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Criada por macacos? Colombiana abandonada em meio à floresta relata experiência em livro

Foto: John D. Chapman

Em filmes de ficção é possível encontrar crianças que foram criadas por animais, em meio à natureza. É o caso dos populares ‘Mogli, o menino lobo’, em que um menino abandonado acaba sendo criado por lobos, e a ‘Lenda de Tarzan’, no qual o menino cresce em meio aos gorilas.

Porém, na Amazônia Internacional, existe um caso real semelhante aos filmes de fantasia. E, assim como na ficção, a história não se desenvolveu de uma maneira agradável.

Tudo começa na Colômbia, na segunda metade do século XX. A pessoa que poderia fazer parte dessa lista de personagens fictícios, mas que viveu momentos difíceis de verdade é Marina Chapman. Nascida em 1950, ainda criança Marina foi sequestrada e retirada do convívio com sua família.

Em depoimentos dados à veículos de comunicação internacionais, Marina conta que seu sequestro é uma das poucas lembranças vívidas da sua infância. Ela conta que brincava no jardim de sua casa, quando dois homens a agarraram e a abandonaram em uma floresta, totalmente sozinha. Ela não lembra o nome de sua vila, nem o local exato, mas o ocorrido ficou marcado em sua memória.

No livro ‘The Girl with No Name: The Incredible True Story of a Child Raised by Monkeys‘ (‘A garota sem nome: a incrível história real de uma criança criada por macacos’, tradução livre), Marina relata o tempo em que viveu cercada por macacos-prego, de uma espécie endêmica do bioma.

Marina em 2013. Foto: Reprodução/Youtube-The Guardian

Perda de sentidos

Com o decorrer dos anos, durante sua infância, Marina Chapman gradualmente se tornou “selvagem”: aprendeu a caçar para sobreviver, perdeu a capacidade de fala e, consequentemente, teve um grande atraso na sua capacidade cognitiva.

Vale ressaltar que, a primeira infância é uma fase crucial para o desenvolvimento do cérebro e a falta de contato humano na infância pode acarretar em consequências para toda vida. Mas foi nesse período que, conta Marina, ela desenvolveu uma relação de carinho e compaixão pelos primatas.

Retorno à sociedade

Com cerca de 10 anos de idade, Marina foi encontrada por um grupo de caçadores que entrou na mata e se deparou com a criança. No entanto, o que poderia ser o começo de uma história de reintegração social de sucesso para a menina, tornou-se mais um capítulo de dificuldade.

Marina foi vendida para um bordel em Cúcuta, no norte da Colômbia. Após alguns anos conseguiu fugir e, depois de até mesmo viver nas ruas, passou a trabalhar como doméstica em casas de família ricas.

Somente aos 14 anos foi adotada por uma família vizinha de uma das casas em que trabalhava, indo morar na capital colombiana, Bogotá. Somente neste período que as coisas passaram a melhorar socialmente para a jovem.

Em 1977, com 27 anos, foi enviada para Bradford, na Inglaterra, ao lado de seus irmãos adotivos. E foi lá que constituiu família, casou-se e teve duas filhas.

Foi uma de suas filhas, inclusive, que a incentivou a escrever o livro relatando sua história, que gerou diversas opiniões. Enquanto para uns a história de Marina parece impossível, tão fictícia quanto nos filmes, para outros há veracidade em seus relatos.

Ela chegou até mesmo a passar por detectores de mentira, cujo resultado mostraram seu real afeto pelos primatas. Mas psicólogos já chegaram a ponderar se o caso não seria de falsas memórias criadas para preencher um período nebuloso na vida da criança.

E aí, já conhecia essa história?

Fórum de Davos 2025 pouco significou para o Brasil

Foto: Reprodução/World Economic Forum

Por Osíris M. Araújo da Silva – osirisasilva@gmail.com

O Fórum Econômico Mundial (WEF) 2025, realizado no período de 20 a 24 de janeiro, na bucólica cidade de Davos, Suíça, sob o tema “Colaboração para a Era Inteligente”, é tradicionalmente um dos maiores palcos de discussão sobre economia global, tecnologia, sustentabilidade e política internacional. A conferência tem se notabilizado pela grande afluência de participantes que incluem, todos os anos, chefes de estado e de governo, CEOs de empresas, representantes da sociedade civil, meios de comunicação de todo o mundo e líderes juvenis procedentes da África, Ásia, Europa, Oriente Médio, América Latina e América do Norte.

Klaus Schwab, fundador e CEO do Fórum, autor do livro “A Quarta Revolução Industrial”, de 2016, propõe que tecnologias convergentes estão rapidamente remodelando o mundo, levando-nos a um ponto de inflexão que pode resultar numa revolução social com o poder de elevar ou fragmentar a humanidade. Com efeito, face a avanços da Inteligência Artificial, da Computação Cognitiva e de outras inovações tecnológicas, “automatizar é o caminho natural para aumentar a competitividade e a produtividade do setor”. Em relação ao Brasil, estudos técnicos reconhecem o “pouco interesse” com que o setor público trata a inovação, o que ficou demonstrado pela baixa participação brasileira em Davos 2025.

Falando por videoconferência no WEF, na quinta-feira, 23, o presidente Donald Trump, que assumiu seu segundo mandato na Casa Branca segunda-feira, 20, exigiu “maiores despesas militares, prometendo proteger a indústria dos EUA com tarifas e sugerindo que a redução dos preços do petróleo poderia acabar com a guerra na Ucrânia”. O discurso apontou novo impulso para a sua agenda “América em primeiro lugar”, o que poderá afetar ainda mais as relações com líderes mundiais. Em discurso durante o Fórum, o presidente da Argentina, Javier Milei, aliado de Trump, confirmou seus reiterados posicionamentos de que vai trabalhar por acordos da Argentina, não do Mercosul. “Farei o que for melhor para a Argentina”, disse Milei após discursar como estrela no palco do Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça, quando confirmou a necessidade de “abrir no âmbito do Mercosul a possibilidade de negociações independentes”.

Durante a COP29, a conferência da ONU realizada em Baku, Azerbaijão, de 11 a 22 de novembro de 2024, a delegação brasileira estava composta por 1.914 membros, número só inferior aos 2.229 integrantes da comitiva do próprio Azerbaijão, que sediou o evento. Para Davos 2025, contudo, o Brasil trouxe representação apenas protocolar. Analistas entendem que a ausência de uma delegação mais robusta certamente será interpretada como uma oportunidade perdida de alinhar as agendas de Davos e da COP30 a ser realizada em novembro deste ano, em Belém, PA. Sinal claro, segundo a diplomacia ocidental, de manifesto alinhamento do governo Lula da Silva a ditaduras e o mundo comunista, na contramão das tradicionais convicções do mundo político e empresarial brasileiro em relação à comunidade democrática internacional.

Sustentabilidade e ação climática, tópicos centrais no Fórum, estranhamente não contou com a presença do Ministério do Meio Ambiente (MMA), áreas ministeriais afins e ONGs que lhes dão sustentação no governo. A impressão geral em Davos 2025 é que o presidente Lula da Silva aparentemente ignorou o evento. Entretanto, como ponto positivo, a edição deste ano marcou a inauguração da “Brazil House” com a participação de grandes empresas e investidores, incluindo gigantescos grupos do porte da Vale, Gerdau, Ambipar, Be8, JHSF, BTG Pactual e Randcorp. Num evidente distanciamento entre os setores público e privado no que tange a questões de tamanha relevância.

O governador do Pará, Helder Barbalho, durante sua participação no Fórum, defendeu que o legado da COP30 será fundamental para a valorização da floresta, a bioeconomia e o clima. A Amazônia “trabalha para que o Brasil possa ter a capacidade de exercer o seu papel de liderança ambiental no planeta, efetivamente, pelas suas condições ambientais, por ter em seu território diversos biomas, destacando-se, particularmente, o amazônico, que faz do Brasil uma referência para a agenda climática”, afirmou.

Sobre o autor

Osíris M. Araújo da Silva é economista, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) e da Associação Comercial do Amazonas (ACA).

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

5 lugares encantadores para conhecer em Roraima

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Foto: Gildo Júnior/Bora de Trip

Roraima é um verdadeiro tesouro de belezas naturais e diversidade. Se você busca um destino que combine aventura, paisagens exuberantes e experiências únicas, se prepare para explorar alguns dos locais mais icônicos da região. Conheça cinco pontos encantadores e imperdíveis:

Parque Nacional do Viruá

Um santuário de biodiversidade, o Parque Nacional do Viruá é uma área de proteção ambiental que atrai amantes da natureza e pesquisadores de todo o mundo. Localizado no sul de Roraima, o parque oferece trilhas que atravessam florestas alagadas, savanas e uma rica fauna. Entre os animais que podem ser avistados estão jaguatiricas, tamanduás-bandeira e diversas espécies de aves. É o lugar ideal para quem deseja se conectar com a natureza em estado bruto.

O parque pode ser visitado durante todo o ano. Mas, para planejar o passeio, é preciso estar atento às mudanças sazonais causadas pelas chuvas nos ambientes e rios da região.

A estação chuvosa em Roraima vai de maio a agosto. Maio e junho são os meses mais chuvosos. Em julho e agosto a quantidade de chuvas é menor e a navegação é feita com facilidade, sendo comuns períodos de sol seguidos de fortes pancadas de chuva. Em setembro tem início a estiagem e a vazante dos rios. A seca se acentua na região em janeiro e fevereiro, quando há maior facilidade para caminhadas nos ambientes alagáveis. Os meses de março e outubro costumam ser os mais quentes do ano.

O acesso ao Parque Nacional do Viruá se dá pela BR-174, rodovia federal que liga Manaus (AM) à Venezuela. São 190 Km de rodovia asfaltada partindo de Boa Vista-RR no sentido sul, ou 600 Km partindo de Manaus no sentido norte. Para chegar à Sede da UC, é preciso tomar a Estrada Perdida, no Km 322, e percorrer 7 Km de estrada de terra.

É importante o agendamento prévio da visita com no mínimo quatro dias de antecedência para a emissão de autorização através do e-mail ngi.roraima.usopublico@icmbio.gov.br.

Foto: Reprodução/Roraima Hostel

Fazenda Buritizal Grosso

Para uma experiência rural autêntica, a Fazenda Buritizal Grosso é um destino imperdível. Situada na zona rural, a fazenda oferece aos visitantes a oportunidade de vivenciar o dia a dia do campo, com destaque para a criação de gado e as plantações de buriti. Além disso, o local possui paisagens deslumbrantes e é perfeito para passeios a cavalo, trilhas ecológicas e observação de pôr do sol.

Para chegar ao local é necessário sair de Boa Vista, capital de Roraima, sentido ao município do Bonfim (fronteira com a Guiana), rodando pela BR-401 por mais ou menos 124km, até chegar próximo à entrada da sede do município do Bonfim, se observa à esquerda, 100m antes, que indica a entrada para a área do Hotel Fazenda Buritizal Grosso (@faz.buritizal.grosso).

Foto: Gildo Júnior/Bora de Trip

Corredeiras do Bem-Querer

Se aventura e água fresca estão no seu radar, as Corredeiras do Bem-Querer são uma escolha perfeita. Localizadas no rio Branco, próximo à cidade de Caracaraí, as corredeiras são ideais para quem busca momentos de diversão em um ambiente natural. A água cristalina e o som relaxante das corredeiras proporcionam um cenário incrível para banho, piqueniques e atividades como caiaque.

As corredeiras do Bem-Querer ficam a 125km de Boa Vista, capital de Roraima, na região do município de Caracaraí. Ao chegar na placa, vicinal Bem Querer, entrar à esquerda e seguir por uma estrada de barro até chegar a uma fazenda à beira do Rio Branco. Irá passar por uma mata fechada e ao chegar na porteira do restaurante, avistará uma placa com o nome sítio arqueológico corredeiras do Bem-Querer.  

Foto: Gildo Júnior/Bora de Trip

Platô da Serra do Tepequém

O Platô da Serra do Tepequém é um convite ao aventureiro que existe em cada um de nós. Localizado no município de Amajari, o platô é famoso por suas trilhas desafiadoras, cachoeiras escondidas e vistas panorâmicas que impressionam até os viajantes mais experientes. Durante o trajeto, é possível encontrar vestígios da antiga exploração de diamantes, um lembrete histórico que agrega ainda mais valor ao local.

A área conta com alguma urbanização. No passado, a energia elétrica era fornecida por meio de um gerador que só funcionava das 7h às 21h, hoje há um maior e com funcionamento 24h. Uma estrada de asfalto vai até a Vila do Paiva, principal povoação da serra. Existem atualmente quatro restaurantes que servem café da manhã, almoço e jantar, além de várias pousadas e áreas de camping na subida da serra (Estância Ecológica do SESC) e na própria Vila do Paiva.

A Serra do Tepequém, no Amajari (município que faz fronteira com a Venezuela), fica a 210 km de Boa Vista. Partindo de Boa Vista siga pela BR-174 sentido Venezuela e um pouco depois do quilômetro 100 pegue a estrada à esquerda, a RR 203. São pouco mais de 50 km para chegar à sede do município do Amajari e outros 50 km para chegar ao vilarejo no topo da Serra.

Foto: Reprodução/Serviço Geológico Brasileiro

Cachoeira do Jatapú

Encerrando a lista com chave de ouro, a Cachoeira do Jatapú é um destino que mescla tranquilidade e beleza natural. Situada em uma região de floresta preservada, a cachoeira é cercada por vegetação exuberante e forma piscinas naturais perfeitas para um mergulho refrescante. Além disso, é um excelente ponto para quem gosta de fotografia, já que o contraste entre água, rochas e verde é simplesmente encantador.

A cachoeira fica na Usina Hidrelétrica de Jatapú, localizada a 55 Km da sede do Município de Caraoebe, a Sudeste do Estado. De Boa Vista é necessário seguir pelo trecho sul da BR-174, entrando no Km 500 na BR-210, que está parcialmente pavimentada. São 354 Km de Boa Vista até Caroebe. Da hidrelétrica é preciso pegar um barco para ter acesso a cachoeira.

Foto: Reprodução/YouTube/Dia Dia Nossa Gente

Tecnologias sustentáveis são usadas por projeto do Inpa para mitigar impactos climáticos

Fotos: Francisca Souza/Arquivo pessoal

Intitulado ‘Transferência de Tecnologias Sustentáveis para a Produção de Produtos Desidratados: Fomentando a Bioeconomia e Enfrentando as Mudanças Climáticas’, o projeto da pesquisadora Francisca Souza, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), tem como objetivo capacitar comunidades locais e fortalecer a bioeconomia, além de diminuir os impactos causados pelas mudanças climáticas na região.

A iniciativa busca transformar polpas e sementes desidratadas em farinhas e doces de rolo, utilizando métodos que preservam as propriedades nutricionais e minimizam o desperdício. Francisca afirma que serão utilizados frutos regionais, como cupuaçu, açaí, pitaya, banana e abacaxi, valorizando ainda mais os recursos naturais da Amazônia

Foto: Acervo
Fotos: Francisca Souza/Arquivo pessoal

Segundo a pesquisadora, a proposta representa um avanço significativo na promoção da sustentabilidade e da bioeconomia.

“Ao transferir tecnologias sustentáveis para a produção de produtos desidratados, estamos não apenas agregando valor a matérias-primas e reduzindo desperdícios, mas também fortalecendo comunidades locais e promovendo alternativas resilientes às mudanças climáticas”, frisa Souza.

Capacitação de comunitários 

Além de fortalecer a bioeconomia regional, a proposta vai capacitar produtores locais com práticas de produção ecoeficientes, proporcionando benefícios sociais, econômicos e ambientais. A tecnologia transferida visa mitigar os impactos das mudanças climáticas, por meio do uso responsável dos recursos e da criação de soluções sustentáveis para a produção de alimentos.

Foto: Acervo
Fotos: Arquivo pessoal / Francisca Souza

Edital inédito da Fapeam

O projeto está entre as três propostas contempladas no edital – Transferência não Onerosa de Tecnologias voltadas ao Enfrentamento da Estiagem e Eventos Climáticos e Ambientais do Estado do Amazonas (nº 001/2024) – da Fundação de Amparo a Pesquisa da Amazônia. (Fapeam). O edital oferece um aporte financeiro de R$ 138.599,84, provenientes do Tesouro Estadual, para despesas de capital e custeio dos projetos selecionados. 

*Com informações do Inpa

Litorina retoma passeios em Porto Velho em 2025; relembre a história

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Foto: Cássia Firmino/Rede Amazônica RO

Os passeios de litorina nos trilhos da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM) retornaram no dia 24 de janeiro, em Porto Velho (RO). As reservas podem ser feitas no local, ao lado da estação ferroviária, de forma gratuita.

Segundo a Prefeitura, a litorina percorrerá 800 metros dentro do pátio ferroviário, com capacidade para 11 pessoas. Os passeios ocorrerão às sextas-feiras, sábados e domingos. Confira os horários:

  • Sexta-feira, a partir das 14h.
  • Sábados e domingos, das 10h às 12h e das 14h às 18h.

O que é litorina?

A litorina é um pequeno vagão movido a diesel que foi usado durante a operação da ferrovia para transportar, principalmente, engenheiros, médicos, feitores e o salário dos funcionários. O passeio de litorina aconteceu por alguns meses em 2019, mas foi suspenso.

A restauração do vagão foi realizada por iniciativa dos próprios ex-ferroviários. Boa parte deles já têm mais de 80 anos e fazem questão de ver a litorina funcionando novamente.

O percurso é cercado pela floresta amazônica e passa por pontos históricos da EFMM como o Casarão dos Ingleses, construído no século XIX.

Relembre a história:

*Por Gabriel Farias, da Rede Amazônica RO

Grilos: insetos se tornam frequentes no período chuvoso na Amazônia

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Foto: Vanessa Monteiro

Basta cair uma chuva que alguns visitantes começam a aparecer. No chamado inverno amazônico, o dia a dia ganha novos integrantes, especialmente insetos, entre eles os grilos. Recentemente, em Belém (PA), muitas pessoas tem relatado o aparecimento constante e massivo de grilos dentro das residências.

Mas qual a relação deles com a chuva? Segundo a professora Telma Batista, entomologista da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), os grilos fazem galerias e túneis no solo, onde se reproduzem e depositam os ovos. Ela explica que o aumento deles também pode estar relacionado a mudanças de estação e a períodos mais longos de seca. 

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Foto: Vanessa Monteiro

A professora explica que os grilos se alimentam de raízes, folhas, matéria orgânica e costumam aparecer perto de hortas e jardins. Insetos noturnos, eles são atraídos pela luz.

Segundo a professora Telma Batista, é nesse período que também ocorrem os acasalamentos, e que o cri-cri característico é nada mais que um cortejo dos grilos machos.

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 Foto: Vanessa Monteiro

A professora explica que o grilo não é transmissor de doenças e não é um inseto que provoque algum tipo de ataque, embora seja indicado evitar o contato.

Embora sejam considerados pragas na agricultura, é diferente do que ocorre no ambiente urbano, segundo a professora.

“Eles sempre estão presentes, mas como ficam guardados no solo em outros períodos do ano, as pessoas não os vêem com frequência. Os produtores rurais são acostumados a lidar com eles em todas as fases do ano, mas no ambiente urbano é somente nesse período chuvoso que eles aparecem. Então não precisa entrar em pânico, porque com o tempo ele tende a ir embora”, orienta.

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Foto: Vanessa Monteiro

Ela explica que esses insetos são importantes para a manutenção do ecossistema.

Curiosidades

Se em algumas culturas os grilos são sinal de prosperidade, o que muita gente não sabe é que os grilos também são uma poderosa fonte de proteína e a criação de grilos é um mercado que se desenvolveu rapidamente nos últimos anos no Sudeste Asiático, como indicam dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Ainda de acordo com a FAO, mais de 1.900 espécies de insetos comestíveis são consumidas em todo o mundo, entre eles os grilos. Eles são considerados uma fonte alternativa de proteína às carnes convencionais. 

*Com informações da Universidade Federal Rural da Amazônia

‘Quibe acreano’ troca trigo por macaxeira e mostra diversidade cultural do estado; aprenda receita

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Foto: Reprodução/Rede Amazônica AC

Do espanhol Luís Galvez ao gaúcho Plácido de Castro, o Acre tem sido um espaço de encontro para múltiplas culturas em plena Floresta Amazônica desde o começo de sua ocupação há mais de 120 anos.

E foi dessa troca entre indígenas, nordestinos, japoneses, sírio-libaneses, bolivianos e peruanos e outras comunidades é que se formou a identidade cultural do povo acreano. E foi daí também que surgiram receitas emblemáticas como a saltenha, a baixaria, o tacacá e os quibes de arroz e macaxeira.

A história da imigração sírio-libanesa no Norte do Brasil se confunde com a própria história do Acre. A comunidade foi uma das primeiras a se estabelecer no Acre durante o 1º Ciclo da Borracha no começo do século 1920.

Na maioria jovens solteiros, eles começaram a instalar casas aviadoras na região para abastecer os seringais do Acre e, boa parte, nunca mais deixou o estado, estabelecendo linhagens que até hoje são conhecidas pela população.

Com as famílias sírio-libanesas vieram também contribuições para o artesanato e culinária. O quibe é uma delas, embora na receita tradicional a massa seja feita com trigo, no Acre acabou ganhando versões únicas, uma com arroz e outra com macaxeira, raiz também conhecida como mandioca Brasil a fora.

Foto: Reprodução/Rede Amazônica

E é essa receita que João Bosco, salgadeiro com mais de 30 anos de experiência, ensina a fazer.

Confira a receita completa:

4 kg de macaxeira
2 colheres de sopa de sal
1 colher de sopa de colorau
1 pitada de corante de gema de ovos
Margarina
Óleo para fritar

Recheio

1,5 kg de carne moída
cheiro verde a gosto
pimenta de cheiro a gosto
alho a gosto
cebola a gosto

Modo de preparo

  • Em uma panela de pressão com água coloque a macaxeira para cozinhar com o corante, o sal e o colorau e deixa cozinhar por 20 minutos;
  • Enquanto isso, coloque a carne em outra panela para escaldar até que a água da carne se solte. Depois escorra essa água usando uma peneira;
  • Acrescente o alho, a pimenta de cheiro e a cebola e frite a carne com uma pitada de colorau até ela ficar sequinha;
  • Tire a macaxeira da panela de pressão, escorra a água e depois passe a mandioca por uma peneira para que a massa fiquei no ponto para ser moldada;
  • Amasse e comece a moldar a massa afinando em uma das pontas e deixando um espaço maior no meio para colocar o recheio;
  • Ponha a carne dentro e feche o quibe afinando a outra ponta da massa;
  • Com um palito faça um furo na massa, segundo o chef, dessa forma se evita que o salgado exploda e cause acidentes;
  • Com cuidado, coloque os quibes em uma panela com óleo fervente até que eles fiquem cobertos. A ideia aqui é apenas dourar a massa, pois tanto a macaxeira quanto o recheio já estão cozidos;

    Sirva e aproveite!

    *Por Yuri Maciel, da Rede Amazônica AC

Exposição ‘Quanto + Preto Melhor’ destaca a força da arte negra na Amazônia

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Foto: Divulgação

O Centro de Artes Visuais Galeria do Largo, no Centro de Manaus (AM), será palco de uma celebração à arte negra contemporânea com a inauguração da exposição coletiva ‘Quanto + Preto Melhor‘.

O projeto tem a curadoria de Marcelo Rufi, artista e pesquisador reconhecido por sua atuação em projetos que valorizam as narrativas afro-amazônicas. A mostra resgata e amplia histórias invisibilizadas, promovendo reflexões sobre letramento racial e a força ancestral que permeia a negritude.

O projeto vem sendo desenvolvido há cerca de 4 anos pelo grupo Arte Ocupa com o auxílio de Marcelo, que teve sua inspiração em meio a um trabalho de faculdade.

A exposição reúne trabalhos dos artistas participantes do grupo Arte Ocupa. São eles: Anderson Souza, André Cavalcante Pereira, Andrew Ponto, Cigana do Norte, Edvando Alves, Estevan Leandro, Jorge Liu, Manuo, Rana Mariwo, Travamazonica, Ventinho, Vivian Evangelista e Zem Babumones.

Por meio de instalações, esculturas, pinturas e performances, as obras revelam a pluralidade das expressões artísticas negras e a profundidade cultural da Amazônia.

“A exposição propõe uma imersão. Ela é, sobretudo, uma homenagem e exaltação. O público vai levar consigo a experiência de conhecer mais sobre a arte contemporânea manauara em diferentes técnicas e narrativas não lineares, que abordam temas como racismo estrutural, afrofuturismo e memória ancestral”, afirma o curador.

Foto: Divulgação

Para Marcelo Rufi, que também é ativista cultural, a exposição é um marco importante para a representatividade da arte negra na região. “A proposta é usar a arte como uma ferramenta de educação e transformação, convidando o público a refletir sobre o impacto das histórias que foram invisibilizadas e o poder da ancestralidade que nos move”, destacou.

O próximo projeto, já em produção pelo grupo Arte Ocupa, será de oficinas e residências artísticas com o tema “Vejam antes que me tirem daqui”, que dialoga a respeito da memória e valor afetivo presente nos espaços públicos da cidade.

A abertura da exposição contará com apresentação do Maracatu Pedra Encantada, em meio a um cortejo que se inicia no Largo de São Sebastião e se estende até a Galeria do Largo, onde o grupo será homenageado na exposição.

A entrada é gratuita e a mostra permanecerá em exibição no Centro de Artes Visuais Galeria do Largo até o final de fevereiro. O espaço funciona de quarta a domingo, das 15h às 20h.

Amazônia registra maior área queimada desde o início do ‘Monitor do Fogo’

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Queimadas na cidade de Altamira, no Pará. Foto: Victor Moriyama/Greenpeace

Em 2024, a Amazônia teve 17,9 milhões de hectares queimados. Essa é a maior área registrada desde 2019 quando o Monitor do Fogo, iniciativa da rede MapBiomas Fogo coordenada pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), iniciou suas medições e confirma um crescimento de 67% na área queimada na floresta amazônica.

Em 2024, a Amazônia registrou a maior área queimada dos últimos seis anos, consolidando-se como o bioma mais afetado pelas chamas no Brasil. Foram 18 milhões de hectares consumidos pelo fogo, o que representa 58% de toda a área queimada no país e um aumento de 67% em relação a 2023. Esse crescimento expressivo concentra-se, em grande parte, nas áreas queimadas no Estado do Pará, que liderou o ranking nacional com 7,3 milhões de hectares. No bioma Amazônia, a área de floresta afetada pelos incêndios superou as queimadas nas áreas destinadas ao uso agropecuário, chegando a aproximadamente 8 milhões de hectares – um volume que equivale a 44% de toda a área queimada.

Leia também: Fogo teve alta de 64% em florestas públicas não destinadas em 2024

“A floresta amazônica enfrentou um aumento significativo nas queimadas devido a uma combinação de fatores humanos e climáticos, especialmente em função do fenômeno El Niño, que teve início em meados de 2023. Essa condição reduziu as chuvas na região amazônica e intensificou o período de seca, ocasionando um solo menos úmido e uma vegetação mais vulnerável às queimadas, sejam elas acidentais ou propositalmente iniciadas. Embora a seca, por si só, não seja a causa do aumento das queimadas, ela potencializa as queimadas originadas por ação humana, como o desmatamento e a grilagem para expansão de áreas produtivas”, explica Felipe Martenexen, pesquisador do IPAM. 

No contexto estadual, Tocantins e Maranhão possuem territórios abrangendo tanto o bioma Amazônico quanto o Cerrado, que foram os dois biomas mais afetados pelos incêndios em 2024. 

Foto: Reprodução/IPAAM

“As diferenças no perfil de áreas queimadas na Amazônia e no Cerrado refletem as particularidades ecológicas de cada bioma, influenciando as estratégias de prevenção. Na Amazônia, o fogo afetou predominantemente áreas de florestas nativas em 2024. Já no Cerrado, o fogo ocorreu principalmente em áreas de formações savânicas, que são ecossistemas adaptados ao fogo, mas que, em excesso, sofrem degradação. Essas diferenças sugerem que a Amazônia demanda esforços focados na fiscalização do desmatamento e controle de atividades ilegais, enquanto o Cerrado requer estratégias voltadas para o manejo integrado do fogo e na conservação das áreas naturais”, aponta Vera Arruda, pesquisadora do IPAM. 

Floresta em chamas

As formações florestais foram a formação natural mais atingida pelas chamas, com uma área atingida de 7,6 milhões de hectares em 2024 – 3,2 vezes a mais do que no ano anterior. O fogo afetou, principalmente, áreas do sudeste paraense, na fronteira do bioma amazônico com o Cerrado, e parte do Estado de Roraima. 

Leia também: Saiba como estão divididas as regiões de integração dos municípios do Pará

“Chama a atenção a área afetada por incêndios florestais em 2024. Normalmente, na Amazônia, a classe de uso da terra mais afetada pelo fogo tem sido historicamente as pastagens. Em 2024 foi a primeira vez desde que começamos a monitorar a área queimada que essa lógica se inverteu. A floresta úmida passou a representar a maioria absoluta da área queimada, sem dúvida um fato preocupante visto que uma vez queimada, aumenta a vulnerabilidade e a chance dessa floresta queimar novamente”, afirma Ane Alencar diretora de Ciência do IPAM e coordenadora da iniciativa Mapbiomas Fogo.

Além disso, 6,7 milhões de hectares de pastagens do Brasil foram atingidos pelas chamas em 2024, um aumento de 31% em relação a 2023, e avançou principalmente sobre áreas da Amazônia, 41% dos pastos queimados no Brasil. Áreas de agricultura totalizaram 1 milhão de hectares queimados, 198% a mais do que no ano anterior.

Estados e municípios

Todos os estados que mais queimaram em 2024 registraram grandes avanços do fogo em 2024. Na Amazônia, ainda ressecada pelas estiagens de 2023 e 2024, Pará e Roraima aumentaram suas áreas queimadas em 87% e 66%, respectivamente.

Leia também: Incêndios na Amazônia queimaram área 10x maior do que a de desmatamento, aponta estudo

No Mato Grosso, que reúne Amazônia, Cerrado e Pantanal, a área queimada chegou a 6,8 milhões de hectares queimados, atingindo principalmente áreas de vegetação nativa como florestas, savanas e campos alagados, que queimaram juntos 4,7 milhões de hectares. O Estado ocupa a segunda posição na lista após um aumento de 198% na sua área afetada pelo fogo, impulsionado por secas severas, mudanças climáticas e desmatamento. A situação pode se agravar com a aprovação de uma lei estadual que reduz parte da reserva legal do bioma Amazônia de 80% para 35%, aumentando o risco de desmatamento em 5,5 milhões de hectares e comprometendo a biodiversidade, o clima e a produtividade agrícola.

*Com informações do IPAM
 

Forno de baixo custo para fabricação de biocarvão visa diminuir impacto ambiental da cadeia produtiva do açaí na Amazônia

Foto: Moisés Mendonça

Iguaria muito valorizada na Amazônia desde antes da chegada dos colonizadores, o açaí tornou-se hoje um alimento planetário, com entusiasmados consumidores dos Estados Unidos até a Ásia. Sua polpa, misturada ao extrato de guaraná, frutas, granola e servida em baixas temperaturas, caiu no gosto dos esportistas, tornando-se item obrigatório no cardápio de quiosques à beira-mar pelo seu sabor adocicado e refrescante.

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Porém, é preciso distinguir o açaí que fascina os habitantes da Amazônia (em geral servido com farinha de mandioca ou de tapioca e peixe ou camarão frito) da polpa açucarada, acompanhada de guaraná, que efetivamente globalizou o consumo da fruta e fez sua produção disparar. Dados da Pesquisa Industrial Anual divulgados em 2023 pelo IBGE apontam que, em 2014, o Brasil produzia apenas 6,7 milhões de toneladas de polpa. Em 2021, esse total já havia superado os 100 milhões de toneladas.

O estado do Pará, que tem no açaí sua segunda principal cultura, depois da soja, responde por 90% da produção nacional. Essa liderança gera renda para os produtores, em sua maioria estabelecidos em pequenas e médias propriedades que operam em regime de organização familiar. Por outro lado, a crescente produção vem criando problemas de ordem ambiental, em virtude da quantidade de resíduos gerados, principalmente pelo descarte inadequado do caroço da fruta.

Para produzir a polpa, o açaí deve ser colhido e batido em equipamentos específicos para ser despolpado. O que sobra, além do líquido espesso de cor roxa, são grandes volumes de sementes, que representam a maior parte do volume da fruta, e muitas vezes são descartados em vias públicas ou em lixões, podendo causar o assoreamento e a contaminação de igarapés, riachos e outros corpos d’água.

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Chorume escorrendo pela linha d’água. Substância pode contaminar igarapé, que costuma ser fonte de alimentação humana e animal, além de recurso para irrigação e psicultura. Foto: Moisés Mendonça

Durante o projeto de mestrado, o engenheiro agrônomo Moisés Mendonça desenvolveu um protótipo de forno de baixo custo para transformar o caroço do açaí em biochar. O produto, também conhecido como biocarvão, é obtido a partir da queima de uma biomassa (o caroço) a altas temperaturas e baixa oferta de oxigênio, em um processo chamado pirólise. O biochar não é um produto novo na literatura científica, mas suas aplicações têm sido objeto de diversos estudos nos últimos anos em virtude dos efeitos benéficos que pode promover para o solo.

Na hora de escolher um tema para a sua dissertação, o pesquisador procurou algo que se conectasse com a realidade amazônica. Ao pesquisar na literatura científica, conheceu o biochar e associou suas propriedades à problemática dos resíduos sólidos oriundos da produção do açaí.

“O açaí é muito importante para o Pará, gerando renda e riqueza para o estado. Mas, quando olhamos para o lado ambiental, fica claro o quanto essa produção agride o meio ambiente local”, explica o egresso da Unesp, atualmente cursando o doutorado em Desenvolvimento Rural e Sistemas Agroalimentares no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA), no câmpus da cidade de Castanhal. “Onde quer que exista agroindústria familiar ou uma grande produção, podem ser encontrados resíduos de caroço. O problema não está apenas na poluição visual. O resíduo exposto a céu aberto gera chorume, que segue a linha d’água e afeta igarapés, riachos e rios. O impacto é grande”, diz.

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Melhora para a qualidade do solo

Orientador do projeto de mestrado de Mendonça em Jaboticabal, o engenheiro agrônomo Wanderley de Melo explica que o biochar, por não sofrer uma queima total, como se dá durante a fabricação do carvão convencional, acaba preservando uma série de elementos importantes, como o enxofre, fósforo e outros nutrientes que melhoram a fertilidade do solo. 

“Usamos o caroço do açaí nesse processo. Mas poderíamos usar lodo de esgoto, podas de árvores ou o resíduo de quase qualquer cultura agrícola. O Brasil é hoje um grande consumidor e importador de fertilizantes. Seria importante se a gente aproveitasse esses resíduos para reduzir essa dependência”, afirma o professor. Atualmente, ele supervisiona outro projeto na área, no qual a produção de biochar ocorre a partir de restos da produção do cacau.

Caroço de açaí secando ao sol para a produção de biochar. Foto: Moisés Mendonça

Outra vantagem da produção do biochar é que a queima parcial pela pirólise também imobiliza moléculas de carbono que, caso ocorresse a queima total, seriam liberadas na atmosfera. Uma vez que o carbono esteja retido no solo, sua liberação se dará por meio do processo natural de decomposição do biochar, que é lento. Esse aprisionamento do carbono no solo contribui para reduzir a emissão de gases de efeito estufa.

Mendonça destaca também como benéfica a capacidade do biochar de reter a umidade do solo. “Isso é importante na Amazônia, onde temos seis meses de chuva e seis meses secos. Além disso, o solo é arenoso, o que reduz sua capacidade de reter a água. O biochar, por ser um material poroso, ajuda a reter essa água nas raízes da planta durante o período mais seco do ano”, diz ele, que além de doutorando é professor no IFPA.

Forno usa material acessível

O projeto que Mendonça desenvolveu em seu mestrado envolveu o desenvolvimento de um forno rústico, de estrutura simples e barata, que se baseia no reúso de materiais facilmente encontrados na região. Isso permite que a tecnologia seja apropriada pelos agricultores locais, capacitando-os a produzirem seu próprio biochar. O trabalho também avaliou a aplicação deste biocarvão produzido rusticamente como condicionador de solo para a produção de mudas de pimenta-do-reino, outra cultura de importância econômica da região. A pesquisa foi publicada em setembro no Journal of Environmental Management.

O forno foi construído a partir de um tambor grande de 200 litros. Dentro dele foi colocado um tambor menor, de 100 litros, totalmente carregado com os caroços do açaí. A diferença de volume entre os dois tambores foi preenchida com material combustível, no caso resíduos de podas da própria fazenda-escola do câmpus do IFPA, em Castanhal (PA).

“Para elaborar esse forno, pesquisei alguns equipamentos fora do Brasil. Cheguei a esse modelo que usa tambores porque se mostrou o material mais simples e acessível que encontrei. Ao longo de algumas rodovias do Pará é comum encontrar vários desses tambores, que são descartados pela indústria e depois revendidos”, diz Mendonça.

Além da construção do forno rústico, o experimento também analisou os efeitos da aplicação de quatro taxas diferentes (4, 8 16 e 32 g) de biochar à terra, cada uma com quatro granulometrias (3, 5, 7 e 12 mm de diâmetro), além de um grupo de mudas controle que não continha o biocarvão. Os resultados apontaram que a combinação de 32 g (equivalente a uma aplicação de 32 t/ha) com partículas de 5 mm foi a que apresentou os melhores resultados para o crescimento das raízes das mudas. O trabalho também encontrou efeitos positivos na altura das mudas em aplicações de 16 t/ha com partículas de 5 mm. O uso do biochar mostrou ainda capacidade de aumentar a retenção de água, afetando positivamente a umidade do solo.

A comprovação de que o biochar, mesmo que produzido de forma rústica e acessível, apresenta impactos positivos nas propriedades e fertilidade do solo, estimulou Mendonça a aperfeiçoar o produto durante o doutorado. Seu orientador nesta etapa é o engenheiro agrônomo Romier da Paixão Souza. Souza explica que a apropriação da tecnologia por parte dos produtores locais é sempre um desafio para a aplicação de uma tecnologia social. Professor no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural e Sistemas Agroalimentares do IFPA, ele tem centrado boa parte de sua atuação acadêmica nos últimos anos na educação no campo e no desenvolvimento de tecnologias sociais aplicáveis à agroecologia.

“Além desse processo de apropriação, outra dificuldade costuma ser a adaptação e a construção de equipamentos que efetivamente atendam às condições dos produtores rurais e cuja utilização seja realmente possível”, explica o professor do IFPA.

Para enfrentar o primeiro desafio, Souza aposta na educação ambiental junto aos agricultores, suas famílias e no entorno das comunidades. Já a elaboração de equipamentos que sirvam aos agricultores passa, em parte, pelo trabalho que vem sendo realizado no Laboratório de Bioinsumos da Amazônia.

A proposta da estrutura, explica o professor, é abrigar projetos inovadores de tecnologia social, mas também estimular o uso por parte dos produtores da compostagem, vermicompostagem e de biofertilizantes para reduzir o uso da adubação química, em geral mais cara e agressiva ao meio ambiente.

“Uma tecnologia nova que temos trabalhado é o uso dos microrganismos eficientes capturados na mata. Por meio de um processo que adaptamos para a região amazônica, esses organismos são multiplicados em laboratório e dispostos na forma de uma biocalda benéfica para as plantas”, explica.

Fumaça gerada pelo início da queima dos resíduos para produção do biochar. Foto: Moisés Mendonça.

Outro projeto do laboratório desenvolveu uma colheitadeira manual de mandioca que facilita o arranque do tubérculo do solo, diminuindo consideravelmente o esforço do produtor. “Essas tecnologias são registradas na forma de patentes com conhecimento aberto. A ideia não é gerar uma patente para ganhar dinheiro, mas para que as pessoas possam se apropriar da tecnologia”, diz Souza.

Após uma primeira versão concebida durante o mestrado na Unesp, Mendonça tem trabalhado no aprimoramento do forno junto a um assentamento da cidade de Castanhal, onde produtores locais testam, avaliam e colaboram com sugestões de melhorias no projeto. Entre os incrementos da nova versão, por exemplo, está o controle da temperatura do forno, permitindo que o biochar fique pronto após um período de 6 a 8 horas, enquanto a versão anterior necessitava de 12 horas de queima.

“A proposta é que o forno para a produção de biochar a partir do caroço do açaí reúna aspectos sociais, ambientais e econômicos. Isso porque o produtor poderá deixar de depender da aquisição de fertilizantes químicos para produzir seu próprio adubo orgânico, e possam inclusive comercializar esse material como um produto”, diz Mendonça.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal da Unesp, escrito por Marcos do Amaral Jorge