Grafiteiros produzem mural em Boa Vista como homenagem ao indígena Jaider Esbell

Fredixon Escobar e Luis Hernandez decidiram fazer o mural para o artista Macuxi após perceber que não havia nenhuma homenagem para Jaider na cidade.

‘Jaider Vive’, foi assim que Fredixon Escobar e Luis Hernandez, ambos artistas venezuelanos, eternizaram o legado do artista e ativista Macuxi, Jaider Esbell, em um mural grafitado na avenida Benjamin Costant, no Centro de Boa Vista (RR). Jaider morreu em 2021.

Inspirado pela arte ancestral, o grafite foi feito com uma característica especial: o rosto de Jaider foi pintado em um efeito de cores negativas, que é a inversão das cores naturais de uma imagem. A ideia surgiu após os artistas perceberem a ausência de homenagens a Esbell na própria terra de origem.

Grafite em homenagem a Jaider Esbell em Boa Vista, tem efeito de foto negativa especial. Foto: Rayane Lima/g1 Roraima

Jaider era um artista plástico roraimense, que morreu no dia 2 de Novembro de 2021 aos 41 anos de idade. Além de artista plástico, Jaider era escritor e ativista da causa Macuxi. O artista nasceu em 1979, no município de Normandia, região Norte de Roraima, onde atualmente está a Terra Indígena Raposa Serra do Sol.

O artista macuxi foi destaque na 34° Bienal de São Paulo, que aconteceu em 2012, na mostra ‘Moquém Surarî: arte indígena contemporânea’ “Nós percebemos que tinham várias homenagens ao artista em outros estados, e achamos inadmissível ele não ter uma homenagem em Boa Vista, sendo aqui a sua terra”, explicou o artista Luis.

Fredixon que também é tatuador, relatou que não chegou a conheceu Jaider pessoalmente, mas conhecia a arte e se inspirava no seu trabalho. Jaider foi uma das figuras centrais do movimento de afirmação da arte indígena contemporânea no Brasil. 

“Para mim foi uma grande honra, homenagear desta forma, através da minha arte, e inspirado pela arte ancestral que ele executava. Espero que brevemente, consigam abrir novos espaços, com exposições e para ter o reconhecimento local que ele merece”,

disse Fredixon.

Jaider Esbell retratava a vivência indígena por meio da arte, se tornando um dos artistas macuxis mais renomados de Roraima. Além de artista plástico, era escritor e ativista da causa indígena. Por isso, Luis define a experiência como algo enriquecedor também para os artistas.

“Fazer essa homenagem também é homenagear nós que somos artistas, porque é isso que ele representa, a luta indígena, que é muito apagada em Boa Vista, sendo uma terra indígena e possui um monumento ao garimpeiro na principal praça da cidade, que é o pior câncer dessa terra”, ressaltou Luis.

O mural foi feito próximo ao monumento ao garimpeiro e a praça do Centro Cívico, junto aos governantes é algo que representa a luta indígena, migrante e pobre, e evidencia toda a bagagem histórica de Jaider, segundo os artistas. O mural em efeito negativo veio da necessidade de não fazer as coisas tão simples, segundo Luis Hernandez. A arte só é apresentada com as cores usuais quando são invertidas em edição de imagem.

“Mesmo sendo um retrato, tem uma visão diferente, uma perspectiva diferente de olhar, de entender. Para conseguir entender precisa enxergar ao contrário, e trabalhar um pouco mais a vista e a mente, e entender o que estamos vendo”, disse.

Escobar conta que o grafite demorou em torno de quatro a cinco horas para ficar pronto e o objetivo principal era que o painel ficasse visível para todos que passassem na frente. Os materiais usados foram tinta acrílica semibrilho e spray especial para arte urbana.

*Por Rayane Lima, do g1 Roraima

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