2023, o TEDxAmazônia contou com nomes como a Ministra Marina Silva, o arquiteto urbanista Dror Benshetrit, a líder indígena Narubia Werreria, o pesquisador Draulio Araújo, entre outros em um time de 46 palestrantes.
O evento chegou a milhares de pessoas pelas redes sociais e pela transmissão online em português, inglês e espanhol. Contou com 500 participantes de todas as partes da Amazônia brasileira e com pessoas de outros países. No ano que vem, o TEDxAmazônia também terá uma edição em Belém, de 6-8 junho, como parte da programação brasileira pré-COP30.
O primeiro TEDx Amazônia aconteceu em 2010, em Manaus. Os organizadores desta edição foram os mesmos do TEDxSão Paulo, evento que reuniu mais de 800 pessoas, no ano de 2009, e foi considerado um dos quatro melhores TEDx do mundo, junto com Tóquio, Amsterdã e Paris.
Depois de 13 anos, o TEDxAmazônia voltou em novembro de 2023, pelas margens do Rio Negro, para unir vozes que se manifestam pela Amazônia e por quem a vive. A edição do ano passado foi um dos 12 eventos de vários países do mundo que fizeram parte do TED Countdown, iniciativa com foco em clima do TED. Cerca de 500 pessoas participaram em quatro dias de experiências imersivas.
O TEDxAmazônia faz parte da plataforma que já alcançou mais de 230 milhões de pessoas com as famosas TED talks, e que transformaram a maneira como as pessoas recebem e compartilham informação na última década.
Sobre o TEDx
No espírito de ideias que valem a pena serem espalhadas, o TEDx é um programa de eventos locais e auto-organizados que reúnem pessoas para compartilhar uma experiência semelhante ao TED. Em um evento TEDx, os vídeos das palestras TED e os palestrantes ao vivo se unem para gerar uma profunda discussão e conexão.
Esses eventos locais e independentes têm a marca TEDx, onde x = evento TED organizado de forma independente. A Conferência TED fornece orientação geral para o programa TEDx, mas os eventos TEDx individuais são independentes.
Pesquisadores do Instituto Peruano de Pesquisas da Amazônia (IIAP) realizam um estudo para determinar os fluxos de gases de efeito estufa em uma floresta inundada na selva de Loreto, o comportamento ambiental dos aguajales e sua contribuição para a captura de dióxido de carbono, destacou o Ministério de Meio Ambiente (Minam).
A pesquisa é realizada com o apoio de uma torre de 42 metros de altura, com dispositivos tecnológicos e sensores de alta precisão colocados em sua parte mais alta e no solo, bem como em árvores e palmeiras.
Com o apoio desta tecnologia, os especialistas do IIAP monitoram a dinâmica destes espaços florestais amazônicos onde predomina o aguaje, um tipo de palmeira que abunda em áreas propensas a inundações (aguajajes) que armazenam milhões de toneladas de matéria orgânica em diferentes estados de saúde sob sua superfície, conhecidas como turfeiras.
Segundo Lizardo Fachin, pesquisador do IIAP, graças a esta torre são geradas informações sobre o dióxido de carbono e outras informações como o metano e o óxido nitroso que são capturados nos aguajales. Para esta pesquisa, os cientistas utilizam a metodologia Eddy Covariance, que mede a troca de gases entre o ecossistema e a atmosfera. Isto ajuda a compreender o papel que o território desempenha: se seu comportamento é como emissor ou sumidouro de carbono.
“Aqui observamos a situação situacional de um aguajal próximo à cidade de Iquitos, à rodovia e às comunidades onde há intervenção humana. É assim que recolhemos dados para compreender e analisar o que acontece com outras zonas úmidas que estão localizadas perto de uma cidade com elevada intervenção humana”, comentou Jhon Rengifo, especialista do IIAP.
Três vezes por semana, ele realiza a tarefa de subir na torre, com todas as medidas de segurança, para coletar as informações registradas pelos sensores. Essa tarefa leva aproximadamente 30 minutos, graças à sua capacidade de escalar uma alta estrutura metálica.
Isto permite a medição simultânea da direção do vento turbulento e das variações na concentração de gases de efeito estufa. Com os dados registrados simultaneamente milhares de vezes por minuto e por meio de uma série de equações, são obtidas estimativas do movimento dos gases que saem e entram no aguajal.
Tudo isso seguindo padrões internacionais estabelecidos por diferentes organizações, as mesmas que contribuem para uma base de dados internacional FLUXNET, da qual o IIAP faz parte através da AmeriFlux. Este projeto setorial teve início em 2018 com o apoio do ‘Projeto SWAM’ da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional e do Departamento de Energia daquele país, bem como de outras instituições internacionais.
Aguajales em Loreto
Esta torre foi instalada no final de 2018 e é a primeira do gênero situada num aguajal do Complexo Turístico de Quistococha da Governo Regional de Loreto. A informação especializada é tratada pela equipa do IIAP e por especialistas estrangeiros antes de ser reportada às entidades competentes. A informação gerada é de vital utilidade para as autoridades nacionais que a aplicarão nas suas diretrizes e planos ambientais.
Atualmente, estima-se que em Loreto existam cinco milhões de hectares de aguajales, o que representa 3 bilhões de toneladas de carbono armazenadas na forma de turfeiras. Conhecer o seu comportamento e importância é muito importante para ajudar a mitigar as alterações climáticas.
Agroextrativista em Breves, Maciel Toledo segura cacho de açaí. Foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP
Com 21 anos, William Batista é um entusiasta das tecnologias digitais. Apesar da internet lenta disponível na comunidade onde vive, Jupatituba, no município de Breves (PA), na Ilha do Marajó, ele usa o celular para postar vídeos e estudar para o curso de magistério.
O futuro professor, no entanto, quer ir além. Espera usar tecnologia para cuidar das terras da família, onde maneja o açaí. “Com um drone poderíamos fazer um mapeamento e identificar as áreas mais adequadas para o plantio, sem ter de necessariamente ir até o local, que muitas vezes é de difícil acesso”, conta Batista.
A demanda foi uma das muitas ouvidas pelos pesquisadores do Centro de Ciência para o Desenvolvimento em Agricultura Digital (Semear Digital) durante visita à comunidade em outubro de 2024, acompanhada pela Agência FAPESP.
Sediado na Embrapa Agricultura Digital, em Campinas, o Semear Digital é um dos Centros de Ciência para o Desenvolvimento (CCDs) apoiados pela FAPESP. Seu objetivo é levar conectividade, capacitação e desenvolvimento de tecnologias de agricultura digital para pequenos e médios produtores das cinco regiões do país, por meio de dez Distritos Agrotecnológicos (DATs).
“Esse DAT foi selecionado a partir de uma metodologia onde avaliamos indicadores econômicos, ambientais e sociais entre os mais de 5 mil municípios do Brasil. Breves foi aquele que apresentou mais desafios na Amazônia, tanto do ponto de vista da conectividade quanto do próprio bioma”, explica Silvia Massruhá, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e coordenadora do Semear Digital.
Reprodução: YouTube/Agência FAPESP
O projeto tem ainda como instituições associadas o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD), a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), o Instituto Agronômico (IAC), o Instituto de Economia Agrícola (IEA), o Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel) e a Universidade Federal de Lavras (UFLA).
O DAT de Breves terá como foco a cadeia produtiva do açaí e o manejo de abelhas nativas. Atualmente, a Embrapa Amazônia Oriental, com sede em Belém, realiza atividades afins neste e em outros municípios da Ilha do Marajó. Por isso, a unidade da empresa será o ponto focal do projeto na localidade.
Massruhá conta que, durante as atividades junto aos produtores, os pesquisadores perceberam que as pessoas levavam o celular para o campo, mesmo que este não tivesse propriamente uma função na atividade. Foi aí que viram o potencial para desenvolver aplicações que pudessem apoiar, por exemplo, o manejo de mínimo impacto de açaizais nativos, uma tecnologia desenvolvida pela Embrapa.
Neste caso, o aplicativo criado foi o Manejatech Açaí, por meio do qual é possível fazer o inventário dos açaizais de uma área e aplicar os métodos mais adequados de manejo, como espaçamento entre as plantas e o número de árvores de outras espécies que devem estar no mesmo espaço. A aplicação funciona mesmo sem acesso à internet.
Foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP
“Eram informações coletadas pelos pesquisadores, levadas para a Embrapa, processadas e trazidas em outra visita. Hoje, com a tecnologia, você pode fazer isso de forma instantânea, dando agilidade entre a pesquisa e a adoção da tecnologia”, analisa Massruhá.
Açaí e mel
O Semear Digital vai apoiar ainda uma atividade recente na região, com grande potencial de geração de renda aos agricultores: a melipolinicultura. A criação de abelhas nativas, sem ferrão, ajuda a conservar espécies desse inseto social ameaçadas justamente pela atividade humana, ao mesmo tempo em que aumenta a produtividade dos açaizais entre 30% e 70%, a depender da espécie e da distância das colmeias em relação às flores do açaizeiro.
Foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP.
“As abelhas sem ferrão têm um vínculo muito próximo com a cultura do açaí, principalmente porque uma boa parte delas são abelhas pequenas, então conseguem polinizar as flores dos açaizeiros. Existe uma relação antiga entre as populações da região e as abelhas, mas esse conhecimento foi perdido por uma série de fatores”, narra Daniel Santiago Pereira, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental.
O pesquisador acrescenta que, entre as diversas espécies de abelhas nativas, muitas exclusivas da Ilha do Marajó, algumas produzem méis com propriedades bioativas diferentes das encontradas nos mais conhecidos, o que pode ter um grande apelo de mercado.
“A conectividade vem para facilitar a interação com o maior número possível de produtores, possibilitando que esse conhecimento possa ser novamente apropriado por essas populações”, acredita Pereira.
Atualmente, a Embrapa Amazônia Oriental disponibiliza duas aplicações digitais voltadas à melipolinicultura. O Infobee agrega informações sobre as diferentes espécies e formas de manejo. Enquanto o Zapbee usa inteligência artificial para permitir que melipolinicultores possam tirar dúvidas pelo Whatsapp com um robô sobre a criação de abelhas, tanto nativas quanto introduzidas.
“Estamos aprimorando a tecnologia para que as pessoas possam mandar mensagens de voz e receberem as respostas também em áudio, facilitando o acesso mesmo para aqueles com baixa escolaridade”, afirma Michell Costa, analista da Embrapa Amazônia Oriental.
Demandas
Com cerca de 40 mil quilômetros quadrados (km2), a Ilha do Marajó tem em torno de 97% de áreas naturais, exercendo grande contribuição para a regulação climática e a manutenção da biodiversidade.
O município de Breves, com pouco mais de 106 mil habitantes, possui cerca de metade da população na área urbana, que ocupa cerca de 9,3 km2, um milésimo do território do município, de mais de 9 mil km2 (a área da cidade de São Paulo, por exemplo, é de pouco de mais de 1,5 mil km2).
Em 2022, apenas 6,1% dos domicílios estavam conectados à rede de esgoto e 9% da população tinha emprego formal. No Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o município figura com a marca de 0,503, pouco acima da vizinha Melgaço, cidade com o pior desempenho do Brasil (0,418) e bem abaixo da primeira colocada, São Caetano do Sul (SP) (0,862). Os números de IDH disponíveis para o Brasil, porém, são de 2010.
Assim como os outros nove Distritos Agrotecnológicos do Semear Digital distribuídos no Brasil, o município foi escolhido por meio de uma metodologia desenvolvida no Instituto de Economia Agrícola, órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Entre os mais de 5 mil municípios brasileiros, foram cruzadas oito variáveis, como educação, economia, infraestrutura e estrutura fundiária, e, a partir delas, 33 indicadores. A ideia era que, nos municípios escolhidos, a implantação do projeto pudesse causar impacto real na população e na agricultura. A partir de uma lista com os mais adequados na região Norte, Breves foi escolhido levando em consideração fatores adicionais, como governança local e atividade agropecuária.
“Esse é um DAT com características muito diferentes dos outros selecionados no Brasil, pois a base de sua economia agrícola é o extrativismo. Além disso, possui dificuldades de mobilidade entre as comunidades. Estamos certos de que a agricultura digital e a conectividade causarão grande impacto não só na população ribeirinha, mas também em toda a cadeia de valor do açaí e do mel”, diz Priscilla Fagundes, pesquisadora do IEA.
A principal tarefa na primeira visita foi justamente o levantamento das demandas da população. A ideia era entender como a agricultura digital pode ajudar na produção do açaí, principal produto da região, e na melipolinicultura, que ainda dá os primeiros passos no território.
Foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP.
“Como em todos os outros DATs que instalamos, a primeira necessidade relatada aqui é o próprio acesso à internet de qualidade. Uma das ideias é usar a conectividade para melhorar a venda do açaí e a compra de insumos, sem falar em como ela poderia melhorar o acesso à saúde e à educação”, aponta Édson Bolfe, pesquisador da Embrapa Agricultura Digital.
Durante a dinâmica de grupo em que participaram com representantes da comunidade, os pesquisadores identificaram ainda uma demanda por rastreabilidade e certificação da produção, um dos eixos temáticos de pesquisa do Semear Digital. Outros eixos incluem inteligência artificial, sensoriamento remoto e agricultura de precisão
“O açaí colhido aqui passa por dois ou três atravessadores até chegar ao consumidor. Os produtores gostariam que a qualidade do produto deles fosse reconhecida em Belém e nas outras cidades onde é consumido”, diz Bolfe.
Com base na visita, um relatório elaborado pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD), uma das instituições parceiras do Semear Digital, apontou as principais possibilidades para instalação de conexão de melhor qualidade na área. O projeto não instala internet nas comunidades, mas articula com empresas locais e o poder público para que isso ocorra.
“Além das opções de conexão via satélite, atualmente no limite de operação, vislumbramos como viável a implementação de uma infraestrutura de conectividade terrestre. A proposta envolve a instalação de uma antena de 50 metros de altura em um torrão de terra firme previamente identificado, oferecendo cobertura 5G. Essa configuração permitiria alcançar um raio de aproximadamente 10 km a partir do local da antena, beneficiando a maioria das comunidades na região”, indica Fuad Abinader, pesquisador do CPQD em Manaus, presente na comitiva.
Com a instalação dos dez DATs nas cinco regiões do país, o Semear Digital espera trazer modelos de políticas públicas para a conectividade em zonas rurais. O sucesso do DAT Breves, por sua vez, pode trazer esse modelo para a região amazônica.
Foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP.
“É algo que realmente me emociona e que está na origem desse projeto: fazer o desenvolvimento digital puxar o social. A ideia é não apenas aumentar a produtividade, agregar valor aos produtos da floresta, como também melhorar a qualidade de vida das pessoas”, encerra a presidente da Embrapa.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Embrapa e Agência FAPESP, escrito por André Julião e com a colaboração de Daniel Antônio
Pesquisadores peruanos identificaram uma nova espécie de inseto na Estação Biológica Manu, localizada no vale Kosñipata, no corredor que une as regiões de Cusco e Madre de Deus. A informação foi veiculada pela ONG Conservación Amazónica (ACCA), administradora da Estação Biológica Manu, que especificou que a nova espécie de inseto se chamava Trichophoromyia macrisae sp. nov..
Essa nova espécie de flebotomíneo, moscas, é conhecida por transmitir Leishmaniose.
“O inseto foi coletado usando armadilhas de luz ultravioleta Katchy em áreas florestais. Sua descrição científica baseou-se na análise detalhada de 10 exemplares masculinos, em trabalho liderado pelo pesquisador Sergio Méndez-Cardona”, explicou a ACCA.
A ONG destacou que esta descoberta científica se soma às 47 espécies conhecidas deste gênero nas Américas, das quais 15 são encontradas no Peru.
Este avanço destaca não apenas a biodiversidade única da região, mas também a sua relevância para o estudo de doenças tropicais como a Leishmaniose, bem como para iniciativas de conservação de ecossistemas.
“Essa descoberta nos lembra o quanto ainda há para explorar e proteger na Amazônia. Cada nova espécie é uma peça-chave para a compreensão e conservação deste ecossistema vital para o planeta”, disse Juliana Morales, diretora do Laboratório Thomas Lovejoy de Mudanças Climáticas e Biodiversidade da Estação Biológica.
Juliana Morales, diretora do Laboratório Thomas Lovejoy de Mudanças Climáticas e Biodiversidade da Estação Biológica Manu.
A Conservación Amazónica indicou que esta descoberta tem implicações significativas para o controle e prevenção das doenças transmitidas pelo inseto.
O que é Leishmaniose?
A Leishmaniose é uma doença tropical causada por parasitas do gênero Leishmania e transmitida pela picada de flebotomíneos infectados. Esta doença pode se manifestar de diversas formas, desde lesões cutâneas até infecções mais graves que afetam órgãos internos. Na Amazônia, a Leishmaniose representa um grande desafio para a saúde pública devido ao grande número de flebotomíneos que habitam a região.
Visando popularizar o conhecimento científico e expandir as informações produzidas em laboratórios, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), em parceria com o Museu da Vida da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), lançou no dia 26 de novembro a exposição inédita ‘Aedes e Anopheles: Que mosquitos são esses?’. A mostra, localizada no Paiol da Cultura do Bosque da Ciência do Inpa, em Manaus (AM), ficará aberta ao público por um ano, com entrada gratuita.
A cerimônia de inauguração foi realizada no Auditório da Ciência do Inpa e contou com a presença da diretora substituta do Inpa, Sônia Alfaia, do representante da SC Johnson, Eric Stivaleti, financiadora da exposição, além de membros da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Virgílio Mauricio Viana e Valcléia Solidade, e de representantes da Fiocruz Rio de Janeiro, Casa de Oswaldo Cruz e Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia).
De acordo com Sônia, a exposição é uma ferramenta importante para educação ambiental e popularização da ciência. “Sabemos o quanto é importante levar essas informações para a população local, especialmente aqui na Amazônia. Trabalhamos continuamente com a popularização da ciência, e essa exposição é fundamental nesse sentido”, afirmou Alfaia.
A exposição apresenta informações detalhadas sobre os mosquitos Aedes aegypti, transmissor de doenças como dengue, zika e chikungunya, e Anopheles, vetor da malária. Por meio de recursos interativos, como lupas, microscópios e óculos de realidade virtual, o público poderá aprender sobre as características desses insetos, as doenças que transmitem, e, principalmente, sobre medidas de combate e prevenção.
Durante a abertura, a diretora da Fiocruz Amazônia, Stefanie Lopes, destacou a relevância da exposição para ampliar a conscientização das comunidades locais, especialmente das crianças.
“É importante que nossas crianças entendam o que é malária e que reconheçam os sintomas. Embora o controle do Aedes aegypti seja mais acessível em áreas urbanas, a malária apresenta desafios maiores, mas ainda assim podemos alcançar avanços importantes. Essa exposição ajuda a traduzir esses conhecimentos para o público”, pontuou.
Foto: Divulgação/PCE Inpa
‘Aedes e Anopheles: Que mosquitos são esses?’
Composta por painéis e elementos interativos, a exposição está dividida em módulos temáticos, entre os quais “Desvendando o Aedes”, “Dengue”, “Zika”, “Chikungunya”, “Febre Amarela”, “Conhecendo os vírus” e “Pesquisa em busca de soluções e controle – esforço conjunto”.
De acordo com Nercilene Monteiro, diretora da Casa de Oswaldo Cruz, a exposição teve o conteúdo adaptado para o contexto amazônico. “Essa exposição foi inicialmente pensada para o Rio de Janeiro, mas, ao trazê-la para Manaus, não poderíamos deixar de incluir a malária, uma doença prevalente na região. Muitas vezes, as pessoas que vivem em áreas endêmicas não sabem reconhecer os sintomas ou distinguir os mosquitos transmissores. Nosso objetivo é esclarecer essas diferenças e promover o conhecimento para evitar a proliferação e o contágio”, explicou.
Há ainda uma seção chamada “Desvendando o Anopheles”, que traz informações sobre a malária e o mosquito transmissor da doença. Além disso, há um jogo da memória, que reforça a importância de se manter protegido dos mosquitos, e um quiz sobre as diferenças entre a dengue e a malária, que reforçam os aprendizados da exposição.
A mostra é uma iniciativa do Museu da Vida Fiocruz, realizada em parceria com a Fiocruz Amazônia, com gestão cultural da Associação de Amigos do Museu da Vida Fiocruz e patrocínio da SC Johnson. A mostra tem a curadoria de Waldir Ribeiro, Luis Carlos Victorino, Fernanda Gondra e Miguel Oliveira, e conta com a colaboração do Serviço de Itinerância do Museu da Vida Fiocruz, coordenado por Fabíola Mayrink, e sua equipe de produção: Milena Monteiro, Fernando Donan e Geraldo Casadei.
Está em andamento o primeiro Mapa Hidrogeológico do Estado de Roraima, elaborado pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB). Esse documento fornece informações sobre distribuição, movimento e qualidade dos recursos hídricos que estão abaixo da superfície, ajudando na gestão e uso sustentável dessas águas. A iniciativa é parte do projeto Disponibilidade Hídrica do Brasil e deve ser finalizada em 2025.
O trabalho para elaborar o mapa foi apresentado no dia 26 de novembro aos órgãos locais e institutos de ensino e pesquisa.
“O objetivo dessa reunião foi divulgar a iniciativa e sensibilizar os órgãos gestores de recursos hídricos do estado para que enviem dados e informações de modo a contribuir efetivamente na elaboração deste produto”, explica o chefe da Divisão de Hidrogeologia e Exploração do SGB, Valmor Freddo.
Na ocasião, pesquisadores do SGB realizaram palestras e enfatizaram a importância do mapa para conhecer melhor os recursos hídricos e adotar medidas que beneficiem a população, como ressalta Freddo.
“O mapa serve como base para implementação de gestão dos recursos hídricos subterrâneos, dando subsídios para que sejam adotadas medidas necessárias para o uso sustentável dessas águas – que são uma importante fonte de abastecimento, especialmente em regiões que enfrentam crise hídrica”.
Por Julio Sampaio de Andrade – juliosampaio@consultoriaresultado.com.br
Questionamento de um dos meus dezesseis leitores: “Consigo entender o quanto a influência que um dono de uma empresa exerce sobre as pessoas que trabalham nela. Sendo a empresa de um único dono, ela tem a sua cara. No entanto, quando você fala da influência de avós sobre netos distantes, com pouco convívio, só consigo relacionar à genética, traços que a família carrega são transmitidos aos descendentes. Como é que a minha mãe, que mora em um país distante e tem pouco contato com meu filho, poderia influenciar a felicidade dele, a não ser que seja pela genética?
Sim, existem características de uma determinada família que podem ser atribuídas à genética, sendo transmitidas de uma geração a outra. Quando se trata de modelos mentais e comportamentos, porém, estas características estarão mais associadas a aspectos culturais ou educacionais Ocorre em tribos indígenas e em famílias urbanas. Crenças, valores e comportamentos são transmitidos de avós para pais, destes para os filhos, netos e assim por diante. Neste caso não vale só o que está escrito, mas o que é vivenciado, ouvido e observado.
Há, ainda, um outro tipo de comunicação que não é nem ouvida e nem vista, mas que exerce uma grande influência. É a conexão por meio dos elos invisíveis ou elos espirituais, como nos ensina Mokiti Okada, e que comentei no artigo ‘Felicidade dos netos, o que nos cabe como avós?‘. Esta influência não se limita aos nossos consanguíneos e nem com quem convivemos mais diretamente, embora, isto fortaleça ainda mais.
Como citado na questão, o dono de uma empresa possui elos invisíveis com todos os seus colaboradores. Um presidente de um país, com toda a população, um professor com os seus alunos, um artista com os que terão contado com sua obra. Alguns destes elos são criados e dissolvidos. Outros, os consanguíneos, não podem ser desfeitos.
Alguns destes elos, mesmo que não tenhamos consciência, servirão como uma espécie de energia positiva e nos ajudarão a ser melhores como pessoas e a sermos mais felizes. Outros, ao contrário, nos afastarão disso, exercendo uma má influência, como se fossem “más companhias”, que os pais costumam tentar evitar para os filhos quando são pequenos.
A grande questão é que, sem ter esta consciência, não compreendemos o quanto podemos influenciar positivamente ou negativamente o mundo, uma vez que toda influência exercida pode ser propagada de uma forma sucessiva. Um professor, por exemplo, pode acreditar que a sua responsabilidade é somente transmitir aquele determinado conhecimento, desconhecendo o seu efeito sobre o caráter dos alunos. Um líder de uma equipe pode se limitar a uma formação técnica, acreditando ser isto suficiente, descuidando de tornar-se uma melhor pessoa.
O caso dos pais é ainda mais evidente. Queremos sempre melhorar os nossos filhos. É importante o que falamos para eles. Mais importante ainda é o que fazemos e o que é visto. Se há incoerência entre o que falamos e o que fazemos, o maior peso será dado ao que é observado. Além disso, há algo mais forte: o que somos. Há uma hierarquia inversa entre as forças do falar, fazer e ser. Pais que querem melhorar os filhos precisam primeiro melhorar a si mesmos. Serem ainda melhores pessoas.
A leitora acima comentou que a mãe mora em um país distante do neto, como é o meu caso também, sendo raro o convívio. No entanto, podemos contribuir para que sejam melhores como pessoas e mais felizes, sendo nós mesmos melhores e mais felizes. Isto inclui trabalharmos pela felicidade de nosso entorno, exercendo uma boa influência por meio de todos os elos invisíveis que possuímos. Aliás, o “Exercício dos Elis Invisíveis” é um dos que compõem o Método MCI de Felicidade.
Não sei quanto a você, leitor, mas a mim, ter a consciência da existência de elos invisíveis, me faz sentir as oportunidades e a responsabilidade ainda maior pela melhora do mundo e pela construção da felicidade de todos nós.
Sobre o autor
Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.