Livro de historiador aborda mudança na arquitetura de Manaus

Se fizermos uma pesquisa na história de Manaus, verificaremos que a arquitetura urbana da cidade pode ser dividida em momentos bem distintos. Primeiro surgiram as casas de taipa cobertas com palhas, depois com telhas de barro (de 1669 até 1900); em seguida surgiram os palacetes e os casarões (1900 a 1950); os bangalôs (1950 a 1970) e agora casitas e “apertamentos”.

“Algumas casas até eram cobertas com telhas de barro vindas de Belém, bem como a cal para fazer a ligação das pedras (sernambi) era trazida de lá. As paredes do prédio da Marinha, na Ilha de São Vicente, é todo colado com cola de gurijuba (um peixe)”, contou o historiador Antonio Loureiro, que neste final de semana, lançou o livro “Um passeio pelas praças antigas de Manaus”. “É o prédio mais antigo, ainda existente em Manaus, construído dessa forma, e era a matéria prima que se usava antes do cimento”, completou.
Foto: Divulgação/SEC
Somente após 1890, quando Manaus viveu o apogeu da economia do comércio da borracha, surgiram os palacetes construídos para serem repartições públicas, e os casarões, pertencentes aos que eram, ou ficaram, ricos naquele período. “Aí vamos ver uma variação de estilos arquitetônicos exatamente porque as empresas que construíam os palacetes, eram estrangeiras ou de alguém que tinha se formado naqueles países. O prédio da Alfândega, apesar de inglês, tem o estilo veneziano, o da Manaus Harbour é vitoriano, o Palácio da Justiça é italiano, e proliferam as edificações no estilo neoclássico, com influência de prédios americanos: o Colégio Estadual, o Paço Municipal, a Penitenciária e o extinto Cine Guarany,quanto aos casarões, a maioria tem o estilo grego e outros tantos, o italiano”, listou.

Casarões com clima ameno

Até hoje o centro antigo de Manaus abriga centenas de seculares casarões, grande parte, em deterioração. Muitas pessoas costumam dizer que eles seriam melhores para se morar no clima quente de Manaus. “Com certeza, sim, seriam, porque o pé direito era altíssimo chegando a seis, sete metros de altura, ou até mais, e os forros possuíam respiradouros nas laterais que mantinham o ar quente preso, junto ao telhado, enquanto os porões mantinham a temperatura mais amena, o que refletia no interior do casarão no qual a temperatura ficava permanentemente abaixo da exterior, sem falar dos janelões”, explicou.

Mas nem tudo era perfeito num casarão. “As cozinhas, bem como os banheiros, eram péssimos em higiene. Somente os ricos, talvez porque estivessem antenados com o que se passava no exterior, mantinham esses ambientes em boas condições de uso”, lembrou.

Para Loureiro, a arquitetura urbana de Manaus não tem um estilo próprio. “Quem sabe os quiosques cobertos de palha, ou telhas de barro, no estilo daquele que existiu no balneário do Parque 10 de Novembro (1939 a 1973), poderiam ser classificados como regionais, mas não seriam mais refrescantes que qualquer outro, como as casas e apartamentos de hoje, de proporções cada vez menores e pé direito que não chega a três metros de altura. O que refresca mesmo é um ar-condicionado”, riu.

A título de curiosidade, o historiador lembrou que durante a década de 1980, quando o seu pai, Thales Loureiro ainda estava à frente das lojas T. Loureiro, o Amazonas se tornou o maior consumidor de ar-condicionado do país. “Pedíamos mil peças ao fabricante, e estas acabavam rapidamente e já tinha fila de pessoas querendo comprar mais”, contou.

Foto: Chico Batata/Ascom

O mais belo de ManausEste ano, no próximo dia 31, a edificação que se tornou o símbolo de Manaus e do Amazonas, o Teatro Amazonas, completará 120 anos de fundação, elogiado e admirado por todos que o veem externa e internamente, “mas não diria que é o prédio mais belo de Manaus, talvez o mais interessante porque ele é uma salada arquitetônica. Nele encontramos traços dos estilos oriental, grego, romano e renascentista. Trata-se do maior símbolo da arquitetura kitsch que aconteceu com a avalanche de mudanças ocorridas na passagem do século 19 para o 20”, explicou.Na opinião do historiador, o prédio mais belo que Manaus teria, nunca chegou a ficar pronto. Seria o Palácio do Governo, que estava sendo construído pelo governador Eduardo Ribeiro (1892/1896), mas teve apenas as paredes levantadas durante sua gestão e, na gestão de Silvério Nery (1900/1904), estas foram dinamitadas. “As plantas mostram que ele seria parecido com o Capitólio, o Congresso norte americano, mas até hoje não se sabe o motivo de ter sido dinamitado pelo Silvério Nery. Ficaria localizado onde hoje está o IEA Instituto de Educação do Amazonas(IEA), completando a trilogia de prédios públicos de destaque naquela área da avenida: o Palácio da Justiça e o Teatro Amazonas”, disse o historiador. Falando sobre as mudanças que a arquitetura urbana de Manaus vem sofrendo nesses 347 anos de existência da cidade, Loureiro aproveitou para falar das praças antigas, tema de seu mais recente livro. “Estão fadadas a sumir ou virarem museus a céu aberto. As praças de hoje são as praças da alimentação dos shoppings”, contou.

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