Design em formato de ‘grilo’ com peças de cadeira escolar criado por roraimense vence prêmio na Alemanha

Michael Milhomem, de 37 anos, venceu o C-Idea Award, na Alemanha, com a cadeira ‘Grilo’, construída com peças reaproveitadas de uma cadeira escolar de madeira.

Michael Milhomem venceu o concurso C-Idea Award, na Alemanha, com a cadeira ‘Grilo’. Foto: Jader Souza

O publicitário e artista plástico roraimense Michael Milhomem venceu um prêmio de design na Alemanha com uma peça criada a partir de partes de uma cadeira escolar de madeira. Especialista em trabalho com metais, ele concorreu com a cadeira “Grilo” e venceu na categoria ‘Imobiliário de Estilo Industrial’.

Este ano, o prêmio C-Idea Award recebeu inscrições de artistas de 51 países do mundo todo. A competição reúne jurados de 20 países. A “Grilo” foi a primeira cadeira construída pelo designer. A peça pesa 3,8 kg, menos que duas cadeiras de plástico juntas.

Segundo Michael, os primeiros rascunhos surgiram em 2008, há 15 anos. Em 2021, o processo de tirar a ideia do papel começou. Mas apenas em janeiro de 2022, após 30 horas de produção, a obra ganhou vida.

Com a estrutura toda em metal, além do encosto o assento feitos a partir do reaproveitamento de partes de uma cadeira escolar de madeira, que estavam inutilizadas por falta de uso, o artista conta que a ideia no design foi resgatar memórias da própria infância e, ainda, inserir sua brasilidade na criação.

“O que eu fiz primeiramente foi recordar a minha infância. Achava incrível o fato daquela cadeira de madeira ter partes curvadas. Sempre achei massa. Eu ficava ‘cara, como é que os cara conseguiram fazer isso?’. Além disso, o desenho delas remetem à brasilidade. Não costumo reutilizar materiais, mas, nesse projeto em especial eu o fiz, pela questão afetiva”,

explicou.

O nome “Grilo”, segundo o autor, remete “carinhosamente” ao inseto. “Como estamos na Amazônia, é inevitável, fazermos alguma ligação com a natureza. Ela tem alguns elementos que me lembram do inseto, pode até não parecer aos olhos de quem vê, mas para mim, lembra o inseto (risos)”, contou sobre o nome dado à obra.

Felicidade por ‘validação técnica’ 

O C-Idea Award, primeiro concurso no qual Michael se inscreveu como designer, une instituições de design da Ásia, Europa e Oceania que fazem a curadoria e avaliação das peças enviadas por artistas espalhados por mais de 50 países do mundo inteiro.

Cerca de 45 jurados, divididos em comitês, analisam os produtos sem nome e sem nacionalidade, para que estes fatores não influenciem nas avaliações.

Michael conta que nem acreditou quando recebeu por e-mail o comunicado de que a “Grilo” havia vencido na premiação. Para ele, o sentimento da conquista foi uma mistura de alegria, realização, mas também de espanto. “Eu li o e-mail e fui tomar banho, voltei, li de novo, fui comer, e só depois, na metade do dia eu falei ‘cara, vou ler de novo aquilo ali porque eu não acredito que eu ganhei aquele troço não’“.

“Fiquei muito feliz pela validação, técnica e profissional, é legal ouvir elogios de amigos e de uma instituição profissional. É até meio assustador, tu não imagina que, com pouco tempo de ateliê, tu pode chegar a esse patamar”, 

contou.

A cadeira ‘Grilo’, do artista Michael Milhomem, feita com partes de uma cadeira escolar de madeira, vencedora do prêmio na Alemanha. Foto: Jader Souza

O certificado foi entregue no mês de setembro. Apesar disso, três meses depois, o artista roraimense afirma que ainda está no processo de “digerir” a informação.

“Os melhores passam por lá (Europa). Quando você tem uma aprovação de um lugar onde os grandes brigam entre eles, é bacana, dá muita motivação para continuar a produzir aqui em Roraima. Estamos no meio da Floresta Amazônica, existem pontos que complicam um pouco, a logística por exemplo, mas ao mesmo tempo, aqui, a gente tem referências que não tem no resto do mundo”, ressaltou.

Sobre o artista

Aos 37 anos, Michael faz faculdade de arquitetura na Universidade da Amazônia (Unama), com foco no design de interiores. A interesse pelo trabalho com metais e pela estética industrial começou em 2010, quando ele tinha apenas 21 anos. No início, o artista trabalhava com desenhos e customizações de peças para outra de suas muitas paixões: motocicletas de alta cilindrada da marca Harley Davidson.

Em 2009 no Rio Grande do Sul, após estagiar em um ateliê onde se restauravam motocicletas Harley Davidson, datadas da Segunda Guerra Mundial, Michael adquiriu conhecimentos em design de metais e buscou aplicá-los na área da imobiliária.
Com o desejo de tirar os projetos do papel em 2020, durante a pandemia de Covid-19, ele construiu, no terreno de casa, o ateliê que utiliza até hoje para criar as peças feitas à mão. A casa em si, virou uma espécie de showroom, espaço para realizar testes de algumas peças e realizar campanhas publicitárias.
É no ateliê que se passa a maioria dos vídeos em que Michael compartilha o trabalho nas redes sociais. No perfil, que também funciona como portfólio profissional, ele mostra as conversões de objetos como cesto de bicicleta que vira expositor, tambores de bateria que vira gaveta e até crânio de jacaré transformado em luminária.

Artista, mas também empreendedor

No início, o objetivo dele com as redes sociais era apenas o de compartilhar o processo criativo e a produção das obras com amigos e seguidores. Porém, atualmente, Michael utiliza o conhecimento do mundo publicitário para vender os produtos artesanais por meio do perfil.

Milhomem decidiu trabalhar com peças únicas porque prefere dedicar o tempo na produção e, assim, agregar mais valor a elas. A intenção é alcançar um público que esteja disposto a pagar pela exclusividade do trabalho.
Ele não esconde que pretende ganhar a vida com as obras de arte. Para isso, foca na produção artesanal, geralmente negociada por valores mais elevados. Entretanto, o artista garante que a premiada ‘Grilo’ não está a venda e integra, permanentemente, o acervo do ateliê de Michael.
“Prefiro muito mais passar 30 horas trabalhando em um objeto e ter uma margem de lucro maior do que eu tenho com um produto em larga escala de produção, eu não vejo tanto desejo por isso”, avalia.

Atualmente, Michael deixou a criação de peças imobiliárias um pouco de lado para focar em uma exposição artísticas de pinturas. A mostra, prevista para ocorrer em 2024, contará com painéis autorais de cerca de dois metros de altura cada um – todos, pintados por ele.

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Pará perde Mestre Laurentino; artista completaria 99 anos em janeiro de 2025

Natural da cidade de Ponta de Pedras, na Ilha do Marajó, ele era conhecido como o roqueiro mais antigo do Brasil.

Leia também

Publicidade