Detentas do Pará fazem apresentação teatral na Feira do Livro

Detentas custodiadas pela Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe) no Centro de Recuperação Feminino (CRF), em Ananindeua, apresentaram nesta segunda-feira (29) uma peça teatral durante a programação da XXI Feira Pan-Amazônica do Livro, que está sendo realizada no Hangar Convenções e Feiras da Amazônia, em Belém, até o próximo dia 4 de junho.

A peça é uma encenação do livro ‘A bolsa amarela’, da autora Lygia Bojunga, um clássico da literatura infanto-juvenil, que conta a história de uma menina que entra em conflito consigo mesma e com a família, ao reprimir três grandes vontades que ela esconde dentro de uma bolsa amarela: a vontade de crescer; a de ser garoto e a de se tornar escritora.

Foto: Divulgação
“Foram dois meses de ensaio para a apresentação do espetáculo. Elas foram orientadas por duas professoras da Susipe e também fizeram uma oficina de expressão corporal com um professor da Universidade Federal do Pará (UFPA). Elas estavam muito ansiosas com essa apresentação, mesmo sendo a segunda vez que participam de uma encenação – a primeira foi no encontro de remição pela leitura, ano passado, na UFPA”, revelou Rosimeire Alves, coordenadora pedagógica do CRF.

A detenta Franciane Prado, de 38 anos, interpreta a personagem principal do espetáculo, ‘Raquel’, uma pré-adolescente que adora ler e escrever. Ela diz que a emoção de subir no palco foi muito grande. “Nós estamos passando uma mensagem muito importante hoje, a de que a arte imita a vida. É preciso querer crescer. Eu tenho duas netas e uma filha e gostaria que elas estivessem aqui hoje para me assistir”, disse a detenta.

A apresentação do espetáculo faz parte do projeto de Remição de Pena pela Leitura da Susipe, ao qual o Pará foi um dos primeiros estados a adotar. “A cada obra lida, três dias de pena são reduzidos da sentença, mas em geral, é delimitada uma quantidade de 12 obras para serem lidas por ano. Após isso os detentos apresentam uma resenha sobre o tema. No caso delas também houve a apresentação da peça. O conhecimento adquirido com essa experiência elas vão levar para a vida toda. Esperamos que isso possa fazer delas pessoas melhores”, destacou Guilhermina Castro, da Coordenadoria de Educação Prisional da Susipe.

“Eu fiquei dias sem dormir esperando esse momento e finalmente ele aconteceu. Foi tudo perfeito e saiu até melhor do que a gente esperava. Fico emocionada de ter uma oportunidade dessa e ver que a minha vida só está caminhando para frente”, revelou a detenta Cristiane Silva da Silva, de 27 anos.

Para o professor Oswaldo Barros, da Universidade Federal do Pará (UFPA), que assistiu a apresentação teatral, contribuir com a ressocialização das detentas é um compromisso humano. “Não é um trabalho como professor e, sim, como ser humano. Como cidadão, espero contribuir para que elas possam encontrar uma maneira mais ampla de discutir seus problemas e desenvolver seu processo de aprendizagem, principalmente aprender com a leitura, com a certeza de que a liberdade está muito mais na nossa cabeça do que em nossas atitudes sociais”, avaliou o professor.
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