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PCT Guamá investe em ciência e tecnologia para redução do desmatamento na Amazônia

Identificar sinais de destruição na floresta e gerar dados para proteger a Amazônia são atividades presentes no Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá. No complexo do Governo do Pará está localizada a Coordenação Espacial da Amazônia, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), onde funciona o Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), projeto que colabora com a fiscalização do bioma e o combate ao desmatamento.

“Desde a implantação do Inpe no PCT, em 2010, uma das missões do Instituto tem sido diariamente atendida, que é a de monitorar desmatamento, degradação e exploração florestal da Amazônia em tempo quase real, atendendo demandas dos órgãos de fiscalização. As informações geradas em laboratório auxiliam na fiscalização, que procura evitar e/ou coibir o desmatamento ilegal”, acrescenta Alessandra Gomes, coordenadora espacial da Amazônia.

Foto: Sérgio Moraes/Fundação Guamá

Conhecimento, atenção e responsabilidade fazem parte do trabalho de monitoramento realizado por pesquisadores e profissionais que atuam no espaço, em áreas como geologia e computação. A equipe do Deter observa diariamente o que acontece na floresta, as áreas que passam por degradação, o desmatamento recente, os locais atingidos por queimadas e o início de processos de corte.

“Olhamos novos desmatamentos, áreas de mineração, de cortes seletivos, áreas que passam por processos de perturbação com fogo, e por processos de degradação florestal proveniente de exploração madeireira, que pode começar assim e evoluir para uma degradação, um desmatamento”, detalha Arlesson Almeida Souza, que é o líder técnico do Deter.

Ciência e tecnologia em defesa da floresta

Na Amazônia, ciência e tecnologia desempenham um papel fundamental na proteção da floresta, seja pelo processo de geração das imagens, ou pelas informações que chegam por satélite. Equipamentos modernos e softwares são utilizados nas análises técnicas dos registros capturados. Arlesson explica que no caso do Deter, o software TerraAmazon, produzido pelo próprio Inpe, permite que o trabalho seja desenvolvido em equipe em uma estrutura de bancos de dados, com geração de imagens, de maneira que todos trabalhem em conjunto para as análises de uma determinada imagem. A ciência também é essencial e está presente nos levantamentos de dados através da cartografia, que se dedica a representação do espaço geográfico estudado.

Dados colaboram para fiscalização do Governo

O sistema do Inpe, presente no PCT Guamá, mostra alertas diários e mensais do que foi derrubado e informa os órgãos de comando, controle e proteção sobre a ação do homem na floresta. Os dados ficam disponíveis no portal TerraBrasilis, plataforma para acesso, consulta e análise de informações geográficas de monitoramento da vegetação nativa. Os levantamentos não consideram a legalidade da degradação, já que esse tipo de avaliação não é de responsabilidade do Inpe, que apenas quantifica as ocorrências e assim contribuir com o poder público para ações de fiscalizações e a criação de políticas públicas. “Geralmente por volta das nove da noite os dados do Deter são divulgados, e ficam disponíveis. O governo em todas as suas esferas seja federal, estadual, municipal, e também estudantes, pesquisadores, a sociedade tem acesso e usa os dados do Deter”, afirma Arlesson.

Para a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas), que integra a Força Estadual de Combate ao Desmatamento, as informações do sistema do Inpe são essenciais para o monitoramento ambiental das áreas verdes do Pará. “Os dados de abril de 2024 do Deter mostram que o Pará teve uma redução de 67% em relação ao mesmo período de 2023, com a menor área recoberta por alertas de desmatamento da série histórica. O Deter também detectou redução nos 15 municípios considerados prioritários para o combate ao desmatamento no Pará. As informações obtidas são importantes para o planejamento das fases da Operação Amazônia Viva e da Operação Curupira, que conta com bases fixas em São Félix do Xingu, Uruará e Novo Progresso. Os dados são analisados e orientam o planejamento das equipes que vão a atuar no combate ao desmatamento”, explica Mauro O’de Almeida, secretário da Semas.

A coordenação do projeto explica que o sistema Deter surgiu para mostrar de maneira imediata a perda da cobertura florestal em áreas menores. Isso porque antes o Inpe monitorava apenas o dano em áreas maiores da floresta amazônica, a partir de 25 hectares, algo em torno de 25 campos de futebol, o que ocasionava uma destruição frequente em espaços abaixo dessa medida, e por isso o Deter passou a ter um papel muito importante porque colabora para que a destruição inicial seja logo vista, e consequentemente fiscalizada e combatida no próprio local. “Ter essas respostas principalmente em níveis de degradação, de que a floresta não seja convertida para cortes rasos. Então se os órgãos parceiros de comando e controle, Semas, Ibama, ICMBio, têm essas informações antes do processo de derrubada total da floresta, e com isso há possibilidade de evitar essa conversão”, explica Arlleson.

Referência em inovação na Amazônia

O PCT Guamá é uma iniciativa do Governo do Pará, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Técnica e Tecnológica (Sectet), que conta com a parceria da Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) e gestão da Fundação Guamá.

É o primeiro parque tecnológico a entrar em operação na região Norte do Brasil e tem como principal objetivo estimular a pesquisa aplicada e o empreendedorismo inovador e sustentável.

Situado em uma área de 72 hectares entre os campi das duas universidades, o PCT Guamá conta com mais de 30 empresas residentes (instaladas fisicamente no parque), mais de 60 associados (vinculadas ao parque, mas não fisicamente instaladas), 12 laboratórios de pesquisa e desenvolvimento de processos e produtos, com o Inpe e a Escola de Ensino Técnico do Estado do Pará (Eetepa) Dr. Celso Malcher, além de atuar como referência para o Centro de Inovação Aces Tapajós (Ciat), em Santarém, oeste do Estado.

Membro da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), da Associação Internacional de Parques de Ciência e Áreas de Inovação (Iasp), o PCT Guamá faz parte do maior ecossistema de inovação do mundo.

*Com informações da Semas PA

Manaus lança plano de contingência para enfrentamento de desastres naturais

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O primeiro Plano de Contingência Municipal para enfrentamento de desastres naturais foi lançado pela Secretaria Executiva de Proteção e Defesa Civil Municipal (Sepdec), em Manaus. O documento tem o intuito de coordenar esforços para reduzir a ocorrência de desastres e, caso ocorram, minimizar seus impactos à população.

O documento estratégico define as ações das diversas entidades municipais antes, durante e após desastres naturais, como chuvas intensas, cheias, estiagens e incêndios. O plano conta também com um monitoramento das áreas de encosta, assim como prevê a instalação de 14 novas estações pluviométricas para os próximos 30 dias.

“Nós estamos também instalando, em Manaus, 14 estações meteorológicas e, posteriormente, vamos também montar estações sísmicas para evitar que essas áreas de risco possam ter um desbarrancamento, ou algo nesse sentido, que possa vir causar muitos problemas e danos à população”, informou o prefeito da cidade, David Almeida.

Outra medida prevista no plano será a perfuração de 15 poços artesianos de 120 metros por 6 polegadas de diâmetro, em 15 comunidades ribeirinhas mais isoladas.

“Os poços que tínhamos com 40 metros já secaram, então, está dentro do plano de contingência, nós iremos fazer a instalação nessas 15 comunidades. Fizemos o mapeamento de 83 comunidades no entorno da cidade de Manaus que são impactadas, e temos a estimativa da aquisição de alimentos, kits de higiene; caso venha acontecer algo nesse sentido, temos um planejamento feito”, complementou o prefeito.

O plano detalha ainda as ações de cada órgão municipal, promovendo uma atuação conjunta e eficiente, além de estabelecer a logística necessária, como bases de reunião, pontos de abrigo, hospitais e unidades de saúde, organizados pela Zona Administrativa de Manaus.

Segundo o titular da Secretaria Executiva de Proteção e Defesa Civil Municipal, Gladiston Silva, o plano de contingência já está sendo utilizado por todas as secretarias municipais e que, em ocorrências de desastres, é importante que a população mantenha a Defesa Civil informada sobre eventos desse tipo a partir da Central 199.

“No momento em que ocorre um desastre, esse plano passa a ser usado naquele evento. Então, as equipes são acionadas diretamente a partir do momento que tomamos conhecimento do desastre. A gente dispara o plano de contingência e todas as secretarias municipais ou órgãos estaduais e federais que estão previstos no plano para atuarem também, passam a seguir os protocolos que estão registrados no plano de contingência”, explicou o titular.

*Com informações do g1 Amazonas

Peru adere à Aliança contra Crimes contra a Natureza

O Peru aderiu à Aliança contra os Crimes contra a Natureza (Nature Crime Alliance) e tornou-se o primeiro país da América Latina a oficializar a sua decisão de participar nesta iniciativa global, informou o Ministério das Relações Exteriores do Peru.

O embaixador do Peru no Reino da Noruega, Gustavo Laurie, visitou o Ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega, Andreas Bjelland Eriksen, para entregar a carta assinada pelo chanceler Javier González-Olaechea, por meio da qual o Governo do Peru oficializa a adesão do país à aliança.

Com esta decisão, o Peru torna-se o primeiro país da América Latina a oficializar a sua decisão de participar da iniciativa global, que mobiliza recursos financeiros e fortalece a capacidade dos países para combater crimes contra a natureza e outros crimes associados a atividades ilícitas.

Os princípios orientadores da Aliança são combater os crimes contra a natureza e as atividades criminosas relacionadas; conservar ecossistemas naturais e espécies protegidas; e respeitar os direitos humanos e os direitos dos povos indígenas e das comunidades locais.

A recente adesão do Peru à Aliança representa o testemunho mais recente dos esforços desenvolvidos pelo Governo peruano para manter uma participação ativa nas iniciativas internacionais para a proteção da diversidade biológica.

A adesão do Peru reafirma o compromisso do país no âmbito da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (Cites), da Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB), da Convenção para a Conservação das Espécies Migratórias da Fauna e da Flora Selvagens Animais (CMS) e o Tratado de Cooperação Amazônica (TCA), entre outros. 

*Com informações da Agência Andina

Pesquisa desenvolve canudo de babaçu que muda de cor se bebida estiver vencida

Os plásticos sintéticos estão entre os maiores vilões do meio ambiente. Principal base para a produção de recipientes, o material pode levar cerca de 500 anos para se decompor na natureza. Em busca de alternativas, pesquisadores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP desenvolvem soluções ecológicas biodegradáveis às embalagens e canudos, utilizando resíduos agroindustriais e produtos naturais que carregam propriedades antimicrobianas e antioxidantes.

Para além de simplesmente substituir o plástico, geralmente baseado em substâncias derivadas do petróleo, o enfoque do grupo da USP, liderado pela professora Delia Rita Tapia Blácido do Departamento de Química da FFCLRP, é o que chamam de “embalagens ativas”, pois aprimoram a utilidade para o consumidor com características agregadas, como poderes antioxidantes e antimicrobianos obtidos de compostos como a quitosana, a própolis verde e os resíduos de uva e jabuticaba.

Responsável pela produção e orientação de diferentes estudos com matéria-prima natural, encontrada principalmente em resíduos agrícolas, a professora Delia Blácido conta que o interesse é utilizar esses recursos para transformar os resíduos que, quando descartados, também podem contaminar o meio ambiente, encontrando soluções criativas que agregam mais valor ao produto final.

“A ideia é gerar materiais que tenham uma atividade e protejam o alimento sem o uso excessivo de aditivos sintéticos, como antibióticos ou antioxidantes que podem ser prejudiciais para a saúde”, ressalta a professora.

Como exemplos, apresenta dois projetos de mestrado mais recentes sob sua orientação nessa linha de pesquisa: o desenvolvimento de uma embalagem feita a partir do amido de batata adicionado de extrato de própolis obtido por extração alcalina, de Ivone Yanira Iquiapaza, e de canudos que utilizam o mesocarpo (polpa) do fruto da palmeira de babaçu, realizado por Luís Fernando Zitei Baptista.

Embalagens plásticas biodegradáveis e antimicrobianas

O biomaterial desenvolvido por Ivone Iquiapaza utiliza a quitosana, uma substância com propriedades antibacterianas originária da casca de crustáceos, e o extrato de própolis verde como aditivos para os filmes feitos de amido da batata nativa Yana winku, cultivada na comunidade de Marcavalle, na região de Junín, no Peru.

Segundo a pesquisadora, essa espécie de batata possui substâncias capazes de evitar ou reduzir a oxidação de lipídeos presentes nos alimentos, tornando os plásticos produzidos à base de seu amido com maior poder de conservação de carnes, frutas e legumes. Esta capacidade pode ser comprovada pelo recente estudo Novel Starchy Materials Isolated from Andean Native Potatoes: Physical-Chemical and Functional Characterization and Application in Edible Film Production publicado por Ivone na revista Starch.

Neste trabalho foram utilizadas diferentes concentrações de amido e própolis para o desenvolvimento de filmes por método casting (promove alto controle da espessura do filme sem necessidade de aditivos). Filmes de amido e quitosana também foram produzidos, em diferentes proporções, com e sem a adição do extrato de própolis.

Quando o extrato de própolis foi incorporado, observaram um aumento significativo nas propriedades ativas, com filmes mais resistentes à água, de maior opacidade e estabilidade térmica, “ajudando a manter o frescor, o sabor, a cor e a qualidade nutricional”, complementa Ivone.

Ao explicar a incorporação da quitosana à fórmula, a pesquisadora fala da ação antifúngica e antimicrobiana da substância. “Portanto, teremos uma embalagem biodegradável ativa, pois, por meio de seus compostos antimicrobianos e antioxidantes, aumentará a vida útil dos produtos alimentícios”, afirma, acrescentando que ao agregar tais propriedades as embalagens podem ainda agir contra o crescimento de microrganismos na superfície dos alimentos.

Canudos de babaçu que mudam de cor

O estudo desenvolvido por Baptista criou uma alternativa biodegradável e inteligente aos canudos descartáveis plásticos, resíduos considerados problemáticos tanto pela poluição urbana quanto de praias e ecossistemas marinhos e uma das preocupações da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). A proposta da equipe da USP utilizou, na base deste produto, resíduos agroindustriais da polpa do babaçu, fruto comum da região amazônica, associados ao extrato de uva.

Leia também: Quebradeiras de coco babaçu: saiba quem são as guardiãs das palmeiras maranhenses

Inicialmente, produziram 16 tipos diferentes de filmes plásticos, variando a quantidade de glicerol, o tipo de resíduo usado e a quantidade de extrato adicionado. Selecionaram a composição que manteve melhor equilíbrio entre as propriedades mecânicas e as funções bioativas dos materiais (a que continha o babaçu) e decidiram então produzir as alternativas ao canudo plástico.

Protótipo do canudo. Foto: Luís Fernando Zitei Baptista

A proposta de usar o babaçu, informa o pesquisador, é explicada porque possui boa atividade antioxidante e antimicrobiana, comprovada em pesquisas anteriores do laboratório que desenvolveram embalagens ecológicas. Segundo Baptista, além dessas propriedades, o fruto garantiu maior insolubilidade aos materiais em comparação com o uso de amidos como o de batata e de milho, “então, para aproveitar essa característica, decidimos testar como um canudo”.

Mudança de cor

Enquanto isso, o extrato de uva, além de reforçar os benefícios trazidos pelo babaçu, também conferiu aos canudos a capacidade de mudar de cor conforme o contato com o pH do líquido. Essa função é explicada por componentes da uva como a antocianina, substância natural que apresenta um amplo espectro de cores.

Para os pesquisadores, a mudança de cor dos canudos funciona não só como um detalhe estético, mas possibilita a identificação rápida da condição do alimento a ser ingerido. Um exemplo, garante Baptista, é o aumento de acidez da lactose quando o produto está envelhecendo; “se ele [canudo] ficou rosado, por exemplo, é porque o leite estragou”.

Os itens foram testados em diferentes líquidos com pH variado, como refrigerante, suco de laranja, leite e água. Os resultados foram promissores, mostrando potencial como alternativa viável à versão de plástico sintético.

Falta conscientização para ampliar uso de biomateriais

O plástico pode levar centenas de anos para se decompor naturalmente, o que representa uma grande ameaça “aos ecossistemas oceânicos e às cadeias alimentares”, lembra Ivone, enfatizando a enorme vantagem dos objetos biodegradáveis que levam tempo bem menor na decomposição ambiental, cerca de poucas semanas.

Nesta linha, a professora Delia e sua equipe se especializaram em pesquisas para reproduzir objetos impermeáveis e com boa resistência mecânica para a substituição eficiente do plástico no uso diário. “A ideia é que substitua, como embalagem, os plásticos sintéticos, que é o principal uso deles. Esse é o critério que nós buscamos nesses materiais”, observa.

Já Baptista acredita na reutilização de resíduos para criar biomateriais como uma técnica promissora, alinhada aos princípios da química verde. No entanto, reconhece desafios na substituição de plásticos, especialmente em produtos de uso único, como embalagens de alimentos que utilizam “isopor ou filme plástico”. Embora haja interesse crescente em biomateriais, o pesquisador reforça a necessidade de conscientização para uma adoção mais ampla desses materiais em grande escala na indústria. 

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal da USP, escrito por Felipe Faustino

Geógrafa identifica forma de afirmação da pluraridade dos povos originários em produção artística contemporânea

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Pode a arte catalisar a resistência de populações indígenas brasileiras? Para a geógrafa Olívia Pires Coelho, a resposta é: “Sim”. Ao produzirem cultura, essas populações demonstram que existem, que são diversas e que possuem modos de vida múltiplos, ajudando a combater o mito segundo o qual todos os indígenas possuem uma única identidade. A conclusão da pesquisadora faz parte de sua tese de doutorado, defendida na Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, e resultou de um estudo em que buscou traçar caminhos e interseções das obras de artistas do movimento de resistência dos povos originários.

“A ideia de trabalhar com arte indígena surgiu porque eu cresci em uma família na qual há um diretor de teatro. A Companhia Vitória Régia, que ele fundou, tem como mote as questões amazônicas, principalmente a identidade desses povos, seu pertencimento e os elementos que os formam, sempre partindo do ponto de vista da multiplicidade”, relata a autora, que cresceu em Manaus, em uma família de linhagem indígena. “Quando eu escolhi trabalhar com esse tema, a ideia era utilizar a minha experiência para descobrir outras expressões artísticas mais contemporâneas e que também conversassem com a ideia de multiplicidade.”

No estudo, a autora explorou dois campos argumentativos distintos. Em primeiro lugar, Coelho investigou a arte no contexto familiar, a partir de suas memórias junto à companhia de teatro de Nonato Tavares, seu tio. Nesse caso, a educadora utilizou uma abordagem autoetnográfica, um ramo da etnografia em que as experiências pessoais do pesquisador são analisadas minuciosamente e relacionadas com situações, eventos e experiências compartilhadas com pessoas que se encontram em situação semelhante, refletindo aspectos estruturais da sociedade.

Em um segundo momento, a autora utilizou a abordagem da investigação baseada nas artes (IBA) para ligar suas experiências com as de cinco artistas indígenas contemporâneos das artes visuais: Naine Terena, Denilson Baniwa, Arissana Pataxó, Jaider Esbell e Gustavo Caboco Wapichana. O objetivo, no entanto, não foi realizar uma análise crítica das obras desses artistas, mas colocá-las como ponto central da pesquisa, investigando como essas obras dialogam com experiências que, embora particulares, também estão presentes na história de outras pessoas.

Para o orientador Silvio Gallo, tese proporcionou também um inédito processo de auto conhecimento. Foto: Antonio Scarpinetti

De acordo com o professor Sílvio Gallo, que orientou o doutorado, além de abordar um tema raramente presente nas pesquisas da área de educação, a tese se destaca pela possibilidade de Coelho olhar para si mesma e se autodescobrir, uma metodologia sugerida pela professora aposentada da FE Ana Lucia Goulart. “Eu não sei se isso está presente em outras áreas, mas é muito interessante para a gente do campo da educação se permitir determinados descaminhos na pesquisa. E o estudo de Olívia tem um elemento de produção de um conhecimento novo, mas também a produção de um autoconhecimento sobre algo que não estava previsto no processo acadêmico”, afirma.

Multiplicidade

Todos os artistas selecionados para compor o corpo da tese trabalham com a ideia de que ser indígena não é uma característica única ou que pode ser sintetizada em apenas um conceito, um modo de estar no mundo ou uma única cor de pele. Coelho exemplifica isso ao mencionar a obra “Mikay” (“pedra que corta”, em Patxôhã), de Arissana Pataxó. Composta por um facão de cerâmica marcado com os dizeres “O que é ser índio para você?”, a obra resultou do incômodo da artista plástica com os comentários de pessoas que se surpreendiam diante do fato de ela não ter a imagem estereotipada de indígena.

“A ideia de resistência principal, nesse contexto, é que nós somos muitos e diferentes. O próprio conceito de arte indígena contemporânea, que tem sido a arte produzida no contexto de maior difusão, passa por um embate grande porque muitos artistas não concordam com essa ideia”, relata. “Para eles, isso seria uma forma de reducionismo do que se chama arte indígena ancestral, como se as obras produzidas na aldeia fossem diferentes das encomendadas pela galeria e avaliadas por curadores e acadêmicos”, comenta a pesquisadora.

Por esse motivo, um grande desafio da geógrafa ao longo da pesquisa traduziu-se em conseguir dar conta da multiplicidade de opiniões e pontos de vista dentro do movimento indígena. Por outro lado, essa dificuldade a ensinou a realizar escolhas e defender seus posicionamentos, como a do próprio uso do termo “arte indígena contemporânea”. Dialogando com a opinião defendida por Gustavo Caboco Wapichana, a autora entende que, ao estar relacionada com a ideia de difusão e formação de redes, a arte contemporânea contribui para se tornar um ponto no qual tanto as populações indígenas como as não indígenas podem se relacionar com o diferente.

Para a autora, somente o contato com o diferente proporciona essa multiplicidade de opiniões e identidades, algo que, inclusive, contribuiu para ela mesma entender suas origens. Embora venha de família indígena, Coelho foi adotada na infância por um professor universitário branco que havia se casado com sua mãe. A experiência de sair da periferia e ingressar no ambiente universitário trouxe oportunidades a que a maior parte dos indígenas só começou a ter acesso nos últimos anos. Por outro lado, fez nascer na hoje geógrafa uma identidade fragmentada, cuja construção só terminou, segundo ela, com a finalização da própria tese.

“Eu já me afirmei muito como descendente de indígenas. Então, foi um processo que eu construí a partir dos pontos de encontro que tive com o movimento indígena e outras experiências”, relata a pesquisadora, que se graduou na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), fez mestrado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e estagiou, durante o doutorado na Unicamp, na Universidade Católica de Louvain (Bélgica). “Se eu tivesse ficado no Amazonas, a indagação sobre mim não teria surgido tão facilmente. Foi preciso ir até o Rio Grande do Sul e depois até a Europa para eu ter a minha identidade tensionada e ver que, diferentemente dos meus colegas, apenas a palavra ‘brasileira’ não seria suficiente para me definir”, relata.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal da Unicamp, escrito por Paula Penedo, com fotos de Antonio Scarpineti

Lei do Amazonas que proíbe linguagem neutra no currículo escolar é suspensa pelo STF

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O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu lei do Amazonas que proíbe a inclusão da linguagem neutra no currículo escolar estadual. A decisão liminar, a ser referendada pelo Plenário na sessão virtual marcada para 14/6, foi tomada na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 7644.

A ação foi apresentada pela Aliança Nacional LGBTI+ e a Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas (Abrafh), que questionam a validade da Lei estadual 6.463/2023.

Na decisão, o ministro destacou que o STF, ao apreciar casos similares, declarou a inconstitucionalidade de leis estaduais sobre o ensino da linguagem neutra na escola por invasão da competência da União para a definição de diretrizes e bases da educação nacional. Ele ressaltou que, diante da ausência de legislação nacional sobre o tema, qualquer legislação estadual, distrital ou municipal que autorize ou vede a utilização da linguagem neutra será considerada inconstitucional.

Confira a decisão na íntegra.

Língua é viva

Ainda segundo o relator, a língua é viva e está sempre aberta a novas possibilidades. Por isso, não se descarta a possibilidade de utilização da linguagem neutra. A seu ver, trata-se de um processo cultural decorrente de mudanças sociais que, posteriormente, podem ser incorporadas ao sistema jurídico.

“A gestão democrática da educação nacional exige, inclusive para adoção ou não da linguagem neutra, o amplo debate do tema entre a sociedade civil e órgãos estatais, sobretudo se envolver mudanças em normas vigentes”, concluiu.

*Com informações do STF

Serviço Florestal Brasileiro lança chamamento público para parcerias em bioeconomia na Amazônia

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O Serviço Florestal Brasileiro (SFB) iniciou nesta semana um chamamento público para a seleção de propostas de parcerias com Organizações da Sociedade Civil (OSCs). O objetivo é subsidiar a bioeconomia florestal na Amazônia por meio de transferência de recursos financeiros e apoio técnico. As inscrições podem ser feitas pelo portal Transferegov.br e vão até 30 de junho.

Seguindo as diretrizes estabelecidas pela Lei nº 13.019/2014 e pelo Decreto nº 8.726/2016, o processo de seleção busca uma proposta que atenda aos requisitos do edital. O termo de colaboração terá como foco principal o levantamento e caracterização de iniciativas de bioeconomia florestal, estimativa de potencial da atividade e a realização de um seminário técnico. O chamamento visa subsidiar ações futuras de fomento ao manejo florestal comunitário e familiar, incluindo o debate sobre pagamento por serviços ambientais.

Conforme dados do Cadastro Nacional de Florestas Públicas, parte significativa das florestas na Amazônia está sob gestão de povos e comunidades tradicionais. Reconhecendo o papel dessas comunidades na conservação da biodiversidade e na promoção da economia sustentável, o SFB visa fortalecer as cadeias produtivas baseadas no uso múltiplo dos recursos florestais não madeireiros, como o açaí e a castanha-do-Brasil, que têm demonstrado um potencial significativo de mercado, representando um setor em crescimento na economia regional e nacional.

Inscrições

A fase de seleção observará as etapas listadas abaixo. As datas são estimadas e poderão ser alteradas durante o processo de seleção. Eventuais modificações serão informadas nos portais do SFB e Transferegov.

*Com informações do Serviço Florestal Brasileiro

Ufam implanta primeiro curso de doutorado em enfermagem da Região Norte

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A Universidade Federal do Amazonas (Ufam), por meio de sua Escola de Enfermagem de Manaus (EEM), começou a vivenciar um novo momento de sua história quando da implantação de seu curso de doutorado, o primeiro da Região Norte do País.

O marco aconteceu dentro das comemorações da 8ª Semana de Enfermagem, celebrada em todo País, mas que pela Ufam foi promovida entre os dias 12 e 21 de maio e homenageou a referência amazônida, a enfermeira Josephina de Mello.

À mesa da solenidade, o reitor, a pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação, professora Adriana Malheiro, o diretor da EEM, professor Esron Rocha e representantes das secretarias estaduais e municipais de saúde e nacional de Enfermagem.

O diretor da EEM, frisou que o curso de doutorado é mais que uma resposta à demanda regional para a modalidade de pós-graduação, era um objetivo, um intento.

“Ainda somos bastante jovens na pós-graduação, menos de 25 anos, mas somos muito atuantes, comprometidos e focados, nós sabíamos onde queríamos chegar e tivemos diretores que também estiveram imbuídos nesse propósito que hoje, se sagra como realidade”, disse.

Esron considerou que o doutorado da EEM continuará exigindo de todos uma grande responsabilidade. “Menos de 0,30% da população brasileira tem essa titulação e se formos estratificar dentro da nossa área, entre pouco mais de 3 milhões de trabalhadores enfermeiros, esse percentual é ainda menor. Teremos de ser de excelência”, disse.

Divulgação: Divulgação/Ufam

A professora Adriana Malheiro, pró-reitora da Propesp, relembrou a caminhada necessária para a implantação do doutorado. “Eu me emociono com o crescimento do PPG que teve início com o mestrado em associação com a Estadual do Pará. E muitos contribuíram para isso, como o professor Zilmar Augusto de Souza Filho, e todo um colegiado, ex-diretores e ex-diretoras, além da própria Administração Superior. Hoje, não é tão mais difícil criar cursos de doutorado, mas manter, consolidar”, observou.

O reitor, professor Sylvio Puga foi quem encerrou as falas por parte da Ufam e se dirigiu, inicialmente, aos novos pós-graduandos, doutorandos. “Vocês serão instigados a todo instante nesta nova etapa. Aproveitem cada minuto que estiverem nesse curso, valorizem. É um momento mágico na vida de cada um e também de muita responsabilidade, porque vocês fazem parte da história contada em capítulos. É a primeira turma, é um grande compromisso”, disse.

Ele finalizou, mencionando e enaltecendo Josephina de Mello, precursora da Enfermagem no Amazonas.

A solenidade seguiu com a leitura dos termos de posse da coordenação do PPG de Enfermagem: Gilsirene Scantelbury de Almeida (coordenadora); Zilmar Augusto de Souza Filho (Vice-coordenador); e os membros Arinete Veras Fontes Esteves e Deyvylan Araújo; seguido pela aula inaugural do curso.

*Com informações da Ufam

A síndrome de Sansão, o cavalo 

Por Julio Sampaio de Andrade – juliosampaio@consultoriaresultado.com.br

Reconheço que, em algumas vezes na vida, tive um comportamento semelhante ao do cavalo Sansão, personagem da Revolução dos Bichos, de George Orwell. Na história, sempre que havia um problema ou uma crise, a solução do cavalo era: “trabalharei mais”.

A crença no trabalho sempre foi muito forte em mim e nos meus irmãos, fruto da criação que tivemos, mais por parte de mãe do que de pai, diga-se de passagem. A família de meu pai, portuguesa, neste sentido, era mais normal. O trabalho ocupava um lugar importante, mas não era a prioridade máxima. Meus avós, na época, tinham uma boa situação e os filhos, apesar de numerosos, não tiveram tanta dificuldade para serem bem encaminhados na vida, tendo uma relação razoável com o trabalho.

Ao contrário, foi a vida de meu avô, por parte de mãe. Saiu de casa aos 14 anos, depois de uma briga com o pai, fazendeiro em Sergipe, que não aceitava ser afrontado e que declarou que filho dele que saía de casa brigado de manhã não voltava à noite. Meu avô foi ser aprendiz de marinheiro, estudou por conta própria e teve que comer muito “pão que o diabo amassou” para sobreviver e crescer. Já adulto, mesmo sem tantas condições, abriu mão da herança do pai, alegando que não o ajudou a construir. Era a sua vez de devolver o radicalismo, mesmo contrariando os filhos, ansiosos pelo quinhão. Meu avô, mais do que o próprio Sansão (o cavalo), acreditava que o trabalho era a solução para todos os problemas. Eu e meus irmãos, por meio de minha mãe, herdamos isto dele. Como Sansão, aprendemos a lidar com os problemas com mais trabalho.

Lembro-me de tudo isto ao me deparar com Maurício, executivo em meio de carreira, que acaba de assumir um novo cargo. É uma posição que ele não esperava ocupar e que exige dele novos conhecimentos e competências. Maurício responde com mais trabalho.

Ele precisou mudar pela primeira vez de cidade e de estado e sente a diferença cultural. Para compensar, Mauricio vem dedicando mais tempo para os relacionamentos sociais e profissionais.

A mulher e os filhos ainda estão se adaptando à nova realidade. As crianças ainda não fizeram amigos na escola e Mauricio percebe que eles sofrem algum tipo de bullying, pelo sotaque que trazem. Preocupa-se com isso, pois sabe o quanto as crianças podem ser cruéis, mas não há muito o que fazer, a não ser estar mais por perto. A mulher, que se sacrificou para acompanhá-lo, reinicia o seu negócio, agora em outro local. Eles já não têm a
rede de proteção da família que morava perto e ela se sente só. Todos demandam tempo e Maurício se esforça para atender, com o sentimento de que é sua obrigação, seu trabalho.

Na nova função é exigido de Mauricio novos conhecimentos e, por isto, ele precisa dedicar-se ao estudo. Para aguentar o pico, Maurício voltou às atividades físicas e, para isso, está acordando mais cedo. De 7 horas, passou a acordar às 6 horas e agora às 5 horas, todos os dias. Na empresa, há a pressão para resultados, como era de se esperar. Tudo isto mudou o aspecto e o humor de Mauricio, que agora transmite um certo cansaço, um ar de preocupação, a impressão de que as coisas estão pesadas. Podemos dizer que ele, no momento, está se dedicando muito ao seu propósito, o que é bom. Por outro lado, está deixando à parte o desfrute, a
alegria, o prazer. Como equilibrar Propósito e Prazer?

Como disse, em várias situações que a vida me trouxe, agi como o Sansão, respondendo aos desafios com mais trabalho. No livro, Sansão não tem um final feliz, sendo levado para o abatedouro. No meu caso, não me arrependo de ter seguido o que acreditava, podendo até dizer que deu tudo certo. No entanto, me vejo hoje instigado a provocar Maurício a pensar em outras possibilidades. Que alternativas existem, Maurício? Como harmonizar trabalho e propósito com alegria, leveza e prazer? Talvez a felicidade maior esteja neste equilíbrio. Como podemos fugir da síndrome de Sansão, o cavalo?

Sobre o autor

Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Invasores ‘demarcaram’ cerca de 100 lotes para grilagem dentro de Terra Indígena em Rondônia

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A Polícia Federal (PF) fez a segunda operação do mês contra invasões dentro da Terra Indígena Igarapé Lage, em Rondônia, entre os dias 26 e 28 de maio. Os agentes perceberam a área invadida foi dividida em cerca de 100 lotes para grilagem de terras.

A área desmatada dentro da terra protegida é equivalente a cerca de 800 campos de futebol, segundo a PF. Um corredor de 20 km foi criado dentro da TI, de ponta a ponta, para escoar a madeira ilegal e facilitar o acesso à área invadida.

A Terra Indígena Igarapé Lage fica localizada entre Nova Mamoré (RO) e Guajará-Mirim (RO). Durante a Operação Retomada II, os agentes destruíram:

5 pontes,
5 habitações,
2 galpões e
3 veículos.

Essa é a segunda operação do mês realizada na TI Igarapé Lage. A primeira foi realizada dos dias 16 e 17 de maio. Dentro da Terra Indígena, foram encontrados diversos pontos de extração ilegal de madeira. Para impedir a ação da polícia, os invasores derrubaram várias árvores pelo caminho.

Somente este ano, quatro operações já foram realizadas dentro da área de proteção, segundo a PF. Os suspeitos podem responder por invasão de terras públicas com intenção de ocupação e o desmatamento clandestino.

*com informações do G1 Rondônia