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Carnaval dos ribeirinhos: no interior do Pará, o Rio Tocantins é a avenida do carnaval

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Os brincantes vestem fantasias exuberantes costuradas em cetins coloridos e seus rostos são cobertos por máscaras cabeçudas, feitas de papelão. 

É Carnaval, tempo de folia, e um barco segue pelo rio. Mas ele não é um simples barco. Nele, dezenas de pessoas festejam ao som das marchinhas animadas. Os brincantes vestem fantasias exuberantes costuradas em cetins coloridos e seus rostos são cobertos por máscaras cabeçudas, feitas de papelão. O barco encosta e todos descem, já a postos, em fila. Um palhaço entra e pede licença para começar sua rima. Vai começar a apresentação. Nas cidades de Cametá e Mocajuba, interior do Pará, o Rio Tocantins se transforma na avenida dos desfiles e os barcos substituem os carros alegóricos para a folia das comunidades ribeirinhas.

A festividade, que hoje é chamada de Carnaval das Águas, já é uma tradição secular na região amazônica que envolve o Rio Tocantins, com histórias que remontam desde o ano de 1890. Na época, um grupo de jovens saía em barcos tocando serenatas pelo rio a fim de conquistar o coração das moças ribeirinhas. 

A brincadeira foi adotada para a época carnavalesca do município de Cametá. Foram se formando grupos com características que se aproximavam da palhaçaria, dos cortejos de mascarados e dos Zé Pereira, grandes fantasias de bonecos. No começo deste segundo momento, somente homens participavam dos cordões de mascarados, utilizando blusas e calças de cetim multicor ou trajes considerados femininos. 

Já no final do século XX, as mulheres passaram, aos poucos, a ser inseridas como brincantes. A celebração alcança um terceiro estágio em 2010, quando a Secretaria de Cultura, Turismo e Desporto de Cametá nomeou oficialmente a festividade como Carnaval das Águas e passou a documentar, em média, 25 grupos carnavalescos que atuavam no município de Cametá e, aproximadamente, outros 5 grupos presentes em Mocajuba.

Foto: Acervo da Pesquisa

A pesquisadora Elizane Gonçalves Miranda, do Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia da Universidade Federal do Pará, desenvolveu a dissertação Dançantes das Águas: o carnaval dos ribeirinhos da Amazônia Tocantina. 

“Dá um frio na barriga todas as vezes que vejo um carnaval – é assim que a gente diz: ‘Lá vem o carnaval’ – vindo no rio. Sinto a emoção de poder presenciar esse espetáculo das águas amazônicas e ter a certeza de que a festa carnavalesca vai para além das fronteiras das cidades, que ela está presente entre os povos da floresta, ancestrais e mantenedores da nossa história e de nossas memórias festivas. O que sinto vai além da felicidade de vê-los dançando”,

detalha a pesquisadora, que nasceu no município de Cametá, na localidade de Rio Furtados, e cresceu assistindo às apresentações anuais.

A preparação para a Folia 

Engana-se quem acredita que o Carnaval das Águas é uma simples brincadeira. São necessárias centenas de mãos para construir as apresentações que encantam as comunidades do Rio Tocantins. Meses antes do carnaval, os responsáveis pelos grupos entram em contato com a Secretaria de Cultura do município para arrecadar verba. Outra parte do apoio vem das famílias e dos amigos que cedem espaços para o treinamento da apresentação e fornecem comida e ajuda na montagem das roupas para o espetáculo.

Como parte de sua dissertação, Elizane entrevistou uma série de brincantes e coordenadores dos grupos carnavalescos da região, incluindo o Seu Clodomiro, que foi o primeiro palhaço do grupo “Os Piratas do Amor”, no qual dançou por 25 anos. Apesar da dificuldade na fala, causada por um Acidente Vascular Cerebral (AVC), o idoso não hesitou em compartilhar seu amor pelo carnaval e a paixão pela festividade, herdada de seus antepassados.

“Despretensiosamente lhe perguntei o que o carnaval representava para ele e o quanto gostava dos “Piratas”. Sem poder falar muitas palavras, chorou. Chorou como quem transbordava amor, como quem queria me contar todas as suas experiências vividas no carnaval. Vê-lo chorar emocionado ao falar me fez perceber a emoção estampada nas palavras, em seu rosto e nos gestos que fazia ao me mostrar como ele se apresentava na condição de primeiro palhaço quando dançava. Chorei também, é evidente”,

conta a pesquisadora.

Seu Clodomiro faleceu em fevereiro de 2022, mas suas narrativas ajudam a tecer a história do Carnaval das Águas e a manter o legado da festividade para as futuras gerações, que lutam para conservar a tradição da região. Bem, o barco já está de saída, mas não se preocupe, que logo mais já começa a preparação para o carnaval do ano que vem.

Sobre a pesquisa 

A dissertação ‘Dançantes das Águas: o carnaval dos ribeirinhos da Amazônia Tocantina’ foi produzida por Elizane Gonçalves Miranda no Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia, da Universidade Federal do Pará, com orientação do professor Aldrin Moura de Figueiredo. 

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal Beira do Rio, da UFPA, escrito por Jambu Freitas

Amizade marca criação do histórico bloco amapaense ‘A Banda’

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Festa carnavalesca foi criada na década 60 a partir da amizade de José Figueiredo de Souza, o ‘Savino’, e outras personalidades do Estado

Entre os amapaenses, não há outra pedida na tradicional terça-feira de Carnaval. Ainda nas primeiras horas do dia, os foliões já se preparam para desfilar pelas ruas de Macapá na ‘A Banda‘. O bloco criado na década de 60 nasceu de um movimento de resistência e amizade entre personalidades irreverentes do Amapá.

Registro da passagem do bloco pelas ruas de Macapá em 2023. Foto: Rafael Aleixo/g1 Amapá

Entre os fundadores está José Figueiredo de Souza, carinhosamente chamado de Salvino. Ele relembra como tudo começou. 

“Fomos reunindo e o movimento foi aumentando e estamos aqui até hoje. A Banda faz parte da história do Amapá, ela é do povo! Sinto a alegria disso, nós sabemos levar a alegria para a população”, 

destacou.

Na época, na rádio, tocava a clássica música de Nara Leão, “A Banda”, a qual carinhosamente também nomeia o bloco.

Savino, Amujacy Borges Alencar, Jarbas Gato, Zequinha do Cartório e outros amigos, como bons amantes de carnaval, resolveram sair pelas ruas da capital ao som da canção que fala sobre a energia contagiante do mês de fevereiro.

Salvino e Helder Carneiro, fundadores do bloco. Foto: A Banda/

Ainda nos primeiros anos de criação, o bloco teve que ser resistente. A manifestação gerou preocupação por parte dos militares. Afinal, ele foi criado na década de 60, momento marcado pela censura política no Brasil.

A música que intitula o bloco acompanha versos que, para aquela década, eram considerados ofensivos aos militares. 

“Mas para meu desencanto o que era doce acabou. Tudo tomou seu lugar depois que a banda passou e cada qual no seu canto, em cada canto uma dor depois da banda passar cantando coisas de amor”,

diz a canção.

Segundo Helder Carneiro, um dos membros do bloco, quando o grupo pensou em passar pela tradicional Avenida FAB, os militares fecharam o trecho em frente ao antigo Palácio do Governo, com medo de uma revolta por parte dos foliões. 

“Na época, os militares tinham medo de uma revolta que ameaçasse o poder, então, como o bloco vinha com o nome ‘A Banda’, em homenagem à música da Nara Leão, os soldados fecharam o trecho onde hoje fica a sede do Ministério Público, na Avenida FAB. Na época, isso foi o gás que o bloco precisava, eles bateram o pé e disseram: ‘pois ano que vem nós vamos sair de novo’, e isso já dura 59 anos”,

relembra Helder Carneiro.

Quem são os bonecos do ‘A Banda’? 

Conheça a criação dos bonecos . Foto: José Lima/Arquivo g1 Amapá

Além das fantasias criativas das pessoas que acompanham o bloco, os bonecos gigantes são uma atração à parte na terça-feira de carnaval.

O primeiro boneco criado foi na verdade uma figura feminina, a ‘chicona’. Ela foi uma enfermeira muito conhecida na década de 1960, e sua boneca foi levada em uma das edições por um folião conhecido como Cutião, que todos os anos estava no bloco.

“Depois disso, surgiram outros bonecos, como o Anhanguera, que homenageia Wanderlei, antigo folião. Ele vinha sempre da Jovino Dinoá e encontrava a Chicona na esquina da escola Alexandre Vaz Tavares. Lá, o professor Munhoz uma vez decidiu casar os dois, que tiveram um filho: o Sacaca, o terceiro boneco”, relembra Helder.

Desta união, outros filhos nasceram. Atualmente, o bloco conta com nove bonecos. Para caracterizar cada personagem é gasto cerca de R$8 mil reais, por isso Salvino brinca: “Ter filho é muito caro, então operamos a Chicona”.

Em 2024, A Banda sai na terça-feira (13) e pretende arrastar estima reunir cerca de 150 mil pessoas em Macapá. 

Passagem do bloco pelas ruas de Macapá em 2023. Foto: Rafael Aleixo/g1 Amapá

Da rádio para as ruas: Banda Difusora e o resgate do Carnaval tradicional

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Nascida a partir de uma conversa entre funcionários de uma rádio em Manaus, a banda acontece todos os anos no Centro da cidade.

Uma das mais icônicas bandas de Carnaval realizadas no Centro de Manaus, a Banda da Difusora, leva anualmente mais de 30 mil foliões às ruas da capital amazonense, conforme estimativa da Polícia Militar do Amazonas (PMAM). Mais especificamente à Avenida Eduardo Ribeiro, próxima aos grandes monumentos culturais da cidade, como o Teatro Amazonas.

É nesse cenário secular que a banda, que está intimamente atrelada a programação da Rádio Difusora, iniciou como uma tímida ideia de seus funcionários Fesinha Anzoategui , Fraciomar Lima, do colaborador Carlos Alberto Medeiros e de Elieyde Menezes em 1995.

A Banda da Difusora leva milhares de foliões às ruas todos os anos. Foto: Divulgação

É Elieyde Menezes quem relembra como nasceu a ideia que tomou proporções dignas de arrastar multidões.  

“A ideia de criar a Banda surgiu como meio de resgate do tradicional Carnaval de rua no Centro Histórico da cidade de Manaus e a Batalha dos Confetes que ocorria na época. Desta forma, o endereço escolhido para a festa carnavalesca foi a Avenida Eduardo Ribeiro, principal Avenida do Centro da cidade, palco dos grandes desfiles de blocos de rua, escolas de samba e escolha da Rainha do Carnaval”, 

conta.

Segundo Elieyde, com um público que alcança, a cada ano, números cada vez maiores, a banda possui uma outra função: “outro objetivo da Banda da Difusora é agregar o ouvinte a maior festa popular do País e uma maneira de agradecer pelo retorno que dão a emissora ao longo dos meses e anos”.

Existe algum conceito por trás da programação da banda?

“A cada edição, a organização da festa busca um tema para celebrar, e na primeira edição (1996) não poderia ser diferente. O tema então escolhido foi ‘Resgatando o Carnaval da Avenida’. Já na primeira Banda da Difusora, a Cerveja Antártica, hoje AMBEV, nos apoiou. Naquele ano houve a distribuição de saris e camisas para os ouvintes e foliões”, comenta Elieyde sobre uma das edições mais marcantes.

A festa está diretamente ligada a programação da rádio, por isso costuma receber durante a execução da festa locutores e apresentadores dos programas mais conhecidos da emissora, além de optar em manter um formado “ao vivo” durante a Banda com vinhetas, músicas, etc. “O formato é mantido e sofreu poucas alterações, uma vez que assim como o ouvinte, a banda já conquistou público fiel e assíduo”, garante. 

Foto: Divulgação

A Banda da Difusora conquistou o espaço no calendário oficial do Carnaval de Manaus há cerca de 15 anos. Faz parte da programação do cenário cultural da Cidade e ocorre sempre no sábado magro de Carnaval. Também já recebeu o Título de Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado doAmazonas.

“As atrações da Banda da Difusora sofrem mudanças a cada quatro anos, buscando atualizar e oportunizar bandas locais durante a execução da festa, uma vez que é a maior bandeira que a Rádio Difusora levanta ao longo dos 75 anos de existência, dar valor ao que é da terra”, assegura Elieyde sobre a consolidação da banda carnavalesca.

Carnaval Amazônico

O Carnaval Amazônico é um projeto realizado pela Fundação Rede Amazônica, correalizado pelo Grupo Rede Amazônica, com o apoio do Governo do Estado do Amazonas, através da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Amazonas. Ele visa resgatar a importância histórica das tradicionais bandas e blocos de Carnaval de Manaus.

Flashs ao vivo, clipes das bandas, campanhas educativas (conscientização contra direção perigosa, combate à exploração sexual de mulheres e crianças e infecções sexualmente transmissíveis) e campanhas ambientais (plantio de mudas de árvores em área pré-selecionada, programa de coleta de resíduo e compensação da emissão de carbono) também fazem parte do projeto.

O Carnaval Amazônico busca unir tradição, cultura e entretenimento, levando um pedaço da Amazônia para o público de toda a Região Nor 

Desfiles e o tradicional Carnaval do Amapá são transmitidos pelo Amazon Sat

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Exibindo os desfiles de Macapá e os blocos de rua de Santana, as transmissões acontecem dos dias 9 à 13 e ainda no dia 17 de fevereiro.

O Carnaval do Amapá é culturalmente rico. De um lado, os desfiles das escolas de samba na capital do Estado, Macapá; do outro, o tradicional Carnaval de rua que atrai milhares de foliões, todos os anos, no município de Santana.

Para mostrar a imensidão desta festividade, o canal Amazon Sat exibe, com exclusividade, as duas ‘personalidades’ deste célebre Carnaval, dos dias 9 à 13 e ainda no dia 17 de fevereiro. 

Carnaval em Macapá é marcado pelos sambas-enredo e desfiles. Foto: Rede Amazônica/Acervo

“Este ano estamos cobrindo tanto a festa em Macapá, que é no Sambódromo – o Carnaval de samba-enredo, com as escolas desfilando -, quanto o de Santana, que fizemos, também, no ano passado [focado nos blocos de rua]”, 

diz Carlos Augusto, diretor de Marketing do Grupo Rede Amazônica no Amapá.

O diretor destaca o fato de ser a primeira vez que a transmissão será realizada desta maneira, com a cobertura de todos os portais da Rede Amazônica e filiados, e com mais de 30 horas de exibição.

Carnaval de rua realizado em Santana. Foto: Divulgação/Acervo Rede Amazônica AP

Confira a programação:

Sexta (09/02) e sábado (10/02)

Exibição dos samba-enredos, das apresentações realizadas no Sambódromo do Amapá

De  22h às 6h (horário do Amapá)

Sábado (10/02)

Exibição dos blocos de rua em Santana

De 22h às 6h (horário do Amapá) 

Domingo (11/02), segunda-feira (12/02) e terça-feira (13/02)

Exibição do Carnaval de rua de Santana

De meia noite às 4h (horário do Amapá)

Sábado (17/02)

Carnaval da Ressaca em Santana

De meia noite às 2h (horário do Amapá)

Programa de monitoramento ambiental no Amazonas é destaque em jornal de Harvard, nos EUA

As equipes de Harvard e da UEA atuaram na coleta de amostras de água e sedimentos do Rio Negro, além de amostras do solo e peixes.

Pesquisas desenvolvidas por meio do Programa de Monitoramento de Água, Ar e Solos do Estado do Amazonas (ProQAS/AM), da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), foram destaque em artigo da Harvard Gazette, o portal de notícias oficial da Universidade Harvard, nos Estados Unidos. O programa conta com apoio do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam).

O material aborda a expedição do barco de pesquisa do ProQAS/AM ‘Roberto Santos Vieira’, que teve como um dos objetivos a análise da presença de mercúrio nas águas do Rio Negro, em setembro de 2023. Ao longo de duas semanas, as equipes de Harvard e da UEA atuaram na coleta de amostras de água e sedimentos do rio, além de amostras do solo e peixes.

Foto: Rafael Lopes/UEA

A expedição foi nomeada Campanha Oxiouuwi, que significa preto na língua indígena Yanomami. Orientada por Scot Martin, Fred Kavil e Elsa Sunderland, a equipe de Harvard na expedição teve como integrantes Evan Routhier, estudante de pós-graduação em Ciências e Engenharia Ambiental, e Faiz Haque, também pesquisador da School of Engineering and Applied Sciences (Seas). Os pesquisadores trabalharam em conjunto com as equipes de Sergio Duvoisin Junior e Rodrigo Souza, professores da UEA.

Enquanto o foco dos pesquisadores de Harvard esteve na análise do mercúrio e metilmercúrio, a equipe da UEA atuou na coleta de amostras para verificar, de forma geral, a qualidade da água na região, por meio de 144 parâmetros de monitoramento.

O reitor da UEA, André Zogahib, exalta o trabalho realizado por meio do ProQAS/AM, ressaltando a importância da parceria com Harvard para o fortalecimento da pesquisa na universidade. “Essa colaboração e os resultados obtidos demonstram o compromisso da UEA com a pesquisa e inovação, além de reforçar o impacto positivo que nossas iniciativas podem ter não apenas em nossa região, mas em todo o mundo”, afirmou.

Segundo Scot Martin, todo o trabalho foi realizado por meio da excelente colaboração com o time da UEA e que a pesquisa não seria possível sem a parceria. 

“Tivemos muita sinergia ao trabalhar com a equipe da UEA, tanto nas atividades de pesquisa quanto na coleta de amostras sob o contexto amazônico. Além disso, tivemos o essencial apoio logístico por meio do barco”,

disse.

Foto: Reprodução

O professor Sérgio Duvoisin Jr. explica que a UEA contribui na parceria por meio da área da pesquisa analítica e que, em abril, será realizada outra campanha ao lado de pesquisadores de Harvard. “Na próxima expedição, iremos analisar as águas do Rio Madeira, em 100 pontos de monitoramento. A parceria está, cada vez mais, se fortalecendo. Estamos estreitando as relações e isso é muito importante para que possamos levar o nome da UEA para o mundo”, disse.

O programa conta, ainda, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), do Fundo Estadual do Meio Ambiente (Fema) e da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema).

No barco, a equipe de Harvard montou um laboratório improvisado para processar e preservar as amostras, que serão transportadas e também analisadas no campus da universidade nos Estados Unidos. A pesquisa pode levar a uma melhor compreensão do ciclo do mercúrio na bacia do Rio Negro.

O artigo publicado pela Harvard Gazette pode ser conferido aqui

“Deixe de ‘H’!”: irreverência é com a Bhanda Bhaixa da Hégua

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O ‘H’ extra no nome vem da expressão ‘isso é H’, ou seja, isso é mentira. Muito utilizada quando uma pessoa diz que vai fazer algo, quando se sabe que ela não vai.

Celebrada anualmente no ‘Domingo Magro’ de Carnaval, a Banda Bhaixa da Hégua surgiu em Manaus (AM) como uma opção de celebração das tradicionais festas momescas de rua. Desde sua concepção, a Bhaixa da Hégua está atrelada ao lado mais irreverente do Carnaval, utilizando do humor e das charges até mesmo em sua logo. 

Foto: Paulinho Tavares/Acervo pessoal

“A Bhanda da Bhaixa da Hégua foi fundada em 1991 após o fim da Banda do Mendes, que ficava no térreo do Hotel Amazonas. No Centro da cidade surgiram duas bandas: a Bica e a Bhaixa da Hégua. A Bica no sábado e a Hégua no domingo. A Bica ocorria no Sábado Magro de Carnaval e a turma querendo continuar a bebedeira no Domingo Magro, para não ficarem em casa, resolveu criar a Bhanda da Bhaixa da Hégua. Então, as fundações das duas bandas partem deles. São os mesmos, tanto da Bhaixa da Hégua como da Banda da Bica, os mesmos frequentadores e idealizadores”, revela Paulo Tavares, o “Paulinho”, atual presidente da Bhanda da Bhaixa da Hégua. 

Segundo Tavares, oficialmente, a banda somente existiu “de direito” em 1991, porém ela tem a mesma idade da Bica. “Em razão de documentação, ela passou a existir oficialmente um ano após. Ou seja, a banda mais antiga de Manaus é a Bhanda da Bhaixa da Hégua em razão da época em que começaram as festas, mas a Bica tratou primeiro de criar o estatuto e de consolidar os seus sócios fundadores, então ficou legalizada um ano antes da Bhaixa da Hégua”, explica.

E a irreverência típica e conquistadora da banda começa, claro, com o nome.

“A referência da Hégua se da em razão da Rua Inocêncio de Araújo. À época, anos 50, tinha um senhor que criava duas égua e elas serviam de referência a rua, tanto que ninguém chama a rua pelo nome. Na realidade, até hoje, todo mundo só chama “baixa da égua”. O H de Bhanda da Bhaixa da Hégua, se deu em razão de um jargão da época, que sempre que alguém era convidado para alguma festa e deixava alguma dúvida as pessoas diziam você é só H, você não vai não'”, 

explica Paulinho.

Foto: Paulinho Tavares/Acervo pessoal

“A Bhanda da Bhaixa da Hégua faz um Carnaval irreverente com temas para folia, sendo que a Bica sempre tem o tom de crítica e de puxar a orelha de alguém. Estas são as diferenças entre as duas bandas mais antigas de Manaus”, afirma.

Outro símbolo da irreverência é a própria égua, ícone inconfundível que popularizou a banda. 

“A Hégua, símbolo do bloco, foi inspirada na Roseane Collor, ex-primeira dama do Brasil, mulher do então presidente da República, Collor de Melo, e a boneca da Hégua em forma de charge, tem o rosto da primeira dama”,

revela Paulinho.

Segundo ele, foi enviada uma carta para o gabinete do presidente pedindo autorização para seguir com a ideia. “Eles acharam o maior barato e responderam que sim, que podiam fazer a boneca da primeira dama. Infelizmente, a carta presidencial desapareceu e até hoje ninguém sabe quem levou”, completa.

Foto: Paulinho Tavares/Acervo pessoal

Para o presidente da banda, cada edição ao longo dos mais de 30 anos deixou sua marca. “Mas acho que a segunda edição entrou para a história. O então diretor da cerveja Antárctica, Odilon Andrade, doou cino mil litros de chopp para o evento, para serem distribuídos de graça para os participantes da banda. A turma pulou Carnaval e bebeu de graça até cair no chão, a lotação da época foi oito mil pessoas. Todas porres e felizes no Carnaval da Hégua”, relembrou.

Tradição que segue pensando no povo

Para Paulinho, a Bhanda da Bhaixa da Hégua é uma das maiores referêmcias dos Carnavais tradicionais de Manaus. 

“A manutenção da tradição do verdadeiro Carnaval de rua que se mantém vivo até hoje, sem cobrança de taxa, ingresso ou qualquer tipo de valor, essa é a diferença da Hégua para as demais bandas”, 

declara o presidente sobre a função social e cultural da banda, de permanecer acessível e incentivar não só a alegria, mas também o comércio local.

Carnaval Amazônico 

O Carnaval Amazônico é um projeto realizado pela Fundação Rede Amazônica, correalizado pelo Grupo Rede Amazônica, com o apoio do Governo do Estado do Amazonas, através da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Amazonas. Ele visa resgatar a importância histórica das tradicionais bandas e blocos de Carnaval de Manaus.

Flashs ao vivo, clipes das bandas, campanhas educativas (conscientização contra direção perigosa, combate à exploração sexual de mulheres e crianças e infecções sexualmente transmissíveis) e campanhas ambientais (plantio de mudas de árvores em área pré-selecionada, programa de coleta de resíduo e compensação da emissão de carbono) também fazem parte do projeto.

O Carnaval Amazônico busca unir tradição, cultura e entretenimento, levando um pedaço da Amazônia para o público de toda a Região Norte.

Em 2023, mais de 13 mil jovens participaram de ações educativas por meio de projetos na Amazônia

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As atividades visam proteger e garantir os direitos da juventude da floresta, assim como empoderar esse público e desenvolver habilidades e potencialidades já existentes.

Com foco no fortalecimento da rede de proteção às crianças e adolescentes de comunidades ribeirinhas e bairros periféricos no interior do Amazonas, a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) promoveu, em 2023, uma série de ações socioeducativas que beneficiaram mais de 13 mil pessoas na região. As atividades visam proteger e garantir os direitos da juventude da floresta, assim como empoderar esse público e desenvolver habilidades e potencialidades já existentes.

Ao todo, foram 108 ações promovidas em 302 comunidades ribeirinhas e bairros periféricos do estado. O projeto inclui atividades de educação, cidadania, lazer e esporte, além de capacitações, oficinas e orientações de enfrentamento a desafios como o consumo de álcool e drogas, menor acesso à educação de qualidade, gravidez na adolescência, violência doméstica, exclusão digital e cultural, e falta de oportunidades.

Essas ações fazem parte do projeto Desenvolvimento Integral de Crianças e Adolescentes Ribeirinhas na Amazônia (Dicara). Em destaque estão as Olimpíadas da Floresta, que tiveram edições nos municípios de Uarini, Fonte Boa, Novo Aripuanã e Presidente Figueiredo. Durante o evento, os participantes competem em modalidades como corrida de 100m, corrida de saco, vôlei misto, futebol misto e cabo de guerra. A programação também inclui apresentações culturais, promovendo um momento de lazer e interação dentro das comunidades.

Foto: Lucas Ramos/FAS

Uma jovem que teve a vida transformada pelo projeto foi Ketelen Karoline de Freitas Lopes, moradora da comunidade do Boto, no município de Itapiranga, interior do Amazonas. Ela conta que, graças ao projeto, fez amizades e melhorou a autoestima, tornando-se mais ativa e engajada em atividades além da escola.

“Antes de conhecer o Dicara, eu era um móvel, eu não tinha opinião. Eu morava em Manaus com o meu pai e ele não tinha tempo para cuidar de mim, eu não tinha amigos e era solitária. Minha vida se resumia em ir para a escola e voltar para a casa. Então pedi ao meu pai para morar com a minha mãe na comunidade do Boto. Lá, eu conheci o projeto Dicara, que me permitiu fazer amigos e interagir com as pessoas. Deixei de ser um móvel. O projeto Dicara para mim é superação”,

diz Ketelen.

Outro destaque do ano foi o retorno do projeto ao município de Tefé, com ações que vão beneficiar 28 comunidades da região. No cronograma, estão previstas capacitações e oficinas em educação, arte e esporte, além da realização de eventos como Encontros de Jovens Líderes e as Olimpíadas da Floresta.

“O projeto é estruturado para estimular a autonomia e a autoestima desses jovens, que têm sonhos e necessidades como qualquer um, mas que enfrentam seus próprios desafios enquanto cidadãos da floresta. Por meio das nossas atividades, buscamos fortalecer a rede de proteção a essas crianças e adolescentes, assim como incentivá-los e empoderá-los para que alcancem seu potencial. Isso inclui motivá-los por meio de ações de educação, esporte e lazer, sempre valorizando a cultura ribeirinha. Nossas atividades acabam desenvolvendo a comunidade como um todo, à medida que pais e lideranças comunitárias também são engajados nas ações do projeto”, afirma Fabiana Cunha, gerente do Programa de Educação para Sustentabilidade (PES) da FAS.

Sobre a FAS

A Fundação Amazônia Sustentável (FAS) é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia. Sua missão é contribuir para a conservação do bioma, para a melhoria da qualidade de vida das populações da Amazônia e valorização da floresta em pé e de sua biodiversidade. Com 16 anos de atuação, a instituição têm números de destaque, como o aumento de 202% na renda média de milhares famílias beneficiadas e a queda de 40% no desmatamento em áreas atendidas.

“Onde estava a boemia, lá estava eu”: a tradição e a essência carnavalesca da Banda da Bica

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Idealizada por clientes do histórico Bar do Armando, a Banda da Bica é uma das mais populares do carnaval de rua em Manaus desde 1986.

A Banda da Bica é, certamente, uma das celebrações de Carnaval de rua mais conhecidas da cidade de Manaus (AM). Sendo uma das mais antigas – tem conquistado os foliões desde 1986 – a permanecer no calendário dos que amam o Carnaval, a Banda Independente da Confraria do Armando (Bica) surgiu como uma ideia de antigos frequentadores do Bar do Armando, um dos mais tradicionais do Centro da cidade. E permanece atrelada a cultura boêmia do estabelecimento.

Que inclusive é famoso pelo sanduíche de pernil e pelos bolinhos de bacalhau, por ser um dos mais antigos pontos de encontro de artistas e políticos da capital amazonense e também pelo legado do português Armando Dias Soares, cujo nome batiza o local. Desde então, há mais de seis décadas, o bar é um ícone da cultura amazonense, Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Amazonas desde 2015 e espaço para formação da Banda da Bica.

“A Bica foi declarada como Patrimônio Cultural do Amazonas, então ela passou a ser da cidade, embora a organização ainda fique com a gente. Mas ela tem toda a ligação com o Bar do Armando, já que foi criada dentro do Bar do Armando e por clientes do Bar do Armando, então, ela saiu dali. Então tem sim uma importância muito grande, ao ponto de ter sido reconhecida como patrimônio cultural e imaterial do Estado do Amazonas”, destaca Ana Cláudia.

E é a irreverência da banda que a torna tão conhecida, principalmente por marchinhas que sempre tratam de assuntos polêmicos, mexendo com a opinião social e incentivando discussões principalmente sobre o cenário político local. A direção, que sempre esteve atrelada ao bar, passou para Ana Cláudia Soeiro, filha de Armando, atual administradora, que mantém a tradição carnavalesca. 

“A bica foi fundada pelos clientes do Bar do Armando. Eram aproximadamente seis pessoas, que se juntaram para fazer um Carnaval lá no bar. Ano após ano, esse Carnaval foi crescendo e crescendo, até ficar como está hoje. Sempre com uma marchinha própria, sempre abordando temas políticos ou sociais, relacionados à nossa cidade, à nossa região”, 

conta Ana Cláudia. 

Foto: Rickardo Marques/Acervo/G1 Amazonas

A banda é realizada todos os anos no Sábado Magro de Carnaval. De acordo com a filha de Armando, os responsáveis atuais pretendem continuar a manter as tradições que tanto fazem a fama da banda. 

Relembrando a trajetória, para Ana Cláudia, uma das edições mais marcantes foi a de 2020. “Porque o período da Bica sempre é no Inverno Amazônico. Então sempre chove. Eu fico sempre muito temerosa de como vai ser no dia. Se vai chover, se não vai. E quando a chuva cai, depois que o povo já está lá, não tem tantos problemas. Todo mundo já está na euforia, na folia e acabam não se importando com a chuva. O grande problema é quando a chuva acontece antes do evento mesmo”, relembra.

Foi exatamente o que aconteceu naquele ano. “A gente começava a Bicas às três da tarde. Mas, como esse horário é cedo, as pessoas costumam ir chegando um pouco mais tarde. Às três e meia começou a chover e uma chuva muito forte. Eu pensei ‘pronto, agora acabou’. Achei que ninguém ia sair de casa para ir para Bica com aquela chuva. E o que aconteceu? A chuva não deu trégua! Só foi parar oito e meia da noite. Mesmo assim, as pessoas chegavam, debaixo de chuva, para Bica. Lá pelas cinco e meia, seis horas, a Bica já estava completamente lotada”, conta.

“Outro evento que foi muito marcante para mim foi o do ano passado, de 2023. A gente tava comemorando os 60 anos do Bar do Armando e foi uma das Bicas mais bonitas. Foi tudo perfeito. A festa estava linda. Tudo deu certo, não tivemos nenhum incidente. Foi maravilhoso!”, celebra Ana Cláudia.

Foto: Jamile Alves/Acervo/G1 Amazonas

E a tradição carnavalesca que consegue aliar temas instigantes ao lazer das famílias segue atraindo multidões para as ruas de Manaus. “A Bica é uma banda que tem muita segurança, que resgata as marchinhas de Carnaval tradicionais. Onde muita gente, que já não frequenta mais nenhuma outra festa, se sente a vontade de estar. Muita gente levando os avós, os pais, os filhos, e isso é um motivo de muito orgulho para gente”, afirma Ana Cláudia.

“A Bica se sente muito orgulhosa por ter ajudado a resgatar o Carnaval de rua, porque quando ela surgiu, que eu me lembre, a grande banda tradicional da época era a Banda do Mendes Bar e só. O que era forte na época eram os Carnavais de clubes, a gente não tinha Carnaval de rua. Hoje a gente vê o movimento oposto, o Carnaval nos clubes perdeu a força e houve a proliferação de bandas pela cidade. Porque a Banda é democrática, livre, gratuita e é o verdadeiro Carnaval tradicional”, 

finaliza.

O Bar do Armando está localizado na rua 10 de julho, no Centro de Manaus, próximo ao Teatro Amazonas e ao Largo de São Sebastião.
Foto: Karla Mendes/Rede Amazônica

Carnaval Amazônico

O Carnaval Amazônico é um projeto realizado pela Fundação Rede Amazônica, correalizado pelo Grupo Rede Amazônica, com o apoio do Governo do Estado do Amazonas, através da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Amazonas. Ele visa resgatar a importância histórica das tradicionais bandas e blocos de Carnaval de Manaus.

Flashs ao vivo, clipes das bandas, campanhas educativas (conscientização contra direção perigosa, combate à exploração sexual de mulheres e crianças e infecções sexualmente transmissíveis) e campanhas ambientais (plantio de mudas de árvores em área pré-selecionada, programa de coleta de resíduo e compensação da emissão de carbono) também fazem parte do projeto.

O Carnaval Amazônico busca unir tradição, cultura e entretenimento, levando um pedaço da Amazônia para o público de toda a Região Norte.

Jacques Menassa: fotógrafo libanês que leva a Amazônia em sua arte e em seu coração

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O artista leva a influência amazônica em sua arte e é reconhecido como um expoente contribuinte do cenário artístico manauara.

A Amazônia é lar de inúmeras belezas, naturais e culturais, que encantam a todos que visitam a região. Não poderia ser diferente para Jacques Menassa, libanês que há anos se encantou com a região e leva as características da Amazônia em sua “mente, coração”, refletindo-as até mesmo em sua arte, eternizando estas belezas pelas lentes de sua câmera e destacando-as com trabalhos de colagem elaborados com primor.

Mas quem é Jacques Menassa? Nascido em Ghosta, no Líbano, em 1956, Jacques se apaixonou por fotografia logo em sua infância. Apesar de ter cursado Ciências Políticas e Administrativas na Universidade Libanesa de Beirute, sua verdadeira inclinação é a artística. Neste caminho das artes, sua primeira exposição individual aconteceu ainda em sua cidade natal, em 1982, intitulada ‘Patrimônio Esquecido’. 

Jacques Menassa ao lado de uma de suas obras. Foto: Jacques Menassa/

A história de Jacques com Manaus, a capital do Amazonas, começou nos anos 90, quando imigrou para a região. Ele manteve o trabalho artístico inspirado pelas belezas amazônicas e sua primeira premiação na cidade aconteceu em 1992. 

Desde então, o artista organizou diversas exposições e oficinas de fotografia, sendo reconhecido como um expoente contribuinte do cenário artístico manauara.

O próprio artista ressalta a importância da Amazônia em suas obras e não nega a paixão que sente pela Amazônia.

“Como imigrante, a Amazônia está no meu coração. Eu passei quase dez anos da minha vida aqui em Manaus, na Amazônia. Conheci quase toda a Amazônia. Tenho mais de 50 mil fotos sobre a Amazônia. Ministrei seis oficinas, mais de 30 exposições, como o grupo de fotografia Chaminé, que eu fundei em 1994. Desse jeito, a Amazônia está sempre no meu pensamento”,

revelou ao Portal Amazônia.

Obra ‘Jacques Menassa, um libanês Amazônida’. Arte: Jacques Menassa/Acervo pessoal

Sua ligação com a Amazônia, entretanto, é quase como uma herança familiar. Segundo o fotógrafo, seu avô paterno havia estado na região em 1875, acompanhado de outros familiares. 

Seu avô foi o único a retornar ao Líbano, levando consigo parte desta cultura e transmitindo-a para a família inteira. 

Obra ‘És minha floresta, és a minha vida. Ê, ê… Amazônia’. Arte: Jacques Menassa/Acervo pessoal

Logo depois, foi a vez de seu tio, que esteve em Manaus em 1926, e logo tornou-se um residente da capital amazonense. Em suas muitas visitas ao Líbano, o tio contribuía para aumentar a ligação – e curiosidade – de Jacques com a Amazônia.

E, tal qual seu tio, o artista faz questão de promover a troca cultural entre estas regiões tão distintas.  

“Quando eu retornei ao Líbano, publiquei de 40 a 50 matérias no maior jornal de lá, o An-Nahar, sobre a Amazônia. Na época era uma página ou uma página e meia sobre a Amazônia. Sobre suas pessoas e sobre os descendentes de libaneses”,

contou.

Principais inspirações 

Com o passar dos anos e muita experiência na bagagem, o fotógrafo se tornou cada vez mais artista. Segundo ele, as principais inspirações são internas, inerentes, e não externas, mais inspirado por emoções do que necessariamente por pessoas.

“O que me inspira são os sentimentos. Às vezes a tristeza, às vezes a felicidade, às vezes o amor. Isso, que vem do interior, quando você está fazendo um trabalho, sempre irá aparecer”.

Jacques Menassa

Obra ‘Homenagem a Phelippe Daou: A Amazônia tem sua marca…’. Arte: Jacques Menassa/Acervo pessoal

Tudo em seus projetos reúne as emoções, mas também é pensado em como devem ser representadas. A presença de mulheres em suas obras, por exemplo, tem grande simbologia, pois, para o artista, elas são responsáveis por representarem “a vida, a criação e a beleza”.  

Obra ‘Festival e Corona. Homenagem a Alexandra Karam, atriz e cineasta’. Arte: Jacques Menassa/Acervo pessoal

Exposição ‘Homenagens, lembranças e saudades’ 

Nos caminhos de exploração das artes, Jacques Menassa também buscou alternativas tecnológicas e, assim, passou a produzir, também, colagens digitais. 

O resultado de mais de três anos de trabalho é a exposição ‘Homenagens, lembranças e saudades’, que ganha vida no Museu da Cidade de Manaus, no Paço da Liberdade, e está disponível até o dia 25 de fevereiro. 

Foto: Divulgação

A exposição conta com diversos trabalhos de colagem digital originais e se subdivide em três seções: a primeira homenageando a cidade de Beirut, no Líbano; a segunda dando destaque “às pessoas que de certa forma deixaram lindas lembranças em minha vida e durante minha participação na vida artística e cultural da região durante minha estadia em Manaus e na Amazônia”, conforme descição do próprio autor; e a terceira reunindo reflexões que surgiram para o artista durante o isolamento por conta da Covid-19. 

*Estagiário sob supervisão de Clarissa Bacellar

Monitoramento por satélite é utilizado para conservação de botos no Peru

O monitoramento foi utilizado para rastrear os movimentos do boto-cor-de-rosa e identificar as medidas necessárias para sua conservação.

O boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis) é uma espécie classificada como ‘Em Perigo’ na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza. Apenas em setembro de 2023, mais de 150 desses animais morreram na Amazônia brasileira, possivelmente devido ao aumento da temperatura da água e à seca. Por esse motivo, os cientistas estão explorando novas formas de preservar essa espécie, e os países estão se esforçando para protegê-la.

Um novo estudo científico utilizou o monitoramento via satélite para rastrear os movimentos da espécie e identificar as medidas necessárias para sua conservação. A pesquisa foi realizada em duas áreas: Reserva Pacaya Samiria e Nucuray, Loreto, perto de Yurimaguas, no Peru. Oito botos foram monitorados.

“Optamos por usar transmissores satelitais porque não sabíamos até que ponto um boto poderia se deslocar, qual era sua extensão de movimento. Este estudo ajudou a responder essas perguntas”, 

explica Elizabeth Campbell, autora principal do estudo e pesquisadora associada da Universidade Científica do Sul.

Foto: Divulgação/Agência Andina

A pesquisa descobriu que os oito botos em ambas as áreas tinham uma extensão de movimento de aproximadamente 54 quilômetros quadrados. Além disso, eles tinham uma área central onde passavam 95% do tempo, que era de 17 quilômetros quadrados. Os botos da Reserva tinham uma área central menor em comparação com os próximos a Yurimaguas. Entre as principais ameaças à espécie, foram identificadas a degradação do habitat, o risco da pesca e as ameaças à infraestrutura aquática.

Foto: Divulgação/Agência Andina

“Fomos financiados pela WWF Peru para realizar a parte do estudo de habitats no Peru. Eles tinham grupos de pesquisadores na Bolívia, Brasil, Colômbia, como parte da Iniciativa de Botos da América do Sul (SARDI), conduzindo estudos com transmissores satelitais. No Peru, esses foram os primeiros botos a passarem por esse procedimento”, detalha Campbell, que conduziu essa pesquisa como parte de sua tese de doutorado na Universidade de Exeter (Reino Unido). 

O estudo foi realizado em duas áreas visando contrastar o movimento dos botos em diferentes regiões.

“Por um lado, a Pacaya Samiria é um local sobre o qual já se sabe bastante em relação aos botos, com publicações desde aproximadamente 1995, mas em Yurimaguas não há pesquisas. Além disso, Yurimaguas é uma área mais ameaçada, pois não é uma área de reserva. Achamos interessante ver se um boto em uma reserva se move de maneira semelhante a um boto em uma área totalmente exposta”, explica a pesquisadora.

Foto: Divulgação/Agência Andina

Para preparar o estudo, pesquisar as áreas e obter as permissões necessárias, os pesquisadores precisaram de cerca de seis meses. Para a colocação dos transmissores nos botos, foram necessários cinco dias em Pacaya Samiria e um dia em Yurimaguas, com a ajuda de pescadores. “É uma diferença interessante, pois envolve um pescador mais comercial e outro de subsistência, com tipos de experiência diferentes”, comenta.

Jeffrey C. Mangel (Universidade de Exeter), Jose Luis Mena (Universidade Ricardo Palma), Ruth H. Thurstan (Universidade de Exeter), Brendan J. Godley (Universidade de Exeter) e David March (Universidade de Exeter) também participaram do estudo. 

Como foi o processo de monitoramento dos botos? 

Os transmissores foram colocados em oito botos. Para monitorá-los, cada um tinha um código atribuído ao transmissor colocado. “Por meio de cada código, podíamos acompanhar para onde o boto estava indo através de um site e identificar quais transmissores ainda estavam ativos. Quando os oito terminaram de transmitir, coletamos os dados e realizamos a análise”, detalha Campbell. 

Foto: Divulgação/Agência Andina

Quais foram os resultados da pesquisa? 

“Descobrimos que os botos na Reserva tinham uma área de habitat e uma área central menor do que os que estavam próximos a Yurimaguas. Este é um resultado interessante, mas não conclusivo devido à amostra que tivemos. Seria importante investigar em uma escala maior”, 

destaca a pesquisadora.

Quanto ao tipo de movimento, a pesquisadora observa que as variações em Pacaya Samiria e Yurimaguas podem estar relacionadas ao acesso aos recursos pelos botos. “A Reserva Pacaya Samiria é mais limitada em comparação com Yurimaguas. Além disso, a Reserva possui mais recursos, então os botos não precisam se deslocar tão longe para se alimentar e se abrigar”, explica. 

Quais ameaças estão presentes para os botos? 

A degradação do habitat, o risco da pesca e as ameaças à infraestrutura aquática são as principais ameaças aos botos e outras espécies marinhas, destaca Campbell.

“Descobrimos que praticamente 90% da área dos botos estava em competição com pescadores ou era utilizada para algum tipo de pesca. Quanto às ameaças à infraestrutura aquática, a hidrovia e a hidrelétrica amazônica representam uma ameaça, pois muitas áreas dos rios serão dragadas, modificando as características físicas da água, o que também implicará em muito ruído para os botos”, 

adverte a especialista.

“Além disso, após a instalação, haverá um aumento no tráfego de barcos, o que trará mais ruído e a possibilidade de colisões com os botos, que estarão em média a 125 quilômetros do local de dragagem mais próximo e a 252 quilômetros da represa proposta mais próxima. Embora não pareça muito próximo, para os botos, o efeito é sentido. Todos os peixes podem mudar sua distribuição. Isso criará uma modificação significativa em seu habitat”, alerta.
Foto: Divulgação/Agência Andina

Recomendações para preservar o habitat dos botos: 

 – Considerar os botos na legislação da Amazônia. “É importante não apenas avaliar os benefícios econômicos que esses contratos podem trazer, mas também considerar os efeitos negativos na fauna amazônica e nas comunidades locais”, destaca a pesquisadora.

– Considerar medidas para prevenir desastres e tragédias relacionadas às mudanças climáticas e à ciência de maneira oportuna. “Os tomadores de decisão costumam esperar até o ponto de ruptura para agir. Isso não deveria ser assim”, reflete.

– Utilizar a tecnologia para realizar pesquisas e conservar espécies. “O uso de monitoramento via satélite, transmissores de DNA ambiental e drones são exemplos de ferramentas que podem ajudar no Peru a obter mais informações e implementar uma rede de vigilância nacional. Talvez, com guardas florestais, os drones possam ser usados para monitorar áreas remotas do rio sem ter que percorrer todo o rio de barco, facilitando o monitoramento”, conclui.

Foto: Divulgação/Agência Andina