Sem possibilidades de contratos, cachês e pouco ânimo para continuar projetos, artistas buscam maior interação com público via internet
Do primeiro setor a parar as atividades contra a proliferação do novo coronavírus, trabalhadores da cultura buscam, na internet, alternativas para continuarem se mantendo ativamente produtivos e buscarem retorno financeiro. Idealizado pelo projeto Roda na Praça, de Manaus, o ‘ClowBARÉ Online’ estreia nesta quarta-feira (1º), às 19h, ao vivo no Instagram @rodanapraca_mao. O espetáculo apresenta uma gama de palhaços revezando seus números em performances cheias de risos.
Ana Oliveira, atriz que compõe o projeto, explica que viu uma live no Instagram de um grupo de São Paulo e decidiu adotar a iniciativa como maneira de agir contra o cenário deixado pela pandemia, do qual não sai nenhuma perspectiva de trabalho para o setor.
“Está todo mundo parado, há duas semanas sem apresentar, sem ‘chapéu’ (contribuição do público), sem contratação. Eventos contratados foram cancelados, perspectiva de cachê a gente não tem. Essa iniciativa é um primeiro teste desse formato e a gente vai abrir o chapéu virtual pra ver como vai ser esse engajamento de quem assistir e se vai ser viável financeiramente. A ideia é fazer outros e também convidar pessoas de outros estados, já que estamos com essa praticidade da internet”, disse.
Ana pontua não só a dificuldade financeira do período pandêmico, mas a necessidade de realizar o fazer artístico e de seguir produzindo mesmo, sem contato com a rua e com o público.
“Se a gente conseguir um retorno financeiro, ótimo! Está todo mundo precisando muito e somos muitos palhaços. Mas se não rolar a gente talvez continue, não com tanta frequência, mas porque, realmente, é uma necessidade. A gente precisa estar produzindo ou vai esmorecendo. Depois de duas semanas parada, sem perspectiva de nada, eu estava quase deprimida. Poder fazer ‘ClowBARÉ’ me trouxe de volta pra dar esse respiro, voltar a produzir e inovar, buscar esses outros formatos para que a gente continue encontrando as pessoas por mais que seja pela tela, mas é ao vivo, preserva essa questão do encontro na hora”, pontua.
Produção musical online
Mesmo cumprindo medidas de isolamento social, o trio agenoragostinhoeleo deu continuidade às produções musicais e lançou neste domingo, 29, a música ‘Boliviana’ nas principais plataformas de música e um registro audiovisual no Youtube.
Agostinho Guerreiro, guitarrista do trio, pontua que o período pandêmico traz grandes impactos para o setor cultural e diz que lançamento do material chega como opção de lazer durante isolamento. “Esse período de isolamento por conta da pandemia de coronavírus é uma situação delicada para todos da cultura. Mas estávamos com algumas produções pré-prontas, uma delas é a música ‘Boliviana’, uma base para o nosso disco que vem esse ano.”
Agenor Vasconcelos, baixista e vocalista, explica que as imagens foram captadas sem nenhuma pretensão inicial. Com o período de distanciamento, o trio decidiu aproveitar o material e trabalhar em conjunto, com cada integrante na sua casa. O lançamento também chega como uma proposta de dividir a experiência dos ensaios com o público.
“Após retornar de um congresso no México, precisei ficar em quarentena. Longe do grupo fomos trabalhando com ajuda da tecnologia e discutindo a mixagem, edição e finalização do material. É uma pré-produção feita com muito carinho e sangue no olho.”
Assista ‘Boliviana’ de agenoragostinhoeleo:
Léo de Moraes, baterista do trio, explica que o trabalho foi produzido de forma independente e que a banda adaptou a produção de forma que cada um pudesse trabalhar de casa. “Passamos o início do ano trabalhando duas músicas. O Agenor tinha uma data pra viajar então decidimos estabelecer essa a data limite para a gravação. Quando ele voltou já estávamos de quarentena, ficou cada um trabalhando da sua casa, trocando ideias sobre as músicas, o vídeos, a gravação, o lançamento.”
Festival Virtual
Marcado para os dias 11 e 12 de abril, o Festival Mobiliza Cultura Amazonas propõe conectar o máximo de pessoas que trabalhe com e/ou contemple música, dança, teatro, literatura, artes visuais, audiovisual. A jornalista e produtora Wanessa Leal explica que a ideia é também promover cursos e oficinas voltadas à produção cultural.
“É também pra quem deseja participar de oficinas, talks sobre produção cultural, assessoria de comunicação, elaboração de projetos, consultorias em marketing digital e muito mais. Além, é claro, de buscarmos a nossa meta principal que é promover um festival de muita qualidade e ajudar quem trabalha com cultura na cidade.”
A programação do festival será divulgada em breve e a participação do público será por contribuição voluntária. “Para que isso aconteça contamos muito com o apoio de quem vai assistir em casa para fortalecer a monetização do festival com qualquer contribuição solidária e consciente”, finaliza Wanessa.
O Mobiliza Cultura Amazonas, movimento coletivo que agrega diversidade de agentes culturais, engajados na fiscalização, elaboração e implementação de políticas culturais, vem produzindo uma série de ações para buscar políticas públicas emergenciais viáveis para subsistência durante período pandêmico.