Soberania alimentar e artesanato foram temas das oficinas realizadas pelo movimento Arte&EscolaNaFloresta no município do Careiro Castanho
A agroecologia, a agricultura familiar e o artesanato uniram comunitários e pesquisadores no projeto ‘Troca de conhecimento entre camponeses e camponesas’. As atividades realizadas entre os meses de abril e maio no município do Careiro Castanho, interior do Amazonas, ressaltaram o uso dos recursos naturais da floresta e da terra para garantir soberania alimentar e renda aos comunitários.
Em uma série de oficinas, os pesquisadores Emerson Vagalume, Nora Hauswirth e o artista Chico Cabôco do grupo Arte&EscolaNaFloresta, destacaram a industrialização e a legislação como opositores dos métodos tradicionais de cultivo, impedindo a participação dos pequenos produtores no mercado e apagando conhecimentos sobre técnicas tradicionais. Essa realidade estimulou o grupo a trabalhar em parceria com agricultores familiares do Amazonas.
As oficinas de ‘Troca de conhecimento entre camponeses e camponesas’ contou com a participação dos agricultores orgânicos do Ramal 14 e do Ramal 32 da Estrada de Autazes, dos membros da Associação Renascer em Purupuru, município Carreiro Castanha e das artesãs Rosa, Neide, Ivanilde e Nilcilede da etnia Mura. O projeto foi contemplado pelo Programa Cultura Criativa 2020 – Lei Aldir Blanc – Prêmio Encontro das Arte do Governo do Estado do Amazonas, com apoio do Governo Federal.
“Da terra ao corpo, do corpo à terra. A terra só dá, se a gente plantar. Se a gente não plantar, a terra não dá. Bora comer o que a terra tem a nos oferecer!” convidou o ator e artesão Chico Caboco, em performance teatral apresentada no projeto. Ainda pouco consumidas na região, hortaliças amazônicas como ariá, taioba, ora-pro-nobis, cipó-alho, picão preto, erva-de-jabuti e bertalha foram incluídas no cardápio das oficinas culinárias realizadas no projeto. “Essas são hortaliças que se encontram nos quintais, porém as pessoas não usam por falta de conhecimento”, relata Emerson Vagalume, técnico em agroecologia e proponente do projeto.
Nora Hauswirth integra o movimento Arte&EscolaNaFloresta, projeto artístico criado no Centro de Treinamento Agroflorestal do Museu da Amazônia (Musa) e que, há dez anos, promove educação agrícola na região rural de Manaus. A pesquisadora suíça fala da transformação social proposta pelo movimento agroecológico. “Com o olhar sensível e amoroso compartilhamos ideias que fortalecem o movimento de um mundo mais sustentável e justo. A arte ecológica questiona todos os aspectos da sociedade, desde a produção de alimentos e ferramentas do campo, até a política climática e traz uma nova perspectiva ecológica”.
Arte ecológica
Com a proposta de resgatar o bioartesanato e técnicas de uso de materiais não madeireiros, o projeto ofereceu oficinas de artesanato como fonte de renda aos comunitários.
Ivanilde Batista da etnia Mura no município Careiro Castanha é uma das poucas guardiãs do conhecimento sobre artesanato com fibras naturais. Durante as oficinas do projeto, ela orientou os participantes a criar a própria peneira de arumã (Ischnosiphon polyphyllus), planta que ocorre nos sub-bosques das florestas. Ivanilde também ensinou a confeccionar vassouras de cipó titica.
“O trabalho do artesanato é muito importante para as pessoas do interior porque faz parte da cultura que está se perdendo ao longo dos anos”, finaliza Ivanilde.