Em Belém, detentas produzem artesanato para o Círio de Nazaré

Faltando pouco mais de quatro dias para a maior procissão católica do mundo, o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, detentas que fazem parte da Cooperativa de Trabalho Arte Feminina Empreendedora (Coostafe), que funciona no Centro de Recuperação Feminino (CRF), em Ananindeua, trabalham a todo vapor para entregar as encomendas feitas para este período.

Artesanato feito pelas detentas do Centro de Recuperação Feminino (CRF). Foto: Divulgação
O projeto já é realizado desde 2013 pelas 30 internas que trabalham na cooperativa. Todo ano elas começam produzindo os tradicionais mantos, camisas customizadas, pesos de porta, chaveiros e garrafas. Em 2016, a novidade são as canetas com a imagem da santa, o oratório e os aventais para cozinha. Os produtos variam de R$ 7 a R$ 50.

Segundo Carmem Botelho, diretora do CRF, as detentas têm se dedicado até nos finais de semana para dar conta de tudo. “Elas estão muito empolgadas com essa produção. Sempre há uma procura maior até por conta da movimentação que o Círio provoca na cidade, com muitas pessoas de fora do Estado e do país e esse público gosta dos artesanatos mais diferentes, mais elaborados e acabam chegando até as meninas da cooperativa. Este ano criamos produtos novos e um deles está fazendo muito sucesso, que é o avental, pois nessa época todo mundo vai pra cozinha preparar o tradicional almoço e nada melhor do que fazer isso com muito estilo”, destacou a diretora.

Maria do Socorro Cruz é a detenta mais antiga da cooperativa e diz que todos os anos faz o trabalho com muito orgulho. “Eu já esqueci da vida que eu tinha antes de entrar aqui, não gosto de lembrar, porque hoje eu sou outra pessoa. Faço trabalho com corte e costura e quando eu sair daqui quero ter meu próprio negócio, quero mostrar para as pessoas que eu sou capaz de mudar, que eu errei, mas já aprendi a lição. Eu só quero mostrar agora o que de bom eu aprendi na Coostafe”, disse a detenta.

Maria do Socorro Cruz é a detenta mais antiga da cooperativa. Foto: Divulgação
Outra novidade é que agora os produtos da cooperativa também estão sendo vendidos pelo site Conexão Liberdade, uma ONG que funciona em Florianópolis (SC) e é comprometida com a geração de renda para pessoas cujas vidas tenham sido marcadas pela privação de liberdade. “A oportunidade de trabalho diminui a reincidência. Isso é uma grande oportunidade para essas meninas, porque agora o trabalho delas vai ficar conhecido no mundo todo e isso abre um leque de opções para elas. Quando saírem daqui elas até podem vir a se tornar empreendedoras de sucesso e assim mudarem de vida. 180 mulheres já passaram aqui pela cooperativa desde que ela começou e dessas nenhuma voltou a rescindir, o que é muito positivo”, relatou Carmem.
Para a detenta Maria Juceli, que está há pouco mais de um ano na Coostafe, o trabalho é um exemplo para a família. “Antes de entrar aqui eu não era uma boa referência para os meus filhos, não podia servir de exemplo para eles e hoje eu posso, eu tenho uma profissão e quando eu sair daqui já vou dar andamento aos meus projetos. Eu quero que eles tenham orgulho de mim e por isso eu me dedico tanto. As peças do Círio são as que a gente mais gosta de fazer, é algo que encanta todo mundo e nós fazemos com muito carinho”, disse a detenta.
A Cooperativa Social de Trabalho Arte Feminina Empreendedora é a primeira formada exclusivamente por mulheres presas no Brasil. Em quase dois anos de existência, as atividades já atenderam 180 mulheres. Além do shopping, as peças produzidas pelas detentas também estão disponíveis para venda na internet. Os consumidores podem acessar o perfil @coostafe no Instragam ou no site www.conexaoliberdade.org. O envio é feito para todo o Brasil, via Correios. O custo da remessa é acrescido ao valor final do produto. Quem tiver interesse nas peças pode entrar em contato pelos telefones (91) 98030-4370 e 98842 3479.
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